Em um canto Henri estava sentado com as pernas junto ao peito chorando cabisbaixo, no outro em uma parte mais escura, encostado as grades da cela estava Ayako olhando fixamente para a janela acima de Henri.
    - Nós vamos morrer não é? - Henri olhou para Ayako ainda com os olhos cheios de lagrimas.
    - Você tem alguma duvida? - Respondeu sem desviar o olhar da janela.
    Henri tinha cabelos curtos e negros, usava óculos que estavam embaçados por culpa do choro que não cessava, estava vestindo uma camisa branca calças e sapatos sócias. Já Ayako tinha cabelos compridos e despontados, Castanho escuro quase preto e se vestia igual a Henri, exceto os óculos.
    - Acho que seu pai estava certo em não ter tentado fazer nada contra eles... Olha o que aconteceu com agente!
 Ayako suspirou e olhou para o chão evitando olhar para Henri.
    - Você esta dizendo que concorda, que acha certo o que ele fez?!
    - Não tire palavras da minha boca Henri! Ele batalhou a vida toda por aquela empresa, investiu tudo naquele projeto e chegou a beira da falência, não creio que ele estivesse são quando... Você sabe, Se eu concordasse estaria igual a ele, louco!
    - Não há justificativa para cometer suicídio Ayako! -Henri começou a chorar novamente
    - Nada disso importa, nós vamos morrer...
    Henri respirava ofegante entre soluços e lagrimas, sempre foi assim sentimental, apesar de mais velho fisicamente, mentalmente era mais novo que Ayako, ou talvez Ayako que fosse duro de mais, abeira da morte sem derramar nenhuma lagrima.
    - Porque ele esta chorando? - Falou uma voz de mulher vinda de fora da grade.
 Ayako teve um arrepio, ouviu um pequeno sino tocar dentro de sua cabeça assim que virou-se para ver quem era a garota que falava com ele. Era uma garota de longos cabelos pretos e um olho de cada cor, um amarelo o outro roxo, vestia um kosode* cortado acima do joelho e bem colado ao corpo, também um par de botas cano baixo, uma garota bem peculiar.
    - Quem é você?!
    - Me chamo Toki...  Anw... Mas porque você estava chorando?!
    - De onde você veio?!
    - Nãnaninanão! Se não responderem a Toki ela também não vai responder vocês... Hum! - A garota cruzou os braços e deu as costas, parecia estar realmente irritada.
    - Eu estava chorando porque um homem que eu considerava meu pai se matou. - Henri enxugou as lagrimas e esfregou os olhos para poder ver melhor a garota.
    - Que coisa triste... Como ele se chamava? - A garota se virou para Henri com os olhos brilhando de curiosidade.
    -Yamasodo, MikeYamasodo.
    Toki perdeu totalmente o brilho nos olhos e seu coração se acelerou.
    - Ela sente muito, a toki preciao ir!- Se levantou e saiu correndo.
    - Hei! Aonde vai com tanta pressa?! - Ayako gritou, mas não teve resposta.
    Sentou-se novamente encostado na grade e olhando para a janela soltou um longo suspiro de alivio, Henri continuava olhando para fora da cela com um olhar perdido como se sua mente não estivesse ali.
    - Garota estranha não? - Falou Henri surpreendendo Ayako.
    - É... Você escutou um sino quando ela chegou aqui?
    - Sino? Não escutei nada, por quê?
    - Pensei ter escutado um...
    "Deve ser coisa da minha cabeça, só imaginação" - Pensou ele.
    Ayako já tinha ouvido aquele som de sino a 3 dias atrás quando chegou ao escritório de seu pai e o encontrou pendurado em uma espécie de forca feita por ele mesmo. Antes daquela semana ele sempre foi uma pessoa tão descontraída... Claro que trabalhava de mais, só que nunca demonstrou stress ou algo do tipo, mesmo depois da historia da J-tec ter o roubado... Foi realmente um choque.
    Ayako ainda olhava para janela perdido da imensidão azul do céu, nem escutava mais Henri chorando, quando um estrondo aconteceu, a cela se abriu e Ayako quase caiu para fora. Vendo as coisas desfocadas por ter ficado olhando tanto tempo para a luz não viu quem foi que abriu a cela, só escutou a pessoa correndo para longe e Henri gritando.
    - Vamos Ayako, é nossa chance!
    - O que está acontecendo Henri?!
    - Um homem abriu nossa cela, vamos Levanta!
    Henri olhou para os lados fora da cela enquanto gritava para Ayako se levantar e viu que não havia ninguém naquele corredor escuro que parecia não ter fim.
    - Quantas celas! Parecem que todas estão vazias...
    - Como eu suspeitava, nós estamos em uma prisão abandonada.
    Realmente Ayako estava certo, a J-tec havia os trancado ali onde ninguém poderia os encontrar para que morressem de fome. Henri ajudou Ayako a se levantar e começou a olhar o lugar procurando por uma saída, viu então em uma cela um pouco distante dali alguém chorando, e como sempre sua bondade falou mais alto que sua vontade de sair daquele lugar.
    - Ni-chan precisamos ajudar aquele pessoa!
    - Não Henri! Temos que sair daqui antes que algum dos "guardas" apareça...
    -Você gostaria que alguém falasse isso se fosse você lá?
    - Não! Mais acontece que não sou eu lá, e não quero que seja, por isso não temos tempo.
