Neve escrita por bew


Capítulo 1
Neve


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...meus textos AINDA são uma merda



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 Conheceram-se a pouco tempo, em uma estação de trem. Ele, moreno, alto, olhos azuis, de um tom claro e puro, vestido de preto. Ela, ruiva, olhos verde-esmeralda, também de preto. A pelo dos dois branca como a neve.

Ele, sentado em um sofá do café, esperando seu trem, vê ela chegar. Linda, caminha graciosamente com passos leves ao balcão, pedindo um café. Sua mala na mão. Sentou-se em um sofá próximo a ele, ainda sem notar os olhos azuis olhando-a atentamente.

Por longos minutos, ele fitou-a fascinado. Observou-a beber o café lentamente, esquecendo-se da própria bebida. Admirava os olhos esmeralda, enquanto ela lia seu livro. Percebeu que ela não deveria gostar de romances; o livro era conhecido por sua brilhante e sangrenta história. Estranhou. Um anjo que gostava de sangue. Um anjo que queria para ele. Assustou-se. Mal sabia quem ela era, desconhecia seu nome, e já a desejava?

Ela notou-o. Viu quando ele balançou a cabeça, aparentemente se auto reprendendo por algum pensamento. Observou que era muito belo, atendo-se aos olhos azuis do mesmo. Demostravam uma pureza além do comum, muito diferente de seus próprios, sabendo que eles deveriam ser o oposto daqueles olhos puros.

O trem de ambos chegara. Embarcariam no mesmo veiculo, em cabines próximas, em frente uma da outra.

A viajem seria longa, aproximadamente um dia, iriam de Nakano até Nishi-funabashi, usando a Metropolitano de Tóquio, linha Tozai*. Ele, ao perceber que ela embarcara no mesmo trem, pensava em como chamar-lhe a atenção, enquanto ela pensava em como aproximar-se do rapaz que tanto lhe atraia.

Sem notarem que ambos tinham em mente um ao outro, foram para suas respectivas cabines, depositando suas coisas e em seguida dirigindo-se ao restaurante para jantar, novamente sentando-se próximos, olhando-se discretamente, aguardando a refeição.

Já em seus vagões, lembravam-se de quando viram-se pela primeira vez, apesar de que não deveria ser há mais de uma ou duas horas atrás. Ele perdera a discrição. Ela, a tranquilidade. E ele decidira-se.

Ela notou quando a porta abriu-se, desviando os olhos do livro que apenas encarava sem ler, pousando as duas esmeraldas na figura do rapaz que tomava-lhe os pensamentos.

Por longos minutos, olharam-se. Sem falar ou mover-se. Ele quebrou o silencio.

-Vi quando entrou no café e não pude impedir-me de notar quão bela você é, e sinto por ser rude ao invadir-lhe sua privacidade, mas não consigo esquecer te.

-Faça minha suas palavras. Não sei como, mas gosto de você. Roubaste minha atenção e peço-lhe que a devolva, antes que minha sanidade vá com ela.

-Sinto ao saber isto, e sinto mais ainda que nada possa fazer, pois roubaste a minha também.

-O que tanto espera imóvel nesta porta? Entre e sente-se ao meu lado, gostaria de saber mais sobre você e deixar de formalidades.

Ele obedeceu, trancando a porta e dirigindo-se ao lado do anjo que começava a achar que roubara seu coração.

-Diga-me, o que quer saber?

-Seu nome.

-Só digo se disser-me o seu.

O barulho do trem encobriu as vozes e seus sussurros, mantendo os nomes um segredo dos dois desconhecidos, mas já apaixonados.

-Qual a sua idade? Desculpe ser indiscreta, mas desejo saber tudo sobre você.

-Se desejas, saberás. Tenho vinte e três, velho não acha?

Riram-se ante a piada, por mais sem-graça que fosse, apenas pelo rapaz torna-la engraçada aos ouvidos da moça.

-É apenas dois anos mais velho que eu e se acha velho?

-Mil perdões, mas achei que a bela dama em minha frente tivesse apenas dezoito, fico feliz ao saber que estava enganado.

-Por quê?

-Pois então posso fazer isto.

E uniu as bocas. Os lábios eram macios, e a sensação sublime. E tão rápido quanto começou, acabou-se.

