The Haunted House. escrita por deathcocktail


Capítulo 2
The meeting.




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Eu, Antônio Carlos, fui visitar um amigo que há tempo não via. Vitor era muito atarefado, lecionava numa escola no plano espiritual. Ao saber que ele estava terminando uma aula, fui até a classe e o aguardei na porta, através da qual, mesmo fechada, escutei-o tirar dúvidas. Uma voz feminina agradável inquiriu:

- O que é maldade? Quem é maldoso?

Reconheci de imediato a voz de Vitor, forte e positiva, respondendo:

A maldade é a atitude de quem pratica o mal. Maldoso é quem comete ações más. Simples? A definição sim. Porém, como é complexo quando se reúnem dados diversos para taxa alguém de “maldoso”. E se analisarmos os porquês das ações, com certeza complica mais. Porque é muito difícil, gostaria de dizer ser impossível, existir um ser que seja somente mau, e os totalmente bons são raros em nosso planeta. Muitos de vocês podem estar pensando: “Será que existem justificativas para maldades praticadas?”. O perdão e as desculpas existem para que aqueles que praticaram a maldade os utilize com sinceridade. Justificativas surgem quando tentamos explicar o porqueê de termos feito algo. Quase sempre elas não são aceitas. Exemplos: “Matei porque fui ofendido”; “Roubei de quem era rico”; e as mais complexas: “Menti para não ofendê-lo”; “Traí porque fui traído” etc. Mas quem sentiu a ação nem sempre pensa como o agressor. Maldade é ação negativa, e a reação normalmente é de dor, sofrimento com a mesma intensidade. A crueldade - uma forma intensa de maldade -, quase sempre requer muito padecimento para apagar a marca que fixa no perispírito. Atos maus ou cruéis deixam marcas em quem os comete. Deixam marcas escuras no perispírito. Por isso dizem que seres assim são “trevosos”. Ações benevolentes de amor nos marcam também com pontos claros, luminosos; daí a expressão: “espíritos de luz”. Respondendo, Olívia, à sua pergunta, resumo dizendo: Maldade é tudo aquilo que fazemos ao próximo, mas que não queríamos que nos fizessem, e maldoso é quem comete tal ato. 

- Quando é que somos coniventes com o maldoso? - perguntou a mesma voz feminina, que, agora, ele sabia tratar-se de Olívia. 

Poderia responder simplesmente: quando aceitamos ou quando permitimos. Porém, por ser cada caso especial, particular, não devemos julgar, mas compreender, e, para entender, temos que saber os detalhes, escutando todos os envolvidos, porque se ouvimos apenas um deles, saberemos uma versão somente. Sabendo o porquê de alguém ter feito alguma coisa e do outro tê-lo deixado fazer ou ter concordado, saberemos então a responsabilidade da conivência. Certamente, se a pessoa conivente tiver sido um superior maldoso, a responsabilidade é maior, porque tinha como conter o outro. Porém, se tiver sido um inferior na conivência, talvez não tivesse como contê-lo, mas poderia tê-lo aconselhado ou até afastado. Sei de pais que tudo fizeram para tirar seus filhos dos vícios, não conseguiram e nunca os abandonaram. Com certeza não podemos dizer que foram coniventes por não abandoná-los e por terem sofrido com os atos errados dos filhos. Porém, sei que alguns pais incentivaram e levaram seus rebentos a erros. Cada caso é realmente um caso!

O sinal foi dado, a aula terminou e Vitor saiu apressado.

Antônio Carlos! Que surpresa agradável!

Abraçamo-nos. Perguntas costumeiras: "Como vai?"; "O que está fazendo?". Vitor desculpou-se:

- Meu amigo, desculpe-me, tenho que dar outra aula. Será de uma hora e vinte minutos. Espere-me, por favor! Aguarde-me no pátio. 

Prometi aguardá-lo, e ele caminhou apressado pelo corredor. Ia para o pátio quando uma senhora esbarrou em mim, derrubou um caderno e algumas folhas se espalharam pelo chão. Rapidamente, abaixei-me para pegá-las e, quando ela agradeceu, reconheci a voz e comentei:

Faz perguntas interessantes. 

