A Granfina e o Caipira escrita por Manu Dantas


Capítulo 11
11 - Nova York, baby - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Para quem gosta de romance o capítulo está perfeito!
Aproveitem!



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–Luan?! O que você está fazendo aqui? – Eu praticamente gritei, tamanho foi meu susto.

– Caramba Ní, sou tão feio assim? – Ele falou brincando.

– Não, não é isso... É que eu realmente não imaginei te encontrar aqui. Como... Como isso aconteceu? Como entramos no mesmo carro?

– Sua cunhada, a Rafaela, perguntou para o Marcão se eu já poderia ir para o hotel. Ele disse que sim, então ela pediu para eu esperar no carro – Tão óbvio, porque não pensei nisso antes? Claro que tinha “o dedo” da Rafa nisso tudo.

– Ah... Só poderia ter sido a Rafa mesmo! Nossa Lú, nessa correria toda, eu nem pude agradecer o presente que você me mandou. Muito obrigada, eu adorei – Sorri.

– E você pelo menos já conseguiu assistir o DVD, no meio dessa correria toda? – Ele fez tom de bravo.

– Já, claro! Estou pronta para ir a um show seu! Sei cantar todas as músicas!

– Quero só ver no show de amanhã se você vai cantar todas as músicas – ele me desafiou.

– Meu querido, já posso, inclusive, ser a “Garota Chocolate” – brinquei

– Ah, aí eu gostei, hein... – Ai Deus, às vezes eu falo cada coisa...

O motorista parou o carro, e avisou que havíamos chegado ao hotel. Antes de descer, pedi a ele se seria possível entrarmos pela porta de serviço, para não chamar atenção. Depois de perguntar os nossos nomes e ir até a recepção confirmar, ele voltou seguido por um funcionário do hotel que nos conduziu até o elevador para funcionários.

– O que você disse para eles? – O Luan perguntou curioso.

– Achei melhor usarmos a entrada de serviço, para não chamar muita atenção, sabe... Vai que alguém nos vê juntos... Se só um boné já deu aquele “rebuliço” todo.

– Ah.. Mas você ficou tão “bunitinha” com o meu boné – Ele disse brincando.

Chegamos ao 10º andar onde, não por coincidência, mas por obra da Rafa - eu poderia apostar - nós dois estávamos hospedados. Agradeci ao camareiro que nos conduziu, e entramos no quarto do Luan.

Não pude deixar de reparar na pequena bagunça que estava no local. Havia algumas roupas espalhadas pelo chão e pela cama, um pote de gel em cima da mesinha do quarto e duas malas com os conteúdos revirados estavam próximos a porta.

–“Rapaiz” mas esse “trem” esquenta demais – Ele se referia ao terno. – Ele tirou o paletó e jogou em cima da cama e tirou a camisa para fora da calça. – Ainda nem comi nada desde que cheguei.

– Quer que eu peça alguma coisa para você comer? – Tentei ser prestativa.

– Será que eles tem X-Burguer por aqui?

– Pode apostar que tem! – Peguei o telefone e disquei para a cozinha. Pedi um x-burguer, batatas-fritas e coca-cola. Mais americano que isso impossível.

– Você fala Inglês “mó” bem, né? Sabe “enrolar” a língua direitinho – Ele falou brincando.

– É que eu morei no Canadá por muitos anos. Praticamente a minha infância toda.– expliquei.

– Mas você nasceu no Brasil? – ele parecia realmente interessado.

– Sim. Morei no Brasil até os meus quatro anos. Então, quando minha mãe se separou do meu pai, ela resolveu se mudar para o Canadá para estudar, e levou eu e o Caio junto.

– E você voltou para o Brasil quando? - Nessas alturas da conversa nós já estávamos sentados lado a lado na cama.

– Voltei quando tinha 15 anos. Foi nessa época que eu comecei a fazer teatro. – Lembrei.

– Começou a fazer teatro na escola?

–Não, eu não estudei em uma escola. – Ele fez cara de espanto – Calma! Eu explico. É que quando eu voltei para o Brasil, não consegui me adaptar muito bem por aqui. Os outros alunos ficavam implicando comigo, e eu não conseguia me encaixar. Então, eu saí da escola e passei a ter aulas particulares na minha casa. Foi aí que um dos meus professores sugeriu que eu fizesse teatro, para aprender a lidar com essa dificuldade de relacionamento. Achei uma escola de teatro próxima à minha casa, e me matriculei...

