Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 36
Capítulo 36




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Capítulo 36 - Jantar em famílias

 A campanhia voltou a tocar. André estava nervoso demais e começou a ensaiar de última hora o que deveria dizer.

- São eles, são eles - disse ele, mexendo as mãos de maneira ansiosa - Será que eu  tô bem arrumado? Meu cabelo não despenteou? Minha camiseta não tá amassada?

- Relaxa. Tá tudo bem - falou Alex - Eu deixaria minha filha se casar com você só pelo sua boa pinta.

- Isso não me consola...e nem filha você tem.

- Ainda não. Daqui a alguns anos pretendo ter uma família grande. Claro, preciso achar uma namorada primeiro, mas isso é só um detalhes.

 A campanhia voltou a tocar e a ansiedade de André ainda não havia passado.Alex percebeu que se continuasse assim não levaria a lugar nenhum.

- Está nervoso, heim?

- É...eu sou nervoso! Mas é só tomar coragem!

- Relaxa. Eu abro a porta - disse o amigo, na maior cara-de-pau - E aí, gente? Sejam bem-vindos!

 Lien estava acompanhada de seus pais (muito bem arrumados), além de Mestre Wong, que usava uma roupa mais simples.

- Alex? - estranhou Lien - O que está fazendo aqui?

- Ah, eu fui contratado para tirar fotos do jantar - respondeu ele.

- Mentira! - gritou André - E por que você abriu a porta assim de repente?! Eu é que devia fazer isso!

- Você tava tão nervoso que se demorasse mais eles pensariam que não tinha ninguém em casa.

 Os pais de Lien sorriem. André sorriu amarelo, pegando a chave para abrir o portão.

- Por favor, entre - disse ele, após liberar a passagem.

- Fala, André! - disse Hong, pai de Lien, abraçando sem cerimônia o rapaz - Então essa é sua casa? Muito bem arrumada.

- Verdade. Gostei - disse Chun, mãe de Lien, exuberante em um vestido vermelho com rendas tradicionais chinesas (Lien usava um semelhante, só que preto).

- Bom, bom. Ter uma boa casa é um pré-requisito para um bom casamento - disse Mestre Wong, o último a entrar - Boa noite, cara discípulo.

- B-B-Boa noite, mestre - gaguejou André.

- Não há necessidade de nervosismo. Só viemos conhecer sua família. - disse o Mestre, dando tapinhas amigáveis no ombro de André. Acontece que André era o sinônimo de nervosismo.

- Boa noite a todos - cumprimentou Alex - Sejam bem-vindos à casa dos Cairo.

- Você é irmão do André? - perguntou Chun.

- Não, não, o irmão dele é aquele ali comendo uva - disse Alex, apontando para Tales, que beliscava algumas frutas antes do jantar.

- Ops. Eles já chegaram? - estranhou o garoto.

- Tales! Já falei para não ficar beliscando antes do jantar! Vai perder o apetite! - gritou a mãe de André, surpresa ao ver os pais de Lien na sala - Oh, desculpem. Vocês devem ser os pais da namorada do meu filho, não é?

- Sim. Muito prazer. Sou Hong e essa é a minha esposa Chun.

- Muito prazer - cumprimentou Chun.

- Sou Brenda. O prazer é todo meu - disse a mãe de André, logo voltando-se para Lien - Oh, você deve ser a Lien. Lembro que já dei carona para você uma vez, mas não tinha reparado muito.

- É...é que eu sou meio quietona mesmo.

- Mas é uma japonesinha linda.

- Na verdade...eu sou chinesa - disse Lien, ainda mantendo o bom humor.

- Oh, desculpem. Sempre confundo - disse Brenda.

- Acontece - Mestre Wong entrou na conversa.

- Oh, o senhor deve ser o professor de kung-fu do meu filho - disse ela - Espero que ele não esteja dando trabalho.

- Imagine. É um bom garoto. Certamente será um grande lutador.

- Ainda não consigo ver o André como lutador - comentou Tales.

-  Tales! Err...Já conhecem meu outro filho, o Tales, não é?

- Ah, sim, esse é o irmão do André, não é? - disse Chun, sorrindo para o garoto.

- O-Oi - é tudo que Tales falou.

- Ele é meio tímido no começo, mas depois se solta. Hehe.

 Se bem que não pareceu nada tímido há alguns instantes atrás. Bem, faltava só o...

- Ô, amor! Não é melhor colocar mais sal na carne?! - disse o pai de André em voz alta, vindo lá da cozinha.