Justifiquei:

Esperava por Vitor aqui na porta e escutei o final da aula. Como vê, vim sem avisar e terei de esperar que termine mais uma aula. 

- Posso lhe fazer companhia, se quiser. - Ofereceu Olívia.

Quero e agradeço. - respondi. - Combinei de esperá-lo no pátio. A espera sempre se torna agradável quando conversamos.

Dirigimo-nos ao pátio, sentamo-nos num banco, e eu, curioso como sempre, fiz algumas perguntas, que Olívia respondeu educadamente.

Faz dois anos que venho a esta colônia para estudar. Trabalho oito horas diárias na colônia onde moro, vou para lá logo após as aulas e volto para assisti-las. Cuido de duas enfermarias. Gosto do que faço. 

- Preocupada com alguma coisa? Desculpe, não quero me intrometer, mas...

- Estou mesmo com muita vontade de falar uma coisa e queria que alguém me orientasse. Queria muito ir à casa onde vivi quando era encarnada, para tentar acertar uma situação com a qual penso ter sido conivente. Agora é o momento, porque um estranho estará lá e pode ajudar. 

- Por que não vai? - perguntei, curioso. 

Por medo. A história é longa, e a oportunidade é essa. Meus amigos aqui acreditam que eu posso resolver sozinha. Que agora é diferente e eu não preciso recear. Porém, Gabriel, o homem que foi meu marido, também está desencarnado e está lá. Não consigo pensar nele sem sentir medo. 

- Foi conivente por medo? - perguntei.

Receio e chantagem. - respondeu Olívia. - Queria ajudar os encarnados que lá estão, mas não sei se consigo. Nenhum amigo, neste momento, pode se ausentar de suas tarefas para me auxiliar. Por isso estou descontente comigo. Não ajudar por medo? E se tentar auxiliá-los e atrapalhá-los mais ainda? Indo até lá sozinha poderei deixar que ele me maltrate novamente? Serei de novo conivente não tentando impedir que ele continue a maltratar outros?

Fiquei interessadíssimo. Pensei rápido. Era possível me ausentar de minhas tarefas por muitas horas nos próximos dias e me ofereci:

Se quiser, acompanho-a nesta aventura, digo, nesta tentativa de auxílio. 

- Quero! Pode me esperar aqui por uma hora e trinta minutos? É o tempo que levarei para avisar de minha ausência. Já obtive permissão para ir ajudá-los. Avisarei no meu trabalho e faltarei às aulas. 

Olívia levantou-se e, vendo-me indeciso, perguntou:

Mudou de idéia?

- Não, mas é que você nem me conhece, e eu...

- Ora, uma grande vantagem de estar desencarnado e morar nas colônias é esta: poder confiar em todos. Não o encontraria aqui se não fosse confiável. Depois, é amigo do professor Vitor, e eu também fiquei escutando perto da porta: você é escritor e já li alguns dos seus livros. Ao me ajudar, talvez possa ter uma história interessante sobre alguém que, de tão apegado aos bens materiais, desencarnou e continuou preso a eles por achar serem ainda dele. E desculpe-me o esbarrão, foi proposital. Vou e volto rápido, aguarde-me aqui. 

Olívia volitou. Eu aguardaria por Vitor e agora também por ela. Avisei telepaticamente aos companheiros que trabalhavam comigo que estaria ausente.

Vitor chegou e se sentou ao meu lado. Trocamos informações sobre amigos, tarefas e contei a ele o convite que Olívia me fez.

- Ela é minha aluna, é aplicada e fico contente que vá acompanhá-la. Com certeza vocês resolverão o caso. 

- Caso? - perguntei.

Problemas? Dificuldades? "Caso" abrange tudo. - respondeu Vitor, sorrindo. 

Sem atrasar um minuto, Olívia veio ao nosso encontro. 

Estou pronta!

Despedi-me de Vitor e fomos à saída da colônia de estudos. 

Vou pegar na sua mão porque sei para onde nos dirigiremos. -determinou Olívia. 

Volitamos rápido. Chegamos em minutos. Paramos em frente a sua casa cercada por frondosas árvores, ela me informou:

Aqui foi meu antigo lar. Sítio São Judas Tadeu, a Casa do Bosque. E aquele ali é o encarnado que quer entrar na casa.

