Capítulo 11 - Ingressando no estilo shaolin

  O desafio absurdo de tênis marcial foi vencido por nosso casal, mas André ainda tinha muito o que aprender e é claro que na tarde da segunda-feira seguinte lá estava ele na casa do Mestre Wong, pronto para iniciar mais um dia de treino. E dessa vez, parece que finalmente ele iria começar a aprender alguma coisa.

- Aí, André. Parece que agora o treino vai começar de verdade! - falou Alex, amigo dele, que sabe-se lá porque (talvez por não ter mais o que fazer) acompanhava os treinos do rapaz. Os dois caminhavam pelo jardim em direção à sala do treinamento.

- Imagino que sim - falou Lien, que caminhava de mãos dadas com André - Acho que os braços do André já estão treinados o bastante.

- Aliás Alex, porque diabos você tem que acompanhar a gente?

- Ora, o próprio Mestre Wong me deu permissão para acompanhar seus treinos. Além disso, é interessante ter alguém para filmar seus treinos, assim você pode ver onde precisa melhorar.

- Nossa, gentil da sua parte, Alex - comentou Lien.

- Eu sou um cara gente boa, né? O que posso fazer?

- Oh, finalmente chegaram - disse o Mestre Wong, assim que a turma chega ao salão de treinos.

- Boa tarde, mestre! - André e Alex cumprimentam.

- Boa tarde, boa tarde...ah, Alex que bom que você veio. Trouxe aquelas fotos?

- Claro. Estão bem aqui - falou o garoto, entregando um envelope para o velhinho.

- Que fotos, vovô? - perguntou Lien, meio desconfiada - Você é o Alex tem ficado bem amiguinhos ultimamente.

- Ah, nada demais, nada demais. Só umas lembrancinhas da sua escola, netinha, só isso...

- Que tipo de lembrancinha seria?

- Deixe essas banalidades de lado - disse o Mestre, ficando meio vermelho - Vamos ao treino, sim, hora de treinar, André.

- O que devo fazer hoje? - perguntou Alex obedientemente.

- Bem, como disse, a partir de hoje já podemos começar a treinar o nosso estilo Shaolin.

- Que bom! Então meus braços já estão bem treinados?

- Mais ou menos...na verdade, acho que já podemos começar o seu treino porque...bem, acho que você tem um talento para artes marciais.

- Eu? Mesmo?

- Percebi isso na sua partida de tênis. Você conseguiu perceber o ponto fraco do oponente mesmo em uma situação de tensão...não sei se foi bem sorte, mas poucas pessoas conseguiriam reparar nisso.

- Bem, é verdade que eu observei os movimentos dele e constatei que ele tinha um vício de movimento...

- Isso é importante em artes marciais. Se conseguir desenvolver isso, se tornará um ótimo lutador.

 André olha sorrindo para Lien que corresponde. Nisso ele se lembra de outra coisa.

- Espera aí, agora estou lembrando de uma coisa. Como a Lien e o Álvaro conseguiram fazer movimentos tão poderosos? Está dizendo que coisas como ki e energia espiritual existem de verdade?

- Bom, pessoas destreinadas não conseguem enxergar isso, mas com treino, é possível controlar bem essa energia. Claro que Lien não consegue fazer muito mais do que apresentou na partida, mas aquele Álvaro também não podia fazer mais do que apresentou.

- O senhor pode mostrar como faz isso?

- Ensinar isso para alguém que acabou de começar? É difícil...

- Não, não, eu quis dizer que gostaria de ver a sua energia espiritual em ação.

- Oh, isso? Bem, no seu nível de luta é difícil de enxergar, mas...acho que posso dar uma palhinha.

 Os quatro saem do salão e percorrem o enorme jardim até encontrarem uma pedra de tamanho médio.

- Acho que isso aqui deve servir- disse o Mestre.

- Uma pedra? Está dizendo que pode...

- Foi você quem quis ver, não foi, Andre? Preste atenção.

 O mestre se concentra e, após alguns instantes, em um rápido movimento, consegue lançar a pedra a metros de distância, sem sequer tocá-la.

- Foi longe - comentou Alex.

- O vovô realmente tem muita energia - falou Lien - Deu para ver o brilho daqui.

- Não vi nada - disse André - A não ser que a pedra foi lançada longe sem que o senhor a tocasse.

- Exato. Teria que usar muita energia para despedaçar a pedra, mas é possível lança-la longe com um pouco de energia.

- Incrível - falou André - Uma pessoa seria despedaçada com uma técnica assim.

- Uma pessoa comum, sim. Mas um adversário que também saiba usar essa energia, é muito mais difícil. Por isso, raramente lutadores combatem assim. Na verdade, fora de disputas de vida ou morte, lutar com as próprias mãos já basta.

- Achei que essas coisas só existiam em filmes ou animes - falou Alex.

- É difícil de acreditar mesmo - completou o Mestre - Mas nosso estilo consegue concentrar a energia de tal forma que esses fenômenos tornam-se possíveis. Talvez daqui a alguns anos André também seja capaz disso...se treinar com afinco.

