Efeito Bumerangue escrita por SofiaB, SarahRiot_


Capítulo 36
Capítulo 35 - Run away like a prodigal


Notas iniciais do capítulo

OI MINHAS LINDAS GATAS PERFEITAAASSSSSSSS (desculpas pro Wes quando for ler isso, mas é a vida meu amor)!!!
Então... é a segunda vez que tou postando isso (NYAH COCÔTION) e é uma da manhã, então NÃO ME JULGUEM OK.
O que eu tinha falado da primeira vez?... AH SIM.
Eu sei que passou mês e meio desde a última vez que postei aqui ~~chora~~, MAS A QUESTÃO É QUE: NÃO PARECEU MÊS E MEIOOOO!!! Parece que foi tipo.......... nem duas semanas. Por isso vejam, eu não estive dormindo esse tempo todo, ok. Estive dando no duro na escolinha ~~e tirando boas notas, pra vcs saberem que não foi em vão :33~~ BUT NOT TO WORRY, tou entrando de férias e pretendo dar a louca essas três semanas que vêm, ok? Entre fim de aulas e minha ida pra Roma, contem com uns quantos caps - E DESSA VEZ É PRA CUMPRIR!!!!
Ok, eu tinha outra coisa pra falar, mas vou falar lá em baixo que é pra não perturbar vossa leitura.
ENTÃO LEIAM LÁ EMBAIXO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Enjoy your reading, I worked hard ♥



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Música do capítulo: OneRepublic – Prodigal (deem play quando eu avisar)

Sábado, 3 de Abril

Sarah


Eu não conseguia acreditar nos meus olhos. Não conseguia.

Foi por isso que passei os segundos seguintes ao choque inicial tentando me convencer de que aquele era apenas um primo, ou tio, ou amigo, ou… sei lá, alguém que me tivesse escapado antes. Confusão. Tudo teria sido apenas uma mera confusão.

Claro que foi exatamente esse o momento que – como que num jeito de tirar qualquer dúvida – seus olhos escolheram para se levantarem, encontrando tanto eu como minha mãe petrificadas, ainda tentando processar o que estava acontecendo.

Como? Quem…? Quando? Porquê?

Porquê?

Porquê?

Seus lábios se estenderam quase impercetivelmente, gerando um sorriso impossível de decifrar. Sua cara – onde toda a minha atenção estava focada – aumentava gradualmente, o único indício que eu tinha de que ele estava se aproximando. Do meu lado, a minha mãe relaxava, afrouxando o aperto da sua mão no meu braço e passando a acarinhar o mesmo. Suponho que tinha razões para isso: ao contrário dela, eu ainda estava tensa. À medida que a surpresa inicial ia-se dissipando, meus músculos – inversamente ao que seria de esperar – só ficavam mais e mais retesados e minha mente girava cada vez mais caoticamente.

Caramba, foram nove anos! Nove! O que raios estava ele fazendo aqui depois de nove anos?!

Cada passo dele na minha direção fazia meus pés coçarem por correr na oposta e, no meio de toda a confusão que se instalara dentro de mim, surgia o nervosismo. Era como se eu fosse composta por uma multidão em pânico. Pânico. Sim, essa era a palavra.

E, de súbito, lá estava ele, mais perto do que eu esperava; do que eu sequer desejava. Tão perto que eu podia sentir o odor forte, mas ainda assim sutil do seu perfume amadeirado. Quem lhe dissera que podia fazer isto? Quem lhe dera esse direito?

– Olá – “olá”?! Ele estava brincando, certo? –, como vocês estão?

Bufei, ganhando um olhar de reprovação por parte de minha mãe. Sério? Ele tinha bastante sorte por eu não cair no riso. Ou por não dar costas, sobretudo. Oh, como eu queria sair dali!

– Brian – minha mãe começou, cortando-o justo quando ele abria a boca para continuar –, o que está fazendo aqui?

