Capítulo 06 - A Raquete e a Espada

 - D-Duelo?! - repetiu André, ainda sem entender muito bem a situação.

- Isso mesmo - confirma Alvaro, apontando diretamente para André com um olhar de desafio - Se Lien só aceita sair com caras fortes, eu irei derrotá-lo para provar que sou digno do amor dela.

- Eu pareço mesmo esse tipo de garota? - reclamou Lien, ainda mais nervosa.

- Então aceita sair comigo mesmo sem eu derrotá-lo? - animou-se Alvaro, pegando nas mãos com uma cara de apaixonado.

- Que parte do "eu já tenho namorado" você não entendeu? - retrucou ela, fazendo o possível para se afastar dele.

- Estou disposto a lutar pelo coração de Lien...se isso significa derrotá-lo, que assim seja, err...err... - Alvaro tentava se lembrar do nome de André.

- André Cairo. Prazer - apresentou-se o namorado.

- Que seja. Você aceita ou não?

 A multidão da escola que, por sinal, adorava uma boa confusão, clamava em alto e bom som: "Aceita!", "Aceita!". Claro que Lien não estava gostando nada daquilo.

- Calem a boca! - gritou ela.

- Você é bem nervosa, né? - comentou Alex, o amigo fotógrafo do casal que registrava tudo em sua câmera - Na sala parece tão calminha..

- Quem não ficaria nervosa com uma situação ridícula dessas? André, ignore esse maluco e vamos para a sala e..

- Ignorar? Mas...

- Vai mesmo fugir? Se tem medo de competir comigo como pode ter a cara-de-pau de dizer que gosta dela?

 André sente um aperto no peito ao ouvir essa provocação, mas aceitar um desafio tão aleatório não era lá muito inteligente. Ao menos ele tenta argumentar.

- Escuta, não podemos resolver isso civilizadamente? - falou André - Você joga tênis e eu pratico artes marciais...nossas especialidades não tem nada a ver uma com a outra!

- He...hehehe - Álvaro começa a rir. André não entende o motivo da risada, mas Alex parecia saber do que se tratava (afinal, ele conhecia todo mundo) - Você realmente está me subestimando.

- Ah, sim...agora me lembrei

- Lembrou do que, Alex? - perguntou André.

- Esse cara...Alvaro Kurtis, sabia que o nome não me era estranho..

- Vai desembuchar logo ou não vai?

- Ele não é só tenista profissional. Ele também é especialista em tênis marcial.

- Em quê? - pergunta Lien.

- Exatamente. Seu amigo é muito bem informado. Meu nome é Alvaro Kurtir, tricampeão de tênis e um dos únicos do planeta a treinar tênis marcial.

- O que diabos é tênis marcial? - perguntou André.

- Jogar tênis exige agilidade e força nos braços. Cada saque ou mesmo devolução de bola pode ser considerado um ataque contra o adversário. O tênis marcial é a arte que não diferencia a raquete da espada.

 Alvaro falava como se chamas de coragem e paixão acendessem atrás dele. André sente uma gota escorrer de seu rosto ao ouvir aquilo. Era impossível levar tal declaração a sério.

- Tá brincando, né? - respondeu o rapaz.

- Como ousa desrespeitar a minha arte, insolente? - reclama Alvaro - Acha que pode me vencer tão fácil assim só porque pratica alguma arte marcial? Já falei para não me subestimar.

- Acho que ele está falando sério, André - interveio Lien.

- Lien? Você também?

- Existem milhões de artes marciais diferentes por aí. E do jeito que ele saltou no ar aquela hora...é porque ele deve, no mínimo, manjar alguma coisa de artes marciais.

- Mas ainda não ouvi sua resposta, André Cairo - Alvaro continuava a desafiar em seu tom polido e estranho - Aceita ou não meu desafio?

 A essa altura a multidão já estava clamando por uma briga, mas André estava ainda mais com o pé atrás. Se o derrotasse, ele deixaria sua namorada em paz. Se recusasse, ficaria com fama de covarde na frente da escola toda. Mas como poderia competir com alguém que já lutasse artes marciais.

- Hmm...entendi - disse Alvaro, interrompendo os pensamentos dele - Está preocupado em ficar em desvantagem, não é?

- Como?

- Eis minha proposta: arrume um parceiro para jogar comigo.

- Parceiro? - repetiu André.

- Jogarei tênis sozinho contra os dois e ainda assim mostrarei que sou superior. Lien, você vai ver que eu sou o homem que merece o seu coração.

- Irrc...André. Sai daí. Esse cara é doido. Basta ignorá-lo - gritou Lien.

- Hohohoho. Não, não. Isso pode ser interessante! - falou uma voz conhecida. De cima do muro, surge a figura de um velhinho oriental, ninguém menos que Mestre Wong.

- M-M-Mestre Wong?! - exclama André, sem entender nada.

- Resolvi eu mesmo observar um dia de aula do meu futuro genro - explicou o Mestre - E calhou de ouvir o desafio que esse rapaz lhe propôs, André.

- Vovô! Estava nos seguindo? - reclamou Lien.

- Ora, ora, preciso ser cuidadoso com todos os detalhes. Se ele não soubesse que o estou observando, agiria naturalmente e poderia saber quem é o meu genro de verdade. Pelas minhas anotações até agora - continuava o mestre, mostrando seu caderninho - Ele está indo muito bem...estou orgulhoso.

