Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 24
Outro lado


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo. Espero que gostem.



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Já havia perdido as contas de quantas vezes parei na enfermaria. Mas dessa vez não era algo grave. Meu pai só queria que a enfermeira fizesse exames em mim para saber se eu estava bem mesmo. era tão gratificante meu pai não acreditar em minha palavra e precisa de exames para isso.

Eu me recolhi em uma cama, enquanto a enfermeira examinava outra pessoa, em sua sala particular. Ficava ali olhando para o teto e pensando. Não era muito agradável ter de esperar. Eu era ansiosa mais do que podia aguentar. Aos poucos minhas unhas começaram a tornar-se atraentes. Elas estavam pintadas de azul claro.

Antes que começasse a adorar a ideia de passar a ansiedade roendo minhas unhas, Madame Pomfrey saiu de sua sala, acompanhada de Giulia Cheege.

Foi surpresa vê-la ali. Ainda mais com cara de que chorara. Será que Jean terminara com ela? Mas se tivessem terminado todos saberiam. Eu seria uma das primeiras, já que Alekssandra é minha amiga e as gêmeas são ótimas detetives e sempre sabem das novidades... Isso me faz pensar se elas já não sabem de meu romance com Draco. Provavelmente sim.

E falando nas gêmeas... Elas estavam muito distante de mim, ultimamente. Ângela tinha seu namorado. Clara estava ocupada com seus estudos, já que quase nem tinha passado em Poções nos N.O.M.s e agora queria aumentar todas suas notas. Isso só serve pra mostrar que todos que conheço em minha geração já estão bem responsáveis.

Geovanna não era tão agradável quando se era mais criança. Agora tinha dezesseis anos e frequentava o sexto ano comigo e sua irmã de criação. Ela se esforçava para uma boa pessoa comigo, já que partilhamos da mesma irmã, Ketlen. Geovanna ainda tinha de aprender a ser menos esnobe e capitalista, mas quando se é criada pela víbora da Laura Cheege, é difícil mudar alguns hábitos.

Entretanto Ketlen era mais doce e super sentimental. Lembro que quando meu pai apareceu, depois do balaço me acertar, querendo saber se eu estava bem, ela veio correndo, chorando com medo de que eu me machucara. Nunca pensei que ela pudesse nutrir sentimentos bons para comigo. Mas isso não significa inteiramente que goste de mim. Quando nos conhecemos, ela pensara que eu Gian estávamos juntos. Por sorte que ela preferiu acreditar na verdade.

E falando na minha saúde. Apenas fraturei alguns ossos e ganhei uma enorme mancha roxa ao meu lado direito e braço. Quando vi o estrago, não foi tão assustador quanto pensara. Já cai de uma altura grande e fiquei em coma e em menos de seis meses volto pra enfermaria com ossos fraturados. E veio o veredicto de meu pai naquele dia, depois de eu ser dispensada.

Essa coisa de meu pai resolver coisas de minha vida em minha ausência era chato, mas eu não podia proibi-lo. O máximo que deveria fazer é perguntar depois. Eu deveria ter ficado quieta quando ele entrou na sala comunal da Sonserina, espantando os alunos dali.

Fiquei escondida atrás de um livro que lia, mas ele o pegou e deixou sobre a mesinha de centro.

– Era importante eu saber sobre o sistema nervoso...

Eu soubera pela minha mãe, que se um golpe ou feitiço for lançado em um local do sistema nervoso que seja crucial para movimento, pode-se imobilizar seu alvo. Eu precisava disso, já que uma guerra estaria próxima e uma adaga não era uma arma confiável. Ainda não havia treinado a curta distância e lançá-la estava fora de cogitação.

– Depois você estuda... Mas agora é algo importante.

Ele estava muito sério. E ter entrado na sala comunal significava que a coisa era realmente séria.

– Não vai mais jogar quadribol.

Okay. Levantei por impulso e soltei uma exclamação de descrença.

– O quê?

– Você ouviu perfeitamente.

Snape levantou-se, fazendo esvoaçar sua capa, e andou até a porta.

– Ei, espera aí! – ele virou-se. – Você vem aqui, para minha leitura e diz para eu não jogar mais quadribol. Porém não me explica essa história toda.

