Voleur Sinderella escrita por Pequena em Paranoia


Capítulo 22
Capítulo 22 - Slow Dancing In A Burning Room


Notas iniciais do capítulo

DEPOIS DE UM LONGO E TENEBROSO INVERNO... PAM PAM PAM PAAAAM! Aqui está Voleur Sinderella com um capítulo meigo e bonitinho para vocês! Cheio de romance, tortura, grosseria e tals... Espero que ainda tenham sobrado leitores por aqui! Um enorme abraço!



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Auckland, Nova Zelândia. 13 de novembro.

Eu ligo outra vez ainda hoje, então não pegue outro compromisso! – Marianne berrou ao telefone, fazendo com que o rapaz desencostasse o rosto do aparelho por um momento e assentisse – Fernando Boulevard manteve relações com-

– Marianne, vamos conversar sobre isso melhor pessoalmente. – Charles lembrou, passando a mão no cabelo enquanto observava a paisagem de Auckland de dentro da Sky Tower. – Ligue-me quando tudo estiver pronto e nos encontramos na frente da Sky Tower. Meu carro já está com reserva até amanhã de manhã e minha madrasta está fora da cidade.

Entendo. Então até logo.

O ponto era estratégico e tudo parecia ter caído como luva quando Maxine apareceu no sótão dizendo que viajaria por três dias. As meninas, Rhonda e Rose, não perceberiam se ele estivesse fora naquela noite a não ser que a casa começasse a pegar fogo e ele não estivesse ali para carrega-las para fora. Por um segundo sentiu vontade de rir com essa hipótese, talvez Rose chorasse bastante, mas Rhonda seria a primeira a correr para fora.

Charles então suspirou e apoiou os braços num corrimão e observou o horizonte escuro da cidade. Não tinha como escutar nada do barulho que fazia o trânsito lá fora, então se ocupava em sentir o clima agradável e segurar seu próprio casaco.

Foi assim que o seu celular alarmou a chegada de uma mensagem. Era Claire Perrault.

“Como vai, Charles Gareth? O trânsito está bom?”

Por um lado achou graça, mas não entendeu o significado da pergunta.

“E a paisagem? O que acha dela? Se estiver bonita, continue olhando para frente. Mas se estiver entediado, olhe para trás.” foi a outra mensagem.

Ele lançou o rosto para trás e deu de cara com Claire guardando o próprio celular e olhando para ele, mostrando apenas um sorriso acanhado. Quais eram as chances de encontra-la ali? Olhou-a de cima a baixo, observando seu vestido caro, as pérolas em seu pescoço e o cabelo folgado no coque assanhado. Estava belíssima.

– Nunca imaginei que poderia encontra-la por aqui, Claire Perrault. – ele falou, aproximando-se da moça. Realmente não esperava e nem queria vê-la por ali. Não quando estava prestes a sair a trabalho, em outras ocasiões seria um encontro agradável.

– Posso dizer o mesmo, Charles. Como vai? Ainda acompanhando a Srta. Marianne?

Charles assentiu com um movimento de cabeça e aproximou-se ainda mais dela.

– Estou esperando que ela apareça aqui, temos um programa mapeado com todas as atrações turísticas de Auckland. – mentiu, tentando desviar os olhos dos dela – E você? O que veio fazer aqui tão arrumada assim?

– Estou com uma reserva num bistrô, vou encontrar umas pessoas importantes. Vocês deveriam se juntar a nós. – Claire falou lentamente e andou até perto do corrimão da beirada, mantendo os olhos no brilho dos prédios – Tenho certeza de que a Srta. Marianne adoraria o lugar.

Não poderia, ele estava esperando o telefonema de Marianne para torturar um homem.

– Sinto muito, mas devo recusar seu pedido. – Charles abafou um risinho ao falar, ficando ao lado da moça. – Apesar de que seria agradável acompanha-la, Claire Perrault.

– Agradável, é? – ela murmurou, olhando-o por cima do ombro e tentando disfarçar um sorriso involuntário.

Se aquela fosse uma situação normal em que um rapaz encontra uma moça, ele a abraçaria ou a envolveria nos braços e a apoiaria contra o peito, mas não era. A sensação que Charles tinha era de querer segurá-la e olhar para ela em silêncio. Fez um favor a si mesmo e tentou aquietar-se, pousando o olhar cada vez mais baixo.

Ela percebeu como estava e sentiu ainda mais dificuldade fechar o sorriso.

– Apenas agradável. – Charles murmurou e ligeiramente olhou para ela, dando de encontro com sua feição bonita. Riu-se e desencostou do corrimão, passando a mão no pulso dela e segurando seus dedos levemente – Vem aqui.

