Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 37
Fuga em três


Notas iniciais do capítulo

Sorry pelo atraso de dois dias, mas maninho não queria sair do pc. E queria um capítulo grandinho.
Foi muito divertido escrever esse capítulo.



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Fred estava rindo de mim. Eu queria socá-lo, mas permaneci quieta ali, olhando-o. Era um bebê que estava se formando dentro de mim. Eu nunca havia pensando em ter filhos, mas agora me encontrava grávida e com o pai de meu filho a minha frente rindo. Não era a reação que esperaria, mas era melhor do que vê-lo gritar comigo.

– Aira, transamos há três meses. A culpa é minha por você estar nessa situação – ele sorriu. – É muito engraçado você agir dessa forma. Três meses e somente agora que percebe?

– Você... Você não está com raiva? Nem vai dizer que o filho não é seu?

– Não sou um monstro. Acredito que você não tenha tido nenhum outro homem além de mim nesses últimos três meses – ele aproximou-se e segurou meu queixo. – Não, não estou bravo. Como poderia estar? Paternidade é algo novo, mas é uma notícia boa – ele tocou meus lábios com seu polegar. – Como posso ficar com raiva quando é você que me dará um filho?

Fiquei pasma. Normalmente os homens ficavam loucos quando descobria que seriam pais sem planejarem, mas Fred estava calmo e sorrindo. Eu suspeitava que fosse desejo dele ser pai. Talvez não tão cedo. E como eu não percebera todo esse tempo?

– Ok. Você quer se pai. Eu não tenho escolha – passei a mão por minha barriga. Ela continuava pequena. – Sou eu que o carrego. Sou eu que serei alvo das pessoas. Fred, uma mãe solteira é alvo de insultos.

– Quem disse que você está sozinha? Estou aqui. Sou o pai – ele sorriu maliciosamente. Ele tinha algo em mente. – Bem, podemos ficar juntos, se quiser. Talvez um casamento...

Eu poderia ter desmaiado se tivesse força de vontade pra isso. Fred já havia me pedido em casamento e eu aceitara e depois fugi dele. Mas agora não era somente eu que estava em questão. Eram mais que meus sentimentos e os motivos. Eu tinha um bloqueio em relação a nosso relacionamento. Acreditei por tantas vezes que para protegê-lo deveria ficar distante.

– Não sei se é uma boa idéia...

– Como não é boa idéia? Pelo que eu lembre na última vez aceitara se casar comigo.

– Está fazendo isso por causa do bebê.

O olhar de Fred ficou triste. Eu não queria magoá-lo, mas não via porque ainda queria ficar junto de mim, mesmo depois de tudo que eu fiz.

– Se fosse só pelo bebê... Mas é por você também. Desde aquele maldito dia em que você me beijou, era como se você tivesse roubado algo de mim. É maldito, pois desde ele não consigo te ter sem que ajam problemas. Aira, pelo menos uma vez pense no que quer e não no que precisa fazer.

Eu o observei. Ainda era o Fred, porém mais maduro. Fui até ele em busca de uma resposta para as coisas que me dera e o “Cuoer”, mas acabei recebendo um dilema maior. Não éramos mais crianças, mas ainda estávamos inciando a vida adulta. E agora estaríamos ligados por uma criança. Nossa criança. Fui ligada a ele de qualquer forma.

– Não é maldito dia. Eu estava bêbada e o culpado era você – eu sorri e ele me empurrou contra a parede. Eu não tinha muitas lembranças daquela noite em que nos beijamos pela primeira vez e meu primeiro beijo. Como as coisas eram estranhas. Começou tudo com Fred e estávamos ali, quatro anos depois.

Fred abaixou-se a minha frente e levantou minha blusa. A expressão dele era séria.

– Você deveria estar...

– Gorda?

Ele olhou-me surpreso.

– Não ia falar isso.

– Não me importo Fred. Eu sei agora que deveria ter ganhado peso, mas ando perdendo. Não gosto disso tanto quanto você.