Vi o moço atento, olhando as janelas. 

É um moço corajoso - explicou Olívia. -, mas irresponsável. Porém, isso não importa para nós. Para mim, é um estranho que pode nos auxiliar. Ele se chama...

Falou rápido o que sabia dele. O jovem ficou por segundos observando a moradia e pensou em como se envolvera naquela aventura. Minha companheira e eu soubemos então o que acontecera com ele horas antes de estar ali. Vimo-lo abrir a vidraça e entrar na sala. Entramos também. Quando ele passou pela segunda sala, Olívia me segurou no braço, encostamo-nos à parede, do lado contrário onde estava o encarnado. Vimos um desencarnado. 

Este é Gabriel, meu ex-esposo. - falou Olívia, aproximando-se mais de mim. 

Observei-o, era um desencarnado desarmonizado. Seu aspecto era de um homem comum, embora estivesse sujo, cabelos despenteados e barba malcuidada. Senti que Olívia o via diferente de mim. Para ela, Gabriel era horrível, quase um monstro.

- Ele não nos verá. - afirmei.

Mas verá o moço!

- Acho que não.

Gabriel parou, algo na sala estava estranho para ele. Era nossa energia. Não se sentiu bem, lembrou-se da esposa e ficou inquieto. Como Brian estava parado sem se mover, o ex-dono da casa não percebeu sua presença. Olhei fixamente para ele, pedindo para que não olhasse para o lado onde o moço estava. Como ele sentia que algo ali estava diferente, fixou-se para o local onde estávamos, Olívia e eu, e não olhou para o lado onde o invasor encarnado permanecia imóvel. Gabriel resolveu ir dormir e foi para o seu antigo quarto. Quando Olívia não o viu mais, explicou:

Esta é minha nora, Eunice, boa moça.

- Quem mora aqui? - quis saber.

Eunice, Katherine e Matthew, ou eles e os desencarnados, pois são três mais alguns visitantes. 

- Vamos atrás de Gabriel.

Puxei Olívia. No corredor haviam muitas portas fechadas, eram quartos e banheiros. 

Este é o quarto da Eunice. - informou Olívia - Dorme aqui, perto das salas e da cozinha. Gabriel costuma ficar no nosso antigo dormitório. 

De fato, encontramo-lo em um quarto amplo, simples, decadente como a casa. Gabriel estava deitado em uma casa de casal, com os olhos abertos, pensativo, sentia que algo não estava bem e não sabia o que era. Aproximei-me dele, Olívia preferiu ficar na porta, observando. 

Entendi o que ocorria com Gabriel. Ele não nos viu, vibrávamos muito diferente. O antigo proprietário da casa conseguia ver apenas desencarnados como ele e encarnados. Mas nossa vibração o incomodava, inquietava-o, porque não conseguia saber o que estava diferente. Desencarnados como ele vivem ora sabendo que seu corpo físico morreu, ora se iludindo tanto que pensam que nada aconteceu e que permanecem encarnados. Vibrei para que adormecesse. Ele foi ficando com sono e dormiu. Expliquei a Olívia:

Seu ex-marido dormirá o tempo que determinei. Assim, você poderá agir com tranquilidade, e ele não nos atrapalhará. Vamos voltar à sala.

- Eunice pensou que Brian era um desencarnado. - Comentou Olívia. 

Eunice é médium? Consegue ver desencarnados? - perguntei.

- Ela vê vultos, quem vê mesmo é a mocinha. Mas elas nem sabem o que é ser médium e nem o que é "mediunidade". 

Passamos pelo corredor. A única luz, acesa de forma precária para os encarnados, era a da cozinha. Brian dirigiu-se para lá e estava comendo, quando, sem que percebesse, uma porta da esquerda, onde havia outros quartos, abriu-se, e uma jovem muito bonita, morena, de camisolão, caminhando sem fazer barulho e com uma espingarda nas mãos, observou o visitante, sorriu nervosa, apontou a arma para ele e gritou:

- Eunice!

Brian estremeceu, e Olívia me informou:

- Esta é Katherine, a outra moradora encarnada da casa.

Katherine continuou gritando. 


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Notas finais do capítulo

OBS: Pra quem já leu, eu mudei o nome do professor para Vitor.



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