Olhei para a porta, que havia se fechado depressa, e encostada a ela eu vi Melina chorando, desesperada. Ela não dizia nada, apenas nos olhava.

– Melina, eu posso explicar! - levantei, de cueca, agora voltando à consciência.

Ela continuava a me olhar, em prantos.

– Seu idiota! Saia daqui! - Ana Paula jogou um travesseiro em mim, fingindo estar revoltada, como se eu fosse o único culpado daquilo estar acontecendo.

Bam! Bam! Bam!

– Abre isso, Mel! Vamos conversar mais um pouco! - era o Vítor.

A essa altura, eu não estava entendendo mais nada. Ana Paula, se fingindo de vítima, Vítor, batendo à porta, e Melina sem dizer nenhuma palavra.

Coloquei minha calça, e começando a compreender, empurrei Mel da porta e a abri.

Esmurrei Vítor, e ele caiu no chão.

– O quê é isso, cara? Eu nem fiz nada pra você!

– Mas pra Melina fez. Eu sei que você queria levá-la pro teu quarto, não é?

Olhei para trás e a vi pegando seu ursinho jogado no chão. Droga! Eu me lembrei no mesmo instante. Eu dei a ela o urso na nossa viagem a Campos do Jordão.

Ana Paula se vestiu e saiu em silêncio, passando por mim e por Vítor, ainda no chão, e tentando em vão não ser notada.

Deixei-a ir. Era melhor assim. Com Ana lá, seria mais difícil de me explicar para Mel.

– Some daqui, moleque! Eu juro, se você ficar aqui mais um segundo, eu te mato!

Vítor não reagiu como eu esperava. Ele se levantou e foi. Quando estava prestes a descer as escadas, virou-se e disse:

– Eu ainda fico com ela, você verá! Ela me ama!!!

Ignorei o que ele disse. Não poderia ser verdade, depois de tudo. Entrei no quarto, finalmente.

– Mel... - ela chorava feito uma criança, abraçada ao seu ursinho.

– Sai daqui.

– Eu vou explicar - apesar de nem ter muito que dizer.

Eu era o culpado de tudo aquilo. Se eu não tivesse aceitado o primeiro copo de vodca da Ana, o Vítor nunca teria chegado perto da Mel. Não naquela noite.

– Não tem o que explicar. Eu vi. Mas acho que você não viu o que aconteceu comigo, só supõe...

– Eu sei! - falei alto.

– Ele estava prestes a me estuprar, seu imbecil! Eu saí de perto dele e tentei te procurar. Só que você não estava lá, e eu corri pro meu quarto. Daí eu chego, e vejo... Isso! Com a minha única amiga, Felipe? Por quê? Quando eu quis, você me parou, não se lembra?

– Mas isso não era por amor, eu só estava...

– Sai! - Melina gritou, jogando o ursinho que lhe dei em mim, junto com minha camiseta, que estava jogada ao chão.

Peguei o urso, fechei a porta e saí dali.

Ouvi a porta se trancar. Fiquei um pouco aliviado, pois, pelo menos, Vítor não chegaria mais perto dela. Não naquela maldita noite.

Ela estava chorando demais, e não seria uma boa ideia continuar a conversar com ela naquele momento. Aliás, eu ainda estava atordoado, por causa de toda bebida.

Quando desci as escadas, passei por Vítor, que já estava caindo, de tanta bebida, e ao passar por Ana Paula, ela veio me beijar, na maior cara de pau.

– Sai, garota! Você não viu o que fez? - a empurrei.

– Eu? - ela riu - Não te obriguei a nada, amor.

Empurrei-a, e saí irritado. Não arrumaria - ainda mais - confusão na casa de Mel. Todos lá estavam bêbados, menos Melina. Ela não bebe.

Só pensava em como me explicar, e o que eu iria fazer com o Vítor e com Ana Paula. Mel estava morando num ninho de cobras... E eu, a única pessoa em quem ela deveria confiar, acabei com tudo.