Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 7
Entre tiroteios


Notas iniciais do capítulo

Capítulo do almoço. Preparem-se para palavras impróprias. Eu ri muito enquanto escrevia. Espero que vocÊs gostem.
Empolguei-me tanto que o capítulo ficou grande, eu até queria deixar a melhor parte pro 8, mas achei melho não.



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Não estava, eu, mais deprimida e nem enfurnada em meu quarto chorando. Voltei a fazer minhas tarefas, mas sem pressão de meu pai. Ele não queria me ver desmoronar diante de si. E eu também não aguentaria mais nada. Meu corpo estava no limite e minha mente; eu precisava de repouso.

Escapei de casa e fui andar pelo bairro. Eu nunca tinha o observado atentamente. Não havia muitas coisas para se admirar, mas existia ali a doca. E em pensar que estava tão próxima de um lugar como este. Avancei alguns metros e percebi um morro a pouca distância. Era necessário descer ele para se chegar à doca. Não desceria até o lugar. Apenas observá-lo era o suficiente.

Alguns passos depois encontro algumas casas. Elas eram mais modernas do que a minha. Morar em lugar como esse não tem muitas vantagens: sempre falta lugar para recreação e fuga de rotina. Parei na esquina à procura de uma rota a seguir.

Faltava poucas horas para meu pai e Jean ficarem frente a frente. Se meu namorado me visse no estado em que estou saberia que não estou dando tudo de mim a este relacionamento e, com certeza, não irá querer me ver novamente.

Pensei em seguir caminhando, mas o tempo mudou de repente. Senti as gotas grossas de água entrar em contato com minha pele quente. Foi uma sensação agradável. A chuva ficou intensa em poucos minutos, enquanto eu refazia meu caminho de volta para casa. Mergulhei em devaneios. Havia tanta coisa para se pensar. Tantas coisas que me aconteciam. Elas deveriam ter uma explicação, mas eu não as conseguia encontrar e nem parecia que conseguiria.

Atravessei o terreno e não senti mais chuva, olhei para cima e vi as nuvens negras sobrepostas umas as outras, gotas de água caiam delas, mas não chegavam ao solo. Eu deveria ter imaginado que meu pai faria algo assim. Apalpei ao meu redor tentando encontrar algo que não deveria estar ali e senti uma pilastra circular e lisa além de ser grossa. Até onde minhas mãos alcançaram, percebi que era uma estrutura imensa. Quis usar o Finiti Encantatem, mas não podia usar magia.

Entre, Aira – vi ele parado na porta, me fitando. Não parecia estar, realmente, preocupado com minha saúde – Mesmo estando sobre a proteção do bangalô, não é saudável ficar com a roupa molhada.

Bangalô?

É.

Ele ficou monossilábico tão rápido. Entrei dentro de casa e retirei meus sapatos. Subi a escada e vi o carpete horrível ganhar uma manha escura, que eu tinha a suspeita de nunca mais sair dali pelo método de limpeza trouxa. Tomei o cuidado de não molhar muito o chão; tarefa impossível quando o corredor é estreito e recoberto por um carpete horrível de coloração marrom. Carpete ainda é um artigo de moda para algumas pessoas. Porém é algo muito sujo, depois de retirado. Lembro-me de quando Madson retirou o carpete da sala e ficamos surpresos com a camada de poeira embaixo e o assoalho quebrado.

Nunca gostei do carpete, mas não achava necessário retirá-lo e ter de providenciar uma faxina para a casa. Além do mais, o carpete só estava no corredor e na escada, o resto dos ambientes estavam livres dele. Pelo que meu pai me contara, ele nunca gostou do carpete e os retirou dos lugares em que achou preciso.

Pisei nele e senti meu pé afundar. Rapidamente fui para outro canto. Nunca houve do carpete afundar. Abaixei-me e passei a mão onde segundos atrás meu pé estava. Senti uma depressão leve, mas que com um peso relativamente grande, afundaria. Marquei bem o local em minha mente e fui rapidamente ao meu quarto me trocar. Já estava começando a ficar com frio. O tempo havia esfriado.