-Desculpe-me.- O rapaz sussurrou-lhe e colocou-se a correr para longe daquela que, agora, tinha certeza, roubara-lhe seu coração.

Confusa, ela colocou a mão sobre a boca, tocando levemente os lábios, lembrando-se da sensação. E sorriu. Sorriso que logo desapareceu. Por que correra? Ele também não a queria? Dúvidas pairavam sobre a mente da jovem cada vez mais confusa.

Ofegante, ele parou. Estava novamente no restaurante, que ficava no outro extremo do trem. Questionava-se por que fizera aquilo. Por que correra. Afinal, ele a amava. Mas e ela? Tinha medo da impressão que havia causado. E se ela agora o odiasse? Um medo subiu pelo peito do rapaz, formando um nó em sua garganta.

Pelo resto daquele dia, não se falaram, embora os pensamentos não afastassem um do outro.

Após uma noite de sonhos confusos, eles levantaram-se. Ela pensou em ir até o vagão do rapaz, mas decidiu-se por esperar até o café da manhã. Ele apavorou-se e decidiu explicar-se também no café da manhã.

Arrumaram-se e saíram de suas cabines ao mesmo tempo. Encararam-se. Azul com verde. Pureza com malícia. Tentaram desvendar-se com aquele olhar, mas seus semblantes nada diziam. Nada que eles percebessem. Os do rapaz, desculpe-me. Os da moça, Por quê? E ele finalmente tomou coragem para quebrar o silêncio já incômodo.

-Desculpe-me

-Por quê?- Os dois finalmente expressaram-se, ela exigindo, ele desculpando-se.

-Pelo beijo. Por sair correndo. Por desculpar-me.- Os olhos do rapaz angustiados.

-Não desculpe-se. Eu correspondi. Você deveria saber que se retribui é por que também te quero- Os dela, sérios.

-Esse não é o problema. Eu realmente gosto de você.

-Eu também.

E ele não aguentou. Quebrou a distância que os separava, selando seus lábios novamente. O beijo fora delicado e cheio de sentimentos, alguns até desconhecidos por ambos, enquanto ambos deliciavam-se com suas bocas coladas e corações descompassadamente sincronizados.

Separaram-se. Olharam-se com desejo e carinho. Azuis puros e verdes maliciosos. Completavam-se. Tinham o que faltava e era necessitado pelo outro.

Beijaram-se novamente. Sorriram. E, finalmente, foram comer. Sentaram-se na mesma mesa, ainda sorrindo e encarando-se.

Logo, estavam no vagão da moça, ela sentada no colo do rapaz, enquanto ele afagava-lhe os cabelos, e olhavam a neve cair em pequenos flocos pela janela, passando rápido demais para que vissem mais que um borrão.

-O que a neve é para você?- ela perguntou, curiosa, ainda sem tirar os olhos da janela.

-É algo puro e simples, que pode ser visto como várias coisas, mas no fim restará apenas a inocência do branco. E para você?- Ele perguntou, do mesmo jeito que ela.

-Algo malicioso e vulnerável, que pode ser facilmente corrompido, mudando de forma e cor.

Opostos. Seriam sempre assim. Ideias opostas, porém corações unidos e iguais.

-Para onde vai depois de desembarcar?- Ele perguntou receoso.

-Para onde você for. Não possuo um lugar fixo, vendi a casa que tinha há muito.- Ela respondeu prontamente. Ele sorriu.

-Arrume-se. Iremos chegar em meia hora e teremos muito o que fazer. Além disso, gostaria de te levar ao meu lugar preferido.

Sorriram. Ele dirigiu-se ao seu vagão, e ela começara a arrumar suas coisas. Desembarcaram pouco depois.

-Aonde vamos?- Ela perguntou-lhe, novamente curiosa.

-Deixaremos nossas malas em nossa casa e te levarei no lugar que disse, aonde nada pode nos alcançar.

Sempre encarando-se. Azul no verde. Deixaram a estação, logo indo deixando seus pertences e seguindo a trilha para o local que o rapaz comentara.

Ela surpreendeu-se. Nunca vira local mais belo. A neve espalhada em todos os lugares, a velha cerejeira sem folhas perto da colina, com algumas rosas vermelhas em torno do lugar, tornando a vista ainda mais bonita.