Ele pareceu ficar atônito, como se fosse perfeitamente normal as pessoas não darem notícias durante nove anos e depois decidirem ressurgir dos prováveis mortos. Aposto que o Papai Noel o visita frequentemente para partilhar um copo de leite e bolachas, também.

– C-como assim…? Eu soube do que aconteceu e achei que deveria vir até cá.

Enquanto meu olhar saltava de um para o outro, notei as sobrancelhas da minha mãe subirem rapidamente, mas ela se apressou a disfarçar o momento de surpresa e recuperar a pose neutra.

– Não era necessário. Eu sei o quanto você é um homem ocupado – as feições dele contraíram-se minimamente, como se tivesse provado algo muito amargo. Porquê? Aquele homem era um mistério para mim.

– Já não é assim, Louise.

– Ah, não? – e de repente, até minha mãe se tornou um campo impenetrável. Ela empregava um tom ligeiramente irônico por cima de sua voz praticamente desprovida de emoção. O que raios estava acontecendo ali? – Certo, agora você deve fazer uma melhor seleção de seus clientes, não é?

– Na verdade, faço sim. Assim como delego tarefas… As coisas mudaram.

– E esses clientes são todos pobres coitados necessitados da sua ajuda, com certeza?

Meus olhos se alargaram com a crescente malícia presente na voz de minha mãe – mais por surpresa do que propriamente por desagrado –, mas uma análise rápida da sua expressão me mostrou que ela se arrependeu do que disse assim que as palavras abandonaram seus lábios. Não entendi por quê – Brian Jones não era um advogado conhecido por aceitar casos pequenos de pessoas necessitadas.

– Há já alguns anos que aumentei minha carga horária de pro bono1… – suas narinas pareciam mais dilatadas e sua expressão estava, com certeza, um pouco mais hostil, como se ele tivesse entrado em modo de auto-defesa. Porém, assim que seu olhar pousou em mim mais uma vez, a hostilidade pareceu desfazer-se para dar lugar a algum outro sentimento que eu não conseguia descodificar. Não que eu estivesse fazendo alguma coisa específica para conseguir isso – por mim, ele bem podia continuar se sentindo atacado.

– Com certeza – minha mãe tinha voltado à neutralidade e, agora, seus olhos fugiam do encontro direto com os azuis que se lhe opunham. – Obrigada por ter vindo.

O canto do meu lábio subiu sutilmente ao notar estas últimas palavras, que eram a resposta automática – e, mais uma vez, completamente desprovida de emoção – de minha mãe a todos os que tinham vindo ali apenas dar seus pêsames e, em particular, àqueles que ela estava tentando despachar.

– Não tem de quê – Brian falou lentamente, parecendo bastante surpreso pela mudança de humor repentina de minha mãe. – Eu só queria demonstrar o meu apoio.

Apoio. Ele queria demonstrar o seu apoio.

Eu procurava uma resposta sarcástica a isto, mas quanto mais esforço eu fazia em consegui-la, mais ela parecia zizaguear para longe de mim. O botão de pânico acionou-se de novo e, numa questão de milissegundos, eu – que no decorrer da conversa tinha encontrado meu refúgio na ironia – estava à beira de um ataque de choro. Minha respiração era ofegante e meu nariz picava cada vez mais, fazendo a impressão se estender à garganta e aos olhos. Notei, de súbito, o que tinha acontecido: a palavra “apoio”, saída daquela boca, tinha quebrado a frágil máscara que eu colocara. Na verdade, eu estivera aquele tempo todo à beira das lágrimas e só não o tinha notado porque estava tentando me convencer de que não estava sendo afetada.

Mas eu estava. E como isso me estava afetando.


Encontrei a conversa já terminada, e eles agora sorriam por mera educação um ao outro. Brian se afastou, de vez em quando lançando um de seus olhares impenetráveis na minha direção, e minha mãe era chamada por outra pessoa. Ela acariciou a minha bochecha, murmurando um “volto já”, e desapareceu por entre o resto das pessoas. Inesperada, a voz de Taylor surgiu um pouco atrás de mim.