As mãos dele passeram por minha barriga. Em seguida ele depositou um beijo. Não contive o sorriso. Era uma dessas coisas que nunca imaginei que pudesse acontecer.

– Vocês poderiam ir para um quarto?

Jorge estava parado no corredor, nos observando. Fred levantou-se e puxou o irmão, abraçando-o. Ele o afastou.

– Jorge, eu vou ser pai! Vou ter um filho!

Jorge ficou surpreso e depois sorriu.

– Você foi certeiro, ein? Ai – esmurrei-lhe no ombro. – Calma ai!

– Estou calma.

– Como que isso aconteceu?

Olhei para Fred e Jorge fez o mesmo, o que sugeria que Fred nunca contou o que houve entre nós.

– Ele não sabe, não é?

– Não. Por que iria contar tudo que aconteceu naquela noite?

– Por que você não deveria carregar tudo sozinho...

– Assim como você.

Eu não carregava tudo sozinha... Ou tinha esse peso sobre minhas costas? Sempre fiz as coisas por conta própria, maioria das vezes sem ajuda de ninguém.

Fred olhava para mim, esperando que eu falasse algo.

– Quer que eu diga que está certo? Que...

– Ninguém está certo ou errado. Desde que te conheço é madura.

Eu sorri de leve. Nunca cheguei perto de ser suficiente madura. Fui impulsiva tantas vezes e em outras, despreocupada. Eu havia crescido nos últimos anos, mas porque fui obrigada. Meus pesadelos haviam acabado, mas deixaram lições para eu seguir. Não me tornei meu antigo medo. Não era uma assassina de sangue frio.

Tinha mais algo para me fazer amadurecer. Uma gravidez não é qualquer coisa. Eu teria de cuidar de um bebê, ensiná-lo o certo e errado e vê-lo crescer saudável e feliz...

– Esquecemos de uma coisa, Fred – era de extrema importância. – Nossos pais.

Contar ao meu pai sobre minha gravidez provacaria uma guerra. Snape tinha conhecimento que eu era crescida o suficiente para saber de certas coisas, mas ele finjia ingnorância. Era a forma dele de tentar me proteger. Ele não queria que eu crescesse. Snape não queria perder mais alguém da vida dele.

– Meu pai é tranqüilo. Não se importará muito, mas acho que ficará feliz em saber que será avô – disse Fred. – O problema é minha mãe.

– Problema? – Jorge tomou partida da conversa. – Ela vai ter um chilique. Se Tonks não tivesse casada com o Lupin, ela estaria até hoje tentando casar ela com o Gui, mesmo ele estando casado com a Fleur.

– Espera. Lupin está casado? – eu nunca imaginaria que ele fosse se casar. Ele não demonstrara sinais de que isso fazia parte de seu plano de vida. – E Fleur. Fleur Delacour? – encostei-me na parede. Minha cabeça começou a rodar. Imagens passaram por minha cabeça. Eram páginas daquele livro raro que eu vira. – O livro...

– Que livro? – Fred já estava me acudindo, segurando-me para que eu não caísse, e eu cairia no chão.

As imagens ainda estavam passando rapidamente, quando de repente parou em uma especifica com uma imagem de mulher gritando. Tudo estava escrito em latim, mas eu entendia perfeitamente.

...Esse é um feitiço poderoso. Se usado em longo prazo pode haver falhas e conseqüências irreversíveis. O feiticeiro terá sua energia vital sugada para manter a pessoa no controle. Caso a corrente quebre, a pessoa enfeitiçada entra em estado de coma e o feiticeiro perde anos de sua vida. Current Vitae é um feitiço de duas vias, os dois lados...

As páginas voaram novamente sem que eu pudesse ler o restante. Current Vitae? Por que somente essas duas palavras não foram traduzidas?

Olhei para Fred.

– Acho que teremos de deixar nossos pais para outro dia – Ajeitei-me, afastando-me dele. – Currente Vitae.