- Maurício...eles já chegaram - censurou Brenda.

- Ah, sim. Puxa, é que com o rádio ligado lá na cozinha nem dá pra ouvir a campanhia direito. Entra, gente, vamos entrando!

 Após Brenda fazer as devidas apresentações, ela pediu a todos que se sentassem na sala para conversarem. Todos se acomodam.

- Ei, se a Lien puxou a mãe dela você teve sorte, heim, André? - Alex comentou baixinho.

- Alex, por favor, não me mete em encrenca.

- Eu? Por que o meteria em encrenca? Estou aqui para tirar fotos! Gente! Foto das famílias! - disse ele, sacando sua câmera e pedindo um sorriso de todos. Depois disso, o pai de André deixou a carne assando (era um bom cozinheiro) e todos finalmente podiam conversar em paz.

- Então, vocês vieram mesmo da China? - perguntou Maurício.

- Sim - respondeu Hong - Mas no fim resolvemos investir aqui no Brasil. Mesmo assim, visitamos alguns parentes na China sempre que podemos.

- Deve ser um país interessante - disse Brenda.

- Se é! Aliás, preciso contar para vocês a vez que conheci o Jackie Chan pessoalmente! - disse Hong empolgado.

- Uau! Verdade?! - Tales parecia mais empolgado ainda. Lien fez uma cara de "já ouvi essa história mil vezes" e André sorriu amarelo. Papo vai, papo vem, finalmente eles chegam no assunto namoro dos filhos.

- Então, Mestre Wong, não tem mesmo problema o senhor ensinar kung-fu para o André de graça? Podemos pagar sem problemas - disse Maurício.

- Não se preocupem. O treino do André é um investimento meu. Parece que ele realmente está levando a sério o relacionamento com a minha neta.

- É que o papai tem uma visão não muito moderna de casamento - falou Chun.

- Não é questão de modernidade e sim de sobrevivência. Se minha única neta não se casar com alguém capaz de herdar a Academia, o que será do legado dela? Preciso de um herdeiro forte!

- Nossa. Parece um legado bem rígido, né? A Lien não poderia herdá-la de qualquer forma? - perguntou Brenda.

- Não dá. A Academia precisa ser regida por um homem forte!

- Em parte isso é culpa minha por não me interessar por artes marciais, mas é que não levo jeito mesmo - disse Chun - Preferi investir na área empresarial.

- E investiu bem, né, amor? - disse Hong - Mas eu tenho bastante simpatia pelas artes marciais.

- Seguindo essa lógica - comentou Alex - Se o André e a Lien tiverem um filho, poderiam treiná-lo desde o começo e  fazer com que ele herde a academia, não? Sempre tem uma solução!

- Até lá iria demorar muito. Não vou viver tudo isso a menos que...Ei, vocês não estão escondendo nada, estão? - disse Mestre Wong olhando para André e Lien, que ficaram vermelhos na hora.

- Nem beijar a gente beija direito! Como iríamos ter feito algo ainda mais avançado que isso?! - criticou Lien.

- Bem, é que os jovens de hoje...são tão...modernos - disse Chun - Mas com o corpo da Lien, não culparia o André.

- Mamãe! - gritou Lien.

- Relaxe, o André não é do tipo que faria isso - disse a mãe dele.

- Com certeza - confirmou Tales - No primeiro beijo dele, ele saiu correndo de vergonha.

- Que bonitinho - disse Chun - Muito tímido, não é?

- F-Foi inesperado. E eu era um pirralho!

- Ah, eu lembro. Teria filmado se naquela época tivesse uma câmera - disse Alex - Mas foi bem assim mesmo!

- Alex! Já falei pra não me meter em encrenca?! - gritou André.

- Mas só tô falando a verdade.

- De qualquer forma é uma satisfação ver o meu filho se dedicando a algum esporte - disse Maurício - Ele sempre foi um perna de pau em futebol, basquete, vôlei e qualquer outro esporte coletivo.

- Pai, também não precisa queimar o meu filme...

- Eu não duvido - disse Mestre Wong - Era muito molenga no início dos treinos, mas agora já melhorou muito. Com todo respeito, claro.

- Mas o senhor está certo - disse Maurício - Quando penso em um  garoto banana, penso logo no André.

- Mas é um bom garoto apesar de desastrado - conta Brenda - E como ele tropeçava fácil, né? Lembra quando ele era neném? Caiu tropeçando no rabo do cachorro da tia Cotinha.