– Aquele era o seu pai? – questionou ele com uma curiosidade inocente, sem saber que nenhumas outras palavras teriam quebrado o nó na minha garganta tão facilmente.

– Não – minha voz saiu extremamente rouca, desigual e chorosa –, aquele não é o meu pai. O meu pai está sendo enterrado hoje.

(N/A: DEEM PLAY)

E automaticamente, sem que eu sequer tomasse consciência ou, muito menos, desse permissão, minhas pernas estavam me levando a um ritmo impossível mas, ainda assim, lento demais, para longe de tudo aquilo. As lágrimas corriam livremente de meus olhos, deixando, por onde passavam, uma sensação de vulnerabilidade ao vento frio que batia na minha cara. Meus soluços ecoavam, mas já não pelo salão cheio de pessoas, ah não – pela primeira vez na vida, minhas pernas tinham estado à altura da ocasião e, surpreendemente, eu já corria pelo passeio de pedra.


We say goodbye

I turn my back

Run away, run away,

So predictable

(Nós dizemos adeus

Eu volto minhas costas

Fuja, fuja,

Tão previsível)


O ar frio queimava quando era sofregamente puxado para os meus pulmões. Não devia estar assim tão frio para um dia de Abril, não devia! Aliás, nada, nada daquilo deveria estar acontecendo! Nada. Nada, nada, nada! Tudo estava errado e eu só desejava que algo me acordasse e eu me desse conta de que era apenas um pesadelo. Imprevisível, uma parte de mim contestou veemente este desejo. Foi como se, de súbito, um magnetismo vindo daquele salão me quisesse puxar de volta, e eu parei.


Not far from here

You see me crack

Like a bone, like a bone

I’m so breakable

(Não longe daqui

Você vê-me quebrando

Como um osso, como um osso

Sou tão frágil)


Não fazia ideia como, no meio dos soluços e do esforço da corrida, qualquer oxigênio chegava onde era necessário, mas eu realmente não queria saber. Se ele faltasse de uma vez, tudo seria mais fácil. Isto porque, à medida que eu me agachava no chão gelado, abraçando meus próprios joelhos com toda a força que conseguia reunir, eu entendi o que fora aquele magnetismo que me fizera parar.


And I’ll take everything from you

But you’ll take anything, won’t you?

(E eu levarei tudo de você

Mas você aceitará qualquer coisa, não é?)


Eu sentia-me envergonhada.

Eu sentia-me furiosa.

Eu sentia-me enojada com aquilo.

Aquela parte de mim que não queria que eu acordasse logo do pesadelo estava… feliz. Sim, feliz!, confirmei, sem saber se soltava um riso irônico ou chorava mais intensamente.

E aquela terrível parte de mim estava feliz porque tinha visto, pela primeira vez em nove anos, o rosto de Brian.


Run away, run away

Like a prodigal

Don’t you wait for me

Don’t you wait for me

So ashamed, so ashamed

But I need you so

And you wait for me

And you wait for me

(Fuja, fuja

Como um filho pródigo

Não espere por mim

Não espere por mim

Tão envergonhado, tão envergonhado

Mas eu preciso tanto de si

Espere por mim

Espere por mim)


Um par de braços lançou-se ao meu redor e eu cedi, me agarrando à pessoa que o instinto me dizia ser Taylor – não, não fora o instinto. A sua voz vinha gritando o meu nome há já algum tempo, mas eu não notara. Como podia ter notado? Eu…

Uma nova vaga de soluços varreu meu corpo, me fazendo sentir fisicamente tão descontrolada quanto minha mente já estava. Tudo em mim se revoltava contra aquela parte feliz, mas essa mesma parte também era minha. Era como se eu, a um tempo, me reprovasse pelo que sentia, mas sem poder deixar de senti-lo. E eu me reprovava porque aquele homem não me deveria dizer nada. Tudo o que ele merecia era meu desprezo e, sempre que possível, minhas costas voltadas na sua direção. Ele não merecia meu choro, não merecia minha angústia e muito menos minha felicidade!

