Aproveitei o restante do terceiro ano do Ensino Médio para revisar tudo o que eu havia aprendido até então. Dormir em cima dos livros, para mim, havia se tornado rotineiro. Era muita coisa não aprendida, muito a ser pesquisado, perguntado, para finalmente a dúvida desaparecer.

E tudo com o intuito de encontrar Mel novamente. Mas eu sabia que tudo aquilo era apenas o primeiro passo. A partir de então, minhas menores notas eram nove, e estava feliz com isso.

Passei noites em claro, estudando, para finalmente surpreender meus pais com a notícia de que eu havia passado em medicina. Foi difícil, e eu trabalhei duro para conseguir isso.

Dá pra ter ideia do que é abandonar completamente a vida social? De praticamente perder contato com meus amigos, só para estudar? Então, esse era eu, logo depois da partida do meu amor.

Sim, eu havia me esforçado para chegar ao seu nível, mas não foi trabalho suficiente. E tive de perder o que de mais precioso eu tinha para me dar conta disso. Porém, como diz o ditado, antes tarde do que nunca.

Bem, como disse, passei em medicina. Não fui lá aquelas coisas no vestibular, apesar do meu esforço, que mesmo tendo sido grande nos meses passados à prova, não foi o suficiente para eu atingir as primeiras classificações. Mas foi o necessário pra passar, e isso eu havia conseguido, para a felicidade dos meus pais, e para a surpresa de todos os que me conheciam.

Me mudei para São Paulo, cursei uma ótima faculdade. Tornei-me pediatra. Conheci várias garotas, mas nenhuma delas me despertou interesse suficiente. Só pensava em Mel, no que ela fazia na Espanha, se ainda se lembrava do que tinha me prometido...

Enfim. O tempo se passou, concluí a faculdade, finalmente, e agradeço a Deus por ter amadurecido, me tornado alguém na vida.

Mas, mesmo assim, sabia que não era o suficiente. Trabalhei em um hospital por algum tempo, suficiente para eu juntar o dinheiro dos muitos bicos que eu fiz durante a faculdade, e abri um consultório. Modesto, mas ainda era um consultório. Além disso, fui voluntário num orfanato, ajudando a cuidar das crianças de lá, e ainda sou até hoje. Eu amo aquelas crianças...

No consultório, aos poucos, os pacientes apareceram, junto do sucesso. Com 26 anos, já tinha dinheiro suficiente para ir encontrar Melina e lhe provar como havia mudado. E foi o que eu fiz.

Nunca esperaria alguma atitude assim, de mim. Amar? Uma palavra fora do meu antigo vocabulário. E ela me mudou. Só ela conseguiu me fazer quem eu era naquele momento. Apesar da distância, do tempo, meu amor por ela apenas aumentou, de uma forma madura.

Quando me lembrava do que disse, sobre fugir comigo, apenas conseguia rir. Até parece que dois adolescentes iriam conseguir fugir...

Mas, voltando ao assunto principal; comprei uma passagem, e em pouco tempo, desembarquei na Espanha. Estava disposto a trazê-la de volta pro Brasil comigo. Eu tinha uma ótima condição financeira, e ela, nem sequer precisaria trabalhar.

Não sabia por onde procurá-la, porém, para um cara ainda apaixonado, nenhum trabalho era demais.

(...)

Fiquei num hotel quase que luxuoso. Tinha uma ótima vista para a cidade, e não depois de muito tempo de entrar no meu quarto, fui até a grande varanda, pensando em alguma maneira de encontrá-la naquele país.

- Linda vista... - exclamei.

Observava a todos os detalhes atentamente, e foi quando eu olhei para um outdoor, aparentemente como os outros, ainda pensando em alguma maneira de ver Mel, que notei um pequeno detalhe: Ela o estampava.

Deslumbrante, magnífica, maravilhosa, perfeita! A minha garota perfeita.

Só pensava se depois de tanto tempo, tantas mudanças, ela ainda se lembrava, e iria me querer.