-Caio? O que você está fazendo aqui? – Perguntei. Do outro lado da sala a Rafa e o Murilo ficaram paralisados com a chegada repentina do meu irmão.

- Resolvi checar como andam as coisas – Ele disse azedo – E então, alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Meu irmão insistiu.

- Caio, não está acontecendo nada demais. Se você se acalmar eu posso te explicar tudo – A Rafa disse se levantando do sofá e tentando se recompor.

- Hum... Murilo, sabe do que eu me lembrei agora? Me esqueci de comprar um comprimido para dor e o meu pé já está me matando. Será que você pode me levar até a farmácia? – Improvisei. Na verdade eu queria arrumar um jeito de nós dois sairmos dali e deixar a Rafa e o meu irmão conversando a sós.

Mais do que rápido o Murilo pegou a chave do carro e nós saímos do apartamento.

-Não queria deixar a Rafa sozinha agora – Ele comentou triste.

- Mas não tem outro jeito. Eles precisam decidir como vão ficar, ou casam ou se separam de uma vez. Ficar nessa situação só deixará a Rafa mais confusa – Disse o que eu pensava.

- Tomara que ele não pegue muito pesado com ela – O Murilo comentou enquanto nós chegávamos à garagem do prédio.

- Ei... Você está mesmo afim dela, né? – Não pude deixar de perguntar.

- Pois é... Eu acho que estou – Ele confessou sem graça enquanto apertava o botão do alarme. Entramos no carro e o Murilo deu partida no veículo.

- Sabe Any, você pode achar meio estranho. Mas durante as gravações em Ribeirão, depois que a Rafa começou a me ajudar eu me senti tão bem. Foi a primeira vez desde que comecei a trabalhar como ator que eu me senti como eu era de verdade. A Rafa tem esse jeito tão carinhoso de nos tratar, preocupada  não só com a nossa carreira mas com o que nós estamos sentindo também. Ela é uma é uma pessoa muito especial!  - Ele sorria enquanto falava. Pela sua expressão  pude perceber o carinho enorme que ele sentia pela Rafa.

- Eu sei como é isso. A Rafa sempre me apóia nas minhas maiores loucuras, mesmo quando ela acha que aquilo não é o certo a se fazer. Eu não acho nada estranho vocês ficarem juntos. Se vocês se gostam... – Dei o maior apoio para ele.

-  Poxa, que bom Any. Eu tinha medo que você não aprovasse por causa do lance que rolou entre nós... – o Murilo confessou.

- É, talvez há algum tempo atrás eu até achasse, mas depois que eu conheci o Luan, eu não sei... Não me leva a mal Murilo, mas eu achava que eu te amava mais do que tudo nessa vida. Mas aí você me deixou, aconteceu tudo o que aconteceu  e mesmo assim eu consegui superar e toquei a minha vida para frente. Mas com o Luan é diferente. Por mais que nós tenhamos estilos de vida distintos, que a gente tenha crescido em mundos completamente opostos, eu me sinto muito bem ao lado dele. É como se o Lú me transmitisse o que eu sinto que falta em mim, a segurança, a alegria, aquela energia toda que ele transmite... Resumindo... é como se ele me completasse – Aproveitei o momento de  confissões para também abrir o meu coração.

- Nossa, Anita Tunice em um momento extra romântico. Tenho que assumir, esse Luan Santana é o cara, porque não é qualquer um que te deixa “caidinha” de paixão desse jeito – O Murilo zombou de mim.

- Ah.. Para de me zuar, seu bobo – Me defendi rindo do comentário.

- E como tá o lance entre vocês? Conseguiram se acertar no “casamento”? – Ele perguntou.

- É, eu espero que sim. A gente ficou de ter uma conversa para resolvermos tudo de vez, mas como eu machuquei o meu pé acabamos nem tendo tempo de nos falarmos.

- Eu me sinto muito mal por ter feito vocês terminarem. Agora eu vejo o quanto você gosta do cara. Queria muito poder te ajudar a resolver esse problema – O Murilo realmente parecia sentir o término do meu namoro com o Luan.

