Ainda são cinco horas da manhã, e Carly já está acordada, com seus olhos bem abertos e sorrindo como uma garota boba. A morena está nua, seu corpo semicoberto por um lençol. Ao seu lado, dormindo como um bebê, o que ela sabe porque o ouve ressonando profundamente, está Freddie Benson, seu melhor amigo de muitos anos atrás, o garoto que vivia atrás dela e que pelo qual só percebera que retribuía seu amor depois de salvar sua vida.

A noite anterior havia sido mágica.

Sem sombra de dúvida, tratava-se da melhor noite de sexo da vida dela, e pode-se dizer que ela não era nenhuma novata nesse assunto. Muito menos ele, pelo que ela constatara. As carícias, os movimentos, os beijos, tudo fora tão perfeito que as sensações e imagens estavam estampadas em sua mente, e teimavam em não sair dali.

Mas, aos poucos, sua consciência começa a pesar.

Estando ruim ou não a relação de Sam e Freddie, o que Carly havia feito não era correto; seu pai lhe havia ensinado uma coisa simples: se não queria que acontecesse com você, evite fazer para os outros.

Ela já havia beijado rapazes comprometidos (sem saber, até alguém lhe alertar), mas isso era completamente diferente de tudo o que fizera até então, ela tinha pleno conhecimento que Freddie estava comprometido, muito comprometido...

A morena, silenciosamente, para não acordar Freddie, se levanta e vai ao banheiro, indo direto para baixo da luxuosa ducha do hotel. A temperatura da água é extremamente agradável, a sensação da água morna caindo sobre sua pele é soberba.

Ao contrário do clichê comum de filmes e romances, onde a mocinha toma um banho para se livrar metaforicamente da sujidão na qual se sente após uma noite de sexo proibido, Carly não se sente assim. Muito pelo contrário, ela se sente relaxada e com uma sensação boa como há muito não sentia; tais fatos, indubitavelmente, deixavam-na com a consciência pesada, mas ess era a única coisa ruim que ela sentia no momento.

Ela desliga a ducha, seca seu corpo com a toalha, seca seus longos cabelos com outra toalha e a enrola na cabeça. A jovem mulher dá alguns passos e pega um robe bastante confortável que estava pendurado no banheiro. Carly escova seus dentes e, quando termina de fazê-lo, abre a porta do banheiro, deparando-se com Freddie, vestindo apenas sua calça, procurando por suas meias e sapatos. Ela olha detidamente para o corpo dele, e uma vontade primal de deitá-lo na cama e fazer tudo de novo aparece de repente em sua cabeça.

“É... bem...” ele diz, gaguejando pateticamente.

“Freddie...” ela fala, olhando firmemente para ele, “... a coisa é simples, nós transamos, e pelo visto foi bom pros dois... obviamente, rolou uma tensão sexual brava entre nós, e os copos de chopp da noite passada devem ter nos desinibido a ponto de fazermos isso, apesar de que não é desculpa, pois eu me lembro de tudo, e estava consciente o bastante para ter recusado, se eu quisesse, bem como, tenho certeza, você também estava bom o bastante pra recusar meus beijos. Olha, eu não vou negar, foi bom, mas acho bom mantermos isto só para nós dois, OK? O que fizemos inegavelmente foi errado, mas ninguém precisa ficar sabendo. E outra, vai ficar nesta vez, nunca mais vamos fazer isso.”

“É-é... acho melhor ficar entre nós dois... foi só uma deslizada, os chopps ajudaram... não vai se repetir...”

“Beleza. Agora,” ela pega o celular e aperta o botão de chamada, fazendo a tela LCD acender, para ver a hora, “vai pro seu quarto, toma um banho e se arruma, porque dentro de 1 hora e meia temos de voltar à FoxTech. Eu te espero no saguão dentro de 40 minutos. Depois tomamos o café da manhã no restaurante daqui e vamos pra fábrica.”

Freddie acena positivamente, concordando com o proposto, coloca as meias, sapatos e a camisa e sai do quarto da garota.

Carly volta ao banheiro para secar seu cabelo.

É isso aí, Carly. Você tem de tomar as rédeas da sua vida. Transamos, foi bom, mas eu não tenho de ficar com peso na consciência, foram necessárias duas pessoas para fazer isso. Foi errado, mas quem nunca errou na vida? Que se dane, a vida continua igual a antes.

Os dois dias seguintes prosseguem sem maiores incidentes, e o episódio parece superado por ambos, que continuam conversando e trabalhando normalmente. Findos os trabalhos, os dois funcionários voltam para Seattle.

…

Em uma noite, Carly está preparando um purê de batatas com carne assada. Desiree entra no apartamento.

“Olá, moreninha...” diz a garota alva, dando-lhe em seguida um beijo na bochecha, “... como foste de viagem?”

“Foi produtiva!”

A amiga arqueia suas sobrancelhas e mantém um meio sorriso, o que lhe dá um ar irônico.

“Produtiva. Sei... isso significa que você transou com o Freddie até quebrar a cama?”

“Que é isso, Des! Eu sou uma garota de respeito!” Carly responde, mas sem olhar para a amiga. Ela fica um pouco corada nas bochechas.

“Eu já te conheço, Shay. Você está com cara de quem transou, e pelo ar de alegria, foi com seu antigo amor.”

“Olha, tá bom, foi uma vez só, mas é segredo de estado, certo?”

“Imagina que eu vou espalhar uma coisa que pode te ferrar na empresa... mas... me diga, como foi?”, pergunta a amiga, sentando-se à mesa e apoiando o queixo na palma da mão.

“Maravilhoso. Ele é muito bom, fogoso e atencioso na medida certa, mas foi errado. Não vai se repetir.”

“Beleza... se é assim...”

“Vai ser. Sou uma garota certinha demais pra ser amante de alguém.”

Desiree dá de ombros, levanta-se e, com o dedo indicador, passa o dedo no molho da carne assada, levando-o à boca para prová-lo.

“Hum. O molho tá delicioso, garota certinha.”

Carly sorri e empurra Desiree.