Não sei se Michelle me seguia ou não, só sei que corri do hotel até o restaurante, que não ficava muito longe, e parei na frente dele ofegante. Procurei Henry com os olhos e não o achando, perguntei ao garçom se ele havia visto algum membro do Super Junior M.

- O Henry acabou de ir para o estacionamento – informou ele.

Agradeci e sai correndo. Estava tão apressada, que na saída do estacionamento quase fui atropelada por um carro, um carro verde. Fitei o lindo motorista imaginando a sorte – e o azar – que eu tinha e corri até onde ele estava.

- Me desculpe pelo atraso – disse quase sem voz.

- Eu já estou de saída. Tenho alguns compromissos – disse indiferente.

Perguntei se era com o Super Junior M e ele concordou, amolecendo um pouco aquela expressão fria. Como outro carro queria sair, ele conduziu o seu carro até a rua ao lado e estacionou. Da calçada continuei falando com ele.

- Você me desculpa pelo atraso?

- Ahn... – ele hesitou um pouco, mas acabou respondendo – Tudo bem, eu te desculpo, mas agora eu realmente tenho que ir.

- Tudo bem, eu entendo – respondi um pouco triste, mas com um sorriso formando em meus lábios, perguntei – O que vai fazer no sábado?

Ele quis saber o porquê e lhe contei que era o meu aniversário. Então ele me contou que no sábado viajaria para a China por causa do grupo, mas combinou de jantar comigo aquela noite para comemorar meu aniversário adiantado. Feliz por consegui outra chance com Henry, deixei ele ir ao encontro dos membros do Super Junior M e voltei para o hotel.

O restaurante que jantaríamos, era o mesmo que eu havia ido com as chilenas e Michelle, o horário era bom, mas ele avisou que podia se atrasar um pouco por causa do grupo e a viagem que estava próxima, mas ele ligaria avisando e com toda a certeza apareceria. Quando eu cheguei ao hotel, ouvi outra bronca de Michelle que disse que se eu sumisse mais uma vez, ela ligaria para a polícia. Fiquei imaginando o que ela diria para o policial, já que eu não era nenhuma criminosa nem nada, mas ela falava tão séria, que aquilo me deixou aflita. Como eu jantaria com o Henry?

Os turistas que estavam com a agência de turismo, haviam saído de ônibus um pouco antes de eu chegar, então era só eu e Michelle - da agência de turismo - no hotel e querendo ‘fazer as pazes’ com ela, e também me distrair um pouco, porque no hotel estava um tédio, a chamei para fazer um lanche, por minha conta.

De primeiro instante ela não aceitou porque estava brava comigo, mas fiquei no pé dela até que ela aceitasse e saímos para a rua. Durante o percurso até uma lanchonete que ficava um pouco perto do hotel, Michelle quis saber onde eu tinha dormido e eu lhe contei o que havia acontecido. Ela ficou pasma, disse que a minha história era muito louca, acho que ela não acreditou em tudo o que eu disse, mas seu humor comigo se tornou muito melhor.

Enquanto comíamos, conversamos sobre diversas coisas e aos poucos ela foi acreditando na minha história, principalmente porque as chilenas haviam mostrado suas fotos com o Yesung e minha voz ainda estava um pouco rouca, além de eu ficar tossindo. E tentando ser cautelosa, não disse nada sobre o jantar com Henry, deixaria para mais tarde.

Logo depois que chegamos ao hotel, o ônibus com os turistas também chegou e minhas companheiras de quarto também estavam curiosas para saber onde eu havia dormido. Contei para elas o que havia acontecido e elas começaram a surtar pelo quarto. Acho que o sonho delas era ficar sozinhas com o Yesung, mas nada comentei.

Então faltando uma hora para o jantar com Henry, desci para o térreo a procura de Michelle e a encontrei no saguão. Assim que ela me viu já disse:

- Você não pretende sair não é mesmo?

Quase cai com sua pergunta, por acaso ela era vidente? E talvez por minha expressão de medo e aflição, ela conclui que sim.

- Nem pense Charlotte, você não vai a lugar algum – disse séria.

Então fiz biquinho e comecei a implorar que ela me deixasse sair, mas ela disse que eu estava de castigo e doente, então eu ficaria quietinha e quentinha dentro do hotel. Eu fiquei revoltada com a situação. Eu, uma garota com quase quinze anos, de castigo? Só minha mãe podia fazer esse tipo de coisa, mas Michelle ameaçou ligar para os meus pais e senti que era uma causa perdida.

Voltei triste para o quarto e as chilenas quiseram saber o porquê, então contei a elas sobre o jantar com o Henry que Michelle não me deixava ir. E bolando um plano genial, as duas me mandaram ir tomar banho que eu encontraria meu Super Junior. Eu não tinha idéia de qual plano era esse, mas fui tomar banho no mesmo instante. Arrumei-me para o jantar com Henry no restaurante badalado e fui falar com as chilenas. Ouvindo finalmente o plano delas, fiquei com um pouco de receio, minha maquiagem poderia borrar durante o processo de fuga... Brincadeira gente, concordei no mesmo instante.

