POV Thalia

            — Eu desisto de vocês. — falei. — Não acredito que estamos perdidos!

            — Luke, diga algo.

            — Tipo?

            — Sei lá, não a deixe nos matar.

            — Eu vou junto, colega. Não tem o que fazer.

            — Cadê o maldito mapa? — Annie perguntou.

            — Com o Nico. — alguém resmungou ao mesmo tempo que o namorado de Silena exclamava “eu!”.

            — Me dá isso aqui. — ela disse, puxando o papel da mão dele. Ficou observando por alguns minutos e então suspirou. — Pegue o próximo retorno, são 5km até a próxima saída. Depois, vão ter placas pra indicar o caminho. Afinal, o que é esse lugar?

            — Posso falar? — Percy perguntou, irritado.

            — Não. — Nico e Luke responderam em uníssono.

            — Eu não acredito nisso. — resmunguei, incrédula. — Por que não deram o mapa pra Annie assim que saímos da lanchonete? Poderia ter poupado uma hora de viagem.

            — Thalia, você canta? — ouvi uma voz feminina perguntar. Era a primeira vez que ela se pronunciara durante todo o trajeto.

            Eu corei.

            — Um pouco, Silena.

            — É mentira isso! — Annie se intrometeu. — Mentira! Ela é tipo um anjo cantando!

            — Eu quero ouvir. — ela disse, os olhos azuis brilhando.

            — Não! Quero dizer... — corei mais ainda.

            — Você deve cantar bem. — Percy disse.

            — Concordo. — Nico completou.

            — Chegamos. — Luke disse depois de alguns minutos. Então eu olhei ao redor. Percy e Annabeth se batendo, Silena brincando com os dois e Nico observando sua namorada como um tesouro perdido. Eu estava em casa, afinal. Não literalmente, mas me sentia. Mesmo com os ataques, ciúmes, perdas, nós estávamos juntos. Éramos como uma família. Uma louca família. Mas, mesmo assim, uma família. Então, vi o lugar que Luke estacionara.

            Saí do carro, maravilhada. Era uma vasta área verde, com grama, pedras — rochas —, árvores gigantes, uma clareira e uma cachoeira. A cascata de água caía feito uma onda de cabelos cacheados e era tão clara que eu podia ver a rocha atrás dela.

            — Aimeudeus. — exclamei, louca.

            — É lindo, certo? — ouvi meu namorado perguntar.

            — É o paraíso. — concordei.

            O sol estava quase me cortando ao meio, mas mesmo assim, era uma ótima visão. Fui até uma pedra extremamente perto da água e desci lentamente, tomando cuidado para não cair, e toquei a água. Estava morna, eu acho. Quero dizer, depois de passar todos os dias de sua vida tomando banho frio, uma pessoa não consegue mais distinguir a temperatura. Decidi parar de pensar e tirei a jaqueta. Joguei-a na grama um pouco antes das pedras. Fiz o mesmo com os tênis. E, depois, eu pulei.

            POV Annabeth

            — Tá morrendo afogada! — eu exclamei.

            — Vish, alguém salva. — Silena disse, rindo histericamente. — Luke, pula lá!

            — Saí daqui, vai que ela me puxa e a maré me leva.

            — Eu vou dar um tiro se alguém não pular ali agora. — brinquei, com uma cara irritada. Depois, andei até o local de onde Thalia pulara e fiquei observando. A morena nadara até o quinto dos infernos e acenava feito uma louca para mim, provavelmente convidando-me a pular também.

            — Quer saber? Por que não aprendemos a voar? — senti um par de mãos agarrar a minha cintura e puxar-me para um tronco forte e definido atrás de mim. Os lábios colados na minha orelha, eu sorri.

            — Vai, pula. — falei, provocativa. — Vou logo atrás de você.

            Senti o sorriso de Percy logo atrás de mim. Me virei para encará-lo e envolvi seu pescoço com os braços enquanto ele fazia o mesmo em minha cintura. Deitei a cabeça no seu peito e respirei fundo.

            — Eu meio que senti a sua falta. — sussurrei.

            Ele passou os dedos pelos meus cabelos. O perfume me invadiu e eu fiquei tonta.

            — Eu também senti a sua. — ficamos em silêncio. — Annie?

            — Hum?

            — Eu já mandei você aprender a voar. — então ele me empurrou em direção à água. Só tive tempo de gritar antes de a pressão me fazer calar a boca.

            POV Silena

             — Vocês tão querendo morrer. — eu afirmei, balançando a cabeça depois de ver Percy jogar Annabeth na água. Sentei na grama, apertando um pouco os olhos por causa do sol e fiquei observando minhas duas melhores amigas na água. Logo depois, senti uma presença atrás de mim e sorri.

            — Querendo derreter no sol? — perguntou, e eu imaginei o sorriso perfeito estampado nos lábios.

            Fechei os olhos.

            — Aproveitando. — respondi, e voltei a abrir os olhos. Nico estava sentado ao meu lado, me fitando. Eu corei e desviei o olhar. — Sabe, nunca achei que estaria aqui de novo, com vocês. Sempre pensei que não iriam me perdoar pelo que eu fiz.

