The Black Halo escrita por Akashitsuji


Capítulo 1
Introdução - The Raven.


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, esta é minha primeira fanfic escrita, e publicada. A idéia surgiu há certo tempo quando era moderador de uma comunidade de RPG de Kuroshitsuji, sob a forma de uma campanha. Acabou não acontecendo, e esta idéia fundiu-se com minha insatisfação pelo final da segunda temporada de Kuroshitsuji, e aí estamos nós. Por mais que eu tenha realmente adorado a trama e o decorrer da segunda temporada, o final foi algo realmente decepcionante, e decidi que não poderia deixar a idéia ficar só na cabeça, desta vez. Planejo postar os capítulos assim que estiverem prontos, por enquanto, sem nenhum dia especial para faze-lo semanalmente ou algo parecido. Enfim, obrigado por lerem até aqui, e espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168813/chapter/1

“And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting

On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;

And his eyes have all the seeming of a demon that is dreaming,

And the lamp-light o’er him streaming throws his shadow on the floor;

And my soul from out that shadow that lies floating on the floor

Shall be lifted — nevermore! “

— Edgar Allan Poe

— A felicidade finalmente nos alcançou. Mestre, Claude finalmente o reconheceu! - Com a alma (ou o que fazia passar por uma) repleta de satisfação e os olhos marejados pelas lágrimas, Hannah observava o denso nevoeiro que apagava a linha do horizonte ao redor da Ilha da Morte. 

A escolha que fizera para o duelo final entre Sebastian Michaelis e Claude Faustus era absolutamente perfeita. Todo o conceito humano - e por que não sobrenatural? - de beleza gravita ao redor de nossas memórias mais importantes. As impressões deixadas pelo tempo e pela vida tecem um novo significado, novos sentimentos para os locais em que ocorreram, desafiando a realidade e a existência do lugar dentro da totalidade da mente. Por mais que os sentimentos pareçam palpáveis e reais, as sensações povoam um mundo absolutamente individual e particular. Irônico como agora o oposto se fazia por valer.

O cenário da Ilha da Morte, desconectada e além de qualquer vislumbre do mundo externo, do mundo dos humanos, era o reflexo de um futuro vazio e sem perspectiva, inescapável e monocromático, as cinzas e ruínas do vencedor da disputa demoníaca - Mesmo antes de ter eviscerado as impuras entranhas da reles aranha que julgava possuir quaisquer direitos de reivindicação sobre a alma de alguém como Ciel Phantomhive.

— E assim termina o contrato entre mim e o Mestre. Pode me matar agora. – Pousou suavemente os olhos, ainda úmidos, sobre o corpo que simbolizava sua felicidade concretizada junto a seu amo. – Assim, o Jovem Mestre recuperará o controle. Mas... Mesmo que ele regresse, vai ser como se Ciel Phantomhive estivesse morto para você.

Enquanto isso a batalha seguia feroz. A Aranha saltava e se esquivava, utilizando-se de suas maquinações para fazer frente ao adversário, porém, o majestoso bater de asas de uma criatura tão orgulhosa quanto o Corvo não era nada além de implacável. A destruição causada por um ser tão poderoso quanto Michaelis ruiu irreparavelmente a estrutura do milenar e inalcançável santuário. Aos poucos, como um enfermo abatido por uma doença terminal, a ilha perecia e escoava sua essência repugnante diretamente para o fundo do oceano negro como o inferno.

— Nossa felicidade está completa... Ciel Phantomhive será... Pela força do contrato que fiz com o Mestre, Ciel Phantomhive se tornará um demônio!

Junto das rochas o corpo de Hannah desabava, carregando seu prêmio de guerra. Caiu na imensidão do oceano com um sorriso diabólico, digno da rainha que uma vez fora, e que novamente se tornou – A rainha que chegado o fim deste insano espetáculo atendia ao derradeiro pedido de seu reerguido amor, seu renascido rei, condenando ao sofrimento e ao desespero eterno, sem piedade, aqueles mal vistos aos olhos de seu imperador e aqueles que ousavam interromper sua felicidade e realização final, mesmo sob o custo de sua vida.

A gelidez das águas negras invadiam lentamente o tecido de suas roupas e encontravam seu corpo com um toque que evocavam a suavidade de uma morte repleta de satisfação. Despreocupada, Hannah confiou o corpo do menino ao grande oceano, ciente que o Senhor dos Corvos não permitiria que escapasse. O demônio havia se arremessado no redemoinho selvagem nascido do agonizante coração negro da ilha agarrando-se a um anseio atroz - infinitamente oposto a pureza da esperança - de assassinar seu amo antes que este despertasse com olhos carmesins para o mundo das trevas.