Então o que estava eu fazendo sentada naquele chão frio, soluçando histericamente contra o peito de Taylor?


I'm on the road

To who knows where?

Look ahead, not behind

I keep saying

There's no place to go

Where you're not there

On your rope, I hold tight

But it's fraying

(Estou na estrada

Para quem sabe onde?

Olhe para a frente, não para trás

Continuo dizendo

Não há nenhum destino

Onde você não esteja

Na sua corda, eu me agarro firme

Mas ela está se desgastando)


À medida que o conflito entre meu sentimentos crescia, meu choro se intensificava. Eu dizia a mim mesma que queria que ele nunca tivesse voltado, quando a verdade era que o que eu mais desejara durante anos era que ele nunca tivesse ido. Pedidos de aniversário, cartas secretas de Natal, orações… tudo em vão. Um único pedido que nunca fora atendido, mas que teria significado tudo para mim.

De súbito, tudo fez sentido. Eu já conhecia os sentimentos que me inundaram durantes esses últimos dias. Apesar de, nesse caso, não ter sido voluntário, eu tinha sido abandonada de novo. Eu tinha perdido meu pai pela segunda vez e já não tinha nem a fútil esperança dos pedidos de aniversário para me acalmar.


And I take everything from you

But you'll take anything

Won't you?

(E eu levarei tudo de você

Mas você aceitará qualquer coisa

Não é?)

Run away, run away

Like a prodigal

Don't you wait for me

Don't you wait for me

So ashamed, so ashamed

But I need you so

And you wait for me

And you wait for me

(Fuja, fuja

Como um filho pródigo

Não espere por mim

Não espere por mim

Tão envergonhado, tão envergonhado

Mas eu preciso tanto de si

E você espere por mim

E você espere por mim)


O desespero tomou meu luto de uma vez: não apenas o luto recente, mas também o luto por esses nove anos. Era a primeira vez que eu me deixava conscientemente senti-lo, mas já o vinha sentindo por todo esse tempo. Sempre me perguntara porque me sentia infeliz, mesmo tendo duas pessoas incríveis do meu lado – pessoas que realmente me amavam. Por vezes, me sentia ingrata por isso não ser o suficiente. Porém, nunca me permitira ir a fundo nessa questão, porque essa ferida sempre fora demasiado dolorosa para mexer.


Everybody wants to be right

But only if it’s night or daylight

I keep trying to find my way back

My way back

(Todos querem estar certos

Mas só se for dia ou noite

Continuo tentando achar meu caminho de volta

Meu caminho de volta)


Porque o meu pai vivia a um país de distância de mim? Porque ele não se preocupava? As perguntas, repentinas e indesejadas, apareciam na minha mente de vez em quando, sobretudo de noite. No dia seguinte, eu acordava com o travesseiro encharcado e um humor de cão, sendo levada por instinto para a zona mais escura do guarda-roupa. Acho que, na altura, eu apenas não queria sobressair, mas agora eu via uma nova ironia nisso: eu estava me vestindo de luto, mesmo que não soubesse.


Run away, run away

Like a prodigal

Don't you wait for me

Don't you wait for me

So ashamed, so ashamed

But I need you so

And you wait for me

And you wait for me

(Fuja, fuja

Como um filho pródigo

Não espere por mim

Não espere por mim

Tão envergonhado, tão envergonhado

Mas eu preciso tanto de si

E você espere por mim

E você espere por mim)

Runaway

Runaway

Runaway

From you

From you

From you

(Fugitivo

Fugitivo

Fugitivo

De você

De você

De você)


Não sei como fiz para me acalmar. Acho que para bem ou mal, o tempo passa. Para além de que eu não estava disposta a perder minha última despedida do pai que sempre esteve do meu lado por causa de um suposto pai que nunca o foi.