- Nem me lembre disso. Por causa do filme eu terminei com ele e agora estou em um beco sem saída: Se eu não contar o porquê eu rompi o nosso namoro ele não volta comigo. Mas e se eu contar o verdadeiro motivo, que eu terminei por causa da minha carreira e da sua, será que ele vai me perdoar? – Essa era a questão que me atormentava.

- Any, eu acho que você deve contar a verdade. Eu iria gostar de saber o porquê alguém terminou comigo, mesmo que aquilo me magoasse – O Murilo disse.

- Mas se fosse você no lugar dele, você me perdoaria? Ainda mais depois que eu resolvi jogar tudo para o alto e subir no palco de um show para me declarar. Será que ele não iria perguntar por quê eu não desisti do filme antes?

O Murilo ficou em silêncio com uma expressão pensativa. Eu tinha me complicado demais naquele rolo todo e “metido os pés pelas mãos”. O difícil era saber se o Luan estaria disposto a compreender toda a minha confusão.

Demos uma longa volta de carro pela cidade e depois voltamos para casa. Com certeza aquele era o tempo suficiente para a Rafa e o Caio decidirem o que iriam fazer da vida.

Quando chegamos o apartamento estava às escuras. Olhei preocupada para o Murilo. Seguimos até o quarto da Rafa com cuidado, afinal, poderia estar rolando uma reconciliação entre ela e o meu irmão. Nós não sabíamos o que realmente estava acontecendo.

Mas ao chegarmos ao cômodo encontramos a Rafa sentada no chão encostada em uma das paredes do quarto chorando muito. Corremos até ela para saber o que tinha acontecido.

- Ele me disse coisas horríveis – Ela conseguiu dizer com a voz arrasada.

Eu e o Murilo a abraçamos e ficamos ali junto dela até que ela parasse de chorar.

***

Apesar da noite tumultuada, a Rafa não deixou de trabalhar. Acordamos cedo no dia seguinte para que ela me levasse até o estúdio. As gravações da novela começariam naquele dia. O Murilo também tinha ensaio no Projac, por isso saímos todos juntos de casa.

- Tudo isso é saudades de mim? – O Fiuk brincou ao me ver.

- Você não imagina o quanto senti a sua falta – Falei irônica. Eu tinha me esquecido quase que completamente dele nos últimos dias.

- Anita, o que aconteceu com o seu pé? – O Artur, diretor da novela, exclamou preocupado quando me viu.

- Fica calmo Artur. Eu conversei com o médico e ele disse que eu posso retirar a bota ortopédica enquanto estiver gravando. Eu só não posso fazer cenas com muito movimento, como correr, pular e essas coisas – Expliquei a minha situação.

- Bom, tudo bem então. Nestes primeiros dias não teremos cenas deste tipo. Mas cuida deste pé menina, pelo amor de Deus – O diretor quase implorou.

- Sabe o que é Artur, a Anita deve ter arranjado um noivo meio violento... Se ela tivesse pesquisado melhor talvez ela encontrasse alguém mais carinhoso – O Fiuk não perdeu a oportunidade de zombar da situação.

- Então Fiuk, aproveite para mostrar todo seu cavalheirismo e gentileza e, por favor, ajude a Anita a chegar até a maquiagem. Vamos começar gravando com vocês – O Artur disse entrando no clima de brincadeira.

Trabalhamos nas primeiras cenas da novela durante todo o dia. Os ensaios lá em casa tinham realmente valido a pena. Eu e o Fê estávamos muito entrosados como Ciça e Gustavo.

No final do dia o Fiuk me ofereceu ma carona para me levar para casa.

- Dessa vez eu vou aceitar de primeira. Tivemos uns problemas lá em casa ontem, e acho melhor não atormentá-la com pedidos de carona – Disse.

- Será uma honra. Meu carro já está com saudade da Granfina – Ele comentou.

