Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 28
Capítulo 28 - Não vai haver casamento!


Notas iniciais do capítulo

Então, o título está mesmo meio sugestivo, mas enfim.
Eu, particularmente, não gostei muito desse capítulo. Ele se desenvolveu rápido demais e mesmo quando tentei melhorá-lo, não saiu como o esperado, mas é isso aí.
Esse capítulo vai dedicada com muito carinho a Cherry Chan, que me fez uma recomendação linda de morrer! Obrigada mesmo, Cherry. Agradeço do fundo do meu coração.
E lá vamos nós para o capítulo... Espero que gostem.



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Pov. Malu.

 Respirei fundo, a música infantil tocando alto. Algumas crianças dançavam e até uns adultos, todos animados e bem dispostos. Absolutamente felizes. A festa de aniversário de Eduardo estava sendo um tremendo sucesso e ele também parecia agradar a todos. De alguma forma animadora e surpreendente, ele havia simplesmente adorado meu presente e também o de Edith, que o comprara uma daquelas arminhas que espirravam água, para desgosto de Ceci. Esta tinha ficado ainda mais horrorizada com o meu presente. Depois de vasculhar o shopping inteiro eu achara um presente que foi impossível não comprar. Acabei escolhendo um skate infantil para Eduardo. Só depois de comprado e embrulhado comecei a pensar se ele gostaria. Talvez ele não se desse bem, eu ouvira dizer que só depois de muita luta é que Igor havia conseguido fazê-lo abandonar as rodinhas da bicicleta. Imagine tendo um skate! Mas para minha surpresa ele havia adorado. Eu estava tentando ajudá-lo a se equilibrar e Igor parecia satisfeito, agora seria mais fácil convencer o menino a surfar, talvez. Mas Ceci havia pirado, dizia ser perigoso, coisa de moleque, mas Eduardo a ignorou.

– Você ainda anda, tia?

– Estou velha demais pra isso.

– Ah, por favor! – ele me empurrou de leve, brincalhão. Sorri. – Você não é velha. Podia me ensinar.

– É fácil, você aprender sozinho.

– Se não quebrar o braço. – Ceci apareceu, emburrada e irritada.

– Me desculpe! Não sabia que ia ficar tão brava.

– Claro, claro. – ela revirou os olhos. – Vou dar atenção para os convidados, com licença.

– Juro que não fiz de propósito.

– Tudo bem, Malu. Ele gostou. – Alê me tranquilizou e eu sorri de leve. Igor acabou de afastando com Pablo para cumprimentar Daniela e Edith estava conversando com Victor.

– Aquele ali não é seu pai? – Alê apontou para o homem barrigudo que andava ao lado de um homem bem alto e uma criança magra e pequena ao seu lado, que olhava curiosa para os lados.

Minha mãe havia dito que Ceci havia convidado meu pai, por pura pressão da parte dela. Ceci definitivamente não perdoava meu pai, assim como ele não conseguia aceitar que Ceci tão jovem já era mãe. Enquanto eu... Eu ficara cada vez mais afastada do mesmo. Não podia suportar na época que voltei a viver com ele, suas iniciais reclamações de Igor e posteriormente sua quase aceitação. Não conseguia viver na casa que ele dividia com a mulher que o ajudou a destruir nossa família e agora tinha uma criança fruto do relacionamento deles. Eu fugia da criança, fugia da minha madrasta e de meu pai. Então quando finalmente pude viajar para o exterior, nosso contato foi se espaçando a telefonemas de três em três meses, de menos de 5 minutos. E agora fazia quase três anos que eu não o via. Estava mudado, mais velho. O cabelo começando a rarear e a embranquecer. Tinha rugas nos olhos e nos cantos da boca, coisa que ele não tinha antigamente, o que me fez crer que ele sorria mais e, assim, estava verdadeiramente feliz. Ele caminhou apressadamente em minha direção, um belo sorriso em seu rosto e antes que eu pudesse fazer algo me abraçou fortemente. Correspondi ao seu abraço no mesmo ímpeto. Não percebera o quanto sentira saudades. Lembrei-me da minha conversa com Edith, quando ele se afastou olhando para mim. Uma réstia de mágoa apontando em meu peito. Eu não sabia como perdoar e isso era horrível. Mas era tão difícil perdoar. Principalmente aqueles que a gente mais ama.

