Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Capítulo 04




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Capítulo 04 - Reunião de Família


– Sério mesmo, filhão! - era o pai de André (praticamente uma versão crescida dele), na noite daquele sábado, quando o garoto chegou em casa mal podendo suportar o próprio corpo de tanto limpar janelas e colunas - Você tá mesmo namorando?


– Pois é, pai. Acho que consegui conquistar a Lien.


– Que coisa...meu filhinho cresceu tão rápido! - diz a mãe de André (não muito alta e cabelos curtos) - Já tá até com uma namoradinha.


– Sim, sim. Eu falo tudo depois do jantar...só gostaria de poder tomar banho agora


– Sério mesmo, mano? - agora era o irmão mais novo dele - Conseguiu pegar a mina mesmo?


– Aiiii! Tales! - ele grita, praticamente caindo no chão de dor - Por favor, não encosta muito...


– Tales! Pegar? Isso é jeito de falar da namorada do seu irmão? - bronqueia a mãe - O André é um garoto sério e pelo que lembro, aquela mocinha, a Lien, também parece ser uma garota direita...é aquela japonesinha, não é?


– Chinesa, mãe. Ela é chinesa.


A mãe dele estava falando da vez que deu carona para alguns amigos de André e Lien estava entre eles (não foi há muito tempo atrás, na verdade, provavelmente foi nesse encontro de amigos que André começou a olhar Lien com outros olhos. Bem, pelo menos nos encontros de amigos, o avô de Lien não interferia).


– Ah, ele sabe que não falei por mal.


– Vocês...podem deixar eu tomar um banho...é só o que peço.


– Parece cansado, filho. O que houve? - perguntou o pai.


– Bem...é que...eu comecei o namoro, mas...acho que manter o namoro vai ser difícil.


Os pais dele só entendem a situação depois do jantar, quando André conta tudo sobre o avô problemático de sua namorada. No entanto, eles ainda mantém uma visão otimista.


– Então o avô da sua namorada é exigente, heim? É...acho que você vai ter que ralar para manter esse relacionamento.


– Bom, claro que estou disposto a isso e...


– E imagino que terá que agradar os pais dela também. Você disse que irá conhecê-los amanhã, não é? - pergunta a mãe.


– Bom, sim


– Então acho bom se preparar para manter uma ótima impressão. O seu pai teve que ralar um pouco para conseguir uma boa impressão dos meus pais.


– Infelizmente, demorou para pedir desculpas por ter derramado suco de uva acidentalmente na camisa nova do seu pai, lembra, amor?


– Claro que lembro. Você já era desastrado desde aquela época.


"Meus pais são tranquilos até demais", pensou André, "Mas como serão os pais da Lien?"


– Ei, mano, vai pegar o último bife? - perguntou Tales.


– Não, não, pode pegar - respondeu ele, mais preocupado com o que iria encontrar no dia seguinte. E, claro, a noite não demora a passar. No domingo, André já estava lá, em frente ao portão da grande academia Wong, pronto para enfrentar seu destino. O avô de Lien abre o portão, com uma cara não muito amigável.


– Oh, então você veio mesmo? - perguntou o velhinho.


– Bom dia, mestre - disse ele - Cheguei pontualmente, como prometido.


– Tá, tá, que seja. Venha. A Lien já estava te esperando.


– Hã? A Lien já está aqui?


Assim que chega no salão da academia, André se depara com Lien praticando seus movimentos. Ela havia chegado mais cedo do que ele e, pelo que parecia, começou a treinar mais cedo ainda. André fica espantado com os movimentos da garota. Ela realmente sabia lutar. Cada golpe e cada chute era veloz e rápido, tão rápido que ele nem conseguia acompanhar.


– Lien! Seu namorado chegou! - gritou o mestre. André ainda não havia se acostumado em ser chamado assim, mas não reclamou nem um pouco. Lien se aproxima sorrindo, usando seu uniforme de treino. Com aquela roupa ela realmente lembrava uma chinesa.


– Bom dia, André - diz ela, timidamente - Estou suada por causa do treino, ainda preciso tomar banho.


– Ah..que é isso? Relaxa...hehe. Não sabia que treinava tão cedo


– Normalmente eu treino em casa, mas como hoje meus pais virão aqui, resolvi vir para cá.


– Seus pais já estão aí?


– Não. Eles chegam na hora do almoço - respondeu a chinesinha, com um sorriso lindo - Mas...podemos aproveitar a manhã para treinar um pouco.


