Capítulo 4

POV Annabeth Chase

Eu estava de volta. Nem parece que já faz um ano que aconteceu toda aquela guerra, o tempo realmente passou muito rápido. Algumas coisas mudaram nesse meio tempo. Agora eu moro em Nova York, mais precisamente em um internato de altíssima qualidade. Resolvi me mudar por causa da reforma do Olimpo, já que sou a arquiteta oficial.

 Espero que minha mãe não me ouça, mas essa não foi a principal motivação para a minha mudança. Percy Jackson é a razão da minha escolha.

Deixe-me explicar melhor: Lembram-se que depois da guerra o Cabeça-de-alga (claro que do seu jeito super desajeitado) declarou-se para mim? Então... começamos a namorar a partir daquele momento, e não nos separamos mais. É óbvio que às vezes eu perco a paciência com a sua lentidão, ou quando eu percebo que ele se insinua para alguma garota, porém, fora isso, nosso namoro é um conto de fadas!

Incrível como as pessoas mudam, não? Quem imaginaria que Annabeth Chase falaria de amor como se fosse uma filha de Afrodite? Eu sei que é difícil de acreditar, mas a culpa é da própria deusa do amor... o que me lembra que preciso agradecê-la... eu ainda não fiz isso.

Nesse verão, eu pretendo aproveitar ao máximo o acampamento, se bem que eu já tive prévias de que, mais uma vez, não será assim ... Você se perguntou do que eu estou falando né? É simples, assim que cheguei ao acampamento, a dois dias atrás, foi- me designada uma missão simples, tanto é que a executei em apenas um dia. Mas o que me preocupa é justamente isso, eu sei que essa missão ainda não acabou. Há uma profecia, e eu não sei o conteúdo, mas tenho quase certeza que ela se refere à Julianne. Percebi também que Quíron anda muito misterioso, e até algum tempo atrás, ele não escondia nada de mim. Por hora, vou apenas esperar o que está por vir.

A grande surpresa da vez é minha nova irmã, Julianne, ou simplesmente Julie, como eu gosto de chamá-la. Minha missão era somente buscá-la na Filadélfia. Ela, assim como eu, possui olhos azuis muito claros – que acabam se tornando cinzas – e seus cabelos são lisos e loiros. Sua feição é incrivelmente parecida com a minha, apesar de não ter um ar tão sério como dizem que eu tenho. Julie é muito extrovertida, característica um pouquinho estranha para uma filha de Atena, e, pelo que pude perceber, é bastante inteligente, só que não gosta de mostrar. Resumindo, eu a adorei, apesar dela ser um tanto...instável? É, talvez essa não seja a palavra correta.

...

Acordei com o soar da corneta que nos chamava para o café da manha. Acho que dormi um pouco demais... Todos os meus irmãos já estavam prontos, e olhavam para Julianne como se estivessem diante de uma assombração. Ela, por sua vez,  espreguiçava-se silenciosamente com os olhos fechados, e quando os abriu, deparou-se com vários olhares curiosos sobre si. Julie simplesmente franziu o cenho, olhando a todos com uma cara muito engraçada. Eu, que estava alheia a tudo isso, resolvi intervir.

- Pessoal, essa é nossa irmã Julianne Owen, que chegou ontem ao acampamento. Fiquem tranqüilos, ela não morde! – dito isso, eles suavizaram seus semblantes e cumprimentaram a nova filha de Atena, enquanto Julie mantinha um sorriso divertido e satisfeito.

Sem demoras, levantei-me e em poucos minutos estava pronta para ir para o refeitório. Julie pediu um minuto aos nossos irmãos, que a enchiam de perguntas e não a deixavam sequer respirar direito. Assim que ela se “desvencilhou” deles e adentrou o banheiro, eu disse em tom baixo:

- Dêem um tempo para ela se acostumar com a nova realidade. Ainda ontem ela era apenas uma garota comum no mundo mortal, e hoje, é uma semideusa um tanto quanto poderosa. Algo me diz que ela desempenhará um grande papel em breve. Tenham paciência, ok? – Eles assentiram, e Malcolm completou:

- Realmente, ela precisará de tempo. Não podemos bombardeá-la com perguntas sobre o seu passado. Parece que ela está confusa com relação a isso.