Troquei-me e sequei meus cabelos demoradamente, até vê-los úmidos e lisos. Sempre gostei de meu cabelo. Existem poucas pessoas que possuem cabelos lisos e negros naturais. Meus genes são excelentes: herdei de meu pai e minha mãe os cabelos lisos e negros. Sentia falta da tintura nele, mas não via necessidade de pintá-lo por completo. Segurei uma mecha e a visualizei em várias cores. Não queria mais verde. Eu ainda tinha tintura de cabelo especial guardada em meu malão. Procurei alguma que eu ainda não tivesse usado.

Vi ao canto, próxima de coisas esquecidas como livros e cadernos, que eu deveria ter retirado dali no dia em que retornei pra casa. Já que eu estava remexendo ali, aproveitei e fiz uma limpeza digna de prêmio.

Peguei o frasco de cor rosa e o abri em frente ao espelho. Era só embeber a mecha dentro da solução por alguns segundos e depois de retirado ficaria rosa. Se fosse o cabelo todo, deveria passar com a mão. Após alguns segundos vi a mecha rosa. Não era preciso lavar. Nunca tive problemas por não lavar o cabelo depois de tingir.

Guardei o frasco na prateleira e saí para resolver o problema do carpete. Atravessei o corredor, descalça; nunca gostei de usar sapato dentro de casa, era mais confotável sentir o chão aos seus pés. Verifiquei, antes de descer a escada, se não estava pisando na depressão. Entrei na cozinha depois de passar por meu pai. Procurei na gaveta de talheres uma faca afiada que aguentasse cortar um carpete que eu não fazia a mínima ideia de sua espessura. Avistei a faca que eu procurava em seu suporte sobre o balcão da pia. A peguei e saí da cozinha.

Estava preste a subir a escada, quando é chamada minha atenção.

Aonde você vai com essa faca, Aira?

Virei-me e o observei. Só disse que precisava cortar algo e que depois eu colocaria a faca no lugar.

No corredor, comecei a cortar em volta da depressão. Com a ponta da faca puxei um pedaço do caprpete pra cima e puxei o restante com a mão. O que vi me deixou surpresa e intrigada ao mesmo tempo. Havia o assoalho, mas ele não estava mais ali e sim o buraco onde deveria estar. Tinha algo dentro do buraco. Coloquei a mão dentro e puxei uma bolsa de pano empoeirada. Sentei-me para ficar mais confortável e abri a bolsa. Havia muitas fotografias que foram deterioradaspelo tempo.na última foto vi uma mulher de perfil, olhando para algo; atrás existia uma dedicatória.

Pra sempre te amarei, Severo

H.T

Minha mãe escondeu tudo aquilo embaixo do assoalho. Mas a quanto tempo? Levantei-me e sem preocupar em refazer toda a bagunça, fui ao encontro de meu pai, com a bolsa em uma mão e as fotos em outra.

Aira?

Estendi pra ele as fotos e sentei-me ao seu lado. Leu atentamente a frase e deixou-se cair a cabeça no encosto do sofá.

Onde encontrou isso?

Expliquei sobre o carpete, a depressão, o assoalho. Ele não sabia dizer como minha mãe havia colocado a bolsa naquele lugar. Mas não lhe interessava saber de nada disso, só queria ter contato com ela novamente, mesmo que fosse por fotografias e palavras.

Antes de saber que era filha de Severo Snape – o professor mais temido de Hogwarts e muito rigoroso –, não imaginaria que ele tivesse sentimentos. Durante esses dois anos de convivência em que sei da verdade, descubro diversas coisas sobre ele. Severo, a não ser pelo nome, não é uma homem rude e muito menos severo. Ele é doce, educado e carinhoso. Percebo o quanto ele sofre pela ausência de pessoas amadas, toda noite. Tranca-se em seu quarto e fica olhando através da janela como se esperasse que algo acontecesse.

