Plan B escrita por Jojo Almeida


Capítulo 1
Flags Stuff


Notas iniciais do capítulo

A ideia foi de Helena_Pj, então eu dedico a one-shot totalmente à ela.
Toda história tem um começo... Certo?



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                Katie girou sobre os calcanhares e correu o mais rápido que conseguiu.

                A armadura estava grande de mais, fazendo um barulho estranho quando as peças de bronze se chocavam uma contra as outra, e o elmo com o grande penacho vermelho oscilava atrapalhando sua visão.  Galhos batiam contra seu rosto de uma forma incomoda, fazendo com que folhas se prendessem em seu cabelo.

                Mas Katie não estava ligando. Tinha uma meta, e seu objetivo era chegar lá o mais rápido possível. Sabia exatamente para onde estava indo, sem precisar pensar duas vezes.

                Ah, certo. Quem ela queria enganar? Katie não fazia nem ideia de onde estava indo. Disseram para ela correr e ela estava correndo. Disseram algo sobre um riacho também, só que ela não entendera direito. Só entendeu que tinha de correr. Mas, infelizmente, ela não sabia para onde estava correndo. Imaginava que devia ser para a esquerda, o que não ajudava em nada. O que haveria para a esquerda, de todo jeito?

                Apertou o pano azul até seus dedos ficarem brancos. Era uma bandeira, pelo que disseram a ela. Tinha um caduceu gravado no meio, daquele tipo que tem duas cobras entrelaçadas subindo pela haste. Ela não teve muita chance de aprecia-lo, na verdade. Só sabia que o caduceu e as cobras estavam ali, e ponto. Disseram que devia pegar a bandeira e correr o mais rápido possível. Até devem ter falado para onde, mas de que adiantaria? Katie não conhecia aqueles bosques.

                Ela se abaixou repentinamente, desviando por pouco de um galho mais baixo. Agora que pensava sobre isso, de quem Hades fora aquela ideia? Katie havia chegado naquele tal acampamento há apenas três dias, para ser chamada de filha de Demeter e ganhar uma espada que ficava grande demais para ela. Antes disso, ela era só Katie Gardner, 13 anos.  Agora estava mais para Katie Gardner, 13 anos, Filha de Demeter, chalé número 4.

                Pelo que entendera, aquilo ali era um jogo de capture a bandeira. Certo, normal. Normal até lhe darem uma espada, uma armadura e aquele estúpido elmo grande demais.  Até aí tudo bem. As coisas só pioraram de verdade quando Marcus, apresentando como “Marcus, filho de Ares, líder do time vermelho”, dissera que ela teria um papel muito importante para representar. E com muito importante, ele quis dizer realmente muito importante. Parece que essa toda coisa de capture a bandeira era supervalorizada ali.

                De qualquer forma, ele dissera que ela seria a “arma secreta”. Algo sobre “ser novata e ninguém esperar nada dela”. De fato, Katie não esperava nada dela mesmo. Até chegou a dizer isso a ele, mas o garoto apenas rira e começara a falar sobre estratégias de luta que a deixaram completamente tonta. Começou a deixar de prestar atenção. E, agora, tudo que sabia é que tinha de correr.

                Correu, correu e correu. Onde estaria? Não sabia, mas devia estar correndo para o lado errado para demorar tanto. Também não sabia qual era o lado certo, então talvez esse fato não fizesse muita diferença. Se parasse para pensar sobre isso, Katie não sabia muita coisa. Seus pés já estavam doendo insuportavelmente quando aconteceu.

                - Hey! – ela ouviu uma voz desconhecida exclamar.  Parou de correr imediatamente, cabalando surpresa e recuando de uma forma desajeitada. Ela olhou para cima  por um segundo, o que foi o suficiente para ver o penacho azul. E o suficiente para que ela  embolasse a bandeira em uma bola, escondendo-a atrás de si e levando a mão livre até a bainha. Vazia. Deuses, ela havia deixado a espada cair. Agora era tarde de mais.

                Seus dedos se fecharam em torno do vazio, obrigando-a a levantar o olhar até o inimigo novamente. Ele era mais alto do que ela, mesmo que levemente. Devia ter sua idade, mas era impossível dizer. Olhos azuis, cabelo castanho extremamente claro, sobrancelhas levemente arqueadas. A armadura parecia ficar bem nele, no tamanho certo e com um caimento perfeito. Até o elmo parecia ter um caimento perfeito.

