O.c.a.n.s. escrita por reginequeen


Capítulo 1
Terceira Guerra Mundial




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Em 2115 o que se conhecia por Velho Mundo não mais existia.  As doenças na Ásia, as guerras na África e Europa, juntamente com a escassez de alimentos, havia feito daqueles tempos um barril de pólvora, e que realmente explodiu em 2090 resultando na 3ª Guerra Mundial. Quase dois terços da  população havia sido dizimada. Os sobreviventes, quase todos próximos à orla européia, morreram logo depois, outros foram levados para o Brasil ou EUA, pois eram os mais preparados para receber tanta gente e cuidar das feridas do corpo e da alma.

    Nesta época, a distância entre o continente americano do Velho Mundo acabou poupando a América de ter o mesmo destino. Quando começaram os  primeiros sinais de que a Europa caminhava para uma destruição em massa, quando a Ásia assistia estarrecida milhares de corpos colocados em campos abertos vitimados por uma gripe mais feroz que a peste negra, e quando a falta de alimentos atingiu a todos os africanos, pobres e ricos, negros e brancos, sobrou a barbárie... E em nome de Alá, vieram também armas químicas e biológicas. Foi aí que o Novo Mundo se resguardou, herméticamente. Do contrário o fim teria se instaurado. E embora a escassez de alimentos e matéria-prima já se pronunciasse em muitos lugares, o que mais acelerou aqueles dias foi a estupidez humana, que aliada à mesquinhez e a soberba esparramou sobre aquela terra  tão antiga o cheiro da morte.

Alguns tempo depois destes acontecimentos, a geografia política no continente americano mudou. Era preciso se adequar à nova realidade. Por motivos de sobrevivência, todos os países da América do Norte se anexaram naturalmente aos EUA, assim como os países da América Central e do Sul viram no Brasil um líder nato para gerir as dúvidas naqueles tempos misteriosos.

    Devido sua experiência bélica, coube aos EUA evitar grandes confrontos, que vieram. Muitos países, embora cientes que aquele momento exigia alguma mudança, não aceitavam esta nova formação geopolítica. Queriam ainda as alfândegas, os portos abertos e os subsídios sobre seus produtos.

    Era preciso recriar um sistema produtivo, pois havia bens que já não eram  mais necessários. Havia instituições que não tinham validade numa sociedade carente de itens básicos. Quem ousaria naquele momento falar em queda na Bolsa? Esta foi uma lição difícil de ser digerida, principalmente àqueles que estavam acostumados a ter uma vida de consumo, com jantares faustosos e viagens pela Europa. Para camuflar desejos odiosos e inconfessáveis, a alta sociedade e alguns  governos corruptos insuflavam no seio do povo a luta de classes e a supremacia de seus dogmas religiosos, sem nenhuma preocupação em alertar que esta mesma luta de classes e esta supervalorização religiosa haviam levado três continentes à derrocada. Em resposta aos crescentes protestos, o exército estava permanentemente nas ruas, tentando colocar ordem no caos.

Os Estados Unidos haviam intercedido a favor do Brasil quando alguns paises limítrofes  se revestiram de direitos e invadiram terras cultivadas ao norte do país. A fome batia nas portas dos países mais pobres, que presos à uma burocracia burra, herdada de seus governos anteriores, não permitia ver além. Muitos também, antes da tragédia que se abateu sobre a Europa, recebiam ajuda financeira de alguns países e se viram desesperados quando esta ajuda se extinguiu. Seus governantes berravam a plenos pulmões, falando sobre a opressão que sofriam, mas somente tentavam mascarar a vida opulenta que ainda levavam em detrimento à vida miserável que impunha aos habitantes de seus respectivos países, pois não havia a consciência de um novo modo de vida, mas sim o estabelecimento ainda do usurpado e do usurpador. Não entendiam que aquele momento era de transição e exigia apenas pão, água e diálogo. Eles negavam o mínimo aos seus povos e pediam que estes exigissem dos \"imperialistas\", como eram tidos Brasil e EUA na época.

    Depois de mais de dez anos de muitos confrontos, mortes e desespero, foi marcada uma convenção na cidade de Havana (uma exigência dos países andinos), onde foi criada a OCANS, Organização do Conselho do Atlântico Norte e Sul, mas agora sem a presença do Velho Mundo.

    Neste conselho foram abolidas as leis alfandegárias e toda demarcação territorial  anterior ao tratado foi suprimida do mapa do continente americano. Os países perderam suas nomenclaturas e o mundo foi dividido em dois, o Atlântico Norte e o Atlântico Sul. As leis foram revogadas e outras foram criadas. Era preciso um novo sistema político para gerir aqueles tempos. O mundo tornou-se menor, porém mais seguro.

O Atlântico Sul, graças à sua tecnologia agropecuária, foi o celeiro daquela nova civilização. E  juntos, Norte e Sul, descobriram drogas eficazes contra os males que assolaram toda a Europa. Estava presente, no pensamento de todos, uma consciência maior, que nasceu do desespero, mas que fez da Terra, naqueles dias, um bom lugar para se viver.

    De vez em quando era enviado, através da união entre o Atlântico Norte e o Sul, uma força-tarefa para tentar salvar algumas pessoas do Velho Mundo. Havia um comunicado enviado de boca em boca por toda a Europa, África e Ásia, que os sobreviventes do grande pandemônio deveriam se encontrar nas praias de Portugal. Devido a grande concentração de agentes químicos e miasmas por quase toda a Europa, era o único lugar onde os porta-aviões poderiam aterrissar. E esta aterrissagem quase sempre não demorava mais de um dia, pois corria o risco dos víveres serem saqueados e a tripulação ser contaminada.
    Sempre quando o porta-avíões descia ao solo já havia pessoas esperando, famintas, e doentes. Muitas vinham de lugares distantes, próximos à África, e Ásia. Alguns, ao chegarem, haviam perdido a razão, não pareciam mais humanos. Eram executados ali, e seus corpos enterrados em valas profundas; nunca jogados ao mar, pois este era o mesmo mar que banhava nossas terras.
    Os outros eram analisados e diagnosticados. Dependendo do diagnóstico ou eram colocados no porta-aviões devidamente esterilizados ou deixados ali mesmo. Era sempre um processo doloroso. Os tripulantes oravam silenciosos para que não houvesse ninguém ao aportar na praia.
    Com o passar do tempo isto realmente acabou acontecendo. No começo havia muitas pessoas na praia, talvez umas cem. Por isto o porta-aviões era enviado duas vezes ao mês. Passado um ano poucas pessoas eram vistas pela janela do porta-avião, umas cinco no máximo. Ao decorrer de dois anos, ele era enviado duas vezes ao ano, e quase nunca havia pessoas vivas, somente alguns corpos daqueles que andaram quilômetros e quilômetros e não conseguiram resistir ao socorro que havia tornado escasso.


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