– Mais tarde lhe explicarei, Aira. Agora estou ocupado.

Ele me deixou atônica na sala, procurando entender. Se ele veio pessoalmente à sala dizer aquilo, Snape estava com medo de que mais algo acontecesse comigo. Mas eu sou resistente. Ele não deveria me proibir... Pra início de conversa, foi ele que me colocou no time de quadribol.

Peguei meu livro e sai da sala. Ficar ali seria estressante. Era melhor procurar um lugar calmo, sem presença de ninguém. Mas chegando à árvore encontrei o trio de ouro, sentado e conversando. Dei meia volta nção querendo que eles me vissem, mas eles me viram.

– Snape.

Virei-me com minha expressão neutra e o livro em minha mão.

– Cara, ela parece a Hermione carregando um livro pra lá e pra cá.

– Como é que é? – perguntei ficando séria.

Ele calou-se e se encolheu em um canto.

– Que quer Potter?

Não era impressão minha, ele estava avoado. Tive de repetir a pergunta para me responder.

– Hã... – ele parecia confuso. O que não era de se admirar. O cara nem sacava que a irmã do melhor amigo dele está apaixonada por ele. – Você parece bem... O Malfoy te salvou...

Eu sorri de falsete e depois olhei-o, cínica.

– Olha Potter, Sonserinos não deixam seus amigos morrer, o mesmo acontece com sua casa e as outras duas. E como vê estou bem.

Virei-me e comecei a andar.

– Você era mais legal quando estava com o Fred.

Continuei andando, mas o que ele falou tinha um certo quê de verdade. Fred me fazia bem náquela época. Eu ria mais, brincava, amava. Eu ate me juntava mais com os alunos das outras casas. Bem, isso continua, mas não com tanta frequência. Minhas amigas não eram as mesmas, eu não era a mesma.

Fui até a horta do Hagrid, perto da Floresta Proibida e fiquei observando as árvores. Nunca tive o desejo de entrar ali e descobrir o que existia de criaturas dentro. Talvez viver dentro da Sonserina já era o bastante para perder os desejos pelas coisas.

O único lugar em que ficaria em paz para ler era a Sala Precisa. Subi diversas escadas. Havia me acostumado com elas mudando de lugar, mas ainda era cansativo esperar.

Na Sala Precisa não encontrei ninguém como eu esperava. Desejei uma poltrona e mesinha e me acomodei para começar a ler.

O livro era interessante, mas era medicina bruxa com trouxa. Algo que minha mãe andava estudando muito. Ela não queria ser somente uma medibruxa, mas uma médica no mundo dos trouxas também, já que vive naquele mundo.

Vendo a batalha dela, me faz repensar em minha futura carreira. No ano anterior dissera que queria ser Auror e mudara para escritora. Mas vendo o futuro que cada carreira trás, Auror já teria resultados imediatos, quanto escritor demoraria.

Bufei de frustração e deixei o livro sobre a mesinha. Faltava somente um ano e alguns meses para me formar em Hogwarts. Precisava me decidir logo quanto a carreira.

Ouvi uns ruídos, mas achei que fosse algum objeto. Havia muitos ali. A Sala Precisa havia se transformado em depósito. Ignorei e me estiquei. Ficar muito tempo sentada estragava uma coluna e meu humor.

O ruído aumentou e não parecia com objeto. Na verdade não parecia com nada que estava acostumada a ter sons. Não deveria ter ninguém ali. Eu deveria sair com livro e esquecer quem estivesse ali. Mas quem garantiria que não encontrasse o Armário Sumidouro em que Draco trabalhava?

Havia tantas trilhas em meio a montes de objetos que ficava difícil saber a direção. Mas fui seguindo o barulho, que ficava maior. O que dizia que estava perto. Alguns lugares eram mais escuros que o normal e sem querer desejava mais claridade, e consequentemente ficava mais claro.

Vi algo se mover, querendo se esquivar da luz, mas ficou presa pela capa. Não sei o que deu em mim, fui ajudar. Fiquei de frente e desgrudei a capa. Olhei para cima e não vi o rosto que estava coberto pelos fios dourados de seu cabelo.

– Que faz aqui?

Ela se virou e ficou parada.