                Katie se pegou imaginando seu estado. A armadura larga, o elmo grande demais, a camiseta rasgada, o cabelo preso em um rabo de cavalo desleixado e cheio de folhas. Sem falar de que devia estar completamente vermelha pela corrida. Ótimo.

                Porque estou pensando sobre isso?, tentou se repreender. Devia estar pensando em uma forma de fugir, ou ainda uma forma de enfrenta-lo. Mas perdia tempo pensando no cabelo e na droga do elmo.  Olhou para ele de novo. Dessa vez, notou que usava o colar de couro. Duas contas. Certo, com ou sem espada Katie jamais bateria ele numa luta.

                - Você é...? – o garoto perguntou levantando a espada que segurava até a altura da garganta de Katie, que estava a uns poucos metros dele.

                - Tão educado – Kay murmurou irônica, já não gostando dele.

                - O que você prefere? – ele rebateu dando de ombros indiferente. – “Quem vem lá?” ou “És tu bela donzela?”

                - Eu prefiro que você abaixe essa droga espada. – Katie disse irritadiça, apertando a bandeira novamente.

                - Não sei se percebeu, mas somos de partidos diferentes. – respondeu com um sorriso que ela não conseguiu identificar. – Inimigos não são lá muito bem-vindos. E, não sei quanto a você, mas eu costumo atacar eles.

                - Não acha que teria te atacado se pudesse? – ela resmungou ainda mais irritada. – Abaixe logo essa droga de espada. Perdi a minha para uma garota lá atrás. – mentiu - Não vou te atacar, idiota.

                Ele olhou para ela desconfiado, mas acabou por abaixar a arma, mesmo que ainda relutante. Katie se sentiu levemente aliviada, aproveitando para desviar os olhos e tentar analisar onde estava. Era uma pequena margem de um riacho onde pedras e grama se misturavam até a água, que corria presunçosamente alheia a discussão.  As arvores grandes e imponentes impediam a possibilidade de ver toda e qualquer estrela, lançando sombras sobre a superfície espelhada. Folhas caiam em pequenos redemoinhos levados pelo vento, talvez para algum lugar muito distante.

                Katie tinha de admitir que seria um lugar muito romântico se voltasse ali no dia certo, na hora certa e com a pessoas. Mas aquele não era o dia nem a hora certa e ele passava longe da pessoa certa. Ele era só um desconhecido com uma espada e uma tremenda falta de educação.

                - Travis Stoll, filho de Hermes. – ele disse ao ver que ela não se pronunciaria tão cedo. Até pensara em estender a mão para o comprimento. Mudou de ideia. Não... Parecia-lhe adequado num quadro geral do momento.

                - Kay... Katie Gardner. – se corrigiu. Kay era seu apelido, o que sua família e amigos usavam. Katie parecia melhor. – Hun... Filha de Demeter.

                - Indo a algum lugar, Kay? – Travis perguntou com um sorriso irônico, girando a espada por entre os dedos e parecendo ameaçador.

                - Algum lugar longe de você seria bom. – Katie atacou se sentindo incrivelmente indefesa, mas sem deixar esse fato aparecer. – Não me chame de Kay.

                - É seu apelido, não é?

                - É. – admitiu irritada. – Mas isso não quer dizer que você está autorizado ao usa-lo, Stoll.

                - Claro que quer, Gardner. – Travis rebateu. – Apelidos são feitos para serem usados. Se não queria que eu o usasse não devia ter me falado dele.

                Katie revirou os olhos. Por mais tempo que o mantivesse falando, mais tempo teria para imaginar como fugir. Aparentemente, o tal filho de Hermes nem suspeita de sua posse. E havia o riacho... O que haviam dito sobre o riacho? Não se lembrava, mas lhe parecia cada vez mais importante. Talvez devesse atravessa-lo, mas... Como? O Stoll se mantinha entre ela e água, com uma espada e capacidade de usa-la. Precisava de uma alternativa melhor. E rápido.

                - Deuses... – Katie murmurou pensativa, se voltando para ele logo em seguida. – O que você quer?