Levantei-me e fui consertar o estrago no carpete. Notei ao lado da parede que faltava a pregação do carpete. Foi por ali que ela conseguiu colocar. Tentei arrumar, mas ficou horroroso. Se meu pai não me matasse eu me mataria. Não havendo outra maneira, comecei a arrancar o carpete horrível. Retirei boa parte dele e me cansei. Com tantos pregos era difícil. Após meus olhos lacrimejarem e meu nariz apresentar secreção nasal, consegui retirá-lo por inteiro. Cai no chão, imunda pela poeira entre outras coisas que eu não queria saber o que eram. Olhei para o piso e vi a madeira com resquícios de que fora encerado. Ele foi jogado dentro do armário. Não precisávamos mais dele.

Saí do banheiro após um longo banho para me livrar da poeira, mas eu ainda sentia o efeito de estar em contato com micro-organismos que eram mais velhos que eu. Todos eles em contato com minha pele e nariz, causaram-me alergia. Até parecia que eu estava gripada: olhos vermelhos e nariz escorrendo. Eu sentia uma penicação em meus braços, pernas e pesocoço. Isso tudo irritava e me ocupavam boa parte do meu tempo.

Nunca tive alergia a nada, mas sentir na pele não é algo agradável. E muito menos com você espirrando a cada trinta segundos. Comecei a me preocupar. Conversei com meu pai e ele me deu uma poção anti-alérgica, que eu deveria tomar duas vezes por dia. Só queria me livrar dessa coceira infernal e espirros intermináveis o quanto antes.

§§§

Não queria ter de adiar a apresentação de Jean ao meu pai. Por sorte a alergia havia melhorado e era apenas uma coceira passageira no nariz e em algumas partes do corpo. Meu nariz não secressava mais e nem espirrava sem parar. Ainda queria me lvirar da coceira, por isso meu pai preparou uma poção que eu tinha de passar toda manhã após o banho, pelo corpo.

Nem parecia que Severo Snape conheceria o novo namorado de sua filha: estava muito tranquilo. Ele não rebatia nada e nem especulava coisa alguma sobre minha relação com Jean. Claro que meu pai não sabia que eu apresentaria meu namorado, mas ele sempre teve suspeitas quanto a amigos do sexo oposto.

Fiz uma boa limpeza em casa e obriguei-o a arrancar o maldito carpete da escadaria. Eu pressentia que a fonte de minha alergia insistente era o carpete. Ele retirou, quando eu estava no jardim, cuidando de minha plantas e flores. Estar ao ar livre era tão bom para minha saúde. Não sentia mais a necessidade de espirrar ou cessar uma coceira.

Com as luvas próprias eu plantava no chão mudas de begonhas, orquídeas, violetas, margaridas, rosas. Havia plantas e árvores que eu as plantava com carinho. Sentia-me uma botânica. Lembrei das horas em que eu ficava na Estufa nas aulas de Herbologia cuidando das diversas plantas. Eu devo ter um dom especial para plantas, pois nenhuma morreu e eu recebi E na matéria.

Queria terminar meu jardim antes de voltar a Hogwarts, depois as estações fariam seu papel e no próximo verão eu voltaria a trabalhar ali.

Bati as palmas da mão no ar e retirei as luvas. Era hora de regar. Peguei o regador e molhei tudo com cuidado para não encharcar e matá-las. Guardei as pás, o regador e o adubo na casinha.

Eu fizera um trabalho excelente. Havia ali diversidades de flores, plantas, árvores. Também gramado, alguns bancos dispostos ao redor de uma mesa. Qualquer vizinho que visse ficaria com inveja. Poucas vezes tive orgulho de algo que eu fizera.

– Bom trabalho, filha.

Olhei para meu pai. Ele nunca havia me chamado daquela forma.

– O que houve?

Retirei meu macacão e deixei sobre a cadeira junto das luvas.

