Capítulo 12

O Encontrão

– Venham – Disse Lion, acenando – Guardei uma cabine para nós.
Landon se despediu da Sra. Adams que acabara de conhecer, era idêntica a Amber. O garoto era capaz de enxergar sua amiga alguns anos mais velha. Depois abraçou seus pais e entrou ás pressas no trem.
– E então, como foram as férias de vocês? – Perguntou Brian, olhando pela janela.
– Ganhei uma ScarLight A9! – Disse Lion que parecia estar esperando a pergunta.
– É, você mencionou na carta. – Disse Brian, contendo levemente a voz.
– Foram boas. – Disse Amber, acenando para seus pais que se afastavam rapidamente – Queríamos visitar meus avós, mas não fomos por causa do trabalho do meu pai.
– O trabalho do meu pai sempre nos segura em casa. – Disse Lion, perdendo um pouco o entusiasmo – Se vamos a algum lugar ele nunca está junto. Vive muito ocupado, segundo ele.
– O que ele faz mesmo? – Perguntou Brian, franzindo a testa – Ele é um... um imencionável, não é?
– Inominável. – Corrigiu Landon.
– É, foi o que eu pensei. – Disse Brian, distraído – Fala sério. Pode nos contar, somos seus amigos, cara. Não tem como você não saber o que seu pai faz.
– Pois eu não sei. Nunca o vejo, chega bem tarde. Já chegou de passar semanas fora de casa – Disse Lion, baixo.
Um silêncio desceu sobre eles, Brian olhava através da janela com o olhar perdido, Lion tamborilava os dedos no apoio do banco e estava visivelmente constrangido. Landon sabia que Lion se fazia de forte, mas não esperava que a vida de seu amigo fosse assim. Outrora Lion os cantara que era de sua mãe a famosa voz que dava dicas de moda para bruxas toda semana na rádio mais ouvida, agora descobrira que seu pai tinha um emprego ultra-secreto e estava ocupado boa parte de seu tempo. Lion não tinha irmãos, nunca mencionara tias ou algo do tipo. Landon imaginou se seu amigo passara boa parte de sua vida sozinho.
– O livro! Deixe me ver o livro. – Disse Amber e Landon arregalou os olhos – Hogwarts – uma História, é claro. – Completou, rapidamente.
Landon se levantou e abriu seu malão, apanhou o pesado exemplar e se sentou.
– É incrível. Gosto da parte dos contos. Alguns deles falam sobre as estátuas espalhadas por todo o castelo, sobre os nomes notáveis que passaram pela escola. Bem legal.
Landon e Amber liam trechos de partes do livro durante a viagem, Brian e Lion apostaram suas figurinhas do sapos de chocolate e Brian era realmente bom, tinha uma vasta coleção de cartas de bruxos famosos conseguiu arrebatar metade da pequena coleção de Lion. Logo eles pararam de jogar e todos começaram uma empolgante conversa sobre as características dos professores e os três descordaram completamente da opinião de Amber sobre a Profª Gareth.
– Vocês são tão bobos. Estamos aqui para estudar. – Disse Amber olhando para eles – E toda aquela coisa de ignorar as meninas?! Essa mulher é ridícula!
– Acho uma excelente professora. – Disse Landon como quem encerra a questão.