Malcolm mal acabou de falar e Julianne saiu do banheiro já pronta para irmos. Saímos todos em direção ao refeitório, alguns ainda um pouco sonolentos, e outros extremamente animados me perguntando sobre a missão.

Assim que chegamos, direcionei meu olhar para a mesa de Poseidon, mas Percy ainda não estava lá. No início, achei estranho, mas logo me lembrei que o Cabeça-de-alga é dorminhoco mesmo...filhos de Poseidon...fazer o que?

Sentei-me em um assento ao lado de Malcolm. Julie já estava totalmente enturmada em meio aos nossos irmãos, contando sobre sua vida com uma leve pitada de humor. Todos os campistas dos outros chalés olhavam curiosos para o meu “clone”. Olhei para a mesa de Hades e vi Nico sozinho, quando ele notou que eu olhava em sua direção, deu um breve aceno e um sorrisinho, em seguida olhou interrogativamente para Julie e eu murmurei sem som um “depois eu te falo”. Ele assentiu, olhou mais um tempo para Julianne como se estivesse surpreso? Não, como se estivesse admirando a beleza da garota. Depois voltou-se para sua comida.

Levantei-me e me servi. Julianne fez o mesmo. Fiz minhas oferendas a Atena e voltei a me sentar. Olhei novamente para a mesa de Poseidon e vi que meu namorado ainda não apareceu. Percy não tem jeito mesmo! Decidi que iria acordá-lo em seu chalé, depois que fizesse minha refeição.

Enquanto comia, passeava distraidamente com os olhos pelo refeitório, até que algo chamou minha atenção na entrada. Ao longe, podia ver Percy caminhando sorridente junto com uma garota que eu não conhecia. Senti como se meu sangue estivesse fervendo dentro das minhas veias, e parecia que minha cabeça estouraria a qualquer momento, tamanha era a minha raiva. “Quem era aquela garota?”  eu me perguntava fuzilando-a com o olhar. Tenho certeza que o pessoal do acampamento percebeu o meu ódio, mas eu nem me importei com isso, só conseguia enxergar o idiota do Percy de gracinhas com a garota infitética. Espero que ninguém se surpreenda se, por acaso, os dois sumirem...

Eles (Percy e a garota) entraram no refeitório e assim que me viu, meu namorado abriu um largo sorriso mostrando todos os seus dentes. “Que cara de pau, além de estar com outra garota na minha frente, ainda fica jogando charme para mim...” Foi quando notei que meu pensamento estava equivocado, já que a garota sentou-se junto com Percy na mesa de Poseidon. Eu sorri discretamente com o meu ciúme bobo pela nova irmã dele, que olhou sorrindo para mim como se já me conhecesse.

Percebi que ele me encarava e quando olhei, ele disse sem som: “Me encontre na praia”. Assenti e me levantei, pois já havia acabado de comer. Julie me chamou:

- Onde você vai Annie?

- Vou à praia, fique aí com nossos irmãos, eu já volto.

- Ok, então.

Fui até a praia e sentei-me na areia. Fiquei olhando o mar por um tempinho... até que alguém senta-se do meu lado.

- Annie? – Ele disse me tirando do transe... fiquei surpresa ao vê-lo do meu lado.

POV Nico di Ângelo

Ela finalmente chegou.

Eu até pensei que demoraria um pouco mais, porém graças aos deuses eu terei a  chance de conhecê-la. Quando a vi no refeitório, meu coração acelerou de uma tal forma que parecia estar pulando corda. É estranho olhar pra ela e perceber que ela não me conhece, o que me pensar se ela já tinha sonhado comigo sequer uma vez...mas ao que parece não.

Durante toda a manhã fiquei pensando no fato da garota dos meus sonhos ser filha de Atena e eu nem saber o seu nome. Imaginei várias formas de chegar perto dela... talvez eu pudesse me oferecer para ensiná-la esgrima...ou então poderia me apresentar como músico para tocar com ela, já que nos sonhos ela sempre estava acompanhada de um violão...cara, eu sou uma tragédia nesses assuntos! Não sei como me aproximar de uma garota...isso é muito difícil, mas eu vou arrumar um jeito.

       POV Annabeth Chase

- Grover! Que saudade!