– Me chamou de filha.

Ele sorriu e entregou-me um copo de suco. Não importava o que estava acontecendo, ele estava mais carinhoso daquela maneira. Nunca recebi um copo de suco por ele, eu sempre tive que me servir.

Adentrei a cozinha e vi o jornal aberto sobre a mesa. Aproximei-me e vi a data. Era recente e era o jornal trouxa. Nunca fui de ler jornais, não precisava, sempre sabia das coisas ao ouvi falar delas. Mas o assunto discutido no jornal atraiu minha atenção. Sentei-me e comecei a ler com os olhos.

Morte misteriosa de família

A morte da família Parker ainda é insolucionável, segundo as autoridades que investigam o caso. Após trinta e sete dias da morte de pai, mãe e filho, não se sabe o motivo que levou para um crime brutal. As únicas informações que tem-se são de que o filho John Parker (seis anos) foi o primeiro a ser morto. Anne Parker, que foi atingida no peito por uma lamina cerrada faleceu pelo ferimento. O grande mistério é como eles morreram e porquê. Não se sabe quem poderia ter feito algo dessa inescrupolidade.

Vizinhos dizem que quando viram a casa se incendiando correram e os resgatam, porém não sabiam que os residentes permaneciam mortos.

Katherine Morley, vizinha de frente, disse que viu pessoas passarem em frente a casa. Ela estranhou todos estarem usando capas pretas, que lhe cobriam todo o corpo em uma noite quente de verão.

Análises criminais foram feitas, entretanto não há indícios de qualquer objeto que tenha provocado a morte de John e Paul Parker, eles eram os únicos livres de ferimentos. Médicos legistas evidenciam ao fato de pai e filho terem morrido de parada cardíaca. “Uma coisa rara em uma criança de seis anos com hábitos saudáveis”, disse o legista Harold Jones.

Espera-se futuramente que o caso seja esclarecido. Enquanto isso a população de Greenvalley está temerosa que ocorra outros assassinatos como esse.

– Estão suspeitando de que a mãe tenha matado o filho asfixiado e o marido, e depois suicidou-se.

A cena do crime permetia isso, mas o legista dissera que a causa da morte foi parada cardíaca. Eu não sabia se ficava tranquila ou infeliz por eles não descobrirem a verdade.

Chega de notícias ruim. Deixei o jornal de lado e subi para meu quarto arrumar meu material. No dia seguinte Jean viria a minha casa.

Acordei Cedo, ansiosa. Não sabia o que esperar do dia. Meu pai sempre apavorou os garotos. O único que o enfrentou foi Fred.

Preparei o café e torci para que ele não percebesse meu nervosismo. Severo saiu do porão fedendo a poções e com a aparência de noite mal dormida. Imediatamente o mandei se lavar. Meu pai ser apresentado ao Jean com aquela aparência não era cabível. De início ele não gostou, mas não tinha que aprovar nada. Caramba! Ele estava mulambeno. Precivasa de um tapa no visual. Como se fosse fácil fazê-lo voltar a usar roupas trouxas.

Se bem que se minha mãe conseguiu, eu poderia refazer o mesmo feito.

Ele viria para almoçar. Era o combinado.

Rezei internamente a tudo que era deuses e até a Merlin para que tudo ocorresse bem, mas era pedir demais. Já disse que o destino conspira contra mim?

Quando deram doze horas, fiquei apreensiva. A campainha tocou. Levantei-me e arrumei minha saia. Meu pai me olhava. O almoço estava preparado.

Abri a porta vagarosamente e vi Jean segurando um buquê de rosas brancas. As flores não melhorariam o humor de meu pai, que estava pior do que se ele estivesse em Hogwarts. Ele estava tão calmo. Nem parecia que entratia na toca do leão, quer dizer cobra. Seja lá que for, era ruim de mais pra ficar calmo. Deixei ele entrar e segurei seu braço. Queria evitar a carnificina que se estalaria ali.

