Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 20
Inconsolável


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora, mas no último mês enfrentei problemas amorosos e não queria escrever e entupir a história de abobrinha. Também vieram as provas e tive que me focar nelas, mas agora aqui está um capítulo novinho.



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Eu praticamente morava nos cantos de Hogwarts. Minha aproximação de Geovanna não me rendeu melhor entendimento sobre a Giulia e nem de Jean. Pansy continuava uma puxa sacos e idiota, mas nem ligava mais para ela. Mesmo com seus insultos e tramóias, eu vivia na mais santa paz – ironicamente, pois era um inferno com as missões e as provas – Nem estudos me distanciavam da viagem que eu e meu pai faríamos em menos de vinte e quatro horas.

Após o termino das provas usaríamos a rede de pó de Flu para chegarmos a uma pensão bruxa em Beverly Hills. Estava tudo acertado e garantido. Alguns colegas de casa faziam festas comemorativas e eu vagava por Hogwarts, lendo livros de feitiços antigos e relatórios da família Thompson e a árvore genealógica. Não foi fácil conseguir os livros, mas meu pai conseguiu com Madame Maximine. Ela cedeu o que podia, pois tinha esperanças de que eu me tornasse uma bela dama. Infelizmente ela sonhava alto demais – eu não precisava acabar com as esperanças dela tão rápido.

Entre todas as pessoas que eu queria ver, era Hayley. Entretanto ela nem deveria saber que eu existo. Tenho raiva em pensar que ela me abandonou pra viver com o Mikles. Não se pode confiar cem por cento em nenhum sonserino, especialmente um Cheege como Geovanna – mesmo que não seja totalmente uma.

Se não fosse pelo equívoco de viajar, eu teria ficado feliz em me livrar das provas. Mas tinha as gêmeas que iriam querer saber a qualquer custo aonde eu iria e a Alekxis que tentaria me aconselhar. Esta sempre descobre o que planejo. Até parece que coloca escuta em tudo. Porém nenhuma delas me pressionou ou manteve conversa sobre o assunto. Apenas me despedi depois de terminar a última prova e desci para as Masmorras. Meu pai já me esperava sem sua capa. Até estranhei. Eu estava com meu uniforme e minha mochila. Tudo que era meu já estava ali, só era preciso usar o pó de Flu.

Beverly Hills era moderna e abarrotada de pessoas. Eu não estava em local bruxo. A pensão era fora dos domínios da magia. Era localizada em um ponto para receber informações. Tanto bruxos quanto trouxas a utilizavam. Era legal ver que podiam conviver juntos, mas sentia ânsia de sumir da presença de todas àquelas pessoas. Elas me olhavam como se eu fosse asquerosa. Eu sabia para onde seus olhares pairavam: meu cabelo azul. Não era uma cor normal de se colorir o cabelo.

Antes que eu pudesse dizer algo, meu pai me chamou a atenção e subimos para os quartos. Eu já era grande o suficiente para cuidar de mim mesma, nos próximos dias, mas não tão adulta para ficar a menos de cinco metros de distância dele. Meu quarto era o de frente ao dele. Nem me importava com o quarto. Só queria cair na cama e me preparar física e mentalmente para o dia definitivo.

Eu acordei no horário habitual, mas continuei na cama, mofando embaixo da coberta, enquanto eu pensava em uma maneira de perguntar tudo o que queria pra Hayley assim que a visse. Eu sabia que não seria fácil, pois nunca nos vimos. Já foi difícil eu perguntar certas coisas para meu pai, mesmo o conhecendo antes.

Minha paz acabou, quando meu pai bateu na porta de meu quarto, chamando-me para o café. Não sentia fome e queria ficar enterrada para sempre naquela cama, mas tinha de enfrentar a situação. Não era eu que queria uma viagem?

Não foi a coisa mais normal do mundo as pessoas verem uma garota com cabelo verde. E minhas roupas não ajudavam: coturno, uma blusa comum e uma saia xadrez, além de minhas meias listradas em preto e roxo. Olharem para mim era absolutamente compreensível.

Engoli o que podia para me manter durante o dia e sai com meu pai. Não fazia mínima idéia de onde ele estava indo. Ela andava em seu ritmo normal, mas nem passava pela cabeça dele apertar o passo. Homem que gosta de me torturar.