– Senti muitas saudades, querida.

– Eu também. – Senti meu queixo tremer e controlei as lágrimas. Olhei de esguelha para Ceci, que parecia surpresa ao os ver.

– Lembra de Carlos? – Olhei para o homem mais velho, mas que ainda era muito jovem. Atualmente devia estar com mais de 30 anos, mas aparentava uma idade semelhante a de Victor... Uns 26 anos.

– Claro. Oi. – Ele acenou com a cabeça e notei um brilho diferente em seus olhos.

– Oi.

– Então, você veio. – Ceci apareceu do nada e, me fazendo dar um pulo leve de surpresa, cruzando os braços.

– Você está tão bonita.

– Obrigada.

– Queria conhecer seu filho. – Ceci olhou na direção que Eduardo ria com alguns amigos juntamente com Pablo e Igor. Todos sorrindo animados. Daniela olhava a cena, tentando entrar no grupo, se aproximar de Eduardo, que categoricamente a ignorava. – Eduardo, certo?

– Sim. Vocês tem que conhecer o irmão de vocês. – estremeci junto com Ceci, que olhou a criança curiosa atrás de nosso pai, meu pai o puxou com delicadeza. O que nos surpreendeu, delicadeza não tinha nada a ver com nosso pai.

– Este é o David. – Meu pai apresentou um menino de olhos claros, cabelos castanhos encaracolados, mas ainda assim com traços fortes de meu pai. Olhei para Carlos e para o menino, também eram muito parecidos. Tio e sobrinho parecidíssimos, então claramente ele tinha herdado muito da mãe. – Ele estava muito curioso para conhecer as irmãs.

– Oi... – ele disse timidamente e eu senti minha garganta apertar. Ceci parecia estar no mesmo estado que eu. Ele sorriu para nós e eu senti meus olhos coçarem. Era só uma criança, curiosa. E nós apenas o ignoramos. Não era culpa dele. Nunca foi.

– Muito bom conhecer você. – sorri e Ceci continuou calada. Alexandre pôs a mão no ombro dela, que se desvencilhou levemente.

– Porque não vai brincar com Eduardo? – Alê disse para o menino que olhou Edu com interesse. – Ele adora fazer novos amigos.

– Pai?

– Vá em frente. – Alê conduziu o menino e Carlos o seguiu, nos dando privacidade. Olhei de esguelha para Ceci, que mantinha a postura rígida. Meu pai suspirou.

– Aquele é seu namorado? – ele apontou com o queixo para Alexandre.

– Meu futuro marido. Vamos nos casar em breve. – Meu pai acenou positivamente a cabeça.

– E aquele é Igor... pai do seu filho.

– Sim.

– Alexandre suporta a presença dele?

– Sim, eles são amigos. Somos todos uma família agora. – Ceci disse em um tom grosso e sério. E eu quis fugir daquele lugar. Ficamos afundados em um silêncio constrangedor.

– Eu... Sinto muito, garotas. – Meu pai finalmente falou. Ceci estremeceu, peguei em sua mão e ela a apertou. – Sinto muito por tudo.

– Porque fez isso conosco? – Ceci falou acusatoriamente e agora seu tom era baixo e sofrido, lágrimas escapando. – Porque fez isso comigo? Porque nos deixou por aquela qualquer? Como pode fazer isso com a nossa mãe?

– Não queria tê-la magoado. Magoado todas vocês. Sinto tanto! Eu teria feito diferente se pudesse voltar no tempo.

– Feito diferente? Quer dizer que ainda faria?

– Eu amo Cristina. Sei que é difícil pra vocês entenderem. Pra você entender, Ceci. Mas eu amei a sua mãe, amei muito. Mas eu amo Cristina agora. Sua mãe é meu passado e Cristina meu presente.

– E nós somos o que?

– Vocês são pra sempre! Não devia ter deixado vocês se afastarem. Fui um pai relapso, me perdoem. Me perdoem por tudo. – olhei chocada seus olhos se enxerem de lágrimas. Eu nunca havia visto meu pai chorar. Nunca, em hipótese nenhuma. – Por tê-las magoado. Por tê-las deixado. Eu sinto tanto! Eu amo vocês.