- Treinarei todos os dias! - falou André - Estou pronto para começar!

- Ótimo. Então, primeiro o aquecimento..

 De volta ao salão de treinos, o Mestre dá o primeiro exercicio.

- Cinquenta flexões dão para o gasto - falou o Mestre - Que tal?

- Cinquenta? Perfeito! - respondeu André, já se alongando e se abaixando e se preparando para fazer o exercício.

- Ótimo. Então... - o Mestre simplesmente se senta em cima de André - ...Pode começar.

- Argh! O senhor até que é pesado - comentou ele.

- Eu sei - respondeu o Mestre - Mas se não aguenta nem isso, como vai aguentar o treino?

- Até que foi um aquecimento fácil - comentou Lien.

- Imagino que tenha coisas piores - falou Alex, que acompanhava tudo.

- Ah, sim, às vezes eu tinha que fazer duzentas dessas com três sacos de areia em cima de mim - disse Lien, com toda a naturalidade.

- Oh, eu não sirvo pra essa vida.

 Com sacrifício, André consegue terminar o aquecimento. Bem, aquecido de fato ele estava.

- Ótimo. Agora...acho que podemos começar o básico do estilo Shaolin...você sabe, é uma arte marcial muito antiga, desenvolvida por monges budistas antes de Cristo.

- Sim. Já ouvi falar.

- Embora tenha seu próprio estilo e metodologia de ser ensinado, eu, pessoalmente, tenho minha própria abordagem para ensinar. Um pouco diferente das academias que existem por aí.

- Como assim?

- Se quiser aprender a lutar, antes é preciso aprender a se desviar.

- Se desviar?

- Irei atacá-lo de frente, André. Se não quiser apanhar...prepare-se para se esquivar.

- Esquivar? Espere..

 Mas o Mestre foi mais rápido e acerta André na barriga. Ele é lançado para longe. Sorte haver alguns colchões do lado onde ele caiu.

- Vovô! - reclamou Lien.

- Ops. Acho que exagerei na força.

- Ai, ai...minha barriga.

- Ou o Mestre é mesmo muito forte ou o André é muito fraco. Acho que são as duas coisas - comentou Alex.

- Dá para mostrar um pouco mais de preocupação com o seu amigo? - retrucou Lien.

- Tudo bem, tudo bem...eu aguento - falou André - É questão de prática. Se tenho que desviar dos golpes, farei de tudo para me desviar.

- Certo...seu objetivo é tentar se desviar de todas as minhas formas de ataque. Isso não exige conhecimento teórico nenhum. Se conseguir se acostumar com a minha velocidade, vai ajudar em muito quando começar a aprender o estilo de verdade.

- Entendido - disse André. Ele é atacado de novo e, embora agora aguente algumas frações de segundo a mais, é atingido no ombro.

- Ai, meu ombro!

- Não reclama...dessa vez eu maneirei na força - falou o Mestre - Vamos lá...até o fim dessa semana, a sua capacidade de esquiva precisa dobrar, não triplicar. 

- Que seja. Estou pronto.

- Puxa, esperava mais um pouco de emoção - reclamou Alex.

- Por que você não começa a treinar também? Se quiser eu te ajudo a treinar sua velocidade - falou Lien, socando a palma da mão e com muita vontade de treinar.

- N-Não! Valeu! Tô de boa! Hehe! Vou filmar os treinos do André!

 E o treino foi duro. No fim da tarde, o pobre garoto estava tão exausto que tinha dificuldades até para levantar.

- Arf...arf...- disse ele - Não aguento mais fugir...

- Pelo menos acostumou a levar alguns golpes, não é? Amanhã os ataques serão um pouco mais fortes.

- Ah...tá - disse André, conformado. Ele se joga no chão.

- Ei, ei, levante-se. Não vai dormir aqui, não.

- Vem amor eu te ajudo - falou Lien - Err...você realmente precisa de um banho.

- É..acho que suei um pouquinho - respondeu ele, embora desse para ver uma poça de suor logo abaixo.

- Err...é...um pouquinho - disse Lien, com uma cara não muito consoladora.

- Ah, sim, André - chamou Alex.

- O que foi?

- Você já terminou o trabalho de História? - perguntou ele.

- Putz. É para amanhã. Ainda tenho que fazer! - André volta a se jogar no chão.

- Ah, sim. Lembre-se de que precisa ir bem nos estudos se quiser mesmo ter sucesso com a minha neta. Trate de tomar um banho e fazer esse trabalho. Boa sorte - Mestre Wong sai de cena. André percebe que sua vida realmente não vai ser fácil dali para frente.

  "Mas eu não vou desistir...nem ferrando!", disse ele. Primeiro fortificação dos braços, agora treino de velocidade. Ele não podia nem pensar em desistir antes das lutas de verdade começarem. Se esse era o preço para se casar com Lien no futuro...ele pagaria esse preço.