Meu pai se levantou e estendeu a mão ao Jean que a apaertou e fez uma leve careta. Aquele aperto de mão não era simplesmente um cumprimento, era a demonstração do que viria se ele tentasse algo de errado comigo. O que provavelmente ele esperava com anseio, para minha parcial surpresa. Os olhos dele denunciam que meu namorado não fosse cem por cento compromissado em ser totalmente certo.

Sentei junto de Jean no sofá e meu pai em sua poltrona, nos observava e fitou nossas mãos entrelaçadas. Foi um deslize. Mas o que eu podia fazer?

– Amigos... era de se esperar que ele quisesse uma explicação. – Aira?

Engoli em seco.

– Se eu dissesse que estou namorando, você não gostaria.

Mesmo eu dizendo ele já era impassível. Descobrir a verdade por terceiros não era cabível. O melhor era ter adiado, mas não havia como deixar passar tanto tempo.

Depois de minha última expericência com o Weasley, não pensei ser necessário outra.

Eu queria dizer algo, mas o quê? Titubeei em minha mente algo de bom pra falar, mas não havia nada. Foi Jean que salvou-me.

– Senhor, se me permite dizer – meu pai o observou atentamente. – Gosto muito da Aira e não pretendo machucá-la. – Assim como o Weasley?

– Não senhor

Começou a guerra.

Os dois ficavam se fuzilando. Jean respondia a todas as perguntas de meu pai. Percebia-se o clima tenso e sombrio daquela sala. Levantei-me e pronunciei que o almoço seria servido e se não quisessem ficar sem comer, era melhor irem para a cozinha.

Os dois se sentaram à mesa, meu pai na cabeceira, Jean ao lado direito dele e eu ao lado esquerdo de meu pai. Servi macarrão a eles e rezava para que comecem em paz. Engoli uma garfada sem sentir o gosto. Eu estava muito apreensiva com tudo aquilo.

Severo deixou o garfo sobre o prato e após alguns segundos virou o rosto para Jean que comia silenciosamente. Este depositou o garfo no prato e após um gole de suco olhou para meu pai. Eu percebia que uma bomba estava prestes a ser lançada. Meu Deus – qualquer um servia nessas horas de desespero iminente – onde fui me enfiar! Rolaria a Terceira Guerra Mundial ali.

– Senhor... – meu pai iniciou. Eu sabia que ele fingiu ter esquecido o nome de Jean.

Observei meu prato e senti vontade de lançá-lo na cara de um dos dois. Minha agressividade estava a ponto de aparecer.

– Jean Baptiste, senhor Snape.

Meu pai apertou as mãos e a soltou sobre seu colo.

Tomei meu suco em silêncio, espreitando pelo canto dos olhos toda a cena. Forcei meu cérebro a pensar em qualquer coisa e veio-me em mente o último momento em que estivera com Fred. Foi algumas horas antes de encontrá-lo beijando a Cheege. Estávamos felizes e prometemos uma o outro nos encontrármos mais tarde.

O que o senhor quis dizer com o Weasley?

Meu mundo está para afundar. Se Jean souber que Fred foi meu ex-namorado.

Ele foi o primeiro a ter a audácia em vir pedir em namoro minha filha – ele não faria aquilo? Faria? – Mesmo sabendo que estaria sempre de olho nele e o que envenenaria com poções se machusasse de alguma maneira a Aira.

Jean engoliu em seco e tomou mais um gole de suco. Ouvir o pai de sua namorada dizer que envenenaria alguém, não deveria ser algo bom de se ouvir.

Arrependi-me internamente de ter concordado com Jean conhecer pessoalmente meu pai. Era melhor viver na clandestinidade do que isso. Era muito sofrimento e humilhação presenciar essa cena ridícula de ciúme paterno.

Queria gritar e acabar com tudo.

Mas eu não farei o mesmo que o Weasley.

Vocês pensaram em avançar alguns níveis?