– Current Vitae? – os dois perguntaram ao mesmo tempo.

– É o que quero descobrir. Preciso de livros que contenham feitiços antigos e proibidos. O que vi desse feitiço, ele é ruim para quem lança e o recebe.

Os dois estavam confusos. Não era para menos. Estávamos falando de como contaríamos aos nossos pais sobre a novidade e agora eu mudava de assunto. Meu pai tinha razão de dizer que aquele livro era perigoso. Eu tinha a suspeita de que o feitiço se encontraria ali, mas eu não me arriscaria a vê-lo outra vez.

– Conhecem algum feitiço em que controlem a pessoa, mas ao mesmo tempo suga a energia vital de quem lançou?

– Existe tal feitiço? Achei que só as três maldições imperdoáveis eram ruins.

– Acho que esse ficou de fora por um motivo.

– Você está bem?

Andei até a sala. Era pequena e junto da cozinha. Minhas roupas estavam decadentes. Não surtiria o efeito que eu queria, mas eu nada podia mudar o fato de estar usando-as.

– Estou bem, mas acho que conheço alguém que usou esse feitiço. Preciso saber mais dele. E pra isso – joguei meus cabelos para trás. – Preciso de vocês dois.

Eu voltei para minha casa e fiz minhas malas. Não precisaria de muita coisa. Normalmente não me importava de repetir roupas, mas não havia muitas para eu escolher de qualquer forma. Precisaria de algumas roupas largas e outras tantas quentes. Fred e Jorge não gostaram da minha idéia. Eu entendia, pois sabia que era idiotice. Quem em sã consciência vai atrás de algo que desconhece?

Quando propus a Fred partirmos para descobrir quem usara o Current Vitae, ele achou idiotice. Seu irmão concordou. Mas eu tinha esperança de encontrar repostas. Eu recolhi alguns livros, mas nada dali me ajudaria. O livro que eu queria era aquele maldito, mas não podia mais tocá-lo. Fiquei convencida de que aquele feitiço fora usada em minha mãe quando jovem. De que outra maneira não saberia que é uma bruxa?

Era uma hipótese cheia de falhas. Não havia feiticeiro louco o bastante para fazer isso. Judith e Francis não podiam ter feito isso. Pelo que eu sabia Judith não era bruxa, mas sim uma abortada e Francis ainda eram jovens. Se ele tivesse feito o feitiço, estaria à beira da morte.

Meu primeiro caminho era ir até meus avôs maternos. Havia coisas no passado de minha mãe que ainda estavam mal descritas. Como Louise que era idêntica a ela. Maximine mesma me falara isso, mas agora Louise estava morta e sua mãe também. Não havia noticias do pai dela há muitos anos. Poderia estar igualmente numa tumba.

Ainda existia Laura. Ela desde o inicio interferiu em minha vida. Mudou o rumo de meu destino, quando decidiu ajudar Hayley a se fingir de morta. E depois de anos nos encontramos. Ela deveria ter sabido desde o começo quem eu era para ter me odiado desde a primeira vez que me vira. Eu podia ser mestiça, mas ela me odiava por algum outro motivo.

Embolei algumas roupas e joguei dentro de minha mochila. Juntei minhas economias e corri para o porão. Ali era o lugar que meu pai guardava coisas úteis além de ser seu laboratório. Peguei algumas poções de cura e fortalecedoras. Abri um cofre velho e enferrujado e peguei os sacos com galeões, sicles e nuques. Meu pai sempre foi avarento, economizara tudo que podia. Agora eu o estava roubando, mas por uma justa causa. Deixei tudo dentro da lareira e subi para me despedir em segredo de minha mãe e Leonardo.