Antes que eu perguntasse onde estávamos, vi uma construção e aos poucos mais outras. Era um bairro de classe alta pela arquitetura das casas. Muito diferente de Londres. Lá as casas eram mais simplórias e acolhedoras. Eu não estava acostumada com outra cultura. Mesmo eu tendo vivido entre pessoas mesquinhas, pertencentes à Sonserina, não me acostumei a viver em meio ao luxo.

Meu pai se aproximou de uma casa enorme. Era de se esperar que fosse impecavelmente linda. Ali era um bairro de classe alta. Snape andava normalmente, mas quando nos aproximávamos mais da casa, ele ficava lento. Era um sinal claro de o que tinha ali não era tão bom.

O seguia normalmente, como se o que viemos fazer na casa não fosse nada de mais. Mas meus batimentos cardíacos estavam muito intensos. Nem em Jogos de Quadribol eu sentira algo como sentia naquele momento; não era somente nervosismo e ansiedade, tinha a expectativa de que ela pudesse ser a pessoa contrária do que eu imaginava.

Antes que eu percebesse, já estávamos em uma ampla varanda em frente a uma porta dupla com uma aldrava dourada. Meu pai não fez menção de tocar a aldrava três vezes. Enquanto esperava, apertava uma mão contra a outra, na tentativa de amenizar o nervosismo. Eu estava com roupas de mais para o clima dali, mesmo sendo inverno na Califórnia, mas as únicas vestes de frio que eles usavam eram moletom.

Olhei para minha blusa preta e de uma banda. Ela não era tão quente, mesmo sendo preta. Gostava muito de sua estampa. Meu short era curto, mas vestia uma meia calça roxa por baixo e ainda tinha meu coturno. Bem, eu não parecia estar no clima californiano; não quando se passa pelas ruas e vejo as pessoas com roupas decotadas e curtas.

A porta se abriu e vi uma garota loira de olhos azuis. Reconheci-a imediatamente. Era Ketlen Mikles, a garota da foto do Tempus Passadus da Geovanna.

- Posso ajudar?

Ela era educada, ao contrário da Geovanna. Mas era de se esperar. Ketlen não foi criada pela família verdadeira dela, assim como Geovanna não. Quem diria que todas éramos adotadas? Como é irônico o destino...

- Hayley Mikles está? – Ketlen não percebera como o “Mikles” soou como se meu pai estivesse cuspindo a palavra.

Ela afastou-se da porta e fez movimento para entrarmos. Achei estranho ela atender a porta e não uma empregada.

- Fiquem a vontade. Irei chamar minha mãe – ela disse isso e saiu logo em seguida, nos deixando em uma sala de visita gigantesca.

Ali tudo era decorado com mínimos detalhes, que me dava a impressão de não ser apenas preferência, mas tratar-se de um hobby. Os diversos itens clássicos disposto com objetos mais modernos e... Dificilmente eu imaginaria ver, mas tinha uma vitrola e alguns discos de vinil do The Beatles e Elvis Presley ao canto.

- Não creio! – aproximei-me e vi um armário repleto de discos de vinil, tudo selecionado por cantores. – Isso é uma coleção e tanto...

- Sim, é uma coleção estimável.

Virei-me e vi um homem de cabelos castanhos escuros, acompanhado de Ketlen e mais uma mulher. Minha mãe. Segurei a respiração por algum momento e então olhei para meu pai. Hayley olhava para mim, curiosa.

- De quem é a coleção de discos? Nunca vi tantos em um só lugar.

Paul aproximou-se de mim e olhou para o armário.

- Boa parte, eu adquiri, mas a maioria é da Hayley, principalmente The Beatles.

- Snape... - Olhei para Hayley. Seria impossível não reconhecê-lo. - O que você quer?

Aproximei-me de meu pai e olhei para ele. E ele me respondeu com seu olhar frio.

- Não esperava encontrar seu marido aqui, mas não lhe tomarei muito tempo. Apenas quero por em pratos limpos nosso passado.

Snape nunca usara “nosso” em todo o tempo que convivemos com ele. Hayley voltou a olhar para mim.

- Quem é a menina?

- Não sou menina coisa nenhuma!

- Fique quieta, Aira. Você terá sua chance de falar.

- Mas... – ele me repreendeu com seu olhar – Está bem. Você é muito chato.

- Não é novidade alguma ele ser chato – Hayley disse. – Ele era muito chato. Pelo jeito ainda é.

