Untitled escrita por kawaii


Capítulo 9
8. Fraternal




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Era uma noite fria de setembro do ano de 2005. Me lembrava perfeitamente da chuva que caia lá fora, fazendo um barulho alto o suficiente ao bater na sacada da janela, para chamar minha atenção. A chuva não era a única razão para que eu não conseguisse tirar os negros olhos da rua repleta de casas grandes e bonitas, porém completamente vazia.
Ele estava atrasado. Itachi estava completamente atrasado.
Na noite anterior, meu irmão mais velho havia me prometido que passaríamos a tarde toda juntos hoje. Mas desde que havia saído para trabalhar pela manhã, não havia retornado. Eu já estava ficando cada vez mais impaciente. Não era a primeira vez que Itachi não cumpria suas promessas de passar um tempo comigo. Ele sempre adiava o compromisso que tinha comigo e eu, de certo modo, era obrigado a entender e aceitar.
- Sasuke. - A voz de minha mãe fez com que eu me virasse para ela. - Seu irmão ainda não chegou?
Balancei a cabeça negativamente, respondendo sua pergunta. Me virei de volta para a janela, enquanto ouvia o suspiro de minha mãe e seus passos vindo em minha direção. Senti o peso de sua mão em meu ombro, mas não olhei para ela.
- Você sabe que ele é muito ocupado, não é? Itachi tem muitos assuntos da empresa para resolver juntamente com seu pai. Não o culpe por isso.
- Não estou culpando ninguém. - Murmurei, franzindo o cenho. - Só queria passar um tempo com ele.
- Eu sei, querido. Mas veja por esse lado. Quando você crescer, vai poder trabalhar ao lado de seu irmão na empresa. Os dois serão os responsáveis. Itachi, naturalmente, será o presidente e você, o vice-presidente.
Não precisei olhar para ela para saber a expressão em seu rosto. Os olhos brilhando e um sorriso orgulhoso nos lábios eram típicos de minha mãe toda vez que ela falava sobre Itachi e eu, no comando da empresa de meu pai, que foi passada à ele pelo meu avô. Nunca havia me importado muito com todo esse assunto, muito menos a respeito de meu futuro.

O barulho do carro contra o asfalto chamou minha atenção para um Mustang vermelho descendo a rua e entrando na garagem de nossa casa. Um sorriso iluminou meu rosto involuntáriamente e eu corri para fora de meu quarto, descendo as escadas de dois em dois degraus e finalmente chegando lá embaixo ao mesmo tempo em que Itachi adentrava a sala de estar ao lado de meu pai. Corri em direção à Itachi, mas me contive quando percebi que a expressão no rosto dos dois homens Uchiha não era nada boa. Mordi meu lábio inferior com força. Itachi finalmente direcionou seu olhar para mim, que agora encarava o chão fixamente. Ele se sentou no sofá, enquanto eu acompanhava seus movimentos do mesmo lugar.
- Venha aqui, Sasuke. - Ele me chamou, fazendo um gesto com a mão.
O sorriso voltou para meu rosto, me fazendo andar depressa até ele. Antes mesmo de eu parar, senti as mãos de Itachi em minha testa, dando um leve toque em minha testa com a ponta dos dedos. Aquilo me fez parar de correr e franzir o rosto, formando uma careta. Ele esboçou um sorriso, mas logo o desfez.
- Desculpe. Tive muito trabalho no escritório hoje. Estou cansado, então vamos brincar amanhã, tá?
Mantive a careta em meu rosto, mas antes que eu pudesse responder, Itachi repetiu o ato irritante de anteriormente. Ele se levantou, murmurando alguma coisa que eu não havia entendido e saiu.
Bufei.

Já passavam das dez da noite, mas eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Fiquei pelo menos umas duas horas me revirando na cama, sem conseguir fechar os olhos. Cansei de ficar deitado encarando o teto e chutei a coberta, me levantando da cama. Ao me aproximar da porta de madeira, ouvi algumas vozes distantes. Reconheci uma delas como a voz de meu pai, mas mal conseguia escutar a outra voz.

Abrindo a porta, a outra voz foi se tornando mais clara. Era a voz de Itachi. Meu pai gritava palavras que eu não conseguia compreender e o que Itachi falava era mais difícil ainda de ouvir, pois ele falava baixo. Saí do quarto na ponta do pé, evitando o mínimo de barulho que fosse. Me aproximei do corrimão da escada e me abaixei ali, posicionando meu rosto de uma maneira que eu pudesse ver meu pai em pé, em frente ao sofá e meu irmão sentado nele. O que eles diziam começou a fazer mais sentido para mim.
- O que você pensa que está fazendo?! Está desperdiçando todo o seu futuro, tudo o que você construiu! - Gritava furiosamente, Fugaku Uchiha, meu pai. Seu grito fez meu corpo estremecer. Nunca o tinha visto tão enfurecido. - Você é só um moleque. Não sabe o que está fazendo! Seu futuro está garantido como empresário. Não jogue isso fora apenas por um sonho infantil.
- Não é infantil. - Tive que me esforçar para ouvir a voz baixa, porém dura, de Itachi.
- É claro que é! Quando eu me aposentar, a empresa ficará com você. Você não pode desperdiçar isso. Sabe quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar?!
- Dê o cargo à elas então. - Sua voz permanecia calma, mas era direta.
- Pare de falar besteiras! - O rosto dele se tornava vermelho pela raiva que sentia. Itachi se levantou para encará-lo. - Se você sair da empresa, também terá que sair dessa casa! - Meus olhos se arregalaram.
- Tudo bem então. Eu vou sair. - Meu pai o encarou incrédulo.
Eu não pude mais ficar apenas observando. Antes que percebesse, já descia as escadas, me enrolando em minhas próprias pernas. Não sei como não caí. Minha vista estava completamente embaçada. Sentia vontade de chorar, sentia medo. Não queria que ele fosse embora. Ele não podia ir. Os dois homens se viraram para mim. Itachi com uma expressão surpresa e meu pai com mais fúria do que antes.