–Aula particular? E você não sentiu falta da bagunça da sala? De ter amigos? De levar bronca dos professores? – ele questionou.

– De certa maneira não. Eu comecei a fazer algumas peças junto com o pessoal da escola de teatro, e isso ocupava o meu tempo.

– Ai que garota responsável... – ele falou me zoando.

Bateram na porta para entregar o lanche dele. Ele pegou a comida e deu uma gorjeta para o entregador.

–Vamos comer ali fora? – Ele apontou para a varanda do quarto.

– Claro! – Concordei.

Caminhamos até a sacada do quarto e sentamos lado a lado na mesa que havia ali.

– Não tá com frio, linda? – Realmente ali, no 10º andar, tava “batendo um ventinho gelado”.

– Um pouco - respondi.

– Espera aí, então. – Ele levantou e foi até a sua mala. Pegou a jaqueta que eu já conhecia e levou até mim.

– Ela combina com você! – Ele brincou.

– Obrigada! Sabe que eu também gostei dela... – Eu sorri.

Ele se sentou de novo e começou a comer. Ele realmente devia estar com muita fome, porque em questão de minutos metade das batatas e do lanche já tinham sido devorados.

– Você não vai comer nada? – Ele perguntou

– Não estou com muita fome. Na verdade, já me sinto satisfeita só de ver você “detonando” esse lanche. Você consegue comer mais rápido que o Caio. – comentei

– O seu irmão sempre trabalhou com você? – ele quis saber

– Sempre. Me irmão sempre cuidou muito de mim. A nossa mãe trabalhava demais, então era ele que me acompanhava nos testes, nos ensaios, quem assistia as minhas peças... – Expliquei.

–Agora entendi porque ele foi tão “linha dura” para passar o número do seu celular. Ele fez questão que eu ligasse pessoalmente para falar com ele.

– Sério? Ele não me contou isso! – Ri do meu irmão – Mas ele realmente é um pouco encanado com essa história de preservar o máximo que puder a minha vida pessoal. Ele acha que nessa carreira as pessoas acabam explorando demais a minha imagem, me julgando sem realmente me conhecer...

– Sua mãe trabalha de quê? – Agora ele bebia o que restava da Coca-Cola.

– Ela é economista. Faz assessoria financeira para grandes instituições. Por conta disso, ela viaja demais...

– E quem é aquela garota doidinha que quase me obrigou a entrar no carro? – Com certeza ele estava falando da Rafa.

– Essa é a Rafa. É a noiva do meu irmão. Ela é meio doidinha mesmo...

– Que bacana que vocês se dão bem. Ela também sempre ajudou a cuidar de você e da sua carreira?

– É, a Rafa se juntou a nós há pouco tempo... – Me levantei e caminhei até a beirada da sacada. Eu adorava a minha cunhada, mas lembrar porque ela e meu irmão haviam realmente se acertado doía um pouco.

Ele caminhou até o meu lado.

– Aconteceu alguma coisa? Você ficou quieta de repente... – ele me olhava sério

– É que meu irmão e a Rafa se conhecem desde a época do colégio. Depois eles estudaram na mesma faculdade. Nesse tempo eles sempre tiveram um “casinho”, sabe? Mas nunca se firmavam de vez. Até que no último ano da faculdade a Rafa engravidou. Aí o Caio tomou “vergonha na cara” e resolveu assumi-la de vez. Foi aí que ele a pediu em casamento.

Ele acompanhava tudo completamente concentrado em mim.

– Essa foi uma época muito feliz. Minha mãe tirou férias e ficou em casa para ajudá-los com os preparativos da chegada do bebê. Eu sempre quis ter uma família unida, dessas que se reúnem para jantar juntas, ou fazer churrascos aos domingos. – Eu falava muito rápido. Na verdade, eu não sabia o porquê eu estava contando isso para ele.

– Até o 5º mês de gestação da Rafa tudo deu certo, e eu pude curtir um pouco essa família unida e feliz. Só que no sexto mês a Rafa perdeu o bebê. E de repente tudo ficou muito triste. Não tinha mais a alegria, não tinha mais a família unida...

–Foi nessa época que minha carreira começou a dar certo de verdade. Então, meio como maneira de esquecer, eu comecei a fazer um monte de filmes, de novelas e meu irmão passou definitivamente a administrar isso tudo. A Rafa passou a ajudá-lo e minha mãe voltou a trabalhar. E agora nós estamos aqui... – Tentei sorrir depois que eu terminei meu desabafo. Na verdade eu estava morta de vergonha daquela “ceninha” ridícula que eu tinha feito.

