Fiquei esperando por sua resposta impacientemente. Os segundos que se passavam pareciam horas, e ela, com sua expressão um tanto confusa, finalmente me respondeu, algo que confesso já ter esperado.

- Não.

- O quê? Com... Como assim?

- Eu te amo, é óbvio, mas eu tenho a minha vida aqui, assim como você tem a sua vida lá no Brasil.

- Sim, mas... Lá, você não vai precisar mover um fio de cabelo, eu vou te sustentar, pagar tudo pra você!

Mel riu. E eu, me senti envergonhado.

- Felipe, eu não preciso ser sustentada. Eu trabalho, tenho meu dinheiro e não preciso de ninguém pra me manter. Mas se você acha a minha decisão egoísta, pense em você. Viria pra cá, morar comigo?

- Eu... Eu... Não sei responder. - disse, depois de pensar um pouco.

- Sabia. Nós temos nossas vidas formadas, e ambos sabem que não podemos abandonar tudo por causa de um amor. Estou certa?

- Acho que sim. Não conseguiria deixar as minhas crianças do orfanato, eu as amo demais...

- Então! Agora me entende?

- Acho que sim. Me desculpe, então.

- Não tem problema, eu também te entendo, Felipe.

- Mas e nós? Como ficamos?

(...)

Melina conseguiu me mostrar que o meu amor por ela era apenas uma parte. Importante, mas ainda era apenas uma parte. Uma parte do amor que eu sentia, por todos em geral. Uma parte da minha motivação, e uma parte da minha vida. E ela é a parte que completa a outra, onde fica todo o resto. Meu amor pelo meu trabalho, minhas crianças, minha família, enfim.

Porém, apesar de nos amarmos, temos nossas vidas e, querendo ou não, seguimos caminhos diferentes. E mesmo sem o outro, construímos muita coisa, que ocupou uma parte de nossos corações.

E por esse motivo, tomei talvez a decisão mais difícil da minha vida.

Melhor dizendo: uma das. Deixá-la partir, da primeira vez, também foi muito difícil.

Mas agora era diferente. Era por vontade de ambos.

(...)

- Eu já estou me atrasando, amor. - eu disse, apertando os passos no aeroporto.

- Calma, você chega a tempo! - Mel me respondeu.

Parei e a encarei, sério.

- Sentirei muito sua falta. Sabe disso, não sabe?

- É claro que sei. Também sentirei a sua. - ela então me deu um abraço apertado.

- Depois de dez anos, repetir a mesma cena não é fácil pra mim.

- Nem pra mim, acredite. Mas nós dois sabemos que será melhor assim.

- Sim. Eu te amo muito, Mel. Pra sempre a minha Mel...

- Eu vou te esperar o tempo que for preciso, Felipe.

- Não se esqueça; não importa o que acontecer, ou onde estiver, eu estarei sempre ao seu lado.

Então lhe dei um beijo na testa, demorado.

- Nos vemos em breve!

- É claro!

- Eu te amo, Felipe.

Dito isso da boca dela, me virei com lágrimas nos olhos e corri em direção ao portão de embarque. Olhei no meu relógio. Ainda dava tempo de pegar o voo.

(...)

Era realmente muito triste deixar a Espanha. Deixar Melina. Mas, como já disse, foi escolha de ambos. Nós sabíamos que, mesmo se amando, tínhamos nossas vidas feitas, e não poderíamos abandonar tudo.

Da janela do avião, via a cidade cada vez menor... E finalmente desapareceu.

Diferente da bela visão, Melina nunca desapareceria de mim, assim como nossas lembranças. E mesmo distantes um do outro, o amor nunca acabaria.

E é claro, nos veríamos em breve... Muito em breve, devo dizer.