Seguimos até a minha casa. O Fiuk fez questão de deixar o carro na garagem e me ajudar a subir até o meu apartamento. Acabei deixando, porque me tornozelo doía demais, eu o havia forçado muito ao longo do dia.

- Sabe, você deveria machucar o pé mais vezes. Você fica mais doce assim – Ele disse enquanto entrávamos no elevador.

 - O que você quer dizer com isso? – Não tinha entendido aquele comentário.

- Antes de se machucar você relutava em aceitar as minhas caronas. Agora você me deixa te ajudar a subir até a sua casa. Uma versão muito mais acessível da Anita, a Granfina Indomável – Ele brincou fazendo uma careta.

A porta do elevador abriu e eu aproveitei a deixa para não dizer nada sobre o último comentário do Fê. Realmente eu havia facilitado bastante as coisas para ele.

Saímos do elevador juntos. Meu pé doía muito, por isso apoiei o meu corpo no Fiuk passando um dos meus braços pelo seu ombro. Para me ajudar a caminhar ele colocou uma da suas mãos em torno da minha cintura.

Seguimos pelo curto corredor até nos aproximarmos do meu apartamento. Vi que alguém estava parado diante da porta segurando um buquê de rosas nas mãos.

- Luan! – Praticamente gritei ao vê-lo na minha frente. Na minha afobação soltei o meu braço do ombro do Fiuk e me desequilibrei. Por sorte o Fê conseguiu me segurar.

- Luan! Anita! Fiuk?! -  Rafa exclamou ao abrir a porta. O Lú já devia ter apertado o interfone e por isso a minha empresária havia aparecido na porta.

- Bom, hoje é a noite de sorte de vocês. Temos panquecas fresquinhas saindo do forno! Entrem, e jantem com a gente – A Rafa disse se referindo ao Luan e ao Fiuk.

Entramos todos juntos em casa. O Fiuk ainda me ajudando a caminhar e o Luan segurando o buquê de rosas.

- Bebê, bota mais pratos na mesa. Temos visitas – A Rafa gritou seguindo para a cozinha.

Nos sentamos na mesa de jantar. Fiquei na cadeira entre o Lú e o Fê. Que situação!

- Anita, você não acha melhor tirar a bota? Você falou que seu tornozelo está doendo muito – O Fiuk sugeriu.

- Te machuquei tanto assim? Nossa Ní, me perdoa! Eu preciso ir para o Nordeste para fazer uns shows, mas queria vir até aqui para me desculpar. Trouxe isso para você – O Luan me entregou o buquê de rosas quase implorando pelo o meu perdão. Sorri do seu jeito desesperado.

- Relaxa nego, tá tudo bem. Está doendo um pouco agora, mas acho que se eu tirar a bota melhora – Disse me curvando em direção ao meu pé para tirar a bota. O Lú também se abaixou para me ajudar.

- Ok garotos, preparem-se para comer as melhores panquecas de sua vida – A Rafa disse retornando da cozinha trazendo uma travessa nas mãos. O Murilo estava atrás dela trazendo os copos e a Coca-Cola.

- Hum.... Nada contra as panquecas, mas achei que estaria o maior “climão” aqui em casa – Comentei

- Esse é o meu jeito de curar a “foça”. Tem gente que afoga as mágoas. Eu prefiro cozinhá-las – A Rafa piscou para nós colocando a travessa na mesa.

- Ah, mas que lindas flores Luan, são para a Anita? Vou colocá-las em um vaso! – Minha ex-cunhada pegou as flores e seguiu novamente para a cozinha.

- Ela é bem animada, né? – O Fiuk exclamou. Ele ainda não conhecia a minha empresária.

- Você ainda não viu nada – Eu e o Murilo dissemos ao mesmo tempo dando risada.

Jantamos todos juntos. A Rafa estava mais animada do que o normal e fez perguntas para todo mundo puxando diversos assuntos. Falamos sobre as gravações do clipe, sobre o jeito maluco do André, sobre os primeiros capítulos da novela, sobre a participação do Murilo na novela das 9h e sobre as carreiras de cantor do Lú e do Fiuk.

