A cidade estava inundada nas águas pluviais do verão. Chovia a dias e mesmo assim, o tempo estava quente. Dentro do apartamento de luxo, em uma cobertura no coração de Tokyo, o ar condicionado podia ser ouvido, juntamente com uma música baixa.

Matsumoto Takanori estava jogado no sofá. Vestia apenas uma bermuda e uma camiseta preta.  Tinha a cabeça tombada para trás, bufando. Ele estava atrasado, de novo.

Odiava atrasos. Principalmente da parte dele.

Levantou-se do sofá e andou preguiçosamente até a cozinha. Abriu a geladeira, pegou uma garrafa de plástico e só teve o trabalho de destampá-la. Sorvia o líquido extremamente gelado, sentindo-o refrescar seu corpo de dentro para fora. A sensação do choque térmico era tão boa que seus olhos se fecharam, involuntariamente.

Aquela sensação divina foi quebrada pelo sonido da porta abrindo e batendo logo em seguida. Com o susto, afastou a garrafa da boca, derramando água gelada na camiseta preta - que imediatamente colou em seu corpo- e no chão, entre seus pés. Voltou os olhos para o chão, totalmente molhado.

- Legal.

Ainda olhava a poça d’água, quando no arco que separava a sala de jantar da cozinha, apareceu uma figura conhecida. O maior estava com os cabelos perfeitamente lisos soltos caídos sobre os ombros, com a franja adornando o óculos de sol que ainda não conseguira tirar, por estar com as mãos ocupadas  –uma por um violão dentro de um estojo e a outra, pelo romance que estava lendo atualmente e a chave da porta-. Vestia uma calça colada, ressaltando os músculos bem definidos, porém, não exagerados das pernas; uma camisa branca que tinha dois botões soltos, deixando parte de sua pele imaculada à mostra e por cima, um enorme sobretudo preto, impróprio para o tremendo calor que fazia.

- Ruki! Ruki, me desculpe pelo atraso! Ficamos conversando sobre o próximo live e quando me dei conta da hora, saí correndo do Studio, mas peguei muito trânsito... Você ta bravo?

- Não, não to. –falou o menor, colocando a garrafa sobre o balcão e caminhando em direção ao quarto, para trocar a camiseta e pegar uma toalha. –Só podia ter me ligado, pra eu não ficar esperando feito idiota.

- Eu tentei ligar, você não atendia o celular, Ruki...

Com isso, o menor engoliu parte de sua raiva. Deixara o celular no silencioso, por estar sendo incomodado pelos seus colegas de banda falando banalidades. Queria tirar aquele dia de folga e com o celular tocando a cada dois minutos, não conseguiria.

- O Reita tava me enchendo o saco e eu deixei no silencioso. –falava emburrado, sem olhar o maior –que o seguia a cada passo- Porra, você tem todos os dias do mundo para falar sobre live, single, mulher e o que quiser com o pessoal, porque justo hoje?

- Ruki, me desculpa, sério... Olha, eu pensei em você o dia inteiro, a cada segundo eu queria sair daquele forno e vir ficar com você. Não fica bravo, por favor... –após alguns minutos sem resposta, o maior suspirou e tirou o sobretudo. Jogou-o em uma cadeira e sentou-se na cama.

- É que... –após um longo tempo em silêncio, Ruki voltou a falar- Às vezes eu penso que a banda, o live, o lançamento, qualquer coisa é mais importante que eu. –falava em tom baixo, mais bravo do que chateado. Mas isso era comum da parte de Takanori-

- Você sabe que não é assim... –Asagi ergueu o braço e pôde alcançar a mão do menor, segurando seu pulso e puxando-o para perto- Nada, nunca será mais importante que você, Taka-chan. –Com um movimento rápido, colocou o outro em seu colo e beijou sua bochecha docemente- Agora, não me obrigue a desfazer esse seu bico à força.

Com um sorriso ainda meio ranzinza, Ruki se atirou sobre o maior, deitando os dois corpos sobre a cama de casal.

Com um beijo apaixonado, tudo desapareceu. O chão molhado da cozinha, a zanga e todas as outras coisas.

Era só mais um dia de muito calor em Tokyo. A dois.