Vítor não era mais um problema entre eu e Melina. Ela me disse que o esquecera de vez, e ele, parecia ter desistido de atormentá-la. Se ele queria algo com isso, eu ainda não sabia.

Depois de muita insistência de Mel - e de Ana Paula - eu voltei à casa das duas. Assim como da outra vez, Melina novamente deixou a sala, à pedido de Ana Paula, que queria uma bebida. Logo, ela começou com o que eu mais desejava o fim.

- Fê, me dá um beijo!

- Tá doida, garota? Eu namoro! - sim, as minhas suspeitas se concretizaram em fatos. Ela queria algo comigo.

- Qual o problema? - ela me respondeu, dando de ombros.

- O 'problema' é que eu a amo o suficiente pra não querer nada com você.

A garota subiu em cima de mim - eu estava sentado no mesmo sofá da outra vez -, e com o decote quase que no meio da barriga, começou a se insinuar.

- Sai, eu não te quero! Você me dá nojo - cuspi as palavras e ameacei sair.

- Eu sei que você diz isso apenas da boca pra fora. Você sente desejo por mim. Todos sentem. E mesmo que você não queria nada agora, vai querer mais tarde.

- Eu nunca teria nada com você. E além do mais, você se faz de amiga da Melina só pra me ter por perto, não é? - a tirei finalmente de cima de mim.

- Olha, o Fê é espertinho! Mas é claro que sim! Você acha mesmo que eu iria querer ser amiga, ou qualquer coisa daquela sonsa?

- Não abra a boca pra falar dela! - me levantei furioso, mas mantendo baixo meu tom de voz, já que Mel estava por perto.

- Fala sério, eu cresci vendo minha mãe com muitos caras, alguns casados, porém ricos. - Ana Paula andava de um lado pro outro da sala, debochando de mim, da minha até então fidelidade - E com o pai dela, não foi diferente. Homens são apenas estepes, pra nós, mulheres, chegarmos onde queremos. Por isso, não se preocupe, eu não te amo, e nunca vou querer ocupar o posto de sua namorada. Tudo o que eu quero é farra... - ela fez uma pausa para então concluir seu 'raciocínio' - Eu quero sexo.

- Sexo? E você diz isso assim, naturalmente? - perguntei, horrorizado com o que eu acabara de ouvir. Nesse momento, cheguei à conclusão que toda aquela família era podre.

Ana Paula riu.

- Vamos, só por diversão! Eu quero muito passar uma noite com você, e a Mel nem precisa saber! Se você não aceitar, vai se arrepender, e eu não vou desistir. Aliás, eu sei muito bem que você era assim, antes de namorar a minha mana.

Fiquei revoltado, pois o que ela disse de mim era verdade, mas isso não acontecia mais. Inclusive, nunca mais dormi com nenhuma garota, depois de namorar a Melina. Confesso que senti um pouco de falta disso, mas não queria pressioná-la, queria que fosse especial.

Mas antes de dar sequer uma resposta à altura da afirmação ridícula, Melina chegou, com três sucos na bandeja.

- Ana, falei com meu pai agora, e ele liberou a casa sábado!

- Ahhh, sério Mel, que bom! Já vou ligando pra todo mundo então. - aquele teatrinho me enojava.

- Espera, do que vocês estão falando?

- A Ana deu ideia de uma festa aqui em casa, sábado. Já que o Vítor nem liga mais pra mim, e o meu pai e a Débora vão sair, achei uma boa. Você vem, certo?

- Claro que sim, linda. - a abracei e beijei. Quando abri os olhos, vi Ana Paula saindo, finalmente.

(...)

Ela simplesmente evaporou, por sorte. Nada atrapalhou a mim e a Melina o resto do dia, e quando já era tarde, resolvi que já era hora de ir.

Quando estava no portão, fui surpreendido pela declaração mais linda que poderia ouvir em minha vida, talvez por vir da única garota que amei.

- Felipe, eu tenho que lhe dizer... Eu te amo demais! Você apareceu na minha vida na hora certa. E vou lhe confessar, a coincidência de estudarmos na mesma escola, agora, mudou tudo pra mim. Eu estava arrasada, por tudo o que me aconteceu, mas depois do seu apoio, as coisas começaram a mudar. A Débora tem sido até legal comigo, o Vítor desistiu de tentar qualquer coisa, e agora, eu tenho a Ana Paula aqui dentro, pra me defender, caso algo aconteça. Ela se tornou minha melhor amiga... Só quero te agradecer por estar aqui comigo. Se não fosse você, eu já tinha desistido da ideia de ficar no Brasil, e teria ido pra Espanha com minha mãe.

- Ana Paula... - murmurei revoltado seu nome.

- Sim, ela está sendo incrível.

Ela me abraçou, contente, diferentemente das primeiras vezes. Não sentia que tinha de protegê-la, nem ficar ao seu lado. Ela pensava que sua nova irmã agora era sua fortaleza.

Melina não parecia mais frágil, assim como eu a conheci. Ela estava confiante que tudo estava certo, porém não percebia a falsidade de Ana Paula, por ser inocente demais, e por acreditar facilmente em alguém. Ainda mais, Mel parecia simplesmente ter se esquecido do fato de Vítor tê-la enganado, mentido sobre ela e lhe afastado todos seus amigos.

Ela iria se machucar com Ana, eu tinha certeza. E essa festa, que veio na hora errada, tinha tudo pra antecipar isso.