- E veio chorando te pedir colo. Ah, sim, lembro sim.

- E quando ele bebeu água demais antes de dormir e fez xixi na cama? Quando estávamos visitando a tia Dolores? - lembrou Brenda.

- Nossa, lembro sim. Ainda bem que ela tinha bastante roupa de cama - comentou Maurício.

- Mãe...pai - André já não sabia nem onde colocar o rosto de vergonha.

- Relaxa, André. Essa eu já conhecia - falou Alex.

- Ah, amor, até que essas histórias de criança são fofas - falou Lien.

- É normal. A Lien também aprontava bastante quando era bebezinha. Ela saía correndo pelada pela casa porque não queria tomar banho. Era um sufoco.

- Mãe! - gritou a chinesinha (agora era ela que estava vermelha).

- É que a água era fria - disse Hong - Mas banho frio faz bem pra saúde.

 Lien queria enfiar a cara debaixo da terra. Bem, pais são assim mesmo. Mas a conversa mais constrangedora ainda estava por vir.

- Bem, o papai quer um genro esforçado no kung-fu, mas eu também quero um genro esforçado nos estudos - disse Chun - André parece ser um bom aluno, não?

 André começou a tossir ao ouvir isso. Lien deu um tapa levemente exagerado nas costas dele, mas o fez desengasgar da própria saliva.

- Ah, sim, não se preocupe com isso, Sra. Wong. Hehe.

- Bom aluno? Acho que é mediano, né, Maurício? - perguntou Brenda.

- O último boletim dele tá aqui - falou Maurício - Se quiserem dar uma olhada.

- Pai! - gritou André, mas ele já tinha mostrado.

- Sete, sete, oito em Inglês...nossa, seis em Física?! - falou Chun.

- É que a matéria é difícil - respondeu André - Mas juro que vou me esforçar para melhorar nela.

- Concordo - disse Brenda - Você poderia melhorar suas notas, André.

- Um bom guerreiro vai bem  tanto no campo intelectual quanto no marcial. Trate de treinar seu cérebro também, André. O cérebro também é um músculo!

- Isso tá biologicamente certo? - perguntou Lien.

- Sei lá. Sempre vou mal em Biologia - falou Alex.

- Você também devia melhorar suas notas, não acha?

- Quem quer casar com você é ele, não eu.

- Grosso.

- Lien parece ser uma boa aluna - comentou Brenda - Talvez ela ajude o André a aprender.

- Bem, na verdade...minhas notas também variam entre sete e oito. Tô na média.

- Sendo sinceros, nós queríamos que André fosse um bom aluno justamente para dar exemplo a Lien.

- Mas é difícil dar conta de todas as matérias. E eu ainda preciso estudar mandarim.

- Mandarim? Todos aqueles símbolos esquisitos? - perguntou Brenda.

- Não são esquisitos! Cada um representa uma ideia! - criticou Mestre Wong.

- É que...somos uma família ocidental, não estamos familiarizados com isso - disse Maurício.

- Pra mim são só um monte de rabiscos - comentou Tales.

- Tales! - bronqueou André - Não ligue para ele..hehe. Não sabia que a Lien estudava mandarim.

- Tenho que saber chinês...aliás, seria uma boa ideia você aprender também, André. Afinal, vamos ter que visitar a China de vez em quando.

 Mais de mil ideogramas para aprender? Conciliar isso com a escola e treinos? Bem que o assunto poderia mudar agora.

- Gente! Acho que a carne tá pronta! - falou Maurício.

- Opa. Tava morrendo de fome. Vamo encher o bucho! - falou Hong.

- Pai! Olha os modos! - reclamou Lien.

- Gostei do seu estilo. É isso aí! - falou Maurício, abraçando o pai de Lien - Tem algum time do coração?

- Palmeiras eterno

- Ah, aí sim, seja bem-vindo a nosso lar, irmão verde! Hehe! - cumprimentou Maurício.

- Seu pai é chinês, mas é bem brasileiro, né, Lien? - comentou Alex.

- Pelo menos eles se deram bem - disse a chinesinha.

- Vê se não come muita carne, filha - disse Chun, antes de se dirigirem à sala de jantar - Outro dia você tava reclamando do intestino preso, lembra?

- Mãe! - gritou Lien vermelha.

 Parece que as famílias desses dois vão se dar bem. Um bom sinal, apesar de pais serem todos iguais (só muda o endereço).


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