– O que está...?

Suas mãos estavam dadas enquanto ele a puxava um tanto suave para perto. Quando se deu conta, Claire sentiu que ele a segurava na cintura. Os dois começaram a rir e dançar sem nenhuma música.

– Não sou louco. – Charles falou ao encostar a lateral de sua cabeça na dela e subir a mão da moça para o seu próprio ombro.

– É sem noção e descontrolado com sérios transtornos. Vive no próprio mundo. – ela riu, começando a balançar numa valsa sem ritmo. Ele a guiava bem, o que deixava a situação mais nervosa. – Você deveria parar.

Charles a rodopiou e a puxou para perto, mantendo os rostos aproximados e os hálitos colados na pele.

– Vai me dizer que não gostou? Mesmo? Foi romântico.

Mas ela revirou os olhos.

Os dois queriam continuar ali, apesar dos apesares. A força era tanta que se esqueceram do tempo e sequer perceberam os instantes que haviam passado. Voltaram a dançar, mas já estavam mais próximos que antes, pendulando e pendulando com o balançar dos corpos e movimento dos pés.

Um celular tocou, era o de Claire. Por um momento, tentou ignorá-lo, mas quando pararam de dançar ela sentiu que deveria atendê-lo.

– Alô? – ela falou na ligação – Sim, estou indo já. Não, não, eu estou na torre.

Outro celular tocou, era o de Charles.

– Já estou a caminho! – ele murmurou e desligou instantaneamente antes de se entreolhar com a moça. – Ao que parece, nós dois temos que ir.

– É, parece que sim. – Claire sorriu – A dança fica para depois.

– Você vai me ligar ou eu vou te ligar para esse depois?

Quando ele terminou a frase, a espinha da moça se retorceu. Ele tinha algo diferente que a seduzia tão fácil, ele sequer parecia tentar muito desde o dia em que se encontraram pela primeira vez.

Claire suspirou e respondeu:

– Vamos... Apenas deixar para depois.

O rapaz segurou a mão dela com delicadeza e beijou o encontro dos dedos. Gostava de jogar esse charme romântico, principalmente porque via o efeito que tinha sobre ela.

Cada um foi por um lado diferente. Charlie desceu pelo elevador e avistou o carro escuro que pertencia a Marianne. Arrumou o suspensório por dentro do blazer e passou as mãos nos cabelos. Entrou rapidamente no banco do passageiro e fitou o rosto magro da mulher com quem trabalhava.

– Fernando Boulevard está em casa, Sin. – ela sorriu com os lábios vermelhos e aveludados se comprimindo. – Faremos um arrombamento discreto e o prenderemos em seu quarto. Lembra do planejado? Tenho todo o necessário dentro da pasta de papel.

Marianne tinha um batom vermelho chamativo e usava apenas o sobretudo verde que ele costumava vê-la usando por cima de vestidos. Desta vez, usava apenas o sobretudo por cima da lingerie. Seu disfarce era uma “dama de companhia” e ele era seu cafetão.

Há poucos dias, tinham recebido a informação do hábito de Fernando Boulevard de receber mulheres em três diferentes apartamentos. O Contratante, Charles Marvel, cobrou alguns favores e lá estava Marianne, vestida para matar.

Antes de estacionarem o carro, ela apertou um botão que substituia as placas do carro. Havia câmeras de segurança em vários locais daquele bairro, logo tinham de se assegurar de várias maneiras. Trocaram de lugar rapidamente ainda dentro do veículo e arrumaram as próprias roupas.

Quando adentraram à portaria, Charles tinha uma garrafa de espumante em mãos e Marianne esbanjava charme e sorrisos, cada passo seu era mais sexy que o outro. O porteiro não deu importância, estava acostumado.

Subiram pelo elevador e tocaram a campainha, esperando com calma a chegada de Fernando Boulevard.

– Ansioso para seu primeiro trabalho indiscreto? – Marianne perguntou com um sorriso malicioso.

– É, suas pernas de fora me deixam ansioso em dobro. – Charles brincou, em seguida pigarreando.

Fernando abriu a porta, levando para fora um jato de fumaça do charutoque fumava. Tinha pele morena e um bigode desarrumado demais para alguém que morava num prédio como aquele. Usava um terno caro também, porém amassado, provavelmente por ter deitado com ele. Com seus olhos escuros, fitou a dupla a sua frente e falou com voz seca:

– Demoraram. Terei desconto, certo?

Seu olhar definhou Marianne de cima a baixo, enquanto Charles tomava sua frente.