– Ah, sim, já imaginava algo assim. Por isso trouxe até minha mochila com toalha e tudo.


– Bom ver que está preparado - intervém o mestre - Podemos começar o seu treino...arrancando as ervas daninhas do jardim.


– Arrancar...ervas daninhas?


– É...esse seu braço está muito fraquinho. Precisa fortalecê-lo mais antes de começarmos a lutar de verdade.


André engole seco e sua apreensão tinha razão de ser. O jardim estava com muitas plantas indesejáveis e arrancar todas, de fato, seria um treino e tanto.


– Tudo isso? - espantou-se o rapaz ao ver o trabalho que o esperava.


– E nessa época do ano nem crescem tantas - comentou o mestre. O velho pega uma das ervas daninhas e arranca-a do solo com facilidade - Só precisa arrancá-las assim e jogá-las no carrinho de mão. Bem, agora é com você. Bom trabalho.


– Ooh...


Mesmo assim, ele mantém a disciplina e arranca tudo sem reclamar mais. O problema é que elas eram mais difíceis de arrancar do que parecia e André tem um bom trabalho em retirar todas.


– Vovô, mas...o senhor não usa um remédio especial naquela área do jardim que faz até as ervas daninhas ficarem mais presas ao solo do que de costume?


– Exatamente. É um jardim criado justamente para esse tipo de treinamento. Mas se seu namoradinho é tão bom assim, deve aguentar isso.


E ele aguenta. Uma hora depois, André consegue encerrar seu trabalho e, assim que suspira de alívio, limpando o suor do rosto, vê Mestre Wong chegando e observando o feito.


– Hmm. Até que você é bom nisso - disse ele - Uma hora para arrancar tudo? Precisa melhorar esse tempo.


– Vou me lembra disso - respondeu ele - E agora?


– Agora? Bem, ontem você limpou as janelas pelo lado de dentro, não é?


– S-Sim - respondeu André.


– Bom, mas elas também precisam ser limpas pelo lado de fora. Poderia fazer esse favor para mim?


– Do lado de fora?


– Sabia que podia contar com você, pequeno discípulo. A escova e o balde estão no depósito.


E assim ele gasta mais duas horas limpando as janelas pelo lado de fora. Nem precisamos dizer que seus braços estavam mais do que cansados.


– Mestre...terminei - disse ele, mal conseguindo carregar os baldes.


– Bom. Acho que agora já pode tomar um banho e esperar os pais de Lien chegar. Acho que eles vão gostar de conhecê-lo.


– Também acho - completa Lien, que estava acompanhando o avô - Eles adoram pessoas esforçadas.


André toma banho e aguarda a chegada dos pais da namorada, sentados na mesa da sala da casa do Mestre, logo ali no andar de cima do salão de treino da academia, enquanto tomavam um pouco de chá. André ainda estava meio desconfortável, mas o chá parecia bem tranquilizador. Logo um casal de chineses entra pelas portas da sala, cumprimentando o mestre Wong e claro, cumprimentando a todos. André se levanta imediatamente e se curva para cumprimentar os pais de Lien. Ele não sabia se chineses também cumprimentavam assim, mas, por via das dúvidas.


– Ei, ei, só apertar as mãos já basta - fala o pai.


– Oh, muito prazer. Meu nome é André Cairo. Gostaria que soubesse que minhas intenções com a sua filha são as melhores e..


– Ei, acalme-se, rapaz - fala a mãe. Era uma mulher chinesa bastante bonita - Você parece ser uma pessoa bem ansiosa.


– M-Me desculpe...vou tentar ser mais calmo...


– E isso porque o chá de camomila acalma os nervos - responde o mestre Wong - Bem, vamos começar de novo. Esse é André Cairo, meu mais novo aluno e pretendente à mão da Lien em casament. André, esses são minha filha Chun Wong e meu genro Hong Wong. Por coincidência, os dois possuem sobrenome Wong.


– Hã? Os dois? - estranhou André.


– Pois é. Esse tipo de coisa é difícil de acontecer, né? Mas quando minha mãe viajou para a China à trabalho acabou conhecendo o meu pai lá, em um congresso de tecnologia da informação e se apaixonaram.


– Tecnologia da informação, heim? - disse André - Então vocês trabalham com informática?


– Sim. Nós dois somos analistas de sistema - respondeu a mãe dela.


