Primavera Mentirosa escrita por fosforosmalone


Capítulo 8
Recolhendo Os Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem a gigantesca demora em postar, mas enfim aqui esta mais um capitulo da Fic. É mais um capitulo de transição para a ultima fase da historia.
Abaixo um rapido resumo dos eventos até aqui, segundo um conselho do Lerdog
ANTERIORMENTE EM PRIMAVERA MENTIROSA
A agente Helena Belli anda ao lado do agente George Stewart, um homem gordinho, de cabelos negros, que usa um paletó.
HELENA
Dez anos atrás, uma serie de homicídios ocorreu nesta universidade. Todas as vitimas eram garotas entre dezoito e vinte cinco anos, mais ou menos. O doente estripava as coitadas, e largava por ai, igual a que vimos hoje. A imprensa o apelidou de Jack Calcanhar De Mola. Ele matou quatro estudantes, e então desapareceu.
Helena e George observam um policial retirar o lençol que oculta o corpo de Tina Becker no chão.
Bruce, Isadora, Nick e Judy conversam na lanchonete.
NICK
Só por que alguém é morto aqui dentro, não quer dizer que o cara tenha voltado.
Jack agarra os cabelos de Kelly e bate seu rosto contra o espelho, jogando-a no chão.
Helena, Sage e Chambers observam a mensagem escrita com o sangue de Kelly na parede que diz Um Abraço Do Jack.
Tony apresenta-se a Helena no restaurante do hotel.
TONY
- Meu nome é Tony Stevenson. Trabalho pra Gazeta De New London. Acho que posso ajudá-la em suai investigação.
Sage e Tony conversam na saída do auditório
SAGE
Lembre-se, que quando encaramos o abismo por muito tempo, ele acaba nos encarando de volta.
Tony encontra a carta ameaçadora de Jack.
Tony e a esposa Valerie discutem.
VALERIE
Você vai acabar se matando, Tony! Mas eu e meu filho não vamos com você!
Bruce e Nick conversam em seu dormitório.
NICK
Qual é, Bruce. Eu vejo o jeito que você e a Isa ficam se provocando. Você tá a fim dela sim, e acho que ela tambem tá a fim de você.
Bruce abraça Isadora, que chora em seus braços.
Ferguson, Helena e Sage observam Nick através do vidro da sala de interrogatório.
FERGUSON
Ele não tem álibi e discutiu com as duas vitimas.
Bruce e Isadora conversam com Megan na beira da piscina da fraternidade
ISADORA
Você estava com o Nick na hora em que a Kelly foi morta?
Megan é interrogada por Helena no auditório
MEGAN
Ele não matou a Kelly. Não poderia. Ele... Ele tava comigo quando aconteceu
Em seu quarto, Nick recebe um telefonema de Jack.
JACK
Então me escute. Tem quinze minutos pra chegar até a Megan e levá-la para um lugar seguro.
Na lanchonete, Jack agarra o braço de Megan e a puxa para perto de si, cravando a faca em seu ombro. Ela grita de dor.
Nick abre a porta do carro de Megan. O corpo da garota cai para fora, e sua cabeça rola pelo chão. O assassino salta do banco de trás do carro, e derruba Nick.
Jack crava sua faca na garganta de Nick.
Sage e Helena conversam no Hotel.
SAGE
- O nome Adelie Parkins lhe diz alguma coisa?
HELENA
A terceira vitima de Jack Calcanhar De Mola em 2001.
SAGE
Mas ela é mais pra você, não é Helena?
HELENA
Minha irmã (completa ela com os olhos raivosos e marejados).
SAGE
Esta nisto por vingança?
HELENA
Só quero fazer o meu trabalho.
Helena recebe uma ligação de Jack.
JACK
- Dê uma olhada perto da lanchonete New Sharon e confira por si mesma. Aproveite, e encare algo que tem lhe atormentado por tantos anos.
HELENA
O que você fez?
JACK
Boa noite, Helena. Nos veremos em breve.



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CENA DO CRIME

Após chegar á área da Lanchonete New Sharon, que já havia sido devidamente isolada, Helena foi imediatamente recebida pelo angustiado Chefe De Segurança. A agente percebe no olhar de Chambers que ele não estava preparado para ver o que viu. Mas após segui-lo pelo nevoeiro para ver o que haviam encontrado, ela descobriu que tambem não estava preparada.

Há grandes manchas de sangue fresco no asfalto do estacionamento. O carro de Megan encontra-se com as portas fechadas, mas percebe-se que as janelas do veiculo tambem estão manchadas de sangue. Ouve-se um bizarro gotejar de um liquido que pinga por debaixo das portas, e o ar esta impregnado com o inconfundível cheiro metálico de plasma.