Aproximei-me dela e beijei-lhe a bochecha. Agradecia o tempo em que ficamos juntos, mas eu resolveria tudo por nós duas. Deixei meu colar com minha inicial sobre a mesinha de cabeceira. No quarto do Leo evitei pegá-lo. Queria abraçá-lo e beijar-lhe o rosto todo, mas não queria acordá-lo e fazê-lo chorar. Apenas me debrucei sobre o berço e beijei sua testa. Ele seria um homem bonito. Tinha os olhos azuis e cabelos negros de minha mãe; uma combinação perigosa.

Não deixei bilhete. Não haveria porque deixar algo se não podia explicar porque estava fugindo. Snape ficaria louco e me procuraria, mas eu sabia me proteger e Fred iria comigo, assim como seu irmão que achava interessante a idéia de fuga. Para ele era uma aventura, para mim era uma corrida atrás do meu passado.

Recolhi minhas coisas e fui por rede de pó de Flu para Gemialidades Weasley. Eles já me esperavam com suas coisas. Fred havia se vestido casualmente e usava uma jaqueta com capuz. Jorge colocara um óculo escuro. Eles pareciam uma dupla de idiotas. Eu ri. Pelo menos eu não estava mais usando pantufas e nem minha roupa de dormir. Usava uma legging grossa, coturno, camisa e jaqueta jeans. Estava me sentindo mais confiante com eles ali.

– Jorge, tire esse óculo. Está com cara de idiota.

Ele o guardou e bufou.

– Só queria entrar no clima.

– Óculos escuros chamam atenção, criatura. Queremos passar por despercebidos. Sei lá, coloque um bigode falso, talvez ajude.

Ele sorriu e remexeu numas gavetas ao lado e retirou algo felpudo e colocou abaixo do nariz. Jorge literalmente colocou o bigode.

– Como estou? – perguntou sorrindo. Eu e Fred caímos no riso e Jorge logo em seguida estava rindo conosco.

– Irreconhecivel.

Fred olhou-me atento.

– Como pretende passar por despercebida? – reparei que os olhos dele estavam castanhos e seu cabelo ficara castanho. Como ele fez aquilo? Mas ainda continuava bonito.

Eu peguei minha varinha e apontei para mim. Fora um feitiço feito por mim e Ketlen. Era algo sem aperfeiçoamento, mas serviria para o que queria.

Meus cabelos encurtaram quase um channel. Não era fácil mudar algo, por isso só podia fazer uma mudança e o cabelo fazia toda diferença. Ninguém nunca me vira de cabelo tão curto e platinado. Não me reconheceriam.

– Que feitiço usou? – quis saber Jorge. Ele poderia se passar por uma criança pedinte se quisesse algo.

– É segredo. Agora vamos indo.

Saímos da loja e Fred colocou uma placa na porta ESTAMOS FECHADOS PERMANENTEMENTE. Ele sempre tinha de enfeitar as coisas. Segurei a mão de Fred e puxei Jorge pelo casaco. Só tinha um lugar para qual eu queria ir. Imaginei-o e em poucos intantes estávamos à frente dele. Era a casa de Judith e Francis.

– Você vai entrar agora?

– Não – eu queria fazer uma surpresa, mas ainda não era a hora. – Há um hotel capenga algumas quadras daqui. Podemos passar o restante da noite lá.

Fred olhou-me desconfiado. Eu também ficaria desconfiada se vivesse em um lugar como o mundo mágico e agora fosse obrigado a vagar por ruas. Bem, ainda era o primeiro dia, teria coisas piores que hotéis capengas e ruas vazias e escuras.

Acabei encontrando o hotel. Ele continuava na mesma situação da qual me lembrava: pintura descascando e escuro. Adentrei-o e havia um homem dormindo atrás do balcão. Bati na campainha e ele saltou de imediato. Ainda estava sonolento quando se deu ao trabalho de nos atender. Fred e eu ficamos com um quarto e Jorge com o seu.

– O que vou fazer sozinho? Vocês ficam com toda a diversão.

– Não vai ter ménage à trois, Jorge – Fred brincou. – Se divirta com o que tem.

Entrei no quarto, rindo.

– Você disse que não sabia francês.