Mesmo assim, havia algo dentro de mim que me impedia de sair do aperto de Taylor. Pensar nesses dois abandonos fez-me ver como as coisas são frágeis, imprevisíveis, cruéis. Mais ainda: pensar nesses dois abandonos fez-me ver a importância que aquele aperto tem na vida. Como eu estaria nesse momento sem ele? Foi por isso que, quando minha voz rouca se conseguiu fazer ouvir, ela murmurou:

– Tay… promete que não se vai embora?

– Sarah, do que está falando? – ele me afastou delicadamente de si para que pudesse me olhar nos olhos. Suspirei, subitamente entendendo o quanto aquilo lhe pareceria absurdo.

– Esquece, foi algo idiota.

Eu já tinha feito menção de me aproximar e recostar minha cabeça no seu ombro de novo, porém ele me impediu, esboçando um sorriso simples, mas infinitamente reconfortante.

– Você sabe que pode falar comigo. O que quis dizer?

– É só que… - minha voz subiu vários tons e ameaçou quebrar, me forçando a parar para tomar ar e normalizá-la – Parece que todo mundo vai embora.

– E você não acha que eles voltam? – meu olhar, antes disperso de forma a impedir um novo ataque de choro, se focou no dele.

– Como assim?

– Seu pai voltou.

– Tay—

– Certo, cedo demais. Desculpa. Mas olha seu avô.

– O que tem meu avô? – olhei para ele de sobrancelhas franzidas, não por estar levando a conversa a mal, mas por realmente não entender onde ele queria chegar.

– Você acredita que ele desapareceu para sempre?

Minha expressão mudou repentinamente, mal essas palavras tomaram sentido nos meus pensamentos. Não, claro que não.

– Como eu poderia? Depois daquele memorial, eu… Eu estava tocando e eu o sentia, Tay. Eu o sentia. Ele estava lá.

Quando a última palavra foi pronunciada, já as lágrimas rolavam de novo pelas minhas faces ainda húmidas. Taylor me abraçou mais perto, mas ele sabia, assim como eu, que aquelas lágrimas não eram pesadas como as anteriores. Elas podiam ser igualmente desgastantes, mas seu peso era aliviado pelas asas que ganhavam da felicidade, da esperança, do alívio de entender que, mesmo não estando fisicamente do meu lado, o meu avô era uma das pessoas que eu jamais iria perder definitivamente.

– Você irá vê-lo de novo, irá está com ele de novo – a voz de Taylor sussurrava, apaziguante, junto ao meu ouvido. – E quando ao que me pediu… Não posso prometer que nunca irei embora. Mas posso sim prometer que voltarei sempre.

Me afastei dele, já calma e, como causa dessas últimas palavras, com um sorriso sincero nos lábios. Minha mão esquerda afagou sua face, enquanto ele sorria de volta, me prendendo no seu olhar por um momento. Isso, até que um certo pensamento atravessou minha mente, me fazendo rir.

– Você é um adolescente muito estranho, Taylor Benjamin York.

Ele acompanhou meu riso, me puxando para ficar em pé. A pele que cobria toda a extensão das minhas pernas pareceu rejubilar. Caramba, aquele chão estava frio! Taylor passou um dos braços ao redor dos meus ombros, me encostando a si e me aquecendo. Limpei as lágrimas com a mão que não estava em volta de Taylor, enquanto nos encaminhávamos de volta para o salão. Chegamos pouco depois, minha mãe à entrada, olhando para todos os lados. A sua expressão demonstrou alívio assim que nos reconheceu, porém notei a intriga também presente nas suas feições. Mesmo assim, ela não se atreveu a perguntar nada assim que viu meus olhos e nariz vermelhos, minha cara ainda um pouco úmida.