- O que você pensa que está fazendo, Sasuke?! - Gritou meu pai, mas eu o ignorei, correndo para os braços de Itachi.
- Nii-san*, você não pode ir embora! Não vá! - Ele me abraçou com um sorriso gentil nos lábios.
- Eu sinto muito, mas preciso ir. - Me soltei de seus braços, ainda segurando seus ombros.
- Então me leve com você! Por favor! - Pedi, quase deixando com que as lágrimas escapassem de meus olhos.
- Mas que absur-
- Tudo bem. Levarei você. - Declarou meu irmão mais velho, interrompendo a fala de papai.
Abri um grande sorriso, abraçando-o novamente. Mas ele logo se soltou do abraço, me olhando com certa amargura. Desviou o olhar por alguns segundos e tornou a me encarar.
- Mas escute bem, Sasuke. Se vier comigo, terá que deixar tudo para trás. Seus amigos, sua escola, a nossa casa e até mesmo papai e mamãe.
- Não me importo.
Realmente, eu não me importava. Tudo o que eu sempre quis na minha vida, era ficar perto do meu irmão. Ele era a pessoa que eu mais amava no mundo. Me sentiria triste em deixar meus pais para trás, mas tinha certeza de que eles logo aceitariam Itachi e eu de volta. Afinal, eram nossos pais. As coisas iam voltar a ser como antes em pouco tempo. Eu só precisava esperar e em um piscar de olhos, papai voltaria a ser um amigo tão próximo de meu irmão.
- Partiremos amanhã cedo. Suba para seu quarto e faça suas malas agora. Depois disso, durma. Durma o quanto puder. A viagem será longa.
- Entendi. Boa noite, nii-san.
Subi correndo de volta para meu quarto, ouvindo alguns gritos protestantes de meu pai. Já sabia que Itachi iria apenas ignorá-lo, então tentei fazer o mesmo.

Quando os raios solares começaram a dar claridade ao meu quarto, meus olhos com leves olheiras se abriram. Havia sido realmente difícil conseguir dormir na noite passada, mas depois de um tempo, o sono me venceu e tive que me entregar a ele.
Levantei-me da cama, bocejando e correndo até o banheiro. Depois de um banho rápido e me vestir apropriadamente com roupas de frio, peguei minha mala com certa dificuldade, devido ao peso da mesma. Desci as escadas, segurando-a com as duas mãos e me esforçando para não tropeçar. Cheguei na sala com um sorriso que não conseguia tirar do rosto, mesmo que tentasse muito.
Estava pronto para procurar por Itachi, mas travei quando vi a figura de minha mãe sentada no sofá, cobrindo o rosto com as duas mãos. Hesitei por alguns segundos, mas logo me aproximei dela, passando minha mão por seus cabelos compridos e negros, quase azulados. Ela se virou para mim e a primeira coisa que notei foram as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Seu choro se intensificou e ela tornou a cobrir o rosto. Apenas fiquei a encarando, sem saber o que fazer ou o que dizer. Me sentia cada vez mais sufocado ao observar aquela cena. Em toda a minha vida, nunca tinha visto minha mãe chorar. Preferia ter continuado assim.
- Meu filho,,, - Murmurou com a voz fraca, levantando a cabeça. - Eu sinto muito.
- O que você está dizendo, mamãe? Onde está Itachi?
- Ele já partiu. E sem você. - A voz dura de meu pai chamou minha atenção. Congelei. Ele só podia estar mentindo. - Seu irmão foi embora, não ouviu? Disse que não precisava de uma criança irritante para atrapalhá-lo e se foi por aquela porta, sem nem olhar para trás.

De repente, a voz de meu pai e o choro incontrolável de minha mãe foram se tornando cada vez mais distantes. As palavras anteriores de meu pai continuavam martelando em minha cabeça, sem que eu pudesse impedi-las. Minha visão ficava cada vez mais turva e minha respiração mais ofegante. Um bolo se formava dentro de minha garganta e eu não conseguia mais controlar as malditas lágrimas.
Itachi havia me deixado para trás. Partiu sozinho, porque eu só atrapalharia tudo. Como sempre, eu estava em seu caminho. Estava em seu caminho quando ele tinha que trabalhar, quando ele tinha que estudar para as inúmeras provas que tinha na faculdade... Sempre. Todo o tempo eu só havia sido alguém que o incomodava.
Me sentia a pessoa mais idiota do mundo. Acreditei que ele se importava comigo do mesmo jeito que eu me importava com ele.
Era tudo uma ilusão. Toda essa história ridícula de irmãos que vão crescer e trabalhar juntos, estar sempre juntos. Toda essa besteira fraternal.
O porta-retrato da mesinha ao lado do sofá se espatifou em mil pedaços no instante em que eu o derrubei com um tapa. A foto que eu havia tirado com Itachi no meu aniversário de dez anos, estava agora no chão. Exatamente do mesmo jeito que os meus sentimentos por ele.


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Notas finais do capítulo

*Nii-san: maneira carinhosa de se chamar o irmão no Japão.
Então, gente... Hm... É...
Tá. A história deles ficou um pouco parecida com a original, admito. Mas eu não consegui mexer muito nisso, porque a história deles no anime e no mangá é simplesmente perfeita! Relevem um pouco >.
Mas de qualquer maneira, espero que tenham gostado do capítulo. No próximo, vou falar sobre a mania do Sasuke de ficar na escola à noite hahaha.
Ja ne!