Olhei para aquele homem. Tentei sentir algo. Intenso, forte. Algo como saudade. Mas o que eu sentia falta era o antigamente. Eu não era mais a criança que ele deixou para trás, muito menos a adolescente revoltada. Eu deveria perdoar ou esquecer? Sinceramente, eu não sabia. Mas quem sentia raiva e pesar era a antiga eu. A que eu estava aqui não conseguia sentir nada. E eu não devia amar o meu pai? Ou ao menos tentar? Eu tinha tantas escolhas.

– Pai... Não chora... Tudo bem. Me perdoe por ter me afastado. Minha mãe te perdoou, eu te perdoo também. Eu sinto muito. Se você ama Cristina... – engoli o bolo que se formava em minha garganta. – tudo bem. Se você está feliz... É isso que importa.

– Eu...

– Shhh. – abracei-o, ainda sem me soltar da mão de Ceci, a prendendo.

– Cecília?

– Eu... – Sua voz estremeceu enquanto ela falava, ficando em silencio por alguns segundos, apertei meus dedos entre os seus prendendo-o para que não fugisse. – Está tudo bem, pai. Fico contente que tenha vindo.

Ela se juntou ao nosso abraço e eu deixei-me sentir um pouquinho dos dois ali comigo. Fechei os olhos, me sentindo pequena entre esses dois. Mas também mais leve. Ceci se afastou e eu também, ela esticou a mão para meu pai.

– Vem, você tem que conhecer melhor Alexandre e Igor... – Ela o puxou pela mão e os dois foram ao encontro de Alexandre e Victor. Mordi o lábio, preferindo ficar. Era um momento de Ceci, ela estava se esforçando, fervorosamente ao meu ver. Merecia fazer isto sozinha. Eu devia me sentir aliviada, mas ainda me sentia pesada. Olhei para o lado ao ver meu pai apertando a mão de Igor, que estava muito bonito com sua camisa polo esportiva e seu jeans. Parecia mesmo aqui de longe ter acabado de sair de um banho refrescante. As moças pareciam olhá-lo constantemente, o que era bem compreensível.

– Você mudou muito. – Uma voz grave disse acima de mim. Olhei para cima. Carlos me encarava, a expressão insondável.

– Ah é?

– Você desapareceu.

– Para sua alegria. – Carlos sempre me parecera hostil e intrometido. Vigilante demais. Fora assim desde sempre e eu nunca entendi esse seu comportamento.

– Não tanto, senti falta de te perturbar.

– Claro…

– Mas sério, você mudou. Está muito mais bonita e verdadeiramente adulta. – olhei-o, confusa. Ele sorriu de lado, encarando-me no fundo dos olhos. Quebrei o contato visual, constrangida.

– Obrigada… Eu acho. Você também mudou... Está gentil! – falei num tom quase irônico, a desconfiança indisfarçada. – Meu pai está obrigando você a ser assim?

– Não… Foi só... Era implicância minha. Gostava de te provocar.

– Posso saber por quê?

– Você era muito mais nova e irritante. – ele suspirou. – E foi minha paixonite. Mas naquela época eu era velho demais para você e você começou a se relacionar com aquele surfistinha. – ele olhou para Igor de um jeito esquisito.

– Espera... – Tentei entender suas palavras, mas foi complicado. Carlos tinha uma paixonite? Por mim? – Paixonite? Eu era muito criança.

– Você sempre foi mais madura. Só estava perdida naquela época.

– E agora?

– Melhorou bastante. Quem sabe se você não estivesse noiva...

 – Certo, essa conversa está ficando mais do que estranha. Estou apavorada. – coloquei a mão no peito, irônica. – Que belo sendo de humor, Carlos! Não sabia que você tinha um.

– Muito engraçado. – ele fez uma careta engraçada, me fazendo sorrir.

– Malu? – A voz rouca perto de mim me fez estremecer. Olhei para o lado e vi Igor parado com as mãos nos bolsos. Senti meu estômago se revirar. Eu andava fugindo dele. Fugindo de Victor. Fugindo da escolha, que provavelmente mudaria ainda mais minha vida. Mas Igor estava sempre por perto, senão fisicamente, em meus pensamentos. – Posso falar com você um instante?

– Hãn... Tudo bem. – olhei para Carlos rapidamente. – Licença.

Igor me guiou para um lado do salão onde a música estava mais baixa. Do outro lado podia sentir o olhar de Victor queimando em mim. Concentrei minha atenção em Igor, seu rosto estava tenso e ele mordia o lábio nervoso.