- E aí, como vão as coisas? Quero saber de tudo hein... esse tempo em que fiquei longe me deixou meio desatualizado sabe.. e eu preciso me manter informado! (N/A: espírito fofoqueiro manifestando-se no Grover!)

- Ah, não há nada muito surpreendente. Eu cheguei hoje de madrugada de uma missão relâmpago, onde busquei minha mais nova irmã... e ao que parece Percy também ganhou mais um irmão...- eu disse um pouco em dúvida.

- Sim. Paige veio junto comigo. Na verdade eu a encontrei por acaso em uma escola em Cleveland, junto com Kevin, um filho de Apolo. Nós chegamos ontem e Percy me falou de sua missão... e falando na sua irmã, eu vi a garota, ela é igualzinha a você!

-  Incrível, não! Mas temos uma personalidade um pouco diferente, pelo o que eu pude notar... mas nos damos super bem!

Grover e eu conversamos mais um pouco, sobre diversos assuntos, inclusive sobre a guerra que vencemos no ano passado, era bom recordar, mas ruim ao mesmo tempo, afinal, Luke morreu nesse trágico episódio. Não que eu ainda sinta algo por ele, claro que não, só fico um pouco chateada de lembrar o rumo que ele decidiu seguir. Eu não queria isso para alguém que considerava meu irmão.

 Percy aproximou-se lenta e silenciosamente, me abraçando por trás e me dando um tremendo susto. Grover riu e disse:

- É um pouco estranho ver vocês dois juntos, apesar de eu ter percebido muito antes que o próprio Percy que ele gostava de você... que bom que vocês se acertaram!

- Pois é... mas essa garota dá muito trabalho, tipo, ela é muito independente! – Percy disse me dando um beijo na bochecha logo em seguida.

- Por acaso você queria que eu dependesse de você Cabeça-de-alga? – eu falei um pouquinho irritada. Meu namorado, atrapalhado do jeito que é, tentou argumentar:

- Não é isso, mas ás vezes você se mostra tão autosuficiente, que eu penso que não precisa de mim... – ele fez um biquinho que derreteu meu coração.

- Own, não fique assim Percy! Você sabe que eu não faço por mal, só não sou fresca como as filhas de Afrodite. – dito isso, ele mudou seu humor e me puxou para seu colo. Grover, mais do que depressa, falou:

- Já vi que estou sobrando... estou indo pombinhos, não gosto de ser empata love, ok!

Eu e Percy sorrimos e voltamos para nosso momento carinhoso, enquanto Grover se afastava. Ainda abraçado a mim, ele perguntou:

- Como foi a missão? Você não se machucou né?

- Ah, foi bem tranqüila, só que na volta uma dracaenae nos atacou, mas ela era péssima lutadora, então consegui acabar com a luta bem rápido. Foi engraçado o modo que a Julie encarou a fera, ela deu um monte de denominações estranhas pro monstro, e depois, na entrada do acampamento, ela se assustou com Peleu. Foi uma cena hilária.

- Julie é sua nova irmã, certo?

- é, cabeça-de-alga. Voce também tem uma irmã agora. – eu afirmei.

- Sim. Paige é bem legal, só que é um pouco escandalosa. Ás vezes parece uma criança birrenta. Ontem mesmo, quando eu e Grover mostrávamos o acampamento a ela, Sra O’Leary aproximou-se de nós e ela começou a gritar e chorar desesperadamente, como se o cão a estivesse atacando. Até eu explicar que aquele era meu animal de estimação e que seria inofensivo a ela, o acampamento inteiro já estava diante de nós. – Percy disse em meio à gargalhadas.

- acho que as duas são bem parecidas neste quesito.

Percy olhava o mar, e com o pensamento longe, começou a falar sobre o passado. Eu somente o ouvia, porque ele nunca havia falado muito sobre toda aquela situação que Cronos causou. Toda vez que tocávamos no assunto, ele interrompia abruptamente, deixando claro seu descoforto.

