Passava das 7 da noite quando o jovem doutor de cabelos alaranjados trancava a porta de sua sala, finalizando mais um dia de trabalho. Caminhava com as mãos nos bolsos de seu jaleco branco pelo enorme corredor com pensamento distante, assim como nos dias anteriores. Andava assim distraído desde que lera aquela revista, a qual leu mais uma duzia de vezes, parecendo tentar extrair dali algo que não estava escrito lá. Tinha tantas dúvidas, ou melhor curiosidade sobre a vida de Rukia agora, tinha vontade de conversar com ela como nos velhos tempos e contrar-lhe coisas sobre sua vida também, mas ao mesmo tempo não se sentia a vontade para tal, já que ela poderia achar que ele tivesse outras intenções. E outra pelo jeito agora ela era uma mulher de negocios, sem tempo para coisas triviais como conversar com um "amigo", se é que ele ainda fosse. Pensava varias coisas enquanto aguardava o elevador, que quando chegou e abriu a porta revelou uma figura feminina, pequena de cabelos negros que sem olhar saiu com tudo trombando com o corpo estático do doutor.

Ichigo: O que faz aqui nanica? (segurou a garota pelos ombros num susto pelo esbarrão)

Rukia: I...Ichigo??? Me...me desculpe, eu não te vi (disse se afastando com os olhos arregalados e surpresos por vê-lo ali)

Ichigo: Tá, mas aconteceu alguma coisa?

Rukia: Não.

Ichigo: Então o que você está fazendo aqui no hospital? (perguntou desconfiado)

Rukia: Er...bem eu vim falar com o Ishida (respondeu receiosa enquanto fitava o chão)

Ichigo: O Ishida? Mas a sala dele fica no decimo andar e nós estamos no sétimo. E outra, uma hora dessas ele já foi embora. (cruzou os braços olhando a morena ainda desconfiado)

Rukia: Ah...é mesmo acho que me enganei de andar. E bom, se você está falando que ele já foi...(disse sem graça levando uma das mãos a cabeça pelo suposto engano)

Ichigo: Veio aqui pra falar com ele mesmo?

Rukia: Claro sim! O que você está insinuando?? (colocou as mãos na cintura, falando com tom de voz já irritado)

Ichigo: Nada, nada. E não precisa ficar brava.Eu preciso ir agora...

Rukia: é...Ichigo...você está ocupado?

Ichigo: Como eu disse, vou pra casa agora. Porque? (perguntou estranhando o comportamento dela)

Rukia: é que se não estiver, pensei que nós...quer dizer se você quer ir comer  alguma coisa comigo? (engasgou com as palavras mantendo o rosto levemente corado virado para um dos lados sem encarar o ruivo)

Ichigo: é como eu só almocei, seria uma boa. Como nos velhos tempos, né?(sorriu encarando a morena que ainda mantinha o rosto virado)

Rukia: é, vamos colocar os assuntos em dia. Agora, pára de ficar aí com essa cara de panaca e anda logo vai. (disse entrando no elevador)

Seguiram para um restaurante simples, ali perto mesmo. Escolheram seus pratos e conversaram muito durante o jantar, pareciam literalmente duas matracas desconcertadas, bom depois de cinco anos sem se ver assuntos não faltavam. Porém algumas coisas ainda não fazia sentido para o ruivo e isso ficava martelando em sua cabeça, o que ela queria realmente? Esse convite repentino não fazia muito sentido. Mas talvez não fosse nada, fosse só isso mesmo que estava acontecendo, um encontro para colocar a conversa em dia e nada mais. Por outro lado, ela também pensava em varias coisas, principalmente em como com certeza aquela desculpinha dela de ir aquela hora no hospital porque  queria falar com o Ishida não havia colado e o pior em como havia visivelmente ficado desconcertada ao dar de cara com ele. Ambos pareceram um tanto destraidos por seus pensamentos, que um estranho silencio se formou por alguns instantes entre eles, até que o ruivo resolveu falar.

Ichigo: Rukia, eu sinto muito pelo Kaien.

Rukia: Ah, o Ishida te falou?

Ichigo: Er...não. Eu li naquela revista.

Rukia: Humm, quer dizer que leu aquela revista? (disse com tom sarcastico e um sorriso sinico nos labios)

Ichigo: não enche nanica! (respondeu já irritado)

Rukia: Poxa, eu não sabia que o "jovem doutor mais cobiçado de Karakura" se interessava por economia. (disse em tom insinuante)

Ichigo: E não me interesso! Mas....isso que você acabou de dizer...andou lendo sobre a minha materia naquela revista? (agora ele perguntava em tom sinico)

A morena levou uma das mãos a boca como se tivesse dito algo que não deveria e nada respondeu ao ruivo, que começou a rir da expressão "culpada" que ela fazia. "Idiota", pensou ela abrindo um sorriso depois de um longo suspiro. Aquilo era realmente nostalgico para ambos, as situações, as briguinhas e as provocações. Parecia que mesmo após tanto tempo nada havia mudado entre eles. Mas será mesmo?

Ichigo: Agora, Rukia porque me convidou para vir aqui com você hoje?(perguntou direto, agora com expressão seria)

Rukia: porque acho que temos um assunto mal resolvido de cinco anos atrás.

Ichigo: quer mesmo falar sobre esse assunto depois de tanto tempo?

Rukia: É eu quero sim, mas se você não estiver afim, eu vou compreender sem problemas Ichigo. (completou a morena desviando em direção ao prato)

Ichigo: Está tudo bem nanica, pode começar. (se ajeitou na cadeira observando atentamente a garota)

Rukia: Em primeiro lugar, pare de me chamar de nanica, isso é irritante. E em segundo lugar eu queria...me desculpar com você.(mesmo relutante acabou soltando as palavras)

A expresão de admiração do ruivo era nitida devido as palavras proferidas por aquela boca e que  talvez jamais  tenham sido ouvidas por ele.