Não encontrava motivos para que ela estivesse ali. Com certeza não vira e nem sabia que o armário sumidouro existe. Mas ainda me intrigava estar ali, silenciosa curvada como se estivesse triste.

Havia a chance de ¼ de ser alguém de minha casa.

– Chorar não adianta nada – sentei-me ao seu lado. – Faz bem para aliviar a tenção, mas quando se faz com frequência nos destrói.

Ela apertou as mãos sobre o colo.

– Por que faz isso?

– Te ajudar? Por que talvez seja uma garota que precisa de ajuda. Bem, não sou sempre a sem coração e ignorante quanto a sentimentos dos outros.

A garota me olhou e vi seus olhos azuis. Ela retirou o cabelo da face e vi de quem se tratar. Foi um choque ver quem era. Estava começando a me arrepender de ter tentado animá-la. Mas que diabos Giulia Cheege fazia ali?

– Isso é fingimento para me causar algo!?

Nem eu tinha certeza de minhas palavras, mas era bom estar preparada.

– Quem dera fosse fingimento essas lágrimas. Mas você pode tirar suas conclusões – ela pausou e continuou – Enfermaria, Eu chorando... E agora aqui, no escuro, chorando novamente... Qual sua conclusão, Aira Snape?

A situação não tava boa pro lado dela, se era o que eu pensava. Quando ela esteve na enfermaria. Ela estava numa enrascada. Laura a esfolaria, mesmo sendo sua filha preferida.

– Só pra informação, não joguei praga em você naquele dia. Alekxis me contou sobre você e o Jean e bem, não tenho motivos para rogar praga tão forte...

– Aira, não foi praga e nem seu desejo de me querer ver mal. Foi apenas imprudência minha e do Jean – ela suspirou e percebi que falara meu nome e com a voz macia de quando éramos amigas. – Eu me entreguei a ele por amor. Disso nunca poderei me arrepender, mas...

– Um filho nessa idade não fazia parte de seus planos. Sei disso.

Provavelmente Geovanna já saberia da novidade. Ela ajudaria a Giulia a enfrentar essa nova fase em sua vida. Mas o pai da criança também deveria saber. Na verdade deve ser o primeiro.

– Jean sabe? Ele merece saber. É o pai.

– Não contei pra ninguém – ela segurou uma mecha do cabelo e começou a brincar com ela. – Não ficarei em Hogwarts

Esse dia estava cheio de surpresas. Mas não sei se ficava feliz por ela não estar em Hogwarts no próximo ano ou não.

– Contarei a Jean, mas terei de sair da escola antes que minha barriga fique aparente. Todos da minha família sofrem penitência por esse crime...

Que crime? É crime engravidar do homem que se ama? Não estava gostando do jeito que ela falava, me fazia lembrar a Geovanna que era fruto de incesto e sua mãe nem quisera saber dela.

– Por que crime?

Ela me olhou e suspirou.

– Podemos namorar com quem quisermos para termos uma noção do que é um relacionamento, mas são os patriarcas da família que escolhem nossos companheiros.

Simplesmente essa era a coisa mais idiota do mundo, mas não tive tempo de expor meus pensamentos, pois ela continuara.

– Gian teve sorte. Ketlen é ideal pra ele, por isso meu avô Benjamin já escolhera ela para ser a noiva de meu irmão. Jean e eu nunca seremos um casal, pois eu fui escolhida para noiva de Peter Luigi um primo de segundo grau de Jean.

Ela abaixou a cabeça e afagou a barriga.

Nunca me senti tão péssima. Ela tinha sérios problemas em uma família com regras idiotas. E eu me achando a com problemas...

– Mas porque tudo isso? Essas coisas são imbecis...

– Meu pai não teria se casado com minha mãe se não escolhessem a noiva dele. Ela era de uma família influente que quase fora totalmente aniquilada na Segunda Guerra Mundial, então eles fizeram esse sistema junto de outras famílias bruxas para conseguirem garantir seu sangue. Jean ficará com qualquer outra garota e dará filhos a ela. Agora eu, serei trancada em uma casa, terei meu filho que será arrancado de mim e dado a alguma mãe bruxa ou trouxa. É isso o que acontece quando se nascem crianças de romances não aceitos pela família. Geovanna nasceu de um amor não compreendido e foi arrancada de sua mãe.

