Não tenho muito o que comentar sobre o resto do ano. Somente a prova final para os alunos do terceiro, que chegou já no fim de outubro e se arrastou até janeiro, foi o que movimentou minha vida mais uma vez.

-Tem certeza que querem ir também? – a passagem comprada nas minhas mãos, uma semana antes da tão esperada prova da UFRJ.

-Não vamos perder essa chance – meu pai disse, talvez mais ansioso por conhecer o Rio do que para realmente me apoiar.

-Vamos os três juntos, isso já está decidido – a última palavra ficou com minha mãe, que com destreza pôs fim ao assunto.

Partimos então seis dias depois. Agora já dentro do ônibus, pouco mais de 6 horas de viagem me separavam do Rio de Janeiro e de Samanta.

Depois de aguardar por todo esse tempo, era agora que o jogo realmente começava.

Chegamos um dia antes da prova. Meus pais, querendo me descontrair e me animar, me arrastaram para conhecer a cidade. Não seguimos mapas, e muito menos guias turísticos. Fomos onde quisemos ir, ora seguindo conselhos de pessoas que já moravam ali, ora apontando para alguma direção ao acaso e caminhando adiante. Tenho que admitir, foi incrível conhecer os encantos daquele lugar.

Deixamos para ir ao Cristo Redentor por último, quando o sol quase se punha no horizonte. A grandiosidade daquele monumento, de braços tão abertos para sua esplendida cidade, foi a única coisa que conseguiu controlar a ansiedade dentro de mim. Agora, ao mesmo tempo tão perto de Samanta, mas ainda assim tão distante e perdido...

Se eu não a encontrasse ali, o que faria? Tentei esquecer essa pergunta enquanto continuava ao lado dos meus pais. Me divertir ao lado deles e mostrar que eu estava bem era o que eu precisava fazer agora. Não podia preocupá-los tão cedo assim.

Uma boa noite de sono. Era o que eu achava que me curaria agora, depois de ser turista por um dia.

Quando os portões se abriram, pontualmente, eu já estava lá. De lápis e caneta nas mãos, aguardei próximo da entrada, juntamente com outras centenas de candidatos que chegavam aos poucos. Eu não queria conversar com ninguém, não queria me aproximar de ninguém. Somente queria encontrar a garota que eu tanto procurava.

Com cada vez mais alunos lotando a entrada, minha visão começou a se perder entre eles. Eu sabia que a chance da Samanta ser da minha sala de provas eram quase nulas, por isso, só me restavam esta única hora antes dos exames e o horário de saída – isso se eu conseguisse encontrá-la, já que depois do tempo mínimo, os alunos poderiam sair na hora que bem entendessem.

Dois dias de provas. Poucas horas por dia. Meu desafio se complicava aí. Mas é por isso mesmo que se chama desafio.

Caminhei até minha sala quando os portões se fecharam. Por mais que eu tivesse procurado, meus olhos não alcançaram Samanta em momento algum. Parei um momento em frente à minha sala, os monitores checando meus documentos. Passei às pressas os olhos pela lista de candidatos. Ordem alfabética. As chances dela estarem ali haviam se anulado.

Naquele primeiro dia, meu futuro seria decidido por aqueles papéis. Meus olhos e minha mente estavam fixos em cada detalhe contido ali, mas não parei de pensar em Samanta um instante sequer.