O Covil escrita por RafaahTips


Capítulo 1
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O começo é incerto, como um sonho estranho,

Não sabe-se aonde estava, nem para onde ia, só sabia que assim ficava.

Não lembro onde era.

Era um lugar estranho, tipo um vilarejo.

Não lembro o que era.

Era no interior, sim, no interior, algum lugar escuro e chuvoso no interior, um sol malacafento brilhava por traz das nuvens cinzas, o céu, pintado num escuro deserto como os olhos de um lobo.

O lobo, era tudo o que eu lembrava; os olhos daqueles dois sujeitos, como lobos a nos fitar, um parque de diversões, um tanto quanto estranho, algo novo naquele lugar.

Fomos então, eu, você, meu pai, minha mãe, a Lorena, o tio Jô, e mais alguém que eu não sabia, bem, se eu não sabia, quanto menos você que nem a mim conhecia.

Um lugar com árvores, alguns palhaços, umas bancas de doces e aquele galpão no centro. Um galpão com portas marmorizadas do inferno, parecia uma simples casa dos terrores, era sim, uma casa dos terrores, mas o quão aterrorizante, ninguém sabia ao certo.

Todos naquele circo nos levavam em direção ao centro, com seus sorrisos medonhos e risadas maléficas, todos sabíamos que de algum jeito aquilo não poderia acabar bem.

- Vamos, vamos! - dizia a Lorena, afinal, que mal há nisso? É só mais um parque de diversões, estamos em outubro, bom, mês das bruxas, só é mais uma daquelas... “noites do terror”.

Com uma maçã do amor na mão, tomamos a decisão, entremos, pois, então.

Como dizia, de tudo o que lembro eram seus olhos, dois homens altos e magros com olhos negros e sorrisos brancos como a luz da lua, dançavam em frente do galpão, recolhendo tickets e rindo da situação.

Disse um deles a nós:

- Quantos comprarão os irmãos?

Entreolhamo-nos pois, abriram se as portas e entramos de dois em dois.

Que lugar engraçado!

Visgos cresciam por todos os lados, aves negras rodeavam os céus...

Céus? Não estávamos dentro do galpão?

Pois é, algo acontecera assim que passamos nós pelo portão!

Lá dentro era outro lugar, outro mundo, um labirinto sem cor, cheio de medo e terror, nem o ar se movia, e o relógio do meu pulso já não tiquetaqueava mais.

Todos juntinhos, andávamos pé ante pé, até segurávamos a respiração; do solo subia uma fumaça esverdeada com cheiro de corpo em decomposição.

Ouviu-se um grito do meio do escuro:

- É o fim!

Um arrepio mórbido perpassou a minha espinha, enquanto em minha mente repetia: 'é apenas um brinquedo, um brinquedo em um parque de diversão.'

Havia alguns objetos caídos no chão, objetos bonitos, mas só um me chamava atenção.

Um violão preto e brilhante com cordas de aço e uma palheta dourada no braço pendurada.

No momento que o vi, eu o desejei.

Observei que cada um ficara encantado com algum objeto em particular, e que todos sucumbiram aos seus desejos e logo estavam com seus bens materiais, recém achados nos braços, eu não seria diferente. Assim que pisquei, lá estava com o violão em meus braços.

Andávamos agora, sem tanto medo, estávamos entretidos com nossos objetos de desejo.

Uma musica circense tocava ao fundo, com vozes desconexas falando palavras em outra língua, mas estava tudo bem.

Entrei em um torpor gostoso, misturado de ansiedade e possessão, não queria nunca mais sair dali.

Alguns passos à frente comecei a ver outros rostos, pessoas cansadas, cinzentas, tristemente felizes, velhas e enrugadas, mas não pela idade, pelo sofrimento.

Todos seguravam algo, em um canto a frente, um senhor careca andava de um lado para o outro com uma arma na mão, ninguém via o seu rosto, mas ouvia-se o que ele falava, o velho dizia:

- É um dia chuvoso, óh sim! Que dia chuvoso!

Exclamava tais palavras com furor e contentamento em sua voz.

Uma senhora com cabelos espalhados e grisalhos correu a meu encontro. Ela me fitou com seus olhos amarelos e grunhiu. De sua boca saiu uma fumaça negra e então ela disse, com um sorriso:

- Vê? Aqui sempre há fósforo, aqui sempre há fogo, o cigarro daqui é sempre o mais gostoso!

Riu-se a pobre louca e mostrava-me o monturo de fósforos e cigarros de palha que se encontravam em suas mãos.

Eu havia de fato esquecido, o tempo, o espaço ou outros, só queria tocar musicas, louvores a satanás em meu novo violão.

De tempos em tempos a porta se abria e víamos a luz que de fora surgia, uma breve lembrança pela minha cabeça transpassava, uma lembrança sobre algum lugar, algum tempo, algumas pessoas.

Eu ia andando em direção a mesma, pois ela cantava, mas quando perto chegava os lobos diziam:

- Quer sair? Já cansou de se divertir?

Eu não respondia, agarrava o meu violão e voltava para traz, olhando fixamente para eles como um cão que guarda o osso desconfiado.

Não havia mais vida, não havia mais comida, vivia pelo meu desejo, desejava apenas o eu, todos os dias.

Todos os dias.

Todos os dias.

- Dias? O que é um dia? Já não sei quem sou, para onde vou, dia chuvoso, ohh que dia chuvoso - eu dizia.

Certa vez então, algo diferente aconteceu, da porta surgiu um homem, alto, branco com seus cabelos cumpridos e com sua voz suave nos falou:

- Vem!

E tão rápido como chegou, se foi.

Meu coração bateu de novo, eu senti, como uma chama ardendo em meu peito e com um impulso eu quebrei o violão no chão e sai correndo para a porta, meus olhos de repente se abriram e alguns que estavam comigo também assim o fizeram, éramos sete, sete os que foram acordados do torpor.

Batemos na porta, queríamos sair de qualquer jeito, uma fresta se abriu e o lobo falou:

- O que foi? O que querem?

Gritamos em uníssono:

- Queremos sair daqui!

Ele abriu a porta com um chicote na mão, e nos espancou um a um então.

Mas correndo, chorando e gritando, conseguimos sair.

Corremos e corremos, até estarmos bem longe dali, quando paramos, olhamos uns para os outros, e não eramos mais jovens, havia se passado anos, ficamos na escuridão do desejo infernal por anos a fio!

O que foi isso? O que aconteceu?

O homem misterioso que nos acordara da escuridão estava em nosso meio, ele tinha um sorriso bondoso e sem abrir a boca, sua voz fez-se ouvir:

- O que nos leva a prisão é primeiramente a curiosidade do erro, e depois o declínio aos nossos desejos, estamos presos a coisas materiais, e envelhecemos a cada dia sendo enganados por armadilhas que nós mesmos criamos e aceitamos, não percebemos, pois estamos envoltos em uma névoa de falsa felicidade, digo que, agora estão em liberdade, vão e avisem os tolos, sobre o covil do palhaço e do lobo.


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Notas finais do capítulo

de: J.M. Santos (meu amor)



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