HELENA

– Deus do céu (Diz ela chocada)

CHAMBERS

– Tem mais uma coisa, Agente Belli. O desgraçado deixou mais uma mensagem.

Chambers acende uma lanterna, e aponta o feixe de luz para o veiculo. Sobre a lataria da porta, foi escrito com sangue: “Eu o batizo Adelie II”. Helena dá um passo pra trás, mas logo tenta esconder o espanto pela menção ao nome da falecida irmã de criação. Antes que ela ou Chambers possam trocar qualquer palavra, uma voz vinda da névoa se manifesta.

SAGE

– Infelizmente é um deja vu. Por que deu o alarme, Helena? (Diz Sage surgindo da neblina).

HELENA

– Eu recebi uma ligação. Tudo indica que do assassino.

Chambers a olha estarrecido. Sage, entretanto não parece esboçar reação.

CHAMBERS

– Sr. Sage, você disse que teve um deja vu. Essa mensagem ai escrita significa alguma coisa pra vocês?

Helena fixa o olhar em Sage. Por um momento, ela teme a resposta do veterano.

SAGE

– Há dez anos, Adelie Parkins foi encontrada esquartejada em seu carro. Referencia óbvia.

Sirenes anunciam a chegada da policia. Logo Ferguson e um grupo de peritos já se encontram diante do carro macabro. Ao olhar para o veiculo, Ferguson exibe uma expressão incrédula no rosto. Tenso, o Chefe De Policia escuta de Helena sobre a ligação que ela recebeu de Jack, embota a agente omita alguns detalhes da conversa em sua historia. Ferguson tambem repreende Chambers por seu esquema de segurança ter falhado. Desajeitadamente, o Chefe De Segurança tenta se explicar, ao dizer que um velho e um rapaz foram encontrados desacordados, mas vivos, e que talvez tenham visto alguma coisa.

Enquanto o grupo conversava, os peritos trabalhavam na cena do crime. Eles cobrem o chão com um tecido protetor, que preserva tanto as possíveis pegadas, como os padrões direcionais de sangue. Tambem instalam geradores de luz em volta do carro, para melhorar a visibilidade.

O líder dos peritos conta que há sangue e sinais de luta dentro da lanchonete. O vestiário mostra um padrão de sangue maior, indicando que foi lá que “o serviço foi terminado’. As testemunhas continuam desacordadas na ambulância, mas segundo os paramédicos vão ficar bem. O estado deles parece resultado de sedação. Terminado o relatório, chegara a hora de o carro ser aberto.

Usando luvas de borracha, um dos peritos abre a porta cuidadosamente. A visão do que se tem lá dentro é abominável. Há uma cabeça humana pendurada no espelho retrovisor, e outra no banco do carona. Há membros humanos sobre o painel do veiculo, e no banco de trás.

O perito que abriu o carro, cobre a boca e sai correndo. Chambers cai de joelhos, vomitando. Ferguson recua vários passos. Helena cobre o rosto com as mãos, tentando conter a angustia e a repulsa que o diabólico espetáculo lhe causa. Frank, entretanto olha para dentro do carro com uma expressão confusa, como um menino que não entende um problema de matemática.

SAGE

– Nick Olsen? Ele matou um garoto?(Diz mais para si mesmo do que para os outros).

Helena, que estava atordoada demais para perceber quem eram as vitimas, força-se a olhar de novo. De fato, a cabeça sob o banco do carona pertencera a Nick. A agente olha para a cabeça pendurada pelos cabelos no espelho retrovisor. Nitidamente uma mulher, com os olhos e boca tapados com uma fita. O perito latino informa que uma bolsa com documentos foi encontrada na lanchonete. Ao que tudo indicava, a garota morta era Megan Hayes. Ao ouvir isso, Sage inclina a cabeça para o chão, como se tentasse lembrar a letra de uma musica, mas sem obter sucesso.

SAGE

– Por que ele quebrou o padrão? Eu preciso pensar. Beber um café vai me ajudar. Me acompanha, Helena?

CARRO DE SAGE

O carro de Sage anda por uma estrada de asfalto, já se afastando do campus. Helena e Frank não falaram nada desde que saíram da cena do crime. Belli é tirada de suas reflexões ao perceber que Sage passou reto por uma cafeteria vinte quatro horas, nas proximidades da universidade.

HELENA

– Você esta indo longe demais. Nós Temos que voltar depois.

SAGE

– Não vamos voltar. Vamos conversar sobre a ligação de Jack, e depois você vai pro hotel.

HELENA

– Quer me interroga? Quem você pensa que é? Me leve de volta (Diz com raiva).