– Aí estão vocês… – ela falou pausadamente – Vamos agora para a igreja, ok?

Assenti face a seu sorriso preocupado, enquanto a seguia em direção ao carro. Taylor se separou de mim de uma vez, fazendo-me agarrar seu pulso e me voltar para ele.

– Venha conosco.

– Está bem – depois de abandonar a surpresa, sua expressão demonstrou alguma preocupação, mas também um sorriso carinhoso. – Deixe-me só ir avisar os meus pais, ok?

Concordei, de repente um pouco envergonhada por ter soado tão desesperada. Minha mãe abriu a porta do condutor e entrou, deixando-me livre para suspirar e encolher os ombros para mim mesma. Recostei-me no carro à espera que Taylor regressasse, o que não demorou muito.

– Tudo tratado, podemos ir.

Ele passou por mim com um pequeno sorriso simples, deixando um carinho no meu braço à medida que entrava para o banco traseiro. Inspirei profundamente enquanto o imitava e entrava também no carro, me preparando para o que viria. O cansaço se abatia em ondas constantes sobre mim, pedindo que eu cedesse e me recusasse a continuar. Contudo, eu não o faria. Tudo o que esse dia implicava eram coisas que necessitavam ser feitas e eu tinha consciência disso. Nunca me perdoria se não comparecesse.

Por outro lado, a pequena, porém significativa conversa com Taylor me ajudara a entender a outra face da questão. Essa era uma despedida física do meu avô, mas nada me poderia separar verdadeiramente dele. E por mais que tudo ainda doesse… isso me reconfortava imensamente.

Reconforto era algo que eu realmente preciso num dia como hoje, pensei, enquanto fazia meu melhor por evitar o grande buraco negro que ameaçava me consumir inteira. Talvez ele tenha visto que era indesejado e se tenha ido embora, minha mente ia me reassegurando e eu ia ignorando aquela partezinha que torcia veementemente pelo oposto.

Não tive que me distrair por muito mais tempo. Logo tínhamos chegado à igreja, ocupando nosso lugar nos primeiros bancos, junto da restante família. A cerimónia não tardou a começar, embora tenha tardado a terminar. Cada minuto dela colocava o dedo na ferida recente, magoando, mas também curando. A verdade é que, quando terminamos a celebração e começamos a sair ordeiramente da belíssima igreja, seguindo em direção ao que seria o cortejo fúnebre do meu avô, eu me sentia melhor. Não completamente, não metade do bem que eu me sentira da última vez que o abracei, mas tão bem quanto era possível nessa situação. E dei graças por isso.

O cemitério foi o pior. Apesar de não ter chorado todo o tempo que estive na igreja, simplesmente por não conseguir chorar mais, as lágrimas pareciam ter voltado em força face à terrível visão do caixão – onde eu sabia estar o que restava fisicamente do que fora o meu avô – ser carregado esforçosamente para aquela cova. Para ser enterrado. Para sempre.

Minha mãe chorava silenciosamente também, com uma mão afagando meu ombro e a outra sobre a boca. Tirando o vento, os homens que conduziam o caixão para o seu destino final, e as lágrimas que caíam – não duvido – um pouco por todos os rostos, tudo estava quieto. O tempo tinha parado para testemunhar o nosso último adeus.

Repassei todos os momentos e pequenos detalhes que eu iria guardar comigo, por mais que causassem saudades: ser acordada com o tom melodioso do piano aos domingos de manhã; o cheiro do charuto no final do almoço; a sensação do seu aperto sólido como rocha e de que nunca, nunca nada de mal penetraria nele… Me acalmou perceber que nem essa derradeira separação me impediria de senti-lo de novo – mais fraco, é certo, mas tão inabalável como era quando tinha seis anos e acordava tremendo a meio de um pesadelo.

Mais do que antes, concordava com Taylor. Eu veria meu avô de novo e, até lá, ele estaria comigo – forte, sólido, real – no meu coração.