– Sentimos muitíssimo pela demora de seu pedido, Mr. Boulevard. Aceite como gesto de boa fé esta garrafa. – ele disse, abrilhantando o riso enquanto o homem pegava o espumante – Esperamos que tenha uma noite maravilhosa. Sugar é muito respeitada entre as colegas por suas habilidades. Foi uma escolha maravilhosa.

– É, ta certo. – ele resmungou. – Entre, bebê, e tranque logo a porta. Não gosto de homens em meu apartamento.

– Foi um prazer fazer negócio com o senhor. Volto para buscá-la em algumas horas. – o loiro disse, dando um passo para trás.

Marianne esbarrou nele de propósito por conta de seu comentário anterior e entrou no apartamento do homem depressa antes de fechar a porta, mas não trancá-la. O jovem Charles recostou o ouvido na porta, mas não conseguiu ouvir nada. Imaginou se ela não tinha batido nele ainda ou se teria tirado a calcinha para fazê-lo desmaiar. Riu pelo pensamento que o cruzou antes que a porta se abrisse de vez. Ela estava na sua frente sem uma gota de suor ou alteração de expressão.

– Entra logo. – ela falou rudemente.

Fernando Boulevard estava jogado no chão do apartamento, mas a garrafa estava intacta nas mãos dela. Como ela o havia apagado, isso Charles não perguntaria.

.

Uma hora se passou antes de Fernando recobrar a consciência com um balde de água jogado em seu rosto.

– O-o que diabos?! – ele balbuciou, tentando reconhecer onde estava. Era o seu próprio escritório, mas a luz que preenchia o quarto era vermelha e havia um número incontavel de fotos cobrindo as paredes e os móveis. Em todas, ele aparecia. Tentou se mexer, mas estava completamente amarrado por fitas e fixado na cadeira que praticamente nunca utilizava.

Charles apareceu na sua frente com uma máscara que cobria o rosto por inteiro e esmurrou o homem antes de falar:

– Charlize Sawson.

– O que?!

Novamente, Charles o esmurrou. Saiu sangue de seu nariz rapidamente.

– Você é um fraco, Boulevard! Entregue logo o jogo e não corto suas orelhas. – Charles cuspiu.

– Eu n-não sei d-do que está falando! – o outro grunhia.

– Uma orelha, então.

Com essa afirmação, o jovem retirou do bolso um canivete grande com uma faca que trouxe gritos de Fernando.

– ESPERE! PARE! O QUE QUER SABER?!

Charles aproximou-se dele e colocou a faca encostada na parte de trás da sua orelha, percebendo que suava e grunhia como um porco.

– O nome dela era Jeanne Gilm! – ele disse rispidamente – Trabalhou na Charlize Sawson na faxina praticamente nos mesmos horários que você estava na viagia. Ela trabalha na casa de Devoir Perrault. Reconhece essa mulher?!

Então ele segurou a cabeça de Fernando com força, indicando uma foto dos dois, ele e a mulher chamada Jeanne.

– JE-JEAN! CONHEÇO!

– E aquela ali do outro lado é sua mulher com seus três filhos, Julia, Fernando, Renato e... Ah, o pequeno Tomás.

– O QUE VOCÊ QUER COM ELES?!

– São minha próxima visita se você não cooperar! – falando isso, ele pressionou mais a faca contra a pele, ferindo e já deixando o sangue escorrer um pouco, mas nada grave. O intuito era assustar. – Fale, quantas vezes você fez sexo com Jeanne Gilm!

– E-EU... – ele balbuciou e Charles desceu um pouco mais a faca, dando-lhe mais dor – VÁRIAS! TODAS AS VEZES QUE NOSSOS HORÁRIOS SE CHOCAVAM NA CHARLIZE!

– Muito bom! – Charles riu a seco, retirando a faca e sentando-se numa cadeira a frente dele – Estamos chegando a algum lugar. Agora diga-me, você a convenceu a ajudar no roubo à Charlize quando?

– Roubo?! Mas eu não...

Rapidamente, Charles pulou em cima dele, apertando suas bochechas com força e pressionando a lâmina fria do canivete na sua língua.

– Não minta, Boulevard. Eu nunca fui pego em nenhuma das visitas anteriores.

Fernando arregalou os olhos ao receber a voz de Charles e seu olhar penetrante. Quando a faca saiu de sua boca e Charles se sentou, ele abriu a boca com agonia e choro:

– Ela não tinha ideia! Eu juro! Eu disse que iria pegar apenas uma pulseira, um presente para ela! O roubo foi mais além, mas ela não tem ideia!

– Hoje ela trabalha para para Devoir Perrault. Começou quando? – Charles falou seriamente.

