Uma fraca chuva cai, dando ao dia um ar triste e monótono, o que diverge da alegria e ansiedade que sinto. Observo as gotículas a tocar de maneira pouco delicada o vidro da janela do carro que me encontro, dou uma mordida na maçã em minha mão, mal sentindo seu sabor. Estava indo a uma cidade estranha, onde não conhecia ninguém.  A expectativa do que poderia acontecer me consumia, era uma aflição quase palpável. Mas daria certo, tinha certeza que sim. Esse pensamento de certa forma me confortava. A chuva se intensificava aos poucos, quase como um mau presságio. Preferi ignorar esse fato. Peguei a pasta em meu colo e dela retirei um papel que continha nele meu horário na faculdade, analisei as disciplinas que cursaria aquele semestre, meu primeiro semestre. Cursaria a universidade há 700 km de meu lar. Mas era necessário já que eu queria ter a melhor formação possível. A velocidade do taxi diminuiu, estava quase em minha nova residência, onde moraria pelos próximo cinco quem sabe seis anos. Esperava gostar do lugar... Dentre outras coisas!

   Estava frente à casa , era amarela, simples em sua estrutura, mas com um ar aconchegante. Respirei fundo, abri o portão que nada mais era que uma grade de um metro e meio branca, que supostamente deveria dar alguma proteção.  Olhei o relógio e constatei que eram quatro e meia da tarde. Entrei na casa, deixei minhas malas em um canto qualquer e olhei a minha volta, estava tudo organizado os moveis em seus devidos lugares, limpos como havia pedido a uma diarista que o fizesse. Dirigi-me a cozinha e tomei bastante água. Senti meu estômago reclamar por comida porque fora a maçã que comi há três horas não comia nada desde o café da manhã, verifiquei a dispensa e constatei o obvio. Estava vazia. Um desânimo me abateu, não sabia aonde comprar algo decente para me alimentar. Porém tive sorte, andei apenas alguns metros e me deparei com um mercado não muito grande. Comprei o que precisava e retornei.

    Saboreie o chá de canela fumegante, acompanhado de alguns biscoitos.  Faltava ainda uma semana para o inicio das aulas. Após o lanche fui a sala e comecei a ler um livro interessante, quando me movi percebi a dormência no lado direito de meu corpo olhei pela janela e vi que a noite começava a cair. Fui tomar um banho, a água morna pareceu dar-me um choque ao entrar em contato com minha pele, relaxando gradualmente meus músculos amenizando meu cansaço. Tratei de vestir logo um pijama de algodão azul claro. Comi umas frutas fiz minha higiene e fui dormir, cai no sono instantaneamente.

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      Ainda era cedo, cerca de nove da manhã, eu passei a noite viajando. Observei a fachada da casa que seria minha morada nos próximos anos. Não perdi muito tempo contemplando e logo adentrei o local. Extremamente organizado, isso me aliviou pois a idéia de arrumar minha nova casa não era lá muito empolgante. Notei no canto da parede algumas malas. Certamente já havia chegado alguém. É, infelizmente não vou morar sozinho vou dividir a casa e principalmente as despesas com outros dois rapazes. Só espero que sejam legais. Fui a cozinha e me servi de leite e um sanduíche natural. Logo cheguei ao quarto e me deparei com meu colega adormecido, seus cabelos eram ruivos a pele alva, me questionei a cor de seus olhos, logo descobriria. Ele era pequeno se comparado a mim. Que seja não vou perder meu tempo observando ele. Tão logo me joguei na cama como estava mesmo, não demorou muito adormeci.

   Despertei horas depois, a princípio estranhei o lugar, mas logo me lembrei de onde estava. Fiz minha higiene. E fui pra sala me deparando com aquele colega que estava sentado em posição de lótus no sofá com uma almofada no colo e um livro um tanto espesso sobre ela. Não quis interromper e me sentei noutro sofá em silêncio.

- Como vai? Sou M. Aguilar. – apresentou-se meu colega, e quem sabe futuro amigo.

- Ah, estou bem, sou A. Lion. – amaldiçoei o costume de se dizer apenas o sobrenome a estranhos.

- Não o vi chegar... De todo modo o almoço ficará pronto em alguns minutos. – sorriu ele, reparei em seus olhos, eram azuis. – Deve estar com fome, bem eu estou.

  Nos dirigimos a cozinha e pude então experimentar um cozido feito por Aguilar, realmente ele sabia cozinhar, cara que sorte eu tive.

- E então que matérias pegou? – perguntei despreocupado.

- Hmm, espera um pouco. – o vi sair e retornar em um instante – Essa é minha grade horária.

- Legal, estamos na mesma turma de sociologia e de filosofia. – sorri satisfeito.

- Isso é bom, quem sabe não fazemos algum trabalho juntos, sabe eu sempre tive problemas pra ir atrás da colaboração de meu “amigos” de todo modo vai ser interessante.

- Quando será que ele vai chegar? – inquiri.

- Amanhã à tarde, recebemos uma carta hoje dele informando isso, seu nome é I. Amamiya. Está no mesmo curso que nós.

- Que tipo de pessoa ele será? – pensei alto.

- Espero que alguém responsável! – respondeu ele.

  Passei a tarde conversando com Aguilar, era uma pessoa culta e madura, fiquei satisfeito com a companhia que sabia que teria por um longo tempo. Ao cair da noite sai para conhecer a cidade e quem sabe ficar com uma bela garota...

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     Simpatizei com meu colega, Lion é alegre e espontâneo, inteligente e sabe sustentar uma conversa. Se Amamiya for como ele estará tudo bem. Pouco depois dele sair, resolvi também dar uma volta. A cidade estava iluminada e algumas barracas montadas vendiam comida e em outra tinham uns joguinhos bobos. Então uma garota me abordou:

- Oi é  novo na cidade, não é mesmo?- ela tinha a aparência delicada, era loira e muito bonita – Se quiser te mostro a cidade, sou J. Camaleão.

- Ah gostaria sim obrigado, sou M. Aguilar.

   Aparentemente Camaleão viu algo interessante em mim pois não desgrudou de mim, fiquei sabendo que ela seria uma caloura de psicologia. Em dado momento vi Lion abraçado a uma bela morena em um canto mais afastado. Fiquei mais duas horas na agradável companhia de Camaleão, ela me deu seu telefone no final, disse que se eu precisasse de algo não deveria hesitar em ligar para ela.

  Quando cheguei fui logo comer algo. Lion chegou e me perguntou:

- Não comeu fora por que?

- Fui desprevenido sabe...

- E a loirinha?

- Que tem ela? – perguntei.

- Ela não te convidou? – perguntou um tanto sarcástico.

-...

  Fui dormir nessa noite não tive sonhos, foi como morrer, simplesmente inexistir...

Continua