She was Innocent. escrita por Cibelly H


Capítulo 10
Paintball Invernal


Notas iniciais do capítulo

Tomara que eu não tenha demorado tanto.



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June

Três meses. É um tempo adequado para se aprender alguma coisa sobre um esporte, certo? Aparentemente não para Rife. O único progresso que ele conseguiu em três meses foi conseguir se manter em pé em patins de gelo — e isso é anormal, dado que ele mora no Canadá e em uma cabana de inverno de frente para um lago. Eu tento guardar toda a frustração para mim. Essa frustração de não ser capaz de sequer ensinar alguém a jogar hóquei. Eu atribuí o fracasso dele a minha forma áspera de ensinar. Eu não gosto de ensinar nada a ninguém. Não sou boa nisso. Não é que eu queria ser superior a ninguém, muito pelo contrário, me acho insuficientemente boa em qualquer coisa para ser considerada mestre ou similar.

Ele tentou mais uma vez empurrar o disco com o taco, fazendo o disco patinar por alguns centímetros e parar. E essa era a nossa rotina, todo dia, após a escola. Quando acabávamos uma ou duas horas, íamos para a cabana ou a minha casa para que eu fosse ajudada em todas as matérias, que eram basicamente meus pontos fracos. Eu não me sobressaia em nenhuma. Bom, hóquei não é exatamente uma matéria.

Eu não conhecia a mãe de Rife. Eu nunca a vira sequer uma vez na cabana e ele insistia em não revelar seu nome. Eu comecei a suspeitar que ela não deveria ter uma profissão muito prestigiosa quando ele disse que queria nos apresentar, por assim dizer. É claro, não tinha lógica. Por que, por mais que ele me atraísse de uma forma bem difícil de ignorar, nós éramos amigos. Mas não tão bons amigos como eu e Meena. E, é claro, ninguém conseguiria chegar ao nível de amizade que eu e Marvel tínhamos. Nunca.

Então eu não sabia o que Rife era para mim. Ele era o garoto que me deu o seu casaco e me levou para casa quando eu quase peguei hipotermia no lago. O garoto que trabalhava tão arduamente para me fazer entender o teorema de Pitágoras. O garoto que era uma negação no hóquei, mas que me fazia sorrir cada vez que balançava o gelo caindo com força de propósito. Eu queria gastar cada centelha de tempo que eu tinha com ele. E ele não parecia discutir então eu era suportável. Mas o que eu sentia por ele? A única coisa que eu sabia era que ninguém nunca me fez sentir assim antes.

— Acho que você deveria mudar para o xadrez. Ou qualquer outra atividade fora do gelo. — eu disse, enquanto colocávamos as pequenas traves e os tacos na caçamba da velha camionete.

— Você não foi a primeira a dizer isso. — falou com um sorriso.

Sim. Ele mesmo falou que era um fracasso em esportes no gelo. Eu achei que era modéstia.

— Se for de consolo, existem casos muito piores.

Ele bufou e entrou no carro. No lado do motorista. Por mais que eu tivesse ciúmes daquela lata velha, eu tinha que admitir que ele dirigia muito melhor que eu. E eu já estava tão exausta com toda aquela coisa de ensinar que bastou eu deitar a cabeça no banco velho para cochilar.

— Não durma. Eu já te carreguei duas vezes essa semana para casa. — ele resmungou, me sacudindo. Eu murmurei alguma coisa pejorativa sobre a minha respiração e o empurrei. Eu não dormia de propósito, mas ser carregada por ele só era mais um incentivo. Por que ele tinha um jeito cuidadoso de me colocar no braço, como se estivesse ninando um bebê.

Ele resmungou mais um pouco, mas acabou desistindo. Eu estava apenas semiconsciente que ele cuidadosamente me transferia do banco para os seus braços, e eu respirava o cheiro de casa que ele tinha. Casa, pinheiros e chocolate-quente. Como o natal. Rife cheirava como o natal.

— Você é mais pesada do que parece. — ele disse com um suspiro.

Eu quase sorri. Mas isso entregaria que eu não estava completamente dormindo.

Depois de atravessar a portaria e todo o jardim, ele me depositou suavemente no sofá, cumprimentando minha mãe. Se minha mãe acusava Marvel de ser encrenqueiro, meus antigos amigos de serem parte de gangues e Meena de pedir favores e apoio emocional demais de mim, ela só era elogios para Rife.

— Exausta de novo? — ela perguntou.

— De novo. Acho melhor dar uma folga para ela hoje. — ele respondeu.

— Não, só descanse um pouco e volte ao trabalho. Ela te disse que tirou um B em inglês? Não pode dar folga. Eu ainda tenho esperanças nela. — ouvir minha mãe falando sobre mim não me deixava confortável. Ela quase nunca falava em qualquer coisa que tivesse haver comigo a não serem as não muito boas.

— É, ela me contou. Eu só queria cumprir minha parte do trato, mas hóquei não é pra mim. Somos totalmente incompatíveis. — abri só um pouco os olhos para vê-lo dar de ombros e os fechei novamente.

— Bem, acho que você ficou com o lado ruim da barganha. June não poderia ensinar nada a ninguém mesmo se quisesse. — minha mãe não acidentalmente fez questão de mencionar que eu não queria ensinar nada a ele, mas ele fingiu não perceber.

— É o suficiente pra mim. — ele disse.

A frase não parecia ter sentido para mim, mas minha mãe concordou e se despediu, murmurando alguma coisa sobre abertura de galeria de arte.

Rife sentou-se perto de mim e brincou com uma mecha do meu cabelo.

— Pode parar de fingir que está dormindo.

Abri os olhos e falei:

— Pensei que eu soubesse fingir melhor.