Rukia: o que é? porque está me olhando assim? Você me ouviu Ichigo?(já irritada pela expressão tonta do rapaz proferiu as palavras com certa impaciencia)

Ichigo: É que essa é a ultima coisa que eu esperava ouvir de você, alias eu nem esperava. (se recompos do susto e agora falava com serenidade)

Rukia: o que você quer dizer com isso seu idiota? Não está percebendo que eu estou tentando falar sério com você?!

Ichigo: eu sei, então porque não continua.

Depois de um longo suspiro e de um gole em sua bebida, a morena continuou contando que havia encontrado com Senna e que ela haviaalhe contado tudo sobre aquele dia. Os olhores surpresos do rapaz não puderam, por mais que ele tentasse, ser disfarçados. Revelou também que fora muito imatura e cabeça quente daquela vez por não ter dado uma chance real dele se explicar, embora deixasse claro que não seria certeza que ela acreditaria tambem. Por fim pediu desculpas mais uma vez, para outro espanto do ruivo, e disse que acabou de certa forma agindo de maneira errada com ele, embora afirmasse que não foi apenas ela mas ele também.

Ichigo: Porque está se desculpando comigo agora?

Rukia: porque eu errei em não ter acreditado em você, acho que fiz você carregar esse fardo de mentiroso sem ter culpa e isso não é legal. (disse com os olhos fixos nos dele)

Ichigo: É eu me culpei por muita coisa na época. Mas  acho que se eu tivesse agido de outra forma também...talvez as coisas fossem diferentes agora. Bom, isso tudo já é passado não é? E não adianta ficarmos batendo na mesma tecla mais uma vez.

Rukia: É você tem razão, você tem razão...(baixou o olhar parecendo um pouco decepcionada com as palavras do rapaz)

Terminaram o jantar e seguiram para o estacionamento, agora conversando sobre outros assuntos.

Ichigo: Até que enfim um carro de verdade, hein nanica? e não aquela miniatura que você tinha. (soltou em tom debochado se referindo ao carro dela)

Rukia: Idiota!....bom obrigada pela companhia e nos vemos por aí (disse abrindo a porta do veiculo e encarando o rapaz mais uma vez)

O ruivo apenas observava enquanto ela terminava de falar e nada respondeu, ou melhor não conseguiu responder. Porem num subto caminhou em direção a ela fechando a porta do carro e impedindo que ela entrasse no veiculo.

Ichigo: Espera! Não....eu não vou deixar você ir embora de novo (segurou um dos braços dela e a virou de frente para ele)

Se encararam, mas não por muito tempo já que de forma quase automatica ambos avançaram em direção ao outro chocando seus labios com ansia começando um beijo saudoso e demorado. Se abraçavam com força em busca do contato que ansiavam por aqueles longos anos que ficaram distantes. Se separaram devagar, mas os olhos ainda cotinuavam conectados por uma especie de corrente invisivel de tão compenetrados um no outro.

Ichigo: Rukia, quando eu disse que te amava naquele dia que você foi embora.....então mesmo que o tempo tenha passado, quero que saiba que isso não mudou ...

Rukia: Pra mim também e hoje eu tive plena convicção disso.

Seus labios mais uma vez se encontraram, e como aquilo era bom para ambos. Ele aconchegava aquele pequeno corpo em seus braços mais uma vez depois de tanto tempo, exalando mais uma vez aquele perfume que entorpecia e enquanto ela com suas pequenas mãos afagava aqueles excentricos cabelos laranjas de novo e podia matar a saudade do calor daquele corpo masculino que a acolhia carinhosamente.

O sol escaldante do meio-dia e a brisa quente daquele dia de verão em que um casal cruzava apressado o saguão do aeroporto em direção a sala de embarque, pois ja havia sido anunciada a ultima chamada para o vôo com destino Dubai. Embarcaram e logo se aconchegram em suas poltronas, Rukia que estava proximo a janela, observava o movimento do lado de fora pensativa e com o olhar vago.

Ichigo: o que foi nanica? Está preocupada? (perguntou o ruivo sentado ao lado dela)

Rukia: Não estou preocupada, eu só estava pensando em como tudo aconteceu tão rápido depois que nos reencontramos.

Ichigo: é, foi mesmo. Mas acho que está bom assim. (segurou uma das mãos dela agora enfeitada com uma grossa aliança dourada)

Rukia: É, embora nós tenhamos feito tudo ao contrario mais uma vez, para desespero do Nii-sama.

Ichigo: Ahh..Rukia, nós estamos indo para nossa lua de mel e você aí preocupada com o metido do seu irmão, dá um tempo vai...(disse entediado)

A morena soltou um leve sorriso virando-se novamente para a janela. O rapaz agora a observava também com um sorriso entre os labios e não pode deixar de pensar que de certa forma ela tinha razão no que dizia, já nem havia se passado seis meses desde que se reencontraram e já estavam casados, saindo em lua de mel e que Rukia estava esperando um filho seu. Bom, está certo que não foi exatamente nesta ordem pois a morena já estava em seu quarto mês de gestação e eles tinham acabadado de se casar a dois dias a atras. Destino? falou para si enquanto levava uma das mãos ao ventre da esposa. Lembrou de um dia ter ouvido muito de alguém a respeito desse tal destino e uma segunda chance, na época não levou a sério e chegou a praguejar por isso, mas hoje tem a plena certeza que nada acontece por acaso ou conhecidencia. Quando algo tem que ser seu, pode demorar o tempo que for, o mundo pode dar inumeras voltas, mas no final vai ser seu.