Com tudo terminado, as pessoas que tinham ficado até ali dispersavam. Iriam seguir suas vidas, possivelmente esquecer todo o detalhe desse dia dentro de uma semana. Ao contrário de mim, claro.

A família mais próxima iria passar o dia na minha casa, como era costume em ocasiões do género. Alguém diria que a família deveria se reunir sem ser devido a motivos tristes como esse e iria surgir a sugestão de um almoço anual em família que jamais se iria realizar. Todos se deitariam nessa noite com uma sensação agridoce na boca e na alma – ao mesmo tempo que ainda faziam luto, se sentiam melhores por ver como essas coisas tendem a unir pessoas que facilmente caem na rotina e se esquecem uma das outras. E, não obstante a distância que estava destinada a se colocar entre todos nós de novo, conseguir prever tudo isso me fazia sentir melhor. Quase como se percorresse caminhos que eu já conhecia.

Suspirei, esfregando os olhos e me encaminhando para fora do cemitério já praticamente vazio. Minha mãe tinha ido tratar de alguns assuntos com o padre e Taylor já se tinha ido embora também, juntamente com seus pais. Eu era das poucas que ficara para trás, observando o resto dos preparativos para que aquela campa de terra batida se tornasse igual às outras. Porém, algo em mim não encontrava mais motivos em permanecer ali. O cansaço ressurgira de novo, consequência da última onda de lágrimas, me convencendo de que o melhor seria esperar pela minha mãe no carro.

Minhas sapatilhas embatiam silenciosamente contra o asfalto, fazendo-me mover sem chamar qualquer atenção. Não que importasse muito, o passeio em frente ao cemitério também já se encontrava praticamente vazio. A quietude reinava, reconfortando-me com o seu silêncio… que logo foi interrompido por um som que não reconhi de início, mas que logo se tornou claro: aquele era um som que eu propriamente produzi em tempos. Um dos meus concertos da escola de música.

Meu olhar perscrutou a extensão do local, procurando a origem do som – que logo encontrou: um Iphone. E quem o segurava era Brian.

A surpresa toldou todos os meus sentidos, fazendo-me chegar mais perto automaticamente. Distraído com a imagem no pequeno aparelho e sorrindo quase impercetivelmente, Brian não notou a minha aproximação até que eu me encontrava a escassos três metros dele.

– Sarah – ele pronunciou, surpreso, enquanto seu dedo apertava um qualquer botão que parou o vídeo.

– Esse… esse era o meu concerto?! – ainda perplexa, eu não sabia o que pensar.

– Hã… - ele fez, enquanto coçava a cara – era. Seu concerto do 1º ano na escola de música.

– Porque estava assistindo-o? Aliás, como é que você o tem?!

Escusado era dizer que minha mente estava em pleno caos uma vez mais. Algo tão pessoal assim estar na posse de Brian não fazia qualquer sentido.

– Err… - ele parecia querer contornar a questão, porém um olhar para minha expressão inquisitória fê-lo desistir. – Foi seu avô. Ele me enviava as gravações de tudo.

– De tudo? Que tudo?

Ele suspirou.

– Concertos da escola de música, peças de teatro e festas da escola, coisinhas familiares… praticamente tudo o que ele gravou que contenha imagens suas.

Eu não sabia o que era mais incrível: que Brian tivesse filmagens de minha vida inteira ou que o meu avô mantivesse qualquer tipo de comunicação com ele. Ainda sem conseguir retirar um sentido de tudo aquilo, deixei-me apenas fitá-lo em choque.

– V-você falava com o avô?!

Ele riu de um jeito que me lembrou eu mesma.

– Sim, bastantes vezes até. Falávamos sobre banais, na verdade, como a situação do país, o presidente, esportes… Se bem que seu avô não era muito homem de baseball como eu – ele acrescentou outro riso sincero, mas simples, neste ponto. – Claro que o tópico principal era você.