– Sabe... – ele colocou a mão suavemente na minha cintura e me virou de frente para ele – você ia gostar de ir lá em casa. Lá sempre tem churrasco, e a família toda se reúne para almoçar junta no domingo – Impossível resistir àquele sotaque. Comecei a rir imaginando a cena.

– É engraçado essas coisas, né? Esse lance de ser atriz... Eu te via na TV, e te imaginava completamente diferente do que você realmente é. Mas desde as gravações no Rio, que eu pude conviver com você, eu percebi que você tem uma “coisa” que a gente não consegue explicar, sabe... é tipo uma força, uma energia diferente, não sei... mas é algo que atrai as pessoas para você...

Ele colocou a mão no meu rosto gentilmente. De repente nossos corpos estavam muito próximos.

– Mas, às vezes, - ele continuou – eu consigo ver nos seus olhos uma “pontinha” de tristeza, como se precisasse de alguém para cuidar de você, para te ajudar a aguentar tudo o que acontece a sua volta...

Ele colocou a mão por debaixo dos meus cabelos e me olhava como alguém que estivesse ponderando se aquele era ou não o momento certo para agir.

A única coisa que eu queria era que ele decidisse que aquele era o momento certo.

Ele aproximou seu rosto do meu e disse bem baixinho – Se você deixar, eu vou cuidar de você.

Nossos rostos se aproximaram e então ele me beijou. No começo foi algo suave, sua mão acariciava meus cabelos e ele me segurava pela cintura. Eu coloquei os meus braços a sua volta e o abracei retribuindo o beijo.

Intercalamos alguns beijos suaves com alguns “selinhos” e por um tempo ninguém falou nada. Também, nada precisava ser dito, naquele momento tudo o que eu queria era ficar com ele daquele jeito pelo resto da noite sem pensar em nada.

De repente ele parou de me beijar. Abri os olhos e percebi que ele estava me olhando fixamente e sorrindo. Retribuí o sorriso de volta, eu estava boba de tão feliz. Então, ele colocou as duas mãos na minha cintura e me girou, me colocando entre a beirada da varanda e ele. Seus beijos ficaram mais urgentes e intensos. Ele me segurava como se eu fosse a pessoa mais preciosa do mundo. Eu já não pensava em mais nada. Tudo o que eu queria era continuar sentindo aquele perfume tão bom que ele tinha.

Quando ele parava de beijar meus lábios, ele descia até o meu pescoço ou seguia até a minha nuca me enchendo de beijos por todas as partes. Suas mãos passeavam pelas minhas costas, meu braços... E por várias vezes ele sussurrou no meu ouvido que me achava linda.

Por algum tempo ficamos ali fora, abraçados, trocando alguns beijos. A vista da sacada era maravilhosa, e o vento frio que soprava fazia com que ele me abraçasse ainda mais forte.

– Hey linda, você tá muito gelada – Ele disse segurando as minhas mãos – Acho melhor a gente entrar.

– Pode ser. – Respondi.

Voltamos para o interior do quarto. Tirei os sapatos e sentei perto da cabeceira da cama. Ele deitou e colocou a cabeça no meu colo.

– Você deve estar exausto. Não descansou nem um pouquinho desde que chegou – Enquanto falava eu fazia cafuné em seus cabelos.

– Tô um pouco sim. E ainda tem o show amanhã – ele comentou.

Ouvi meu telefone tocando em algum lugar. Eu tinha me esquecido de avisar o Caio onde eu estava.

– Espera aí só um momentinho, lindo. Com certeza é meu irmão – Me levantei e corri para atender o telefone.

– Fala para ele que eu vou cuidar bem de você – Ele brincou. Atendi o telefone. Era o Caio querendo saber se estava tudo bem.

Depois que desliguei voltei ao encontro do Luan. Ele já estava quase cochilando deitado na cama.

– Hey... Acho melhor eu ir embora. Você está muito cansado – Falei baixinho em seu ouvido.

– Não, fica aqui comigo...

– Melhor não. Você precisa descansar para fazer um ótimo show amanhã. Não quero te atrapalhar. Descansa bastante. Amanhã eu estarei na primeira fila para te assistir.

– Vou cantar só para você – Ele disse já com os olhos fechados.

Dei um último beijo de leve em sua boca e fui para o meu quarto.

Amanhã eu ainda teria um dia inteiro para ficar ao lado dele.






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Notas finais do capítulo

Eu não sei vocês, mas eu estou adorando Nova York.



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