Mesmo com o clima de descontração pude perceber que o Luan não se sentia a vontade com a presença do Fê e vice-versa. Eu também não estava muito confortável naquele jantar. Embora as panquecas estivessem ótimas e estivesse dando muita risada com o papo na mesa eu queria mesmo era ficar a sós com o Luan para ter a conversa que ele estava me devendo.

***

- Murilo, Fiuk, será que vocês podem me ajudar a tirar a mesa? – A Rafa se levantou e começou a recolher os pratos. Prontamente os dois começaram a ajudá-la. O Mú ria da cara-de-pau da minha empresária em querer me deixar sozinha com o Lú.

- Desculpa por essa situação. Mas eu precisava de ajuda para subir até aqui – Tentei me explicar depois que todos foram para a cozinha.

- Tudo bem, eu entendo... Vocês estavam trabalhando juntos...Ele apenas quis te ajudar – O tom do Luan não era de quem realmente tinha entendido - Eu te trouxe mais uma coisa – Ele falou  remexendo no bolso e me entregando um colar em seguida.

- Hey, é o colar que eu usei no clipe. Luan do céu, ele é muito lindo – O abracei agradecendo o presente.

- Eu percebi que você tinha gostado. Vira aqui, me deixa colocar em você – Me virei levantando os meus cabelos para facilitar o seu trabalho.

- Vai fazer companhia para o escapulário – Disse me virando novamente de frente para o Lú depois que ele colocou o colar em mim.

- Linda, eu preciso ir agora. O Pedrão vai passar aqui para me buscar e me levar para o aeroporto. O Castro e o Bicuço já devem estar me esperando – Ele disse triste.

- Mas, e a nossa conversa? – Falei em tom de cobrança.

- Eu queria falar com você hoje, mas oportunidades não vão faltar. Vou ficar duas semanas em turnê pelo nordeste. Você pode ir até lá me encontrar, se quiser – Ele me convidou.

- Topado! – Me curvei em sua direção e lhe dei um beijo rápido. Desde já eu torcia para que a minha agenda tivesse um espaço livre para aquela viagem.

***

O Luan se despediu de todos e a Rafa desceu para acompanhá-lo até a garagem onde o Pedrão iria pegá-lo. O Fiuk aproveitou e também desceu junto, no dia seguinte teríamos gravações logo cedo.

Segui para o meu quarto tentando relaxar um pouco. Me senti frustrada por não ter conseguido conversar com o Luan. Mas, pelo menos ele estava disposto a conversar... Aquilo era um bom sinal.

- Hey gata garota, que situação, hein? A Grafina, o Caipira e o Playboy juntos! Só você para se meter nessas enrascadas.

- Nem me fale, fiquei super sem graça com essa situação – Comentei.

- Falando em enrascada, me lembrei de uma coisa agora. Adivinha? O rolo da demissão do filme foi finalmente resolvido. A primeira semana de pré-divulgação foi um fracasso, e por isso eles resolveram mudar de estratégia. Te querem de volta no projeto! – A Rafa dise dando pulinhos de alegria -  E mais, querem explorar o lance entre você e o Luan para ajudar no marketing do filme. Algo relacionado com A Granfina e o Caipira da vida real, saca?

- Fala sério, esses caras do estúdio são uns trouxas – Disse azeda.

- Não reclama, eles te aceitaram de volta. Se eles decidissem realmente te demitir, estaríamos  ferradas. Imagine o “bafafá” que seria nas revistas e sites de fofocas quando a mídia soubesse o motivo da sua demissão! – Minha empresário considerou as possibilidades.

- Bom, pensando por outro lado, até que não é tão ruim ser aceita de volta. O estúdio ajudou a me separar do Luan, o estúdio ajudará a nos reaproximar, certo? – Sentia que os ventos os começam a soprar a meu favor.