As palavras atingiram o meu âmago do mesmo jeito que seu olhar fixo no meu o fez. Não era um olhar expectante ou arrogante – como eu muitas vezes o concebera –, mas sim… meigo. Carinhoso até. O que tornava tudo pior.

– Enfim… - ele finalmente desviou sua atenção de mim, mexendo de novo no aparelho. – Quer ver minha atuação preferida?

Como se não bastasse o choque de ele ter coisas minhas, agora supostamente eu deveria saber lidar também com ele ter preferências nesse quesito. Como se já tivesse assistido todas um número infindável de vezes, como se já as soubesse de cor. Porém, visto que ele já procurava o vídeo, resolvi que dizer “não” não faria qualquer diferença.

Então não me debati. Ele gesticulou para que eu me sentasse do seu lado naquele banco de jardim, ao que eu acedi, e logo o vídeo começava, prendendo minha atenção. Era um concerto bastante recente – aliás, o mais recente que eu tinha feito, já que era o último. Eu tinha decidido sair pouco depois daquele mesmo concerto, convencida de que não estava seguindo na direção em que eu queria, e que era isso mesmo que estava fazendo com que minha música não evoluísse. Claro que Brian não sabia nada disso, então era provável que a escolha daquele concerto – e não de outro – como favorito fosse inocente. Porém, eu estava achando dificuldades em acreditar em coincidências.

– Porque escolheu esse?

Ele sorriu antes de responder, ainda olhando para o ecrã do celular.

– Olha só o jeito como você está tocando. Tão focada, tão… absorta na música – no mesmo instante em que ele termina sua frase, a Sarah no ecrã se engana numa nota que sai desafinada.

– Tão absorta que até erro – comentei, ganhando um novo olhar na minha direção.

– Todos erramos. E vendo você tocar com tanta emoção… acho que ninguém naquele auditório estava ligando muito para a técnica.

Meu olhar se focou nele sem que o próprio o notasse, já que ainda sorria, indecifrável, para o ecrã, ao mesmo tempo que sua cabeça seguia o ritmo segundo o qual meus dedos batiam nas cordas, dedilhando a conhecida música clássica. Quem era aquele homem? O que tinham feito com o Brian que eu conhecia?

E aí mesmo peguei meu erro: eu nunca conhecera Brian. A imagem que tinha dele fora formada por memórias de infância, por coisas ditas pela minha mãe e pelo meu avô, por escassas fotos antigas. Mas não por fatos reais. Não por ele próprio. Então… a imagem que eu tinha dele podia muito bem estar errada.

E ali mesmo, diante daquele sorriso quase caloroso provocado por uma imagem antiga minha, eu entendi que essa era a verdade. Brian não era o que eu idealizara todos esses anos. A questão era: quem era ele? E será que ele ficaria tempo o suficiente para eu o descobrir?


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Notas finais do capítulo

1 expressão latina usada para designar certos trabalhos feitos por beneficiência isto é, sem cobrar honorários , sobretudo em relação a médicos e advogados.
Então, meus amores? :3333 I'M SORRY SE CHORARAM MUITOOOO, EU VOS AMO!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ♥ Coisas pra dizer pra Sofia: se choraram, o quanto choraram e O QUE ACHAM DE BRIAN??!!!!!!!!!!?????? Essa é a importante.
ESSA E ISTO:
O que vamos fazer com a fic?
Isto é, vocês querem que eu mude os nomes e continue postando aqui E TAMBÉM no blog? Ou então deixo o Nyah tirá-la do ar aqui e posto apenas no blog? Depende de vocês, meus caros. Se vierem comigo, eu vou tb :333 E eu acho melhor porque... olha só, fui trollada à meia noite e meia, ninguém merece '-'
Decadência, é o que é.
ENFINS AMORES, VOU LÁ. BEIJÃO, AMO-VOS ♥



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