Em outras palavras, a família de Lien não tinha representantes apenas nas artes marciais, mas também nos negócios.


– Sem dúvida, tenho uma filha bastante inteligente...pena que Hong não entende nada de artes marciais.


– Sempre estudei muito - disse o gentil Hong - Nunca tive muito tempo para treinar, apesar de que arrisquei umas aulas de kung-fu quando era mais novo.


– Mas não se lembra de nada, não é? - completou o mestre Wong.


– Pois é..


– Por isso que eu disse que minha epserança para a academia seria o casamento de Lien. Mas, no momento, só esse rapaz que chegou mais próximo do marido que minha neta merece.


– Papai! Se metendo na vida da Lien de novo? - reclamou a mãe dela - Precisa parar com isso!


– Mas eu estou lutando pelo futuro da nossa academia! Já estou velho e a minha esperança de continuar o legado dessa academia é o casamento de Lien. Respeitem a vontade de um pobre velho moribundo como eu...


– Como é exagerado - retruca Chun - O senhor tem uma saúde de ferro, vai viver muito tempo ainda.


– Mas preciso sempre pensar no futuro. André já está treinando para herdar a academia.


Nisso, os pais de Lien lançaram um olhar um pouco mais sério para o rapaz.


– Além de lutar, o que você pretende fazer da vida, meu rapaz? - pergunta Hong.


– E-Eu? - André começa a ficar nervoso de novo - Bom...eu...eu estava pensando em estudar administração na faculdade.


– Mesmo? - perguntou Chun - Então também tem planos acadêmicos?


– É claro! Sem estudo hoje em dia não se consegue nada.


– Bom saber - falou Hong - Então também está preocupado com os estudos. Mas espero que seus treinos exagerados com o Mestre Wong não o façam ir mal na escola.


André engole seco.


– Não se preocupem - disse o rapaz - Consigo conciliar estudos e treinos. Confiem em mim.


– Então não se importará de mostrar seu boletim para nós, não é? - perguntou Chun, de forma simpática, mas sem deixar de ser rígida.


– B-Boletim? C-Claro. Quando quiserem...hehe


– Muito bem - sorri o pai dela.


"Droga...os pais dela também são bem rigorosos. Agora preciso não só ser forte, mas também tirar boas notas", pensa André, sentindo o suor escorrer pelo rosto.


– E o que mais... - Chun pensava alto, enquanto enchia sua xícara com chá - Oh, sim, você ainda não teve muitas intimidades com a nossa filha, teve?


André e Lien ficam vermelhos.


– Mãe! - retrucou Lien - Isso é coisa que se pergunte?


– Tem razão. Acho que ele não vai falar - ponderou Chun - Papai. O senhor sabe de alguma coisa.


– Pelos relatos dos alunos que mandei para espioná-los, parece que não aconteceu nada.


– Espionar? Vovô!


– Ora, tenho que manter a segurança da minha netinha. Não é qualquer canalha que vai ter tanta intimidade com você!


– Seu avô só está te protegendo, Lien - intervém a mãe - Você sabe que não deve se entregar fácil para qualquer galanteador.


"A mãe dela parece ser bem séria e conservadora", pensou André, "Mais do que imaginava."


– Além disso - continua Chun - Não pense que está livre de segundas intenções assim tão fácil só porque tem seios pequenos. Você tem uma bundinha bem redonda....isso chama a atenção dos canalhas.


– MÃE! - um tomate estaria menos vermelho que Lien naquele momento - Isso é coisa que se diga?


– Mas estou mentindo? Nesse país há uma fixação por essa parte do corpo


– Para, mãe! Quer me matar de vergonha?


"Ou talvez...eu esteja errado", pensa André, tão vermelho quanto.


– Bem, vamos falar de outra coisa... - sugere Hong - ..você gosta de cinema, André?


– Oh, sim - responde André, satisfeito em ver que o pai dela parecia bastante fácil de lidar - Gosto principalmente de filmes de comédia.


– Sério? Eu prefiro mais filmes de ação e aventura. Estou com a coleção de Guerra nas Estrelas inteira em blu-ray lá em casa. Pertinho de todos os meus bonecos da série.


– Ele adora Guerra nas Estrelas - comentou Chun.


– Você gosta, André? - pergunta Hong.


– Bem...não entendo muito, mas gostei do episódio III e..


– Excelente! Emprestarei todos os DVDs para você assim que puder!