                - O que você quer? – Travis rebateu ironicamente. – Não sei se você percebeu, mas estamos no território do time azul. E, estranhamente, você parece ser do time vermelho.

                - O que? – Kay disse franzindo o cenho e se fazendo de confusa. Não sabia exatamente do que ele estava falando, na verdade. Mas, o que quer que fosse, pouco lhe importava. Desde que ele continuasse falando por tempo o suficiente para ela pensar em alguma coisa.

                - Não e explicara nada? – ele disse em um tom reprovador. – Filhos de Ares... Humpf. Enfim, esse riacho. – apontou a água com o queixo. – Separa os territórios. Na margem norte somos nós, o time azul. Na margem sul são vocês, o time vermelho. Eu, faço a patrulha. Garanto que ninguém de lá, passa para cá.

                Ah, então era isso que disseram sobre o riacho. Ele separa os territórios. E, até onde Katie sabia sobre um jogo de capture a bandeira tradicional, o time que levar a bandeira do adversário para o seu território primeiro ganhava. Ela tinha a bandeira. Só... Tinha que passar pelo filho de Hermes idiota e atravessar o riacho. Simples. Ou não. Kay olhou para os lados, fingindo analisar onde estava. Depois olhou para o riacho e, só então, para ele.

                - Acho que eu estou na margem errada. – provocou, sem conseguir se conter. – Melhor ir andando, se é assim. Desculpe pelo incômodo, patrulheiro.

                Ela andou em passos largos até o riacho, evitando se aproximar muito dele. Torceu o pano da bandeira até a pouca circulação de sangue que ainda havia em seus dedos parar completamente, rezando para que ele não visse o pano azul. Já estava perto o suficiente para que a água tocasse levemente os seus pés quando Travis girou e segurou seu pulso livre, impedindo que desse mais um passo sem denunciar-se.

                - Não tão rápido. – ele disse com o mesmo sorriso de antes. Aquele que ela não conseguira identificar, mas que agora lhe parecia ter um ar superior. Também não gostava disso. – O que você tanto esconde, Gardner?

                Depois de ele falar isto, ela não entendeu muito bem o que aconteceu. Num segundo a bandeira estava na segurança de sua mão, atrás de suas costas. E no outro... Bom, no outro Travis dara um jeito de segurar uma das pontas e puxa-la, em quanto ela puxava a outra. Deviam parecer duas crianças mimadas brincando por um brinquedo, mas Kay não ligava. O brinquedo – quer dizer, bandeira - era seu por direito. Fora ela que o pegara e correra como jamais julgaria possível correr. Não ele.

                - Tsc, tsc, tsc. – Travis repreendeu ainda sorrindo, balançando a cabeça negativamente. – Pegar as coisas assim sem pedir é feio.

                - O jogo se chama capture a bandeira. Não peça gentilmente pela posse da bandeira. – Ela ironizou trincando os dentes e apertando ainda mais o pano azul. – Solta isso, Stoll.

                - Não. – respondeu simplesmente, dando de ombros. Katie olhou para ele irritadiça, dando um forte puxão que o fez cambalear, mas não soltar a bandeira. – Woha. Tem certeza que você é mesma garota que estava falando sobre educação a dois minutos atrás?

                - Ah, cala a boca. – ela resmungou. Travis levantou uma sobrancelha para ela, surpreso. Katie não parecia o tipo que falava coisas assim. De fato, Katie não era o tipo que falava coisas assim. Ela só... Estava cansada de ficar correndo e discutindo com um estranho no meio de um bosque as altas horas da noite. Ah, estava.

                - Sabe, Kay. – ele provocou usando o apelido. – Eu sou filho de Hermes. Filhos de Hermes sabem fazer as apostas certas. E, nesse momento, eu não estou exatamente apostando em você, a garota novata se espada e armadura grande demais. É uma questão de lógica.

                Katie o encarou irritadiça. A espada estava na bainha, em sua cintura, a chance perfeita para... Ela levantou o pé esquerdo, chutando a bainha e fazendo com que a espada caísse pesadamente na grama. Em seguida, chutou a espada para longe, fazendo com que esta fosse parar dentro do riacho.  Travis olhou para a espada que se afastava na correnteza com uma expressão pasma meio cômica.

