Em Chamas escrita por tsubasataty


Capítulo 15
Capítulo 14 – Lembranças vazias




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Um número de telefone, um e-mail ou um novo endereço. Eu não tinha nada disso. Tudo o que me restava dela agora eram lembranças.

Como um sonho que acaba em sua melhor parte, eu acordava desnorteado. Aquilo tinha realmente acontecido, não tinha?!

Mesmo quando cheguei em casa, não encontrei a resposta. Era como se meu cérebro, meu eu interior, quisessem pregar uma peça em mim – como se assim pudessem fugir da dor. Mas eu sabia; não era um sonho, não era uma brincadeira, pois se fossem, não machucariam tanto assim. A dor era a prova de que tudo aquilo fora real.  

Naquela noite, meus pais me olharam preocupados. Mas eu sabia que não podia contar com eles, que jamais eles teriam renda pra me mandar sozinho para uma cidade na qual eu nunca fora antes. E eu também não tinha dinheiro. Mas, mesmo que eu arranjasse um jeito e conseguisse ir a Niterói, as chances de eu encontrar Samanta naquele lugar eram nitidamente mínimas. Eu estava sozinho, como jamais pensei que estaria antes.

Como um raio caindo sobre mim... me queimem, me afoguem, me sufoquem... Mas tirem essa dor de mim.

-Eita, Diego – alguém me roubava da escuridão assim que deitei na carteira – Virando um zumbi logo numa sexta-feira?!

Levantei os olhos, fuzilando o infeliz.

-Não posso virar zumbi às sextas não, que preconceito é esse?!

Felipe riu, sem perceber meu sentimento escondido por trás daquelas palavras. Ele sentou-se na carteira ao meu lado.

-Samanta se mudou bem de repente né... – não diga esse nome na minha frente – É por causa dela que você tá assim?

Abri a boca, sem conseguir dizer nada. Estava tão visível assim?

Confuso e com sono, tudo o que fiz foi esfregar os olhos.

-Que pena né. – meu amigo continuou, um sorriso de piedade e compaixão no rosto. Aquele seu sorriso me destruiu por dentro – Logo agora que ela tava começando a se dar bem com todo mundo.

Baixei os olhos. Não era bem assim.

Felipe suspirou, estendendo uma das mãos até tocar meu ombro.

-Fica assim não, Diego. Logo você arranja outro joguinho particular.

-O-o... – comecei, incapaz de raciocinar direito.

Precisei de um minuto inteiro para perceber onde ele queria chegar.

Com nojo de mim mesmo, pela primeira vez percebi com horror que o que ele dissera era verdade. Tudo começou mesmo desse jeito, com meu rotineiro joguinho com os novatos. No entanto, seria mediocridade demais se eu dissesse que o que eu passei a sentir por ela era realmente verdadeiro, que o que aconteceu entre nós não era mentira? E o pior... - meu cérebro se contorcendo em desespero só de formular essa ideia - será que Samanta achou que eu estava apenas encenando, que eu e tudo que eu disse não passavam de uma farsa? Será que por isso ela havia ido embora para sempre de mim...?!

As perguntas, que não chegavam a um fim, estavam me deixando exausto.

Agora, no entanto, tudo estava explicado. Ela não acreditou em mim, em meus sentimentos. Como se eu fosse um boneco, brincou comigo, esquecendo que eu era um ser humano como qualquer outro. E quando as coisas atingiram um nível que não dava mais para voltar atrás, ela me deixou, como se eu não fosse nada. Um lixo sem valor. Eu devia não ter passado disso aos olhos dela. E a garota, percebendo que eu não sabia disso, se aproveitou de cada pedacinho de mim, arrancando até aquilo que eu jamais senti por outra pessoa antes.

Como um copo de vidro que foge das mãos de seu dono e se despedaça no chão, meu coração se fechou naquele instante, acreditando cegamente nisso.


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