Em Chamas escrita por tsubasataty


Capítulo 18
Capítulo 17 – O último laço




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E então, como nunca havia chorado antes assim por alguém, deixei as lágrimas caírem, queimando meu rosto.

Eu tinha a perdido.

Aquele seu e-mail seria o último laço que nos uniria.

Com aquela casca vazia que havia sobrado de mim, seria pedir demais adiar por um único dia que fosse esse e-mail dela? Acho que eu não suportaria carregar aquelas últimas palavras de Samanta com o eu destroçado de agora.

Porém, eu sabia que tinha uma obrigação a cumprir. Depois da nossa conversa, não tive escolha a não ser ir ao meu correio eletrônico, no entanto, como se minhas palavras tivessem chegado até ela, e mesmo sabendo que esperar seria ainda mais insuportável, o e-mail não chegou naquele dia.

Na espera, eu tentei juntar os pedaços que sobraram de mim.

Por mais que o dia seguinte fosse um glorioso fim de semana, abrir os olhos no sábado foi uma das tarefas mais insuportáveis que já me dispus a enfrentar. Era como se minhas lágrimas, depois de experimentarem do dom que só elas tinham de queimar minha pele, quisessem agora fechar meus olhos para o mundo.

E eu quase deixei que elas me vencessem.

A internet foi meu refúgio naquele dia. Por mais que as horas passassem, eu permaneceria ali até o e-mail chegar - o que aconteceu nesta mesma tarde.

Sabe aqueles momentos em que você congela, incapaz de seguir adiante, mesmo estando ansioso para o tão derradeiro fim? Esse foi um desses – e um dos piores, eu garanto.

O clique no e-mail foi inconsciente, rápido. Num instante, as palavras estavam diante de mim. E então, com um arrepio percorrendo a pele, comecei a ler as palavras do nosso último laço:

Era o aniversário de 15 anos dela. Uma viagem ao exterior - era tudo o que a menina queria. Mas os pais dela, mesmo a amando com todas as forças que tinham, eram incapazes de presentear a filha diante deste desejo dela. “Não somos ricos assim, Samanta”, a mãe da garota disse, mostrando um sorriso triste à filha. A menina tentou sorrir também, porém, era como se a alegria tivesse sido arrancada dela, roubando inclusive seus sorrisos.

“Qual outro lugar você gostaria de conhecer, Samanta?”, seu pai lhe perguntou, sua habitual força de vontade sendo escondida pelo constrangimento.

“Praia”, a menina respondeu, sem ser de fato realmente verdade.

E ainda naquela semana, o trio partiu, rumo ao litoral em que a filha ganharia de presente. Seguiram de carro; o silêncio estranhamente instalando-se entre eles por um momento. Diante das horas que passavam, os pais tentaram animar a garota, conversar com ela. Mas abrigando-se num capricho e uma forte birra infantil, a filha passou a responder somente através de murmúrios baixos.

Ela não perdoou seus pais, mesmo com todo o esforço deles. Na mente dela, a viagem ao exterior chamava por ela, tornando a ida àquela praia um presente inútil e sem valor algum.

Um pensamento de vingança começou a se formar dentro da mente dela. E a garota não mediu as consequências antes de colocá-lo em prática.

“Pai, mãe?”, ela começou, fazendo os dois olharem para ela pelo retrovisor.

E foi então que ela começou. Agitando os braços e quase gritando por atenção, ela jogou toda a culpa de seu sonho não ter sido realizado nas costas dos pais. Chorou falsamente, ameaçou fugir de casa. Toda a viagem foi por água abaixo diante de seus gritos.

Quando os pais da menina viram que ela passara dos limites, não tiveram mais paciência e começaram a discutir também. Nenhum dos três se importava mais com o que acontecia fora daquele veículo, mas a garota era a única que olhava para a frente, para o fim que se aproximava deles. Alcançando o outro lado da pista, avançando cada vez mais...

A menina não disse nada quando o carro estava frente a frente a outro veículo. Entretanto, os gritos de surpresa e medo dos pais quando o impacto aconteceu a perseguiram pelo resto de seus dias. Como se estivesse presa numa câmera lenta, ela viu os pais serem os primeiros a sofrerem com a colisão, a vida fugindo de seus olhos em questão de segundos. A menina fechou os olhos, abrindo-os novamente apenas quando não havia mais nenhum som. Diante do sangue e de toda a destruição à sua volta, somente ela havia restado.

A garota havia matado os próprios pais. 


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