    Henri ignorou o amigo e seguiu em direção a cela onde havia alguém chorando. Chegando mais perto viu que era uma garota, ela tinha um cabelo ruivo não muito longo, tinha uma pele que parecia ser tão macia quanto a de um bebê, estava com as pernas junto ao peito e a cabeça sobre os joelhos chorando.
    - Oi, como você se chama?- Perguntou Henri a garota.
    A garota então levantou a cabeça olhando para Henri, apesar de estar com o rosto um pouco vermelho e inchado de chorar, ela era linda, tinha olhos verdes e lábios grossos, Henri se abaixou para olhar diretamente ela enquanto falava.
    - O que você quer?!
    -Vim te ajudar.
    - Eu não preciso de ajuda.
    - Eu te falei que nós devemos ir embora - Falou Ayako surgindo atrás de Enri.-Vamos!
    - Deveria ouvir seu amigo.
    - Eu não consigo entender...
    -Vamos logo! -Falou Ayako se colocando frente a Henri.
   Um estrondo ensurdecedor, seu corpo começou a ficar gelado e o sangue escorrer de suas costas para as mãos de Henri que havia impedido sua queda. Com uma arma apontada para a cabeça dele estava o fundador da companhia J-tec, que havia acabado de matar Ayako.
    -Eu falei para você que era melhor ouvir seu amigo. - a garota deu um sorriso maldoso.
   Lagrimas começaram a escorrer dos olhos de Henri que caiu de joelhos por não agüentar o peso de Ayako.
    -Maldito!
    -O que você disse garoto?
    -Não foi o suficiente ter feito seu irmão se suicidar?! Tinha que matar seu sobrinho?!!!
    -Irmão...Sobrinho...Família? hahahaha, não me faça rir garoto! Pra mim, eles nunca foram minha família!!! -cuspiu sobre o corpo de Ayako.
    -Maldito!- Henri pulou nas grades tentando alcançá-lo - Maldito!!!
   Puxou a garota pelo pescoço e sumiu na escuridão da cela.
    -A Toki pode ajudar? - A garota apareceu do nada novamente.
    -Não... Não há nada que pode ser feito após a morte.
    -Se ele fosse realmente filho mo Mike ele poderia.
    -O que?
    -Nada... Ela não sabe bem o que diz.
   Henri fechou os olhos de Ayako.
    -Volo te ipsum.
    -O que você disse?
    -Que eu queria que ele voltasse...
    -Você falou em que lingua?
    -An? Eu falei normal!
    -Não falou não...
   O corpo de Ayako que já estava pálido começou a voltar a cor, e seu coração tornou a bater, seu sangue foi puxado de volta para seu copo, o buraco da bala se fechou e a bala saiu.
    -O que é isso? Foi você Toki?
    -Não, não foi a Toki. Foi Dizang!
    -Do que você tá falando? Quem é Dizang?
   Ayako se levantou,
    -O que aconteceu Henri? Eu sinto como se tivesse sido atropelado por um caminhão! - Ele se espreguiçou.
    -Não consigo entender...
   Toki sorriu.
    -Cadê aquela mulher?
    -A Toki acha que o tio de vocês levou ela.
    -Nosso tio? Do que essa estranha tá falando?
    -A Toki não é uma estranha!!!
    -Henri? Henri?! Tá tudo bem?
    -Não Ayako, não tá tudo bem! - Henri se sentou no chão.
    -O que foi One-chan? - Sentou-se ao lado dele.
    -A Toki vai deixar os dois conversarem a sós! -Saiu cantarolando na escuridão.
    -Eu não sei como te dizer isso, mas... Você é um zumbi.
    -Zumbi? Deixa de ser criança, porque eu seria um zumbi?
    -Na verdade... Você morreu.
    -Do que você tá falando?
    -Nosso tio de deu um tiro e você morreu na hora, ele tava escondido na cela daquela garota.
    -Então porque eu tô falando com você se eu morri?
    -Esse é o problema, eu não sei!
    -E sua teoria mais obvia é que eu sou um zumbi?
    -E qual sua teoria?
    -Que você tá louco.
    -Já acabaram de conversar? A Toki tá entediada... - Novamente apareceu do nada e colocou a cabeça entre os dois.
    -Não sei se ele acabou de falar, mais eu já cansei de ouvir as maluquices dele.
    -O Dizang é maluco?
    -O nome dele é Henri.
    -Não, o nome dele é Di-zan-g!
    -Quem é essa garota afinal Henri?
    -Não sei, não.
    -Eu sou um Yokai, não uma garota.
    -Ela é doida igual você.
   Toki deu um tapa na cara de Ayako. “Toki um, Ayako zero”
    -Ai!! sua sem noção, isso dói!!!
    -Silencio, agente ainda tá dentro da prisão.
    -A Toki vive aqui a anos e só tem vocês e aquela garota, também aquele homem, mas eles já foram embora então...
    -Você vive aqui?
    -Então você sabe onde fica a saída?
    -A toki sabe.
    -Pode nos Mostrar?
    -È só seguir a Toki.
   As luses do  corredor se acenderam.
   -Agora que você descobriu seus poderes Dizang... A Toki quer saber se você é diferente de seu pai.
   -Você está falando comigo? - Perguntou Enri a Toki.
   -Você conhece outro Dizang?
   -Eu nem sei o que é Dizang, mas... Você falou do meu pai?
   -Sim, a Toki falou.
   -Você conheceu meu pai?
   -A Toki matou ele.