            — É meio estranho te ver agora.

            Franzi a testa.

            — Como assim?

            — Você trabalha. Isso é coisa de gente velha.

            Gargalhei alto e dei um tapa estalado nele. Ficamos em silêncio por algum tempo.

            — Silena?

            — Oi?

            — Eu posso te beijar?

            Eu ri.

            — Não sei. — mordi o lábio inferior e o encarei novamente. Ele fez cara de cachorrinho que caiu da mudança e eu me aproximei, colando nossos corpos. — Não sou... Velha demais para você?

            — Silena! — ouvi alguém berrar no instante em que nossos lábios estavam quase se tocando. Nico soltou um palavrão, eu sorri e corri até os meninos. Cheguei lá, e ambos riam feito malucos. Franzi a sobrancelha.

            — Que é? Eu estava no meio de uma coisa importante. — levantei o nariz, arrogante, brincando.

            — Sei. E quando diz “importante”, quer dizer...

            — Pegação nível mil, aulas com Nico Di Ângelo e sua assistente, Silena Beauregard.

            — Olha, vou chamar a Annie...

            — Tô acostumado, minha filha. — Percy disse.

            —... E a Thalia. — completei, maldosa.

            — Vish.

            — Desculpa. Pode voltar pra sessão de amassos.

            Suspirei.

            — O que você quer? — perguntei, finalmente.

            — Você vai entrar agora? — Luke apontou para a água, e eu dei de ombros.

            — Não.

            — Fui! — Percy gritou e pulou. Luke o acompanhou.

            — Cada louco com a sua mania. — fiz barulho de reprovação. Então, sentei na grama, coloquei o fone de ouvido e comecei a ouvir música.

            POV Annabeth

            Já deviam ser umas 17hrs quando Thalia cismou que precisava fazer algo, e nós fomos embora. Praticamente destruindo o estofado do carro de Melanie, mas fomos. Quando finalmente conseguimos sair do engarrafamento que nos prendia na via principal, a punk disse que iria dirigir. Eu ficara feito uma idiota perguntando aonde iríamos, mas a morena se negava a responder. Depois de um tempo — meu cabelo praticamente seco e as roupas também —, ela parou em frente a um bar.

            — Onde estamos? — alguém perguntou, por fim.

            — Vou fazer uma surpresa. — ela disse, e saiu. Eu a acompanhei, confusa e em silêncio. Aproximei-me de Silena e todos nós seguimos minha melhor amiga. Depois de entrarmos, ela praticamente nos obrigou a sentar em uma mesa perto de um palco iluminado por holofotes.

            — Eu estou com uma fome que vai me devorar. — Nico disse.

            — Cara, como assim a fome vai te devorar? — eu perguntei, batendo as unhas na mesa, produzindo um barulho metálico, arqueando as sobrancelhas e rindo.

            — Annie, você está parecendo uma psicopata. — Percy comentou.

            Dei língua.

            — Quem mandou me jogar na água?  — perguntei, irritada. — Assim eu fico parecendo uma draga, pombas.

            — Você disse “pombas”? — Silena perguntou, levantando uma sobrancelha perfeita.

            — Ah... — corei. — Mania que aprendi com a Melanie.

            — Eu estou com fome. — Nico repetiu.

            — Eu também. — concordei. — Afinal, o que raios Thalia veio fazer aqui?

            — “Raios”? — ouvi a interrogação na voz de Percy. — Não está chovendo, Annie. Diga a ela, Silena.

            — Isso é uma conspiração? — indaguei.

            — Annie, não está caindo um dilúvio. — Silena disse como se eu não tivesse dito nada.

            Revirei os olhos. Continuamos conversando como idiotas, até que uma mulher baixinha de cabelos negros subiu ao palco e pegou um microfone, pigarreando para chamar nossa atenção. E isso era meio impossível de não ser feito, porque a quantidade de blush que havia em seu rosto dava a impressão de que ela tinha levado umas chineladas ou enfiado a cabeça num saco de Doritos. Ela era gordinha e usava um vestido rosa muito apertado, o que meio que a deixava um pouco mais cheinha.

            — Boa noite. — ela disse. Murmurei um “pra você também”. — Essa noite, temos uma atração diferente. Ela é... de fora. Diretamente de New York, vamos aplaudir Thalia Grace!

            Então, nesse momento, minha boca se abriu em um perfeito “O”.

            POV Thalia

            — Obrigada. — murmurei, envergonhada, no microfone depois de receber dezenas de palmas. Havia mudado de roupa, colocado uma leve maquiagem e... E estava ali em cima, prestes a homenagear meus melhores amigos. Deus, quando foi que você começou a se importar tanto, Thalia?, perguntei para mim mesma. — Hã... essa música... — engoli a seco. — Eu a compus. E ela é dedicada para aquelas pessoas daquela mesa ali. — apontei para meus amigos, e esse movimento fez todos que estavam ali dentro olharem.

            Eu me sentia estranha toda produzida daquele jeito, mas mesmo assim comecei a cantar.