                - Parece que você também não tem mais uma espada, idiota. – Katie atacou sorrindo vitoriosa, com uma dose de sarcasmo na voz.  

                - Certo. – ele disse calmamente, sem se deixar abalar. – Isso foi um golpe baixo. Mas, considerando os acontecimentos recentes, eu proponho um acordo.

                - Um... Acordo? – ela repetiu bobamente, franzindo o cenho sem entender.

                - Filhos de Hermes fazem as apostas certas.  – Travis justificou vagamente. – Mas filhos de Hermes sempre jogam com uma carta na manga. Um plano B.

                - O seu plano B é um... Acordo? – Katie repetiu achando a ideia meio engraçada.

                - É. – ele resmungou irritadiço.

                - E que tipo de... Acordo nós estamos falando? – perguntou ainda relutante e duvidosa da ideia.

                - Se eu soltar e deixa-la atravessar, você fica me devendo um favor. – esclareceu.

                - Que tipo de favor? – mesmo tom relutante/duvidoso.

                - Um dos grandes. – Travis revirou os olhos.

                - Não gosto disso... – resmungou baixinho.

                - Mas... – ele voltou a falar. – Se você soltar, eu fico te devendo um favor.

                - Um dos grandes? –  ela sorriu pensativa.

                - Exato. – Travis confirmou.

                - Como posso confiar em você? – Kay perguntou erguendo uma sobrancelha em sinal de dúvida. – Hermes é o Deus dos ladrões.

                - Como eu posso confiar em você? – o semideus rebateu impaciente, revirando os olhos e com a voz carregada de ironia. – Demeter é a Deusa da agricultura.

                Katie parou para refletir um pouco. A ideia era tentadora, de fato. Mas ainda mais tentador era o plano que conseguira formular nesse meio tempo. Ah, seu plano era dez vezes mais tentador. Pena que também fosse vinte vezes mais arriscado. Decisão difícil. Solução obvia.

                - Certo, certo. – ela resmungou soltando a bandeira de pano azul. Travis olhou para ela incrédulo e vitorioso ao mesmo tempo, sorrindo. – Vou me lembrar disso, Stoll. Você me deve um favor.

                - Foi bom fazer negócios com você, Gardner. – ele disse alargando ainda mais o sorriso, ganhando de novo aquele ar superior. Jogou a bandeira sobre o obro esquerdo, parecendo incrivelmente satisfeito consigo mesmo.

                - Idem. – Katie respondeu, se afastando em passos calmos. Já estava no terceiro passo quando se virou para trás e, rapidamente, deu uma pequena rasteira em Travis e pegando a bandeira de seu ombro.

                O filho de Hermes caiu pesadamente na água, piscando os olhos, confuso. Katie sorriu vitoriosa, pulando o pequeno trecho de água por cima dele e largando a bandeira do outro lado da margem. O pano azul se tingiu de verde e a o caduceu se transformou em um ramo de trigo, ao mesmo tempo em que o silvar longo ressoava pelo bosque anunciando que seu time ganhara. A garota não pareceu ligar muito.

                - Isso – ela disse para Travis, ainda sorrindo. – É o que eu chamo de plano B.

                Saiu andando. Simples assim, saiu andando. Passos lentos em uma direção indefinida até mesmo para ela, mas que talvez a tirasse daqueles bosques. Travis ficou lá deitado, com a água fria molhando suas roupas e respingando em seu rosto, sem saber o que fazer. Percebeu surpreso, que sorria para o nada. Ah sim, ele sorria de ma forma incrivelmente sonhadora e enigmática.

                Travis sorria porque fora naquele momento que ele percebera que havia alguma coisa diferente em Katie Gardner. Não sabia o que era, nem como poderia explicar. Só sabia que havia algo nela... Algo que ele certamente gostava.


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Notas finais do capítulo

E... Fim.
Eu devia para de postar tantas one-shots de Tratie, mas... Whatever.
Se você é novo por aqui, é só olhar no meu perfil. Tenho outras (muitas) one-shos e uma short em andamento de Tratie.
Deixem reviews!
E, para as leitoras de Seven Days a Week, logo, logo vai ter capitulo novo lá.
Beijos,
Jojo