– Oh, eu não sei, mas conheço ménage à trois – deixei minhas coisas no chão. Estava cansada. Eu aparatei por nós três e não fazia a mínima idéia se era perigoso por causa de minha gestação. – Podiamos fazer nossa festa a dois... – Fred aproximou-se e o beijei. – Eu te amo.

Fui empurrando-o até que ele caiu sobre a cama. Era a minha vez. Fiquei por cima dele, beijando-o. Em pouco tempo estávamos embolados na cama e fazendo amor.

– Você ainda vai continuar fazendo isso? Precisava puxar o Jorge também?

Jorge não fazia parte dos planos. Quando disse que precisava dele não era para nos acompanhar, mas sim para cobrir nossa fuga. Ele era bom com mentiras e conseguiria fazer isso muito bem. Porém decidiu vir conosco. Para ele seria uma aventura, enquanto Fred vinha para me ajudar por não querer que eu enfrentasse nada sozinha. Eu estava seguindo mais por que era preciso.

– Ele veio por que quis – toquei os lábios de Fred. Ele continuava com os olhos escuros e o cabelo castanho, mas nada impedia de ver meu Fred ali. Ele acariciou minha barriga. Gostava de quando ele fazia isso.

– Que nome daremos para ele ou ela? – olhei-o. Não havia pensando em nomes ainda. Eu acabei de descobrir da gravidez.

– Ainda temos tempo para isso.

– Estava pensando em alguns nomes. Talvez você goste de um – me ajeitei para vê-lo melhor, ficando com o rosto sobre seu peitoral. – O que acha de Hillary? Também pensei em Otávio se fosse garoto.

Os nomes não eram feios, mas não queria pensar em nomes por enquanto.

– Fred, vamos deixar as coisas seguirem seu rumo.

Ele aceitou minha decisão, mas mais cedo ou mais tarde voltaria nesse assunto. Ainda tenho de absorver a noticia que vou ser mãe.

Na manhã seguinte arrombamos a porta do quarto de Jorge e ele estava dormindo na companhia de revistas. Eu não pude evitar gargalhar. Era mais que evidente o que ele estava fazendo.

– Está traindo a Angelina? – Fred pegou uma das revistas e começou a olhar. Arranquei da mão dele e joguei do outro lado do quarto.

– Você tem a mim. Nada de olhar outras mulheres. Até em imagens.

Ele sorriu, achando graça. Ataque de ciúmes era normal. Jorge acordou e ficou na cama com a coberta cobrindo suas partes.

– Sabe quanto custou àquela revista?

– E sabe quanto tratamento fotográfico fizeram naquela imagem? – nada dali era real. – E como assim traindo Angelina?

Jorge espreguiçou-se e recolheu as roupas do chão e enfiou-se debaixo da coberta.

– Eu e Angelina estamos juntos. Tomara que ela não fique brava por não dizer onde estou.

Ele saiu de debaixo da coberta vestido da cintura pra baixo. Fred e Jorge eram muito idênticos, mas sempre havia diferenças. Além da orelha em falta de Jorge, tinha algumas sardas pelo corpo de Fred que Jorge não tinha.

– Isso vale pra você também, Aira – voltei minha atenção pelo quarto. Ele se divertiu de qualquer forma.

– Está com medo de ela preferir a mim, Fred?

Fred riu.

– Somos irmãos, mas fique longe.

Achei que fosse acontecer uma guerra ali, mas eles começaram a rir e fiquei de fora. Não fazia a mínima idéia de quais eram as piadas de irmãos.

Saímos logo em seguida e paramos em uma lanchonete para o desjejum. Os dois não se importaram de comer comida trouxa. Disseram que era a mesma coisa que bruxa e ainda tinha o refrigerante, que eles adoraram e decidiram tomar três latas cada. Acabaram disputando o banheiro depois disso.