– Mas então porque Ketlen foi dada a minha mãe?

Giulia olhou-me. Acho que não fazia parte de seus planos contar-me sobre as particularidades de sua família.

– Por que Elizabeth ficou louca. Não podia cuidar de uma criança. O pai dela preferiu dar-lhe a uma mãe que a amasse do que tê-la na presença de uma mãe psicologicamente incapaz.

– Mas ela não casou?

– Sim, mas contra sua vontade. Os parentes tinham o dever de não dizerem nada sobre a saúde mental dela.

A história era muito complicada e eu estava incapaz de acreditar nela.

– E como fica Geovanna nessa história? Por que sua mãe ficou com ela?

Giulia respirou.

– Foi o pai dela, Jon Baptist. Irmão do pai do Jean, Leonard. Eles são primos e talvez nem saibam...

A descendência dessa família estava baralhando meu cérebro.

– Mas ela se casou novamente por quê?

– Porque Jon se próprio desertou da família. Não queria viver entre todas as regras e longe de sua filha. Giulia não teve sorte com seu pai, Ramon Currié preferiu viajar pelo mundo e esquecer a família.

Estava muito confusa essa história. Era melhor eu não tentar entendê-la de imediato.

– O que acontecerá com você?

– Ficarei trancada em uma casa onde terei meu filho, depois disso casarei com Peter Luigi e engravidar dele logo em seguida. Nunca mais verei meu filho e ele nem poderá saber de minha existência. Jean não poderá nunca ver o rosto dele, nem saber seu nome para nunca querer encontrá-lo. Se algum dia acontecer dele descobrir quem ser seu filho, será desertado da família ou coisa pior.

– Pior?

– Ninguém quebra as regras por medo. Há mais de seiscentos anos ninguém foi atrás de um filho, por isso não se sabem exatamente as conseqüências.

Era melhor não imaginar o que faziam na idade média quando se quebravam as regras.

Não era amiga dela, se essa história toda fosse verdade, eu tinha de ajudá-la de alguma forma. Minha mãe era boa medibruxa e podia cuidar da saúde dela. Meu pai... Bem ele era bom em investigações, talvez pudesse buscar autenticidade em toda a história da Giulia.

– Aira.

Fui arrancada de meus pensamentos.

– Não há como fugir, então eu queria pedir que depois de meu filho nascer, você e Geovanna garantam que ele fique bem. Lutarei para ser independente e ter minha própria vida, assim poderei tê-lo de volta – o jeito que ela falava era de uma mãe esperançosa e que clamava por ajuda. Agora eu entendia como minhas mães Madson e Hayley se sentiam. – Não sei quanto tempo demorará, mas lutarei até lá vocês duas me ajudarão.

Eu estava sem reação diante daquilo. Era um pedido que haveria conseqüências negando ou aceitando. Se negasse, a criança seria entregue a qualquer um e não saberia de seus pais. Se aceitasse, eu e Geovanna cuidaríamos dele e manteríamos seu bem estar até Giulia poder tê-lo novamente.

– Mas Geovanna, ela não tem de casar?

– Ela, para os patriarcas de todas as famílias, é nada mais que um objeto. Geovanna quando tiver dezessete anos será desertada da família e terá de seguir com sua vida. O patriarca Currié só permitiu que ela ficasse próxima o bastante por que seu filho não havia se casado ainda e nem tivera herdeiros, mas como existe um herdeiro há seis anos, não precisarão mais dela.

Estava estupefata com tudo isso. Depois dessa aula das famílias mais imbecis que existem, os Black e Malfoy não são tão ruins. Até Voldemort parecia inofensivo.

– Eu... – não acreditava que estava fazendo aquilo. – Eu prometo que com a ajuda de Geovanna, cuidaremos de seu filho.

Giulia me abraçou e chorou.

Nunca mais esqueceria esse dia. Era o começo de uma nova visão de tudo.



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Notas finais do capítulo

Convido-lhes a darem uma olhada nesse site: http://paranoidwriter.forumeiros.com/forum
Eu sempre apareço nele e é bem agradável.



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