Não muito tempo depois já estavam rindo e brincando como crianças, rolando na neve e atirando bolas, fazendo anjinhos e bonecos, para depois destruí-los por acidente ou provocação.

Então o pesadelo começou. A loira que se escondia por entre as arvores ali perto saiu. A arma apontada na direção da ruiva, que estava perto da cerejeira, uma bola de neve na mão, logo derrubou-a, assustada e desnorteada, temendo não pela sua vida, mas pela do rapaz.

-Você pensa que o conhece e que ficará com ele, mas está enganada! Ele é meu e só eu poderei tê-lo! Não sei quem você é nem o que faz mas não me importa! Irei mata-la aqui!- O tom da loira era raivoso e insano, beirando a loucura.

-Melody, pense no que está fazendo! Eu sei que ficou com raiva por eu ter terminado com você, mas entenda! Eu a amo, e você não mudará isso!- O do rapaz, temeroso.

-O que está acontecendo?- O da moça, assustado.

-Calem-se!- um disparo foi ouvido. Os olhos verdes fecharam-se.

E a neve tingiu-se de vermelho. Vermelho-sangue. E ambos sentiram a dor. Ele, de morrer sem saber. Ela, a de vê-lo morrer. Seus corações pararam, as lágrimas presas, assim como a respiração. Os sons sumiram. E ele caia. O branco virava vermelho, a pureza corrompia-se, o sangue insistia em escorrer do ferimento no tronco dele. A loura jogou a arma, fitando as mãos incrédula para logo após sair correndo. As lágrimas saíram. Os sons voltaram. A ruiva gritou. Desesperou-se. Chamou-o diversas vezes. E então silenciou-se, calada pelos dedos do rapaz, que tocavam gentilmente seus lábios finos. As lágrimas ainda rolavam em suas faces. E os olhos se encontraram. Azul no verde.

-Não chore nem lamente-se por mim. Não me arrependo. Sei que provavelmente vou morrer aqui, mas me satisfaz saber que você está bem, a única que amei e amarei até meu último suspiro, seja ele agora, amanhã ou que daqui a uma década, não me importa. Amo-te. E isto basta.

As bocas uniram-se. Os lábios entreabriram-se. Os olhos fecharam se, o gosto salgado e molhado das lágrimas junto ao amargo e ferroso do sangue presente naquele beijo lúgubre e apaixonado. E ele teve certeza. Ela o amava.

Logo o ar se tornou-se escasso, os lábios separaram-se, ele sorriu tristemente e sussurrou-lhe suas últimas palavras:

-Eu te amo.

E ela chorou. Ele não mais respirou. Os olhos azuis fecharam-se para nunca mais iriam abrir. Ela abraçou o corpo dele. Frio. Sem vida. Pálido. Com a vista embaçada, ela observou o corpo daquele que fora seu verdadeiro amor e sua alma.

-Eu posso derramar algumas lágrimas e apenas deixar elas saírem. Eu não tenho medo de chorar. Quero continuar ao seu lado, mesmo que você tenha ido embora. Eu costumava fingir que estava bem, mas não é isso que me deixa triste. O que doí mais era ter te tão perto e ter tanto a dizer, para então ver você indo embora e nunca saber o que poderia ter sido, sem ver que amava você. É difícil pensar que te perdi...-Falava com o nada, acariciando a face do rapaz abaixo de si.

Estendeu sua mão e pegou a arma que caíra a sua direita, engatilhando-a e colocando-a em sua nuca, pensando em tudo que ela significava para ela.

Fora seu melhor amigo e sua dor,

Sua alegria e seu maior rival,

Seu amor e sua morte,

Sua vida e seu ódio,

Seu fim e sua luz

Sua perdição e seu caminho,

Seu amante e sua felicidade,

Sua tristeza e seu inimigo,

Fora tudo e fora nada.

Com esse pensamento, ela puxou o gatilho.

 


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Notas finais do capítulo

* Nakano, Nishi-funabashi, Metropolitano de Tóquio e a linha Tozai existem, mas não faço a menor ideia do tempo da viajem.
Espero que tenham gostado...
Kissus
Yuki no baka