Agora a neve caia lentamente, o sol já estava se pondo e Landon sabia que estavam bem próximos da escola. Em minutos o trem reduziu sua velocidade e estacionou. Os garotos se apressaram a sair da cabine, Amber ainda lia Hogwarts – Uma História e andava lentamente, desviando as pessoas. A estação estava congelada, coberta de uma grossa camada de neve. O ar gélido invadiu os pulmões de Landon e ele sentiu seu corpo arrepiar. Eve estava esperando-os a um canto encolhida sob as vestes negras da escola.
– Vamos logo, vou congelar aqui. – Bradou a garota andando à diante.
– Oi para você também! – Disse Brian, sarcasticamente – Tenho passado bem, obrigado. E você?
– Nada bem. Eu estava quase voltando para a escola. Passei boa parte do tempo andando pela vila e minha irmã está em casa, mamãe fica insuportável quando ela volta.
Chegaram à carruagem mais próxima, Lion foi o primeiro a entrar e depois que todos estavam acomodados, ela partiu rapidamente.
– Antes de entrar para a escola, passou algum tempo com eles, certo? – Disse Amber.
– Na verdade não – Disse Eve – São mais velhos, entende? Minha irmã é jogadora do Harpias de Holyhead e...
– O quê? – Perguntou Lion, como se nunca tivesse visto Eve antes – É uma das Harpias, então?! Poxa, eu sabia que conhecia o seu sobrenome.
– Sim, ela é. – Disse Eve e, pela primeira vez, eles puderam ver tristeza em seu olhar – Por isso não gosto de quadribol. Sempre viajando para assistir esses malditos jogos e outras coisas. Meus pais não perdem um.
– Será que você não poderia... – Disse Brian extremamente empolgado.
– Se pedir um autógrafo eu juro que te jogo dessa carruagem. – Disse Eve lançando um olhar fulminante a Brian que xingou baixo e passou o resto do trajeto calado.
O conjunto de carruagens passou junto pelos imponentes portões da escola e pararam de chofre no pátio escorregadio diante de grandes escadas que levavam ao castelo. Os garotos subiram as escadas juntos e Landon se concentrou para não cair. A escada se abria para o pátio amplo e uniforme, pequenos montinhos de neve indicavam que alguém estivera tentando varrê-la. Landon nunca estivera ali, só agora se dava conta de que estavam entrando por outra parte do castelo. No centro do pátio se erguia uma grande escultura de bronze. Ao longe Landon não pôde identificá-la, mas logo que se aproximou viu do que se tratava. Boa parte era formada pela base, era quadrada e longa, sobre ela uma réplica de Hogwarts. A réplica era perfeita, Landon pôde identificar todas as torres e se estivesse certo, estaria olhando para a Torre da Corvinal naquele momento. Algumas partes do castelo não estavam à vista, pois quatro figuras o rodeavam. Um pequeno elfo doméstico, uma bruxa com um chapéu pontudo, uma armadura e um rapaz com vestes longas que levava o símbolo de Hogwarts ao peito davam-se as mãos em torno da réplica do castelo. Ao se aproximar da base Landon pôde ver que ela era coberta de nomes. Centenas de nomes. A maioria possuía um traço logo abaixo por todo o nome, outros estavam apenas escritos.
Onde Landon imaginou ser a frente do monumento não encontrou nome algum, um retângulo grande ornamentado com desenhos de galhos e flores, trazia dizeres em dourado.