Escondi um riso. Hayley ainda tinha o dom de tirar meu pai do sério. Percebi Snape se segurando para não rebater na mesma moeda.

- Essa é Aira Snape, minha filha.

Hayley aproximou-se, examinando-me minuciosamente. Ela pegou uma mecha de meu cabelo e depois se afastou, olhando-me por completo.

- Você tem uma filha o oposto de você Snape, sabe disso não é?

- Eu faço ele se lembrar disso todo dia.

Snape me olhou, mas não me pediu para ficar quieta.

- Como que você teve uma filha? Nunca se interessou por ninguém.

- Não sou o mesmo desde aquele dia, Hayley, e você sabe disso melhor do que eu.

Os olhos de Hayley perderam aquele brilho intenso e ficaram escuros. Ela continuou firme, mas eu sabia que lembranças vieram à tona.

- Isso é passado. Nada me liga a você.

Ela nem sabia da minha existência. Mas como ela não podia saber?

- O que você fez com nossa filha Hayley? Por que me disseram que você estava morta?

Ketlen olhou-nos. Paul colocou uma mão no ombro dela, advertindo-a a não se intrometer. Pelo menos ele era compreensível.

- Eu não fiz nada! Eu sofri um acidente naquela rodovia. Entrei em trabalho de parto no caminho ao hospital. Sabe como é sentir que não só sua vida corre risco, mas de seu filho? – ela apertou as mãos. – Eu fiquei horas tentando dar a luz e quando ela nasceu não pude vê-la sequer uma vez. Afastaram-me dela, pois ela poderia ter seqüelas do acidente se não interviessem.

Ela passou uma mão pelo cabelo e voltou a nos olhar.

- Depois de tudo que passei me deram a notícia que ela havia morrido – lágrimas brotavam nos olhos dela. – Como acha que me senti? Um pedaço de mim foi arrancado de mim! Minha filha biológica, Snape! – ela voltou a sua compostura. – Perder um filho é a pior coisa que pode acontecer a alguém.

Eu pensei tantas vezes que ela não me quis, mas ela não sabia que eu estava viva. Mas quem disse que eu estava morta?

- A mesma dor que senti ao saber que você estava morta.

Hayley emudeceu.

- Eu apenas queria esquecer o passado. Então decidi mudar...

- Laura Cheege te ajudou? – perguntei a ela. Lembrei que Ketlen e Gian eram namorados. Os dois já se conheciam há tempos, portanto Laura e Hayley foram amigas.

Hayley tentou esconder seu olhar, mas o via antes que ela o fizesse. Era uma mistura de culpa e tristeza.

- Como sabe sobre a Laura? Ela foi uma grande amiga. Quando pedi que me ajudasse a esquecer o passado, ela fez com que eu me passasse por morta...

- Usando feitiços como Obliviate e alguns papéis para acontecer.

Hayley suspirou e depois sorriu.

- Não podia esperar menos de uma bruxa, ainda mais filha de Snape.

- Chega de ladainhas! Eu – Snape aumentou seu tom de voz, aquele que os alunos temem. – Eu e mais ninguém que cuidou da Aira. A mãe dela nunca esteve presente. Tomei os devidos cuidados para que ela crescesse, mas falhei nisso.

Essa conversa estava muito sentimental. Snape estava demonstrando emoções de sua maneira: falando.

- E o que tenho a ver com isso? Ela não é minha filha, é sua.

Apertei minha marca negra. Droga. Era um chamado.

- Pai... – aquilo estava queimando mais que o normal ou era impressão minha?

Snape olhou pra mim e ele viu que eu apertava meu antebraço.

- Vou sair.

Passei por eles e no corredor, segui para a porta, de onde saí pra fora. Andei até chegar à rua, encostando-me em um poste. A marca estava coberta, mas ela ardia. Não podia usar magia, então teria de me contentar em sentir dor pelos próximos minutos.

Eu queria saber por que sentia ardência. Eu não fui a única a sentir o braço queimando. Lembro-me que Crouch Jr. tinha isso e recentemente o Draco. Abaixei a cabeça, mordendo meu lábio para suprir a dor.

- Levante-se Aira! – virei meu rosto para o lado e vi meu pai. – Vim aqui por sua causa e você precisa estar lá dentro daquela casa!

Não era um pedido e sim ordem. Afastei-me do poste e andei.

- Isso dói.

- Irá doer até quando ele quiser.


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Notas finais do capítulo

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