SAGE

– Não.

HELENA

– Então pare o carro. Eu vou descer.

Sage ignora a moça. Ela o olha com pura raiva.

HELENA

– Pare a merda desse carro agora! (Grita ela)

Frank para o carro no acostamento. Sem dizer nada, Helena desce do veículo, e começa a subir a ladeira que haviam acabado de descer. Sage tambem desce do carro.

SAGE

– Jack sabe de Adelie, não é? Por isso a mensagem na cena do crime.

HELENA

– Você mesmo disse. Foi só uma referencia obvia (Diz parando de andar, mas sem se virar).

SAGE

– Não. O crime foi a referencia a morte dela. Mas a mensagem foi uma provocação. Pelo modo intimo como ele usou o nome, “Adelie”, uma provocação há alguém próximo a ela.

Helena vira-se para Sage. Ela quer dizer algo, mas simplesmente não consegue.

SAGE

Eu só quero te ajudar, Helena. Por favor, entre no carro.

QUARTO DE BRUCE

Ferguson bate com força na porta do dormitório. Quando esta prestes a bater outra vez, ouve-se o barulho da chave na fechadura, e Bruce abre a porta. O rapaz esta com os cabelos molhados.

FERGUSON

– Policia de New London, garoto. É melhor nos deixar entrar (Diz mostrando a sua credencial).

Bruce deixa Ferguson e mais um policial entrarem. Enquanto fecha a porta, o rapaz pergunta.

BRUCE

– Tem a ver com o Nick, não é?

FERGUSON

– Na verdade tem sim. Encontramos o corpo do seu colega de quarto há pouco mais de uma hora, aqui dentro do campus. Não foi acidente ou suicídio, mas assassinato.

Bruce olha para Ferguson inicialmente sem esboçar reação, e depois como se o policial tivesse contado uma piada de muito mau gosto.

BRUCE

– Como é que é? Nick foi assassinado?

FERGUSON

– Sim. Eu Peço desculpas por dar a noticia desse jeito, mas vão haver muitos interrogatórios hoje, e não há tempo a perder. Nick não foi o único. Megan Hayes tambem foi morta.

BRUCE

– Espere ai! Desacelera por favor! Megan tambem morreu? (Pergunta ele eufórico e confuso).

FERGUSON

– Sim. Encontramos o corpo dos dois juntos.

BRUCE

– Isso tem algo a ver com Jack Calcanhar De Mola?

FERGUSON

– Talvez.

BRUCE

– Mas... Não, isso não faz sentido. Jack só mata garotas. Por que mataria o Nick?

FERGUSON

– É o que queremos saber, garoto. Por isso viemos aqui. Talvez você saiba de alguma coisa.

Bruce fica em pesaroso silencio. Ferguson repara nos cabelos molhados do jovem.

HOTEL: SAGUÃO DE ENTRADA

Helena e Sage chegam ao saguão do Hotel, depois de ficarem quase o caminho todo em silencio. Ele e Helena sentam-se frente a frente nas poltronas do saguão.

SAGE

– Agora que não tenho que prestar atenção na estrada, sou todo ouvidos, Conte-me tudo.

HELENA

–Tudo bem Vou te contar o que quer saber. Mas tudo fica entre nós dois. Entendeu bem?

Com um aceno de cabeça, ele concorda. Helena então conta tudo sobre a rápida conversa que teve com Jack. Depois de ouvir toda a historia, Frank Sage retira um cigarro da carteira, e o acende.

SAGE

–Então Jack anda nos observando, e por alguma razão, escolheu você para olhar mais de perto. Temos que ter muito cuidado daqui pra frente. Ele claramente desafiou você ao pedir pra manter a universidade aberta.

HELENA

– Não sei se devemos aceitar o desafio. Talvez o melhor mesmo seja fechar New Sharon.

SAGE

– Muita gente não pensa assim. Garanto que antes de sairmos do campus, o Reitor já estava a caminho da cidade. Ele e o Prefeito devem estar tendo uma conversa séria neste momento. E você sabe disso.

Ela sabe que Sage tem razão. O crime desta noite teria implicações políticas. Por isso Ferguson estava tão nervoso. A universidade poderia não resistir á outro homicídio, o que afetaria New London, pois grande parte do lucro da cidade era gerado por New Sharon.

HELENA

– O que eu sei é que manter aquele lugar aberta é arriscar a vida de cada aluno que ficar!

SAGE

– Claro que é. Mas seu trabalho não é salvar inocentes, Helena. Seu trabalho é pegar assassinos. Salvar vidas é conseqüência. Eu queria que fosse o contrario, mas não é.