Em memória aos bravos guerreiros de Hogwarts.
"São nossas escolhas que revelam o que realmente somos.”
Alvo Dumbledore.

Muitos alunos que passavam paravam para olhar os nomes, os mais velhos continuavam seu caminho sem dar muita importância. Brian estava disposto a olhar todos os nomes até que Eve o puxou pela manga das vestes. Assim que atravessaram as paredes da escola, Landon começou a se sentir aquecido e sonolento. Os alunos se dirigiram para o Salão Principal que estava do jeito que Landon se lembrava, com milhares de velas flutuando sobre as cabeças dos estudantes que conversavam tranquilamente. Ocuparam a mesa mais próxima e aguardaram a chegada dos professores. Passaram boa parte do tempo conversando sobre os deveres que haviam recebido para as férias. Brian disse que inventou algumas respostas e que tinha certeza que haviam ficado muito boas. Lion se debruçou sobre a mesa e tamborilava os dedos lentamente.
Logo o Salão foi se enchendo e quando todos estavam acomodados, a professora McGonagall se levantou e cumprimentou a todos como de costume. No instante seguinte o salão estava se enchendo de cheiros dos mais variados tipos. Logo o barulho de garfos dominou o lugar.

– Chegamos ontem e já vão nos passar mais deveres?! – Disse Brian.
– A Gareth não passou deveres, Brian. – Disse Landon – Você que vai ter que aprender a ... Hmm... lhe dar com os ingredientes.
– Podem me dizer que diferença faz? – Perguntou Brian, irritado – São apenas folhas, corto-as como eu quiser!
– Você é realmente muito idiota. – Disse Eve, lançando um olhar de desprezo ao garoto.
Brian não se despediu deles ao se sentar para almoçar na mesa da Lufa-lufa. Landon achava que o ano estava sendo realmente difícil para o amigo, Brian não estava se saindo bem na escola. Nesta manhã não adicionara os ingredientes da poção na ordem e a professora que sempre era muito carinhosa com os meninos, estava mantendo certa distância do caldeirão do garoto.
– Podemos ajudar ele – Disse Landon, se servindo de tortinhas salgadas – Preciso mesmo fazer umas revisões.
– Ei, como vocês estão? – Perguntou Nicholas, o monitor – E suas férias? Escutem, hoje depois da aula, vão para o Clube da Corvinal, ok? – Disse ele, sem esperar resposta.
– Na verdade, estávamos pretendendo estudar. – Disse Amber, pensativa.
– Poxa, seria bom se pudessem dar uma força. – Disse Nicholas, desapontado – Desafiei o Marcus, sabem? Quero me tornar mestre do clube.
– É claro que iremos. – Disse Landon, rapidamente – Mas, bom... quer mesmo adicionar mais essa responsabilidade? Já é monitor.
– É uma coisa boa, penso – Disse ele – Nos ajuda a criar maturidade. Mas enfim... vejo vocês lá? Tudo bem então, vou indo.
Landon sabia que ele se ausentara para convidar mais pessoas para assistir sua luta. Ele nem ao menos sabia onde era o Clube da Corvinal e estava abarrotado de deveres. Em minutos o salão foi se esvaziando e eles seguiram para suas próximas aulas. Brian decidido a fingir que Eve não existia, a garota por sua vez conversava com Amber e Landon sobre as profissões de seus pais.
– Meu pai trabalha no ministério e é uma espécie de... – Ia dizendo Landon quando sentiu uma forte dor no alto da cabeça.
Ouviu-se o barulho de algo caindo e Landon levou a mão à testa e começou a massageá-la. Centímetros à frente estava Matthew que teve sua mochila jogada ao chão pela força da pancada.
– Me desculpe. – Disse Landon, ainda massageando a testa – Eu realmente não o vi.
– Não se preocupe – Disse Matthew, se abaixando para apanhar suas coisas.
A mochila estava mais próxima de Landon e por instinto ele se abaixou para ajudar. Agarrou um frasco, possuía um conteúdo verde musgo e pastoso, e ia ler o rótulo quando Matthew estendeu a mão pedindo a mochila.
– Não se deve mexer nas coisas dos outros, Lan. Pode ser perigoso. – Disse Matthew, olhando diretamente nos olhos de seu irmão.
Landon entregou rapidamente o frasco e a mochila. Matthew pegou o virdro e leu seu rótulo.
– Veja o que temos aqui. Ácido de serpentes albinas voadoras. Muito perigoso. – Disse Matthew, sorrindo para Landon – Tenho que me lembrar de não andar com esses ingredientes...
Todos olhavam para Matthew enquanto ele guardava o pote em um dos bolsos.
– Espero que tenha gostado do livro. – Disse Matthew lançando um olhar altivo a Landon que pôde sentir Amber prender a respiração – Vai aprender muito com ele. Era exatamente o que estava procurando, não é? – Disse ele, sorrindo para Landon – Fui eu quem deu a dica, sabe? Nossos pais adoraram e no mesmo dia fizeram o pedido na Floreios e Borrões.
Landon engoliu em seco, sentiu seu coração bater mais forte e Amber pareceu perceber que o amigo estava congelado.
– Vamos logo ou entraremos atrasados. O Connor é legal, mas não devemos abusar. Até mais Matthew. – Disse a garota.
Sem esperar resposta Amber começou a andar e os demais a seguiram.