– Então...

– Sim?

– Bem... Ta vendo Eduardo ali ó? – Ele chegou perto de mim, parando do meu lado e apontando em uma direção. Sua proximidade física me desconcertou e eu engoli em seco. Olhei na direção que ele apontava. Eduardo conversava com uma menina muito bonita, que usava um lindo vestido vermelho e os cabelos curtos soltos pelo queixo. – Aquela é a Mônica.

Estremeci levemente. Ele continuou:

– De acordo com Eduardo... Aquela é a menina da vida dele. Ele vai se casar com ela algum dia. – O olhei curiosa, ele voltou a apontar o casal infantil com o queixo, segui seu olhar. Eduardo estava falando com a menina, que parecia tímida, segurando sua mão pequena. – Ele está realmente apaixonado. Para conseguir incentivo o suficiente para falar com ela, confessar o que sente... Ele me fez prometer que eu também diria a menina da minha vida como me sinto. Então, aqui estou eu. Você já sabe disso, já sabe como me sinto, mas prometi a Eduardo que diria mais uma vez.

– Igor... – mordi o lábio, não sabendo se podia suportar isso.

– Eu te amo, Malu. – Seu tom de voz me fez estremecer. O olhei nos olhos. –Provavelmente vou amar você pra sempre. Mesmo que prefira Victor, que vá se casar com ele... Eu amo você.  Mas eu tenho que te pedir, pela primeira e ultima vez. Não fica com ele. Me dá mais uma chance?

Nos encaramos. E ambos sabíamos como nos sentíamos em relação a tudo que sentíamos, que passamos. Mas era muita coisa a lidar agora. Abri a boca para falar, mas fui interrompida.

– Malu! – Victor apareceu me puxando. Exatamente na hora que eu ia dizer a Igor como me sentia. – Temos que ir conversar com seu pai.

– Sobre?

– Nosso casamento. – ergui a sobrancelha confusa. – Contei que já pensamos em marcar a data. Ele ficou muito contente.

– Do que você está falando? – engasguei com o ar, procurando o olhar de Victor. – Eu não... Não combinamos data nenhuma!

– Vão marcar a data? – Igor disse, a expressão agora caída e magoada.

– Não! – falei surpresa, quase sufocada. Minha voz fina e histérica, meus músculos ficando tensos subitamente. – O que está fazendo, Victor?

– É claro que vamos! Estamos há muito tempo noivos! – Victor apertou meu braço, seu tom de voz me assustando. – Pra que esperarmos mais?

– Me solta, Victor. – Eu nunca o vira assim. Tão... enciumado e possesso. Eu havia extrapolado os limites ou Victor havia perdido os seus? – Você está... bêbado!

– Eu não bebi! Como posso beber em uma festa infantil? – Percebi pelo canto do olho que começávamos a chamar a atenção.

– Solta ela...

– Ela é minha noiva! – Victor e Igor se encararam e eu senti minhas pernas fraquejarem, lutei-me para manter-me firme. – Não se meta.

– Solta. Ela. Agora. Antes que eu arrebente a sua cara! – Olhei para Igor e vi que ele se segurava por causa das mãos fechadas em punhos. Talvez se não fosse a festa de Edu ele já tivesse perdido a estribeiras faz tempo. Eu conseguia sentir o cheiro de catástrofe no ar.

– E com que direito você vai fazer isso? – Victor deu um passo a frente, o segurei pela camisa. –Ela vai se casar comigo!

– Ela não ama você! Não como ama a mim.

– No final das contas, ela me escolheu, você sabe. Você perdeu, Igor. Será que não entende? – O tom de voz cruel de Victor fez eu abrir a boca chocada. – Porque, no final das contas, nós vamos nos casar em breve.

A expressão chocada de Igor me atordoou. Um grito alto fez eco pelo salão de festa, demorei alguns segundos para perceber que fora o meu:

– Não vai haver casamento nenhum!




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Notas finais do capítulo

Pois é. Victor finalmente explodiu. Nos próximos capítulos isso fica mais claro MUAHAHA
A propósito, o capítulo 26 tava com problemas de formatação, mas uma leitora mt meiga me avisou no msn e eu consertei. Vlw! Era só isso mesmo. Obrigada por lerem. Até breve ;*