– Não tem tempo para treinar, mas tem para assistir essas coisas - reclamou o Mestre Wong - Ai, ai, fazer o quê?


– Não diga isso, Mestre. Também gosto muito de filmes de artes marciais. Contei que já consegui o autógrafo do Jackie Chan uma vez?


– Lá vem...


– Tudo começou quando eu estava de viagem na China e, por coincidência, Jackie Chan também estava passando por lá..


André contou uma meia-hora até o pai dela terminar de contar os detalhes da viagem. Para contar como descobriu que haveria uma sessão com Jackie Chan, como conseguiu o autógrafo dele e mais quais eram seus filmes preferidos, levou mais uma hora e meia.


– E tenho guardado até hoje. Inesquecível - o pai dela dá uma pausa para tomar um gole de água. Mestre Wong aproveita-se disso para lançar seu ataque.


– Oh, vejam só que horas são! O almoço já deve estar pronto! Eu vou buscar a comida.


– Oh, sim, vamos comer. Posso contar também a vez que ganheie um boneco do Darth Vader de edição limitada em um sorteio.


– Meu pai é calado...mas quando começa a contar histórias, não para mais - comenta Lien.


– Ele parece ser gente boa - comentou André.


Por outro lado, agora ele estava preocupado em como iria comer o almoço. Não estava acostumado a comer de pauzinhos. Na China também comem assim, não comem? Ou será que..


– Sente-se e fique à vontade - disse Mestre Wong - O frango já está pronto. Por favor, Lien, coloque os talheres na mesa, sim?


– Claro.


– Talheres? - diz André, com uma voz de estranhamento.


– Claro. Esperou que fossemos comer de pauzinhos? É ruim para comer frango - disse o mestre.


– Somos chineses, mas somos bem brasileiros - comentou Chun com um sorriso.


De fato, a refeição foi bem tranquila. E André parece ter conquistado a simpatia dos sogros. Isso já era um ótimo sinal. Quando vão embora, deixam isso bem claro.


– Bem, foi otimo passar a tarde com vocês - disse Chun - E foi um prazer conhecê-lo, André.


– Oh, o prazer foi todo meu.


– Mas...lembre-se de que queremos saber de seu desempenho escolar - lembrou Hong.


– C-Claro - gaguejou o rapaz.


– E passe lá me casa na próxima vez. Preciso te emprestar aqueles DVDs.


– C-Claro.


O pai de Lien parecia preservar bem seu lado jovem. A mãe dela parecia não se importar muito com isso. Na verdade, ela parecia gostar de pessoas assim.


– Fico feliz que você seja um menino tão bonzinho - diz ela - Hoje em dia os meninos só se aproximam das meninas pensando em coisas pervertidas...espero que eu não esteja enganada e esse não seja o seu caso, não é?


– N-Não. Claro que não.


– Espero que seja isso mesmo...mas, vou perdoar se olhar para a bunda de vez em quando. A natureza foi bem generosa com ela nessa parte...


– Mãe! Já chega! - reclamou a garota.


– Bom, estamos indo. Até mais, André. Tenha um bom treino. Lien, vê se não volta muito tarde.


– Pode deixar - respondeu a filha.


– Até mais - André acena de volta para Chun. Mestre Wong estava logo atrás dele.


– E então, gostou da minha filha e do meu genro?


– Oh, sim, são muito simpáticos.


– Parece que eles também foram com a sua cara. É, garoto, acho que estou começando a ter mais fé em você.


– Mesmo?


– Mas vamos ver como se sai nos treinos. Ainda tem muito tempo pela frente. Para começar, que tal lavar essa louça? Depois disso, me encontre no galpão dos fundos. O carro também está precisando de uma lavagem.


– C-Certo.


Mestre Wong desce para o salão. Lien sorri para André.


– Meus pais são meio doidinhos, mas gostaram de você. Parece que as coisas estão indo bem, né?


– S-Sim.


Nisso, Lien acaba deixando cair um garfo embaixo da mesa.


– Opa, eu pego - disse ela, se abaixando, mas dando as costas para André quando faz isso. Era uma péssima hora para as palavras da mãe dela ecoarem em sua mente.


"E não é que ela tem mesmo...ooh...não posso ficar pensando nisso", pensou André, sacudindo a cabeça e espantando os pensamentos esquisitos. Apesar disso, as maluquices na vida de André só estavam começando...




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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, conheceremos a escola de André e Lien. Até lá!