Enquanto uma nova guerra era travada no mar, desta vez para alcançar o corpo gélido de um menino, o negro oceano reclamava seu merecido prêmio para as profundezas do abismo. Reclamava toda e qualquer forma de vida que habitasse a ilha, os corpos estraçalhados, destruídos e degradados daqueles que permaneceram derrotados ( ou serão vitoriosos? ) ao fim do fatídico duelo e por fim, mais importante, reclamava toda e qualquer esperança, qualquer perspectiva de um mordomo e tanto que, desesperadamente perfurava o estômago de um jovem menino que agora - através de dois sangrentos rubis - observava a água daquele lugar imundo se tornar um passo mais próxima da essência liquida do próprio inferno.


— Mansão Phantomhive. -

— Bom dia, jovem mestre - Cumprimentou o mordomo ao abrir as cortinas do quarto rapidamente. Através da vidraçaria cristalina, raios vívidos de sol iluminaram rosto pálido do recém transformado menino, preenchendo por completo o ambiente e sua belíssima decoração habitual com um mosaico de luz e a escuridão que projetava.

Os únicos pontos que pareciam totalmente inalterados pela brilhante luz foram as almas do mordomo e seu senhor: ambas encobertas pelo mais denso nevoeiro. Envoltas nas trevas do que soava como a noite eterna do que um dia foi a Ilha da Morte.

Ciel ergueu-se lentamente, espreguiçando-se com os braços cobertos por seu delicado pijama de seda enquanto bocejava.
Tateou as cegas a pequena e luxuosa mesa de cabeceira em busca de seu tapa-olho até encontrá-lo - ainda com seus olhos cerrados, entorpecidos pelo sono. Os acontecimentos do dia anterior eram distantes e desconexos, aproximando-se mais de um sonho extremamente bizarro que realidade.

Esforçou-se para sair do controle do sono como sempre fazia, mecanicamente levando as mãos ao rosto e dando um laço no tapa-olho. Foi só então que notou suas unhas – o simples vislumbre da negritude que as tingia o fez despertar por completo e espalhar uma sensação febril por cada fibra do seu ser. Ciel não podia mais negar a verdade e taxa-la como delírio.

Sebastian por sua vez, parecia agir naturalmente. Pousou a ampulheta sobre o carrinho decorado com espirais de marfim onde trouxera o conjunto de chá matinal e logo se dirigiu ao jovem. Os grãos de areia escapavam incessantemente pelo orifício central que conectava ambas as partes da estrutura de vidro, e a violência com que se deixavam encaminhar em direção ao seu fim, a uma posição estática, parecia-lhe profundamente indecente e o preenchia com um misto de pavor e ansiedade diante do inevitável.

Passo a passo, o mordomo desabotoou seu pijama e o substituiu, por uma veste de tecido delicado cujo tom cinzento parecia exprimir estranha profundidade; os pés do menino, cujas unhas encontravam-se no mesmo estado que as mãos foram cuidadosamente calçados por longas meias de tecido espesso e negro. O colete, de tom mais escuro que suas vestes, foi habilmente abotoado em questão de segundos, assim como a calça. Por fim, um laço negro foi dado em torno do pescoço com simetria perfeita que só poderia ser alcançada por um nível sobrenatural de destreza.

 – Pode apertar mais? – perguntou repentinamente o menino.

Os olhos azuis do herdeiro da família Phantomhive rápida e silenciosamente se inundaram de vermelho sangue, como uma espécie de fase de transição para uma versão mais diabólica - exibida raramente por demônios apenas quando mostravam seu verdadeiro poder. O brilho irregular da íris era tingido por um tom espectral, como se chamas róseas tomassem conta de sua orbe enquanto sua pupila estreitava-se como os olhos felinos ou répteis.

— Não. – Respondeu o mordomo sem erguer os olhos.

A ampulheta deixou seus últimos grãos escorrerem preguiçosamente como um objeto caindo das mãos moribundas de alguém. O mordomo retornou ao carrinho envolto por um silêncio não-habitual, ergueu o bule de chá e despejou o conteúdo na xícara de porcelana, servindo-se de um coador para filtrar qualquer impureza. Sua superfície não refletia nada.

— O chá deste manhá é New Moon Drop. – disse, deixando o coador de lado num dos pequenos pratos e cedendo a xícara a Ciel.

— Qual a minha agenda para hoje? 

— Nenhuma.

Ciel ergueu a xícara de chá, rindo uma risada cujo som oco arranhava a superfície de tudo. – Tem um cheiro bom. – O demônio serviçal o encarou com indiferença pétrea. Aquele teatro lhe causava asco em níveis que sequer considerava possíveis. Prostrou-se e calçou as botas do menino, o qual parecia sorver satisfeito todo o conteúdo da xícara. Suas vidas a partir de agora eram semelhante ao conteúdo da xícara, do bule, e todo o restante dos utensílios. Tratava-se do mais absoluto vazio, aquele onde nada nasce, nada cresce, e nada morre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

EDIT: Capítulo revisado e editado no dia 31/01/16.