A luz do sol passava pelos finos fios que compunham a cortina da grande janela do quarto onde dormia. Teru abria os olhos lentamente sentindo dificuldade para isso. Tivera uma noite inteira de sono, coisa que não conseguia fazia algum bom tempo. As cobertas estavam dispostas certamente em cima da cama. Parecia que seu corpo era um intruso ali. Normalmente, elas iam parar no chão pelo tanto que ele se movia com os pesadelos que não pensavam em deixá-lo.
                Passou a mão no celular que estava ao lado do travesseiro e viu uma mensagem ainda não lida. “Desculpe”, era o conteúdo dela. Entendia o motivo pelo qual o outro não pensara em ligar para conversar sobre o assunto. A vergonha que este devia sentir era a maior do mundo. Não podia ter feito isso com ele. Primeiramente, Teru nem queria ter saído de casa ontem, mas foi obrigado. Sabia que Kamijo iria fazer mais uma de suas besteiras se não tomasse conta.
                Levantou-se, arrumando o pouco que desarrumara da cama. Entrar no banheiro e deparar-se com seu rosto avermelhado pelo tanto que chorara antes de cair em um sono o deixou triste novamente. Jogou um pouco de água nos olhos deixando a maquiagem borrada um pouco menos aparente. Lavou as mãos reparando em um corte que tinha entre dois dos dedos. Era fundo, mas não sangrava. Nem se lembrava de como tinha conseguido aquilo.
                Foi até a cozinha e encheu uma bela de uma xícara de café puro. Jogou-se no sofá ligando a TV em qualquer canal. Um filme qualquer passava quando percebeu uma grande movimentação no corredor do prédio. Estava curioso para saber de quem era aquela voz doce que brigava com a outra. Ouvia o barulho de saltos contra o chão. As batidas eram tantas e fortes que entendeu que ambos usavam esse tipo de sapato. Colocou o café sobre a mesa e enrolou-se em um casaco fino que tinha pendurado perto da porta. Destrancou-a e colocou um pedacinho da face para fora.
                3 portas para a direita, estavam dois homens entrando com malas e objetos para o apartamento. Acreditou que eram os novos vizinhos que Yuki, o sindico, tinha dito que viriam. Um era moreno, com os cabelos espetados e trajava uma blusa social branca fechada por todos os botões e uma calça prata um tanto larga que era coberta até o joelho por uma bota plataforma. Um batom azul cobria-lhe os lábios que mal se abriam a não ser para arfar quando o outro, um tanto menor e mais novo, reclamava de algo, como o peso das caixas que tinha de carregar.
                O pequeno tinha sobre si um vestido que chegava à cima dos joelhos. Era de tons avermelhados e dourados que tinha um decote um tanto animador. Uma meia 7/8 subia pelas pernas e terminavam em uma renda com um laço bem dado. A maquiagem era clara e os olhos eram donos de um azul forte e encantador. Os cabelos cacheados e de um castanho brilhante caiam pelas costas. Abaixou para pegar uma das caixas no chão e não se importou com o vestido subindo deixando à mostra a parte de trás de sua roupa intima.
                -Mana, isso aqui é muito pesado para mim. –A voz deste era estridente.
                Teru fechou a porta com cuidado sentindo o rosto queimar por ter visto a intimidade do homem ali fora e por ter espionado ambos. Por um instante, passou pela sua cabeça oferecer ajuda à eles, mas desistiu quando lembrou-se  que estava atrasado para seu encontro com seu tão bom amigo Hizaki. Eles tinham marcado de se encontrar para um almoço no restaurante de Masashi.
                Foi para seu quarto escolhendo uma roupa simples. Pronto, desceu as escadas rapidamente e por sorte, um dos moradores estava descendo de um taxi. Aproveitou para pegar o mesmo e assim, chegou a tempo ao local avistando o amigo em seu lindo vestido vermelho sentado em uma mesinha na calçada do restaurante. Pagou o motorista e foi andando até o outro que, ao vê-lo, abriu um sorriso grande e levantou-se correndo para um abraço.

                -Teru! –Disse apertando o outro. –Como está, mon ange?

                -Nee, bem, eu acho. E você?
                Hizaki fez que sim com a cabeça e logo pegou a mão do outro o levando para a mesa em que estava a pouco. Sentou-se arrumando a saia do vestido. Teru puxou a cadeira e sentou-se lentamente. Tinha medo de que essa abrisse as pernas e o derrubasse como tinha sido na última vez. Ainda conseguia sentir a dor em seu traseiro.
                Masashi veio até eles com um sorriso no rosto. Curvou-se como cumprimento à Teru e deixou um beijo no ombro de Hizaki. Os olhos de Teru quase saíram dos orbes ao ver tal ato. Os dois estavam juntos? Como Hizaki não contara nada? Eles eram melhores amigos, devia confiar nele..
                -Sashi... -Hizaki começou dizendo enquanto suas bochechas iam tomando uma coloração avermelhada.- Eu ainda não tinha contado à ele.
                A feição no rosto de Masashi fora um tanto quanto engraçada tirando um leve riso de Teru. Ao voltarem a ficar sozinhos, Hizaki contou que ele e Masashi começaram a namorar oficialmente ontem, mas já tinham algo fazia algum tempinho. Também disse que não havia contado ao amigo por não ter certeza se iria tomar um rumo oficial e para não preocupar o outro, já que o último namorado de Hizaki não fora uma boa pessoa.

                Teru ficou feliz por ambos, mas ao mesmo tempo, estava triste. Kamijo não saia de sua mente e nem a feição do homem tão misterioso do batom azul que estava se mudando para o prédio. Os olhos deste eram profundos. Causavam um medo estranho em Teru. O lembrava alguém, ou não.

                -Teru?! Está bem? –Hizaki perguntou levando seu copo com suco até a boca.
                -É... Sim. Eu só estava pensando em Kamijo, nee. –Mentiu. Ou omitiu. Não era mentira que Kamijo o estava preocupando.
                Segurou as mãos do lolito a sua frente e começou contando. As lágrimas escorriam quando contou que o outro o largara sozinho naquela festa tão estranha. Também sentiu vontade de contar sobre Mana. Era mesmo este o nome dele? Não sabia de certo, mas tinha de descobrir... Logo.