As pessoas olhavam-me. Era estranho para eles, uma garota andar sozinha com dois homens, mas ninguém poderia nos tomar por irmãos com nosso físico mudado. Olhei para a Marca Negra. Eles podiam muito bem me encontrar com aquilo se quisessem.

Judith estava em casa. Ela nos recebeu de mau agrado. Não me importava com a reação dela, só queria respostas. A decoração da casa era a mesma coisa: tudo flores. Mas estava em falta flores no vaso. Devia ser difícil para ela encontrar flores antes da primavera.

Sentei-me em seu sofá velho. Judith podia se comparar a uma dona de casa comum, se não fosse ela mãe de uma bruxa.

– Seu pai sabe que está andando por ai com dois homens?

– Faria diferença se soubesse? Um desses homens é meu marido e outro meu cunhado.

Judith ficou surpresa.

– Você é praticamente sua mãe. Se envolvendo cedo demais com os homens. Foi por isso que ela conseguiu uma barriga.

– Coisa que você nunca conseguiu, não é Judith?

Os olhos dela se arregalaram. Peguei-a.

– Do que está falando?

– Hayley se parece com você, mas não tem nada de você a não ser aparência. Sabia que quando estava na França em uma escola bruxa, descobri que existia uma Louise muito semelhante a minha mãe?

Judith deixou-se cair no sofá. Levantei-me. Era hora de saber a verdade.

– Por que fez tudo aquilo?

– Você não entenderia – ela choramingava. – Eu nasci abortada. Jennifer tinha tudo. Entrou em Beauxbottons e eu fiquei de fora. Minha família tinha horror de mim. Quando me tornei adulta pensei que poderia ser feliz, mas ainda existia a sombra maldita de minha irmã. Ela se casou e teve seus filhos: Bernard e Hayley. Eles eram perfeitas. Eu me casei logo em seguida e por cinco anos tentei dar filhos ao meu marido, mas nem isso eu conseguia. Não bastava eu ser uma abortada, também sou estéril.

Não pensei que ela fosse falar tão depressa. Nem tinha começado a fazer pressão. Judith relatava tudo. Para ela a vida era sofrida e vivia na sombra da irmã mais velha. Ficou rancorosa por tanto tempo.

– Implorei ao meu marido para me trazer a felicidade e quando ele me perguntou o que queria lhe pedi Hayley, ele aceitou. Ele me amava. Raptei Hayley e nos mudamos para uma cidade do interior, onde vivemos por dois anos. Mas ele queria acabar com tudo aquilo, queria devolver nossa filha.

– Ela nunca foi filha de vocês.

– Ela era minha filha! – Judith gritou. – Jennifer não merecia ter dois de uma vez. Era pra ela ser minha! – as lágrimas caiam de seus olhos azuis. – August queria devolver minha Hayley, por isso o deixei e vim para a Inglaterra. Foi quando conheci Francis e quando dei por mim, estávamos casados e Hayley o chamava de pai.

– August ainda está vivo?

Ela olhou para mim. Poderia ser possível sentir a dor nos olhos dela, mas eu não podia me enganar por alguém que sequestrara a própria sobrinha.

– Duas semanas depois de Hayley sofrer o acidente, ele pereceu – ela enxugou as lagrimas – É por isso que Hayley nunca veio me ver e preferiu se passar por morta. Ela se lembrou de tudo. Julian morto era a chave para as memórias de ela voltar.

– Poupe palavras, Judith. Nem o maior rancor do mundo por causa de família poderia fazer isso. Você tinha inveja e ciúmes da vida de Jennifer, mas que importa agora? Todos eles estão mortos há bastante tempo. Você os matou, sabia?

Não era verdade que as matara, mas Judith merecia sofrer por tudo o que fez. Ela não matara Louise que era filha de seu primeiro marido. Ainda continuava um mistério Jennifer ter tido uma filha semelhante a Louise, que nem fazia parte de seu sangue.

– Não os matei. Hayley estava bem. Dei amor a ela.

– Única coisa que ela agradece vindo de você. Quem mais te ajudou Judith? Quem era August? Quem era a mãe de Louise?