Percy desabafava:

 - Você sabe porque eu nunca gostei de falar sobre o desfecho da batalha de Cronos? – Eu apenas balancei negativamente a cabeça- Por que eu tinha medo que você ainda nutrisse algum sentimento por Luke. Na verdade, nao falar sobre isso foi o único meio que eu consegui pensar para você esquecer dele. Eu não que... – eu tive que interrompê-lo:

- Percy, eu já te disse que eu não gosto de Luke da maneira que você está pensando, mas você nunca acredita em mim. Eu te amo! Quando você vai entender isso?

Ele me olhava atônito, e um pouco confuso, eu acho.

- Annie, eu também te amo, muito! Não é que eu não confie em você, a questão é que eu tenho muito medo de te perder...

- Isso não vai acontecer cabeça-de-alga. Pare de pensar assim, ok?!

Percy demonstrava estar mais confiante agora.

- Ok! O que você acha de assistir um filme comigo agora?

- Eu acho ótimo- eu disse com uma entonação divertida. – E onde seria esse cinema improvisado?

- Ora, lá no meu chalé. Onde mais seria? – Percy falou sorrindo maliciosamente.

- E sua irmã? Lembra que agora o chalé não é mais só seu?

- Não se preocupe, ela combinou de treinar com o Nico. Ele vai ensiná-la a lutar com uma espada. Depois, ela e Kevin aprenderão a usar o arco e flecha. Eu não sei se ela terá muito sucesso, mas, em todo caso, né...

Eu sorri. Geralmente filhos de Poseidon não se dão muito bem como arqueiros, mas quem sabe a garota não seja a exceção... talvez Paige seja um pouco diferente de Percy.

Fomos de mãos dadas até a área dos chalés. Os campistas nos olhavam, já que agora somos o casal mais famoso e improvável do acampamento, por causa daquela tal richa antiga de Atena com Poseidon. Eu sempre achei que essa briga é decorrente de um caso de amor mal resolvido, mas se em três mil anos minha mãe não assumiu isso, acredito que não será agora que irá mudar alguma coisa.

Percy e eu entramos sorrateiramente no chalé 3, porque, se Quíron visse, estaríamos encrencados, pois não é permitido que campistas – principalmente se forem de sexos opostos, se bem que isso já está fora de moda- fiquem trancados sozinhos no chalé. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Pegamos muitos travesseiros e jogamos sobre a cama de Percy. Assistiríamos sentados ali. Meu namorado colocou um filme de comédia, que se resumia em dois babões casados que suspiravam por qualquer mulher que passasse perto, e então, as suas respectivas esposas deram a eles uma semana de folga do casamento, onde poderiam fazer o que quisessem que não seria considerado traição. No fim, nenhum dos dois teve sucesso nesse “empreitada” e reconheceram o amor que tinham por suas mulheres.

Percy e eu nos divertimos muito. Ele estava até com cólicas de tanto que riu. Quando o filme já tinha terminado, eu perguntei:

- E aí, também vai querer um passe livre?

- Hum, deixa eu pensar... – quando ele disse isso senti vontade de matá-lo. “Como assim? Ele ainda quer pensar? Perseu Jackson não sabe o que o espera!”  . Antes que eu abrisse a boca, ele completou:

- Claro que eu não quero Annie! Só se eu fosse louco! Não precisa fazer essa cara, eu disse aquilo porque você fica muito linda assim, irritadinha!

- Acho bom Percy Jackson.. Você não iria querer me ver com raiva de verdade!

- Você sabe que eu não te trocaria por ninguém...nem por Calipso.

- O QuÊ? O que você disse?

- Nada, só um pequeno comentário infeliz.- Percy abaixou a cabeça sorrindo torto. Depois quis mudar de assunto, aproximando-se cada vez mais de mim.

- Sabidinha... você tá linda hoje, sabia? – Ele me beijou. Não tinha como ficar brava muito tempo com ele. Percy sempre foi sincero e carinhoso comigo, não seria agora que isso mudaria.

Os beijos começaram a ficar mais quentes, e quando já estava quase impossível de controlar, uma voz ecoou pelo quarto. “ Nem pensem em fazer isso, ou sofrerão graves conseqüências”. Era minha mãe.

Percy e eu nos desvencilhamos quase que na velocidade da luz e nos recompomos. Não era bom brincar com a deusa da sabedoria. Nós dois, bastante corados, nos entreolhamos e começamos a rir que nem dois desequilibrados, até que ouvimos alguém bater na porta.