Capítulo 20

Pov Thalia

Não sei como ainda me impressiono ao observar o quanto esse mundo é pequeno. Há segundos atrás eu e mais um grupo de caçadoras estávamos atrás de uma mantícora e quando dei por fé me deparo com Percy e Annabeth deslizando barranco abaixo com um lestigão em seu encalço. Nem em meu mais fantasioso sonho eu conseguiria imaginar uma coisa dessas!

Assim que vimos o lestrigão prestes a saltar de um trem em movimento e continuar perseguindo meus amigos, ordenei que todas as caçadoras presentes disparassem flechas na direção dele, o que eu também fiz. Num instante ele desintegrou no ar tendo seus restos levados pelo vento, deixando a sensação de que realmente se fora. Graças aos deuses!

Voltei minha atenção para os meus amigos. Fazia um bom tempo que não os via, e se me lembro bem, a última vez em que estivemos juntos foi alguns dias depois do término da batalha contra Cronos. Pude notar que Annie estava muito machucada devido a queda. Percy também tinha alguns hematomas, mas ele não me preocupava porque seus machucados cicatrizariam rapidamente devido à Maldição de Aquiles.

Aproximei-me dos dois e as caçadoras vieram logo atrás.

– Annabeth! Percy! Há quanto tempo? – eu disse alegremente.

– Amn... ai. Eu sabia que era você... Oi Thalia! Ai ai. – Annie respondeu com um sorriso no rosto, mas expressando sua dor em palavras.

– Oi para-raio! – Percy me cumprimentou. Seus machucados já estavam se fechando.

Eu estava curiosa pra saber o que eles estavam fazendo aqui, no meio do nada, mas Annabeth estava muito ferida e precisávamos cuidar dela. Virei para o Cabeça de alga (adoro chamar ele assim!) e ordenei que a pegasse no colo. Assim que o fez, ela se aconchegou em seu peito e desmaiou de cansaço. Depois, pedi a uma das caçadoras, Gabrielle, que armasse barracas na clareira mais próxima, que observei perto daqui, a uns 50 metros. Ela assentiu junto com as outras, que correram para cumprir minha ordem.

Percy – com Annie no colo – e eu, começamos a caminhar lentamente.

– E aí Cabeça de alga, o que lhes trazem por aqui?

– Saudades suas priminha...Brincadeira. Missão Thalia, sobre um tal livro oculto que temos que transferir de esconderijo.

– Sei... estão indo até o Monte Parnaso, em Minneapolis.

– Como você sabe? – Percy retrucou indigado. Então eu, calmamente respondi.

– Lady Ártemis nos contou tempos atrás, quando a profecia despertou. De lá pra cá, aumentaram muito o número de monstros nos Estados Unidos e consequentemente o nosso trabalho na Caçada, e por isso dividimo-nos em grupo para dar conta de todos os monstros.

Annie começou a resmungar algo que não entendi. Percy e eu a olhamos com nossa melhor cara de interrogação e ela, com os olhos fechados, murmurou:

– A profecia... “Os heróis do Olimpo serão o auxílio”... Thalia faz parte da missão também.

Ela calou-se de repente e eu confesso que não entendi nada. Mas para sanar minha confusão mental, Annie falou dirigindo-se a mim:

– Você deve acompanhar-nos. É o que diz a profecia.

– Não Annie, eu não posso deixar a caçada agora, não nesse momento.

Ela parou por um instante, deixando claro que estava pensando em uma solução. Pensei que viria algo surpreendente, mas eu me enganei. Annabeth disse o óbvio:

–Precisamos pedir permissão à Lady Ártemis.

Uma coisa me chamou atenção. Percy estava extremamente calado até agora, e eu ainda não entendi o motivo. Ele definitivamente não era assim... Sempre foi tão intrometido, que chegava a deixar qualquer um com os nervos em erupção! Bem, sei lá... de gente doida já basta eu!

Chegamos no local em que as meninas estavam montando as barracas, pois só assim conseguiríamos cuidar de Annabeth direito. Não havia somente as caçadoras ali. Ao longe, vi um sátiro com roupas humanas choramingando e olhando para arranhões horríveis em seus braços, e mais adiante, uma menina bonita de cabelos muito longos e pretos saltitando e falando sem parar, o que deixava Cynthia, uma de minhas caçadoras, com uma expressão assassina.

Arqueei uma sobrancelha e Percy percebeu meu questionamento Sem nem deixar que eu abrisse a boca para perguntar, disparou:

– Ela é minha irmã mais nova. Conheci a pouco tempo. Chama-se Paige.

Eu ainda a olhei por um instante. Ela não é o tipo de pessoa que possa ser considerada normal... pelo menos não agindo dessa maneira tããão chamativa.

– Bem animada por sinal... Parece ser engraçada, mas um pouco fresca! Eca! – Percy e Annie riram. Minha amiga falou:

– Paige com certeza é bem escandolosa! E também as outras coisas que você disse. Mas é um doce, você vai gostar dela.

– Sendo irmã do Percy? Acho difícil... Deve ter algas na cabeça que nem o Cabeça de alga...

– Ahh Thalia! Eu sei que você me ama... só não quer assumir! – “Tava demorando...”

– Quieto! Não fala besteira Jackson! – Eu disse rangendo os dentes. Nunca tive muita paciência para brincadeirinhas idiotas. Percy deu de ombros e caminhou até uma barraca que tinha sido acabada após o sinal de uma de minhas caçadoras e colocou Annie ali. As meninas limparam seus ferimentos e derramaram néctar por sobre eles, dando um pouco de ambrosia também.

Saí da barraca e me deparei com outra cena curiosa: meu priminho Nico vinha carregando um clone da Annabeth, que estava desacordada. Ele deve ter notado meu olhar surpreso e deu um sorriso de canto. Sem falar nada, os conduzi até a nossa “enfermaria” improvisada para tratar da garota. Ele colocou a menina no canto oposto ao de Annie e a olhou por um instante. Saquei na hora o clima... Nico saiu da barraca e eu obviamente fui atrás.

– Há quanto tempo gosta dela? Eu sabia que o filho de Hades não era tão insensível quanto parecia! – dei um notável sorriso malicioso.

– Tá tão na cara assim? Meus deuses... – ele fez uma cara de assustado, mas eu tinha certeza que estava sorrindo por dentro. Senti que ele estava escondendo alguma coisa...

– O que vocês dois estavam fazendo sozinhos embrenhados na mata?

Nico corou.

– Nada Thalia. Nada que seja do seu interesse. E você não acha que está pervertida demais para uma caçadora? - Nico queria fugir do assunto, isso é fato.

– Eu vou descobrir Di Angelo, pode ter certeza disso.

– Eu não duvido de você.

Eu não disse! Sabia que o emo também era capaz de amar... credo, isso foi esquisito, principalmente saindo da minha boca. Se bem que eu não vejo muito sentido nessa história da deusa da lua e da caça de que nós devemos odiar os garotos... Podemos até não ter relacionamentos, mas não precisamos esculacha-los a todo o momento. Falando nisso, preciso pedir permissão à Lady Ártemis para seguir na missão com meus amigos. Eu não sei bem do que se trata, mas algo me diz que meu destino é seguir junto com eles, e minha intuição nunca falhou.

Deixei Nico imerso em seus pensamentos e busquei um lugar tranquilo para que eu pudesse conversar com a deusa. Ela com certeza me mostrará o que é certo a fazer nesse momento.