— Você não me engana. Não importa o quanto tente. — falou piscando sedutoramente.

Sufoquei uma risada e fingi irritação.

— Fique sabendo que eu consegui o papel de rainha de copas na peça do colégio.

— Na terceira série. — falou Kate aparecendo de repente com uma espécie de arma de paintball.

— O que é isso? Vamos ter paintball aqui? — perguntei.

Ela sorriu. Um sorriso maníaco que ela só tinha quando queria aprontar algo.

— Algo dessa espécie. — disse atirando em mim. Uma bola de neve atingiu meu rosto.

Ela correu e a perseguição começou. Em menos de vinte minutos, a casa parecia ter sido virada de cabeça para baixo, enquanto Kate atirava e recarregava a arma com neve e eu devolvia as minhas manualmente. Eu não sabia como Rife tinha entrado na brincadeira, mas quando dei por mim ele estava me acertando em cheio com um porco de pelúcia que parecia estar abandonado perto da lavanderia. Eu atirei o porco de volta e ele começou a atirar sabão em pó, roupa suja e até espuma da máquina de lavar.

— Agora virou pessoal! Kate, dois contra um! — gritei, arremessando uma edição surrada de “Emma” que sempre ficava perto do balde de roupa suja. Não sei por que.

Kate apareceu com sua arma carregada e em poucos segundos todos nós estávamos ensopados de novo e com crises incuráveis de risos.

— Devíamos fazer isso com mais frequência. As coisas andam tediosas aqui, vocês sabem. — Kate disse quando se recompôs.

— Apoiado. — falou Rife entre respirações longas para recuperar o fôlego.

— Só não sei se Maria de Lourdes vai apoiar. Vocês destruíram a casa! — murmurei entre risos.

— Eu ajudo ela a limpar. — disse Kate dando de ombros.

— Acho que isso reduziu a aula de hoje a cinzas, certo? — murmurei alegremente.

— E eu não suspeitaria se você tivesse armado isso de propósito. — ele acusou.

— Ah, não. Ela nunca faria isso. Perder as preciosas aulas de reforço do Rife? Céus, nunca. — disse Kate revirando os olhos.

— Preciosas. Já sinto meu ego aumentar. — Rife deu uma batidinha no peito e um sorriso bobo.

— Pena de morte pra quem não entende uma ironia. — falei, tentando disfarçar o fato de que eu estava da cor de uma beterraba.

— Qual foi o terremoto que passou por essa casa? — berrou alguém em um forte sotaque da cozinha. Kate suspirou.

— Tenho uma casa devastada a arrumar. — falou e foi embora.

— Me sinto culpado. Deveríamos ajudar? — Rife perguntou.

— Não, aqui devem existir mais de cinco pessoas trabalhando especificadamente para esses casos. O melhor que podemos fazer agora é nos secar.

Maria de Lourdes acabou encontrando até outras roupas para ele.

— Um pouco frouxo, mas coube. — ele disse.

Não me segurei mais e explodi em gargalhadas. Ele levantou as sobrancelhas.

— Nada, é só que essas roupas eram do Tio Frank. Ele é tatuador em Quebec. — expliquei.

— Eu tenho uma tatuagem. — ele disse timidamente.

— O que? — eu fiquei tão surpresa que acabou virando um grito.

Ele pareceu envergonhado. Então, lentamente, ele foi puxando um pouco a camisa para o lado e eu vi.

Era uma chama. Não uma chama daquelas que são desenhadas em caixas de fósforos. Era uma chama daquelas que englobam enormes fazendas, casas e que podem causar uma destruição imediata. E era linda, parecia dançar nos meus olhos. Era como estar olhando para uma fogueira, e mesmo que fosse preta da cor de carvão, a tatuagem me fazia lembrar de todas as cores que uma fogueira tinha. E ficava exatamente no ponto onde eu podia ouvir as batidas do coração dele, como se mesmo o seu coração fosse uma fogueira que enquanto estivesse acesa o deixaria viver.

Hesitante, eu rapidamente encostei o dedo levemente ali. Quente e confortável como uma lareira.

— É linda. Como conseguiu? — perguntei, rapidamente retirando meu toque. Eu propositalmente não encarei seus olhos.

— Foi um... Presente. Da minha mãe. — falou.

Isso me fez levantar o olhar para os seus olhos.

— Sua mãe? Uau. Dar uma tatuagem de presente para um garoto de dezesseis anos. Bem moderna. — falei.

Ele riu. Seus olhos pareciam levemente amarelados agora.

— Na verdade, foi quando eu tinha doze. — falou — As coisas são bem diferentes de onde ela vem.

— Então você definitivamente precisa me apresentar a ela. Quem sabe eu não ganho uma tatuagem?

— Ah, claro. A Sra. Brooks vai realmente adorar a idéia da tatuagem com certeza. — ele ajeitou a blusa, mas a tatuagem parecia ainda visível para mim. Como se, mesmo sobre uma parede, eu pudesse vê-la. — Ela vai vir hoje. Que tal um jantar?

A oferta inesperada me deixou elétrica.

— O.k. Que horas? — perguntei.

Ele olhou o relógio e de relance eu vi que já eram quase sete horas. Não, como pode ter se passado tanto tempo?

— Agora mesmo. Você vem comigo. — ele me puxou suavemente e passou o braço sobre os meus ombros.

— Eu não vou assim. Preciso causar uma boa impressão.

Ele sorriu.

— Você causa boa impressão em qualquer coisa. Até em um uniforme de hóquei, se quer saber.

E eu vi em seus olhos que ele estava sendo sincero.



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Notas finais do capítulo

Awn, que fofos *-*
Reviews, reviews e mais reviews, por favor.



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