Ela ficou parada.

Era irmão do marido de Jennifer. Pierre era irmão de Julian Thompson.

– Por que continua com o mesmo sobrenome?

Os olhos dela ficaram mais rígidos.

– Acha que lhe contarei tudo? Francesco ainda está aqui. Não vou confidenciar na frente de Francis.

– Quem mais te ajudou? – avancei até ela. Fred queria me impedir, mas o afastei de mim. Pouco me importava se seu marido trouxa estava ali – Diga-me quem queria ver Hayley fora da vida de meu pai e da minha? Quem teria uma mente mais doentia que a sua? Judith – toquei o rosto dela. – O rancor comeu seu coração e sua beleza, mas a pessoa que lhe ajudou continua bela por fora, mas podre por dentro. Ninguém suspeitaria dela, não é?

Judith ficou pálida. Era ela mesma. Sempre ela. O que eu fizera para ela me odiar tanto? Retirei minha mão do rosto dela.

– Ela prometeu que Snape nunca voltaria a ver Hayley novamente. Ele não era homem para minha menina.

– Hayley nunca foi sua para escolher por ela. Mas Laura Cheege conseguiu te conquistar.

– Como... Como você sabe?

Eu sorri. Todos achavam que eu era ingênua. As pistas estavam todas na minha frente.

– Laura Cheege me odiu desde a primeira vez que me viu. Ela ajudou minha mãe a se fingir de morta. Ela pode muito bem ter lhe ajudado. Bem, agora tenho a prova. Obrigada por seu tempo.

Virei-me e Judith agarrou meu pulso.

– Não pense que ela lhe deixará escapar, garota! – olhei para Judith. – Laura manipula a todos.

– Eu sei. Mas sei jogar o jogo dela – soltei-me. – Faço isso não somente por mim e minha mãe, mas Giulia Cheege, filha dessa mulher. Sabia que Laura nem sequer apareceu quando lhe enviaram uma mensagem informando a morte de sua filha? Somente Mateus compareceu. Ela não se importa com ninguém alem dela.

Afastei-me e sai daquela casa. Nunca me senti tão enjoada quando naquele momento. Encostei-me em uma árvore e respirei fundo.

– Se sabia o tempo todo, porque passar por tudo aquilo?

Fred era esperto. Ele percebeu que eu sabia desde o começo. Eu realmente sabia. Minha mãe me contara sobre Judith e como se passara por morta. “Ainda não sei como sofri o acidente”, ela disse para mim no final da conversa. Eu tinha minhas dúvidas e suspeitas quanto a isso.

– Nunca se deve enfrentar alguém sem saber pelo menos algo sobre ele. Judith pode ter sido inteligente, mas ela nunca suspeitou que Hayley pudesse me contar – Jorge estava afagando seu bigode de estimação; ele fazia muito isso enquanto eu falava. Parecia que não me ouvia. – Pode parar de acariciar esse bigode? Vou começar a achar que é um animal peludo na sua cara – ele parou, sorrindo tímido. – Ok. Agora temos outro lugar para ir. Mas esse é mais difícil.

Vagamos pela rua. Fred e Jorge me seguiam, até que parei em um estacionamento de carros.

– Gostei quando falou que éramos marido e mulher.

– Por que sou cunhado? Não podia ser amante?

Se eu continuasse com esses dois iria mais rir do que chorar.

– Só em outra reencarnação, cunhado. Por enquanto continue com suas revistas.

Adentrei o estacionamento e olhei cada carro dali. Para se chegar numa rodovia precisaríamos de um carro. Rodovias não tinham ponto de referência.

– Algum de vocês sabe dirigir?

Os dois exibiram sorrisos perfeitos.

– Sabia que salvamos o Harry da inanação quando tínhamos treze anos?

E foi assim que roubamos um conversível.


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Notas finais do capítulo

Mais alguns capítulos nessa aventura deles e depois o epílogo.



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