Ele não estava fazendo isso! Meu Deus! Ai, meu Deus! Meu pai não devia ter feito isso. Agora serei motivo de vergonha em minha vida inteira. Queria morrer ali.

Níveis, senhor?

Sim. Namorados não ficam somente em beijos após algum tempo de namoro – pela expressão de Jean, ele percebeu do que se tratava. – Quero saber se você pretende fazer com minha filha...

Pai!

Meu pai calou-se. Como tudo isso era constrangedor. Eu queria enfiar minha cabeça dentro de um buraco e nunca mais sair de lá. Como ele ousava perguntar ao Jean se ele queria transar comigo? Que espécie de pai, é o meu, pergunta isso? Eu estava horrizada.

Levantei-me e fui pegar água. Acabei com o suco todo e ainda sentia sede. Enchi um copo e respirei antes de tomá-lo. Eles ainda conversavam. Não era uma coversar pra ser mais exata, eles estavam discutindo sobre os níveis de relacionamento. Não acabaria nada bem se eu não interviesse.

Já chega! – disse em alto e bom som. – Vocês dois não precisam brigar. Eu vou continuar namorando o Jean, e pai – olhei diretamente a ele – , não vai acontecer nada comigo. Eu sei me defender e não preciso de tanta proteção. E eu nunca diria ou direi pra você, caso eu queria transar com meu namorado!

Para mim o almoço havia acabado. Segui para a sala e me sentei no sofá, não acreditando na infantilidade de meu pai. Ele não tinha o direito de perguntar sobre aquilo! Eu queria sumir do mapa e evitar de olhar para Jean. Ele não me olharia mais depois disso.

Senti um toque suave em meus cabelos, olhei para o lado e vi Jean. Ele não parecia bravo. Seu olhar demostrava ternura e comaixão.

– Jean... Desculpe pelo meu pai.

Ele apenas aproximou-se de mim e me beijou. Não era como se meu corpo fosse tomado pela química do amor, mas eu sentia tudo esvair-se.

Pensei que pudesse estar tudo acabado. Jean foi embora e eu retornei à cozinha e encontrei meu pai sentado, observando seu prato praticamente intocado.

– Não deveria ter dito aquilo.

Ele olhou-me e levantou-se.

– Exijo mais respeito.

Que respeito ele queria? Já aguentei muita coisa, mas essa foi o fim.

– Que respeito? Você respeitou a minha privacidade quando pesguntou ao Jean se ele transaria comigo?

– Não fale nesse tom comigo!

– Então não tente destruir o que ainda resta de bom na minha vida!

Saí furiosa em direção ao meu quarto. Joguei-me sobre a cama, chorando. Maldita vida que tenho. Por que ele não pode ser um pai normal, que aceita meu namoro e não tentar destrui-lo?

Afundei meu rosto no travesseiro, o manchando com lágrimas.

Por que eu estava chorando por algo que nunca daria certo? Eu estava errada em me deixar destruir pelas ações de outras pessoas. Madson não gostaria de me ver afundada na tristeza. Ouvi passos, mas não desfiz minha posição. Eu queria vê-lo naquele momento de epifania.

Aira.

Afastei meu rosto do travesseiro o suficiente para gritar a ele:

Pode me deixar sozinha?

Seus olhos demonstravam o quão surpreso estava. Antes eu havia gritado com ele e ali, estava calma e sem ressentimentos.

Sentei-me na cama e enxuguei meu rosto.

– Oque houve com você?

Apenas devolvi o olhar e levantei da cama, seguindo para o banheiro.

– Só não repita o que fez hoje – não era difícil falar, mas estava relutante quanto a isso. Eu parecia mãe dele, sando-lhe uma bronca. – Demonstre ser mais adulto, por favor. Só peço para não estragar tudo.

Sem expressar qualquer forma de aceitação ou contradição ele saiu.


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Notas finais do capítulo

Vai melhorar ou piorar conforme o tempo for passando *Airafellings*