- Quem é esse vovô? - perguntava alguém da plateia.

- Sei lá - respondeu outro.

- Oh, então o senhor é o avô da Lien? - aproximou-se Alex - É bem fotogênico...e conseguiu posar na foto em pleno ar, no instante em que o flash disparou.

- Heh! Não poderia fazer uma entrada feia - respondeu ele.

 Alex mostra a foto que tirou do mestre e, de fato, ele não foi pego de surpreso pela foto.

- Uau! O cara é bom mesmo!

- O senhor é avô da minha amada, Lien? - perguntou Alvaro, de forma respeitosa - É uma honra conhecê-lo! Sou Alvaro Kurtis e luto humildemente pelo coração da sua neta.

- Humildemente, é? - ironizou Alex.

- Gostei do seu estilo - falou Mestre Wong - Mas se quer mesmo ter uma chance com a minha neta terá que provar ser merecedor.

- Vovô! Até o senhor? - gritou Lien nervosa - O que está fazendo?

- Estou garantindo sua tranquilidade, netinha - falou o Mestre - Mais uma coisa...André aceita o seu desafio!

- Aceito? - repetiu André, sem entender nada.

- Que tal esse sábado, às 10 da manhã, na quadra da escola? - propôs Wong.

- Perfeito - concordou Alvaro - Escolha o parceiro que desejar.

- Ele já tem um parceiro - respondeu o velho mestre - Minha neta Lien.

- E-E-Eu?! - repetiu a chinesinha. Imediatamente todos os olhares se voltam para ela.

- Ele mesmo disse qualquer parceiro, não é? E você já jogou tênis antes, não jogou?

- Bem, uma vez, mas...

- E se sabe artes marciais consegue aprender tênis. É tranquilo.

- Mas, mestre - chamou André em voz baixa - Eu nunca joguei tênis na vida!

 - Ah, não se apegue a detalhes. Até sábado tem muito tempo para aprender! - responde Wong, totalmente despreocupado. Após dizer isso, ele se vira para Alvaro.

- Se vencer, permito que minha neta saia com você para um encontro.

- Vovô! Como pode fazer isso comigo?! Eu já namoro o André, esqueceu?

- Quer se acalmar? - gritava o velhinho - Isso só vai acontecer se ele vencer...e além disso é só um encontro, não precisa se casar com ele, aliás, não precisa sequer beijá-lo no rosto.

- Mas mesmo assim...

"Que situação", pensa André, "Como vou vencer um jogador de tênis profissional? E um jogador de tênis marcial ainda por cima?"

- Não se preocupe, honorável mestre! - diz Alvaro que, por incrível que pareça, não era nada irônico em seu tom - Nunca beijaria sua neta no rosto antes de me casar com ela.

- Em que planeta esse cara vive? - perguntou Alex.

- Bom saber que é respeitador - comentou o Mestre.

- Vão concordar mesmo com essa palhaçada? - reclamou Lien - A minha opinião nisso tudo não vale nada, né? Dá pra ser mais machista que isso?

- Huhuhu. Relaxe, Lien - diz o Mestre - Está subestimando seu namorado. Além disso, você também estará lutando com ele. Será uma ótima chance para ver se vocês realmente tem alguma sincronia.

- Como?

- Ouça, rapaz! - Wong fala com Alvaro - O desafio está aceito, mas até lá André continua sendo o pretendente número um de minha neta. Não pense em tocar nela antes do término da disputa.

- Totalmente de acordo - respondeu Alvaro polidamente - André e Lien...será uma grande honra enfrentá-los em uma partida de tênis marcial este sábado. 

  Curvando-se de maneira elegante, Alvaro se despede e anda pela multidão que abre espaço sem que ele precise pedir. O que foi tudo aquilo?

- Olha...esse cara pode ser idiota, maluco ou o que for, mas que tem estilo, tem, heim? - comentou Alex.

- Alex! Não percebe a gravidade da situação? Vamos ter que enfrentar esse maluco na especialidade dele! E nós nem sabemos jogar tênis direito...bem, pelo menos eu não sei.

- Já joguei uma vez - falou Lien - Mas enfrentar um profissional e ainda um profissional em tênis marcial é outra coisa. Ai, vô, tudo culpa sua.

- Relaxem e se encontrem comigo na academia depois da aula - falou Wong - André! Essa é uma ótima oportunidade de treino.Tênis é um excelente esporte para testar sua agilidade e força.

- Força? Isso me lembra...meu braço ainda está doendo...

- Até sábado ele melhora...ou melhor, até lá ele se acostuma com os treinos. Cuide bem deles, vai precisar.

- Ai, meus bracinhos - lamentou o pobre André, lamentando ainda mais a confusão onde se meteu. Lien coloca a mão em seu ombro.

- Deixe comigo, tá? Vou superar toda essa bobagem e derrotar aquele babaca.

- Também vou treinar bastante...não quero perder você para ninguém.

- Você nunca vai me perder para um palhaço daqueles.

- Oh, que fofo! - disse Alex, tirando mais uma foto - Mas se não subirmos em cinco minutos não poderemos entrar na sala.

- Ai, é mesmo! - André e Lien gritam juntos e sobem correndo. Mas os desafios desse casal estão só começando.