– Ok, de outro assunto que não seja esse. - Disse Aidou fazendo inconscientemente uma careta que fez com que Yori quase tivesse pena dele.

– Por que esse mistério todo? - A menina murmurou, mais para si mesma do que para Aidou.

– Não seria bom para você saber. - Ele lhe assegurou. O tom sombrio que ele usou a fez ter um calafrio.

– Vocês todos parecem meio... - Yori tentava encontrar uma palavra adequada. - Perigosos.

– É... - Concordou Aidou, embora a resposta o decepcionasse por alguma razão. - Talvez.

– Mas falando com você agora, - Yori apressou-se em dizer assim que viu a expressão do loiro. - Não consigo acreditar que seja perigoso.

– Por que diz isso? - O garoto arregalou os belos olhos azuis com a surpresa.

Ele era perigoso sim. Ele estava pensando no sangue dela há pouco tempo. Ele já havia bebido o sangue de Yuuki e era de longe o membro da night class mais descontrolado quando o assunto era a sede.

– Você é gentil, Aidou-senpai. Parece inofensivo. - Yori explicou, e depois de dar uma boa olhada na expressão que tomava conta do loiro acrescentou - Menos quando faz essa cara.

Mas Aidou não mudou sua expressão. Ele estava realmente chocado. E preocupado. E talvez um pouco feliz.

– Não acha estranho, um garoto que invade seu quarto a noite? - Ele a perguntou.

– Na verdade acho muito estranho. - Yori confessou, olhando-o nos olhos como ele percebeu que ela fazia com quem quer que fosse.

– E não se sente assustada? - Ele indagou.

– Não. - Ela garantiu estranhando a pergunta - Eu deveria?

DEVERIA. Ele quis gritar. Claro que devia. Todos os humanos lá no fundo tinham um certo medo dos vampiros mesmo sem saber. Naquele momento mesmo, ele prestava atenção no pescoço da menina. Podia ouvir o sangue correndo por suas veias, quase podia ver o vermelho através da pele branca da menina. Lembrou-se por um momento do sangue de Yuuki que havia experimentado a poucos dias. Fresco. Delicioso. Muito melhor do que qualquer tablete de sangue, e ele nem estava apaixonado por ela. Pensou que o sangue de Yori certamente acabaria de vez com a sede que tomava conta sua garganta naquele instante mesmo. Ele fitava a veia quase que hipnotizado. Era só chegar um pouco mais perto...

– Aidou... Seus olhos... - Yori balbuciou enquanto via os azul dos olhos do menino tornarem-se um vermelho intenso. Pensou ter visto também os caninos brancos alongarem-se. O que Aidou era?

– Hã? O que? - Ele pareceu despertar do transe, finalmente percebendo o que estava prestes a fazer. - Ah sim, desculpe-me por isso.

– Por um instante seus dentes... - Ela não conseguia acreditar. Mas havia visto, certo? Não podia ser real...

– Não. - Aidou garantiu. - Foi só impressão sua.

– Não acho que tenha sido impressão. - Yori respondeu teimosamente. - Pode me deixar... Tocar?

– O que? - Aidou perguntou debilmente enquanto olhava Yori observar-lhe tão atentamente percebendo que por mais idiota que parecesse ele gostava daquela sensação.

– Seus dentes. - A menina respondeu naturalmente.

– Que estranho. - Ele riu, tentando a todo custo forçar uma reação típica de um humano de sua idade. - Ninguém nunca me pediu para tocar meus dentes. São tão bonitos assim?

– Não falo dos normais, faça-os ficar daquele jeito. - Yori pedia. Aidou não pode deixar de notar o quanto ela era corajosa. Pedir a um vampiro para que ele saísse da forma humana. Aidou obedeceu sem perceber. Yori sentou-se ao lado de Aidou na cama de Yuuki e viu o loiro abrir a boca, a menina pareceu hesitar por alguns instantes e então levou os delicados deles até a boca do loiro. Aproximou-se para olhar de perto estudando o estranho canino do garoto. Mal percebia que seus dedos roçaram de leve pelos lábios do garoto fazendo-o corar. Ao sentir o toque dela em suas presas o instinto de Aidou mandava-o mordê-la. Apenas um furo num daqueles dedos seria suficiente para degustar um pouco do doce sangue da menina. Foi preciso um autocontrole que Aidou nem desconfiava possuir para afastar a mão da menina dali.

– Yori-chan... Acho mais seguro você tirar a mão daí. - Ele falou de um modo tão preocupado que ela logo percebeu que era sério.

– Ah, claro. - Respondeu mesmo que quisesse olhar um pouco mais.

– Acho que já é hora deu ir. -Disse Aidou com pesar. Enquanto pulava até o beiral da janela outra vez estudando quanto tempo levaria para voltar ao dormitório e finjir que estivera lá a noite inteira. - Daqui a pouco a Yuuki pode chegar e...

Uma mão puxou sua manga e ele parou. Percebeu que Yori em pé atrás dele e segurava-o. Não o suficiente forte para que ele não pudesse continuar saindo, mas com determinação tanta que ele não queria que ela o soltasse.

– O que você é senpai? - Ele a ouviu perguntar. Sabia que por mais que gostasse dela, essa era uma pergunta perigosa demais para ser respondida com a verdade.

– Eu? Sou só um estudante. - Ele sorriu e então olhou para rosto dela para ver se a havia convencido. Não estranhou ter falhado.

– Não, você é diferente. Não é humano. - Yori afirmou.

– Pareço mau para você? - Aidou virou-se e segurou o rosto dela entre as mãos. Fitava os olhos da menina. Não usava nenhum tipo de poder para tentar convencê-la. Queria de fato saber o que ela sentia.

– Não, na verdade. - Ela respondeu. Ele sentia-se aliviado, transbordava de uma felicidade que mal podia descrever, dessa Yori nem desconfiava enquanto olhava no rosto do garoto que permanecia sério.

– Então isso é tudo o que você tem que saber de mim por enquanto. - Ele a soltou e com um único pulo saiu do cômodo. Deixando Yori um tanto perturbada para trás.