Os olhos do refém vibravam de terror, revirando o escritório vermelho.

– Foi logo após o roubo!

– Muito bem, Boulevard. Agora diga-me a verdade... O ladrão verdadeiro te contratou. Jeanne sabia onde estava se metendo. Quem pagou seu advogado? Foi a mesma pessoa que empregou Jeanne nos Perrault, não foi?

Fernando começou a chorar.

– Foi! Mas eu não sei nada sobre ele! Não sei nada sobre aquele homem! Nem o advogado!

Charles suspirou e pegou um isqueiro em seu próprio bolso, passando o fogo dele na ponta da lâmina. O olhar do outro homem se aterrorizou ainda mais. Então ele grunhiu.

– Nós combinamos que não haveria mentiras. – Charles disse friamente, muito mais do que sempre foi – Você acha que ele pode matá-lo se você contar, mas acredite, eu vou te matar se você continuar a mentir.

Então o rapaz abriu a camisa de Fernando e levou a faca quente de encontro ao peito do homem, ouvindo seus gritos e gemidos de dor. Ele não o havia cortado, tinha apenas encostado e queimado sua pele.

– EU CONTO! EU CONTO! O NOME É TALES DRUMS!

Charles então desencostou a faca, vendo as lágrimas escorrerem pelo rosto do homem.

– Onde eu o encontro? Como me comunico com ele?

– Ele que se comunica comigo! Tem um celular que ele ligava sempre na terceira gaveta do criado mudo ao lado da minha cama! Precisa por um código, mas ele não me deu! Eu só recebo as ligações! Eu juro!

Foi quando de repente uma garrafa grande de vidro foi quebrada na cabeça de Fernando Boulevard. Marianne estava atrás dele, recostada na parede com os restos da garrafa em mãos. Seu olhar era sério, enquanto falava:

– Vou por a injeção nele. Não vai lembrar do que aconteceu nas últimas 24h. Amarre-o na cama, faça parecer um ambiente bem sujo.

– Dê-me seu sutiã que dará certo. – Charles brincou, mas ela não sorriu.

Marianne foi até o quarto dele e pegou o celular. Era um telefone bem atual que a surpreendeu. Havia necessidade de um código para poder iniciá-lo, assim como Fernando falou. Ela o levaria para o Contratante e rastrearia o último sinal de maneira que pudesse encontrar o verdadeiro ladrão. Tinha que fazer tudo aquilo rápido.

Não demorou mais de uma hora para que saíssem do apartamento de Fernando Boulevard, deixando apenas um bilhete sobre o telefone como se fossem Tales Drums.

“Recuperei o que era meu. Não precisarei mais de seus serviços por hora. Tales Drums.”

.

Do outro lado da cidade, no apartamento de Claire no Claire Les Nuages, ela estava deitada com a cabeça nas nuvens. Seu semblante era tímido e seu sorriso pequeno enquanto pensava na dança inusitada e repentina que dançou. Imaginou onde estaria Charles àquela hora e o que faria. Sua cabeça dava várias e várias voltas até que um pensamento lhe atingiu.

“Se eu tivesse conhecido Charles há mais tempo, talvez não precisasse me casar com Wolfgang. Papai gostou dele afinal... Que bobagem, eu não me casaria com alguém que conhecia há pouco! Mas se o tivesse conhecido há mais tempo, ele poderia ajudá-la.”

Alguém então bateu na porta de seu quarto e interrompeu seus pensamentos. Caminhou até lá e quando abriu teve uma surpresa, falando:

– Paul Wolfgang?

Ele sorriu com seus dentes branquíssimos e apertou pouquinho os olhos azuis como jóias brilhantes.

– Boa noite, Claire. Só queria desejar uma noite maravilhosa para você. – ele disse cordialmente.

– Vai dormir esta noite aqui? – Claire perguntou um pouco desconfortável. – Digo, meu irmão te trouxe, mas eu não sabia que iria passar a noite.

– De início ele queria que dormissemos na mesma cama. – Wolfgang falou e pensou que a assustaria, mas ela manteve a posição firme e séria – Mas não se preocupe, partilharei da sua cama apenas quando você quiser.

– É, logo seremos marido e mulher, mas isso não significa que consumaremos o casamento. – ela respondeu um pouco ríspida. Então suspirou. Wolfgang não era quem ela queria, mas tinha boas intenções. – Com o tempo, vai dar tudo certo.

Ele sorriu então e segurou a mão dela, beijado-lhe os dedos.

– Boa noite, doce Claire.


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Notas finais do capítulo

Slow Dancing In A Burning Room é uma música do cantor John Mayer



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