Derrubando café na cama, chamamos o serviço de quarto e esperamos a camareira chegar. Enquanto ela trocava os lençóis, as chilenas começaram a conversa com ela, para distraí-la enquanto eu entrava no cesto grande de lençóis sujos. Joguei uns lençóis por cima da minha cabeça e esperei ela me levar para a lavanderia do hotel, onde finalmente eu poderia sair e correr para o restaurante. Então a camareira terminou e jogou o lençol sujo de café dentro do cesto e saiu empurrando o carinho. Escutei ela reclamar algumas vezes que o carinho estava pesado, mas eu não podia fazer nada. Enquanto eu era levada para todas as dependências do hotel, uma das chilenas descia para o térreo para ficar de olho em Michelle, enquanto a outra ficava esperando no quarto. Também havíamos combinado que as duas não permaneceriam juntas, porque se Michelle fosse falar com uma delas, diria que eu estava com a outra e mandava uma mensagem dizendo para a outra tomar chá de sumiço, para que Michelle não desconfiasse que eu havia desaparecido.

Depois de muito rodar pelo hotel, já estava ficando entediada quando escutei a camareira passar por uma porta daquelas que só empurra e dizer para outra pessoa que havia mais lençóis para lavar. A outra mulher disse que outra pessoa lavaria, pois agora era a sua hora do jantar e assim, a porta fez barulho novamente e o silêncio prevaleceu. Me sentindo uma fugitiva da polícia, coloquei apenas parte da minha cabeça para fora do cesto procurando alguma alma viva. Não vendo ninguém, salvei para fora do cesto e ajeitei minha roupa com as mãos. Foi então que ouvi passos se aproximando. Sem saber o que fazer, me escondi atrás da pilha de lençóis limpos e fiquei ali em perfeito silêncio. Quem adentrava ao local era outra mulher, que após colocar os lençóis para lavar, deixou o local.

Já havia dado a hora do jantar com Henry quando consegui sair do hotel levando apenas meu celular que ainda não queria ligar e um pouco do dinheiro que ainda me restava, considerando que parte eu havia perdido Apgujeong e a outra parte eu já havia gastado. Correndo feito louca pelas ruas, peguei um táxi e cheguei na maior classe possível no restaurante.

Embora fosse quarta-feira, o local estava bem animado, e sorrindo para qualquer pessoa que eu visse, quase tive um ataque. Onew vinha sorrindo em minha direção com os braços abertos.

- Char – disse ele me dando um longo abraço e um beijo na face – Que bom que chegou – disse ele me empurrando gentilmente para a mesa onde os outros membros do SHINee estavam.

Primeiro eu havia me esquecido do jantar com os meninos do SHINee; Segundo MinHo estava presente da forma mais perfeita que ele conseguia ser, o que fazia meu coração acelerar; Terceiro eu não sabia como o Henry reagiria a isso.

- Onew... – disse com um sorriso na face tentando pensar em algo, mas apenas continuei sorrindo feito boba.

Então ele riu de mim e segurou minha mão direita.

- Não se preocupe, nenhum SHINee vai lhe tratar mal, é palavra minha – disse ele com um sorriso lindo e confiante.

Como alguém conseguia ser tão fofo hein? E quase tendo um treco ali mesmo no corredor, fui puxada gentilmente para a mesa. O encontro com TaeMin, JongHyun, Key e MinHo foi bem pacífico. Todos eles se levantaram e me cumprimentaram com abraços e beijos na face, inclusive MinHo que agora estava com um sorriso encantador e seu cabelo perfeitamente jogado para o lado esquerdo. Me sentei com minha boy band preferida e tive que me conter para não dar a louca no restaurante, tipo as chilenas na frente da cafeteria dos pais do Yesung.

Fiquei sentada ao lado de Onew e de frente para o MinHo, o que fazia meu coração bater super rápido. Fizemos nossos pedidos e ficamos esperando pela comida. Enquanto esperávamos, eles começaram a conversar sobre algo que demorei um tempo para entender, porque meu coreano estava fraquejando novamente e nem participando da conversa eu estava. Eles falavam de uma nova música que eles estavam criando e me senti super, por estar ali no meio, sabendo de tudo em primeira mão. Foi então que MinHo olhou para mim sorrindo e perguntou:

- O que você acha do título My heart?

Fiquei sem fala, como aquele sorriso era lindo, como eu gostava de vê-lo, e pessoalmente ele era tão perfeito que minha cabeça não conseguia pensar.

- Pe... pepe... per... feito, muy bien – disse gaguejando em coreano e completei em espanhol.

- Espanhola? – perguntou MinHo surpreso e animado, a coisa mais linda do restaurante.

Apenas assenti com a cabeça, tentando descobrir como se puxava o ar para os pulmões, o que estava sendo muito difícil no momento.

- Nossa! Não acredito que é você, e eu fui tão rude na sessão de autógrafos, se eu me lembra-se, nunca te trataria daquela forma. Você me desculpa?

Senti meu corpo inteiro formigar e derreter ao mesmo tempo, sério mesmo que um integrante do SHINee estava me pedindo desculpas? Lesada demais para dizer algo construtivo, apenas murmurei enquanto derretia na cadeira.

- Sí.

Seu sorriso foi largo, o que fez meu coração bater ainda mais forte. Então do nada ele se levantou e pegou uma das flores que estava em cima da mesa e me entregou de forma meiga.

- Baila comigo? – disse brincando, como se houvesse alguma pista de dançar no restaurante.

Mas não pensei em nada disso, apenas cai, literalmente, da minha cadeira fazendo um barulho gigantesco. Todos se viraram para mim e antes que eu me movesse, MinHo já me levantava do chão. Minha mente ainda estava lerda demais para pensar em algo, quando escutei uma voz masculina vinda de trás de mim.

- Char... Me desculpe pe... – sem mais nem menos a voz parou e me virei lentamente já reconhecendo de quem ela era.

Henry estava atrás de mim com um sorriso se desmanchando em sua face.