Sage diz isso a agente como um professor explicando pacientemente a tabuada a sua aluna.

SAGE

– Se o campus fechar, Jack pode até sumir. Mas por quanto tempo?

Sage apaga o cigarro no cinzeiro ao seu lado, e continua a falar.

SAGE

– Ele foi arrogante o bastante pra ligar pra você. O assassino está se sentindo confiante, o que o coloca a um passo de cometer um erro. Mas pra aproveitarmos isso, o campus não pode parar. Quando não há pistas, é o único jeito, Helena. Correr esse risco é o preço a pagar pra tirar Jack de circulação.

HELENA

– O numero de vitimas em potencial aumentou! Esqueceu que ele matou um garoto?!

SAGE

–Claro que não. Essa quebra de padrão me deixou bastante confuso. Na verdade, essa pergunta esta martelando na minha cabeça desde que nós saímos da cena do crime. Por que Jack matou Nick? Pra nos despistar, talvez. Mas não creio que seja isso. Minha teoria é a seguinte. E se Nick foi assassinado para que ficasse provado que ele não tinha nada a ver com o método de Jack? Já ouviu a expressão “entrar de carona”? Acho que foi assim que Nick se envolveu em tudo isso. Por acaso. O que faz dele um caso isolado.

HELENA

– De onde você tirou essa idéia?(Diz mal conseguindo acreditar no que escuta).

SAGE

– A cabeça dele. Jack podia tê-la posto em qualquer lugar, mas a pôs no banco do carona. E se o assassino estava tentando nos dizer alguma coisa?

HELENA

– Frank, tinha partes dele pelo carro todo (Diz cansada).

SAGE

– Verdade, mas a cabeça não é qualquer membro, certo? Geralmente é simbólico, especialmente em casos de desmembramento. Mas talvez seja só uma idéia tola mesmo.

A idéia enervava Helena. Um jovem com a vida toda pela frente, morto para dar um recado?

HELENA

– Frank, eu vou seguir o seu conselho. Vou descansar. Amanhã vai ser um longo dia. Poderia ir embora?

QUARTO DE HELENA

Helena entra em seu quarto, sentindo que o peso do mundo esta sobre seus ombros. No momento em que tira o sobretudo, seu celular começa a tocar. Por um instante, ela sente o pavor a invadir, mas ela afasta a emoção energicamente, e pega o celular.

HELENA

– Agente Helena Belli falando.

Uma voz feminina responde.

TELEFONISTA

– Agente Belli, é do setor de comunicações da central de policia de New London. Perdoe a demora em responder ao seu pedido. Mas estamos sobrecarregados e...

HELENA

– Tudo bem. Descobriu a quem pertence o numero que lhe enviei?

TELEFONISTA

– Descobrimos sim. O numero que nos enviou do seu celular está registrado no nome de Megan Hayes.

Helena fica muda. O desgraçado fez a coisa mais simples do mundo. Usou o celular de Megan para o seu jogo. Ele já havia roubado a vida dela. Roubar o celular não foi difícil.

Após se despedir da telefonista, Belli sentiu uma onda de ódio crescer dentro dela. Helena lembra-se do dia em que conheceu Megan no interrogatório. A pobre garota estava nervosa e se sentindo humilhada, mas mesmo assim estava linda. E agora...

Helena senta-se na cama, enquanto memórias mais antigas a assaltam. Ela era uma adolescente, e via Adelie, a garota que cresceu com ela, feliz como nunca. O motivo de toda essa felicidade se devia a vaga que ela havia conseguido em New Sharon. A morena lembra-se de ver a irmã de criação dando adeus a ela no carro que pouco mais de um ano depois, se tornaria seu tumulo.

Em um gesto irracional, ela dá um soco na parede. Após se recriminar, Helena percebe o que esta acontecendo. Ela esta perdendo o controle. Jack quis desestabilizá-la, e conseguiu. A agente sabe que tem que recuperar o controle. Do contrario, será inútil para o caso.

QUARTO DE ISADORA

A chuva que sucede o nevoeiro veio mais forte do que nunca, acompanhada de estridentes raios e trovões. Praticamente todos estavam acordados, pois o som das sirenes policiais havia anunciado mais um crime dentro da universidade. Um grupo de seguranças logo chegou ao prédio, postando-se diante da entrada, para evitar que algum aluno curioso saísse.Isadora esta em sua cama, com o notebook aberto. Como muitos outros alunos, Isa procura noticias na internet sobre um crime no campus, mas até agora não havia encontrado nada

Ao acordar com as sirenes, Isadora imediatamente pensou em Judy. Ligou para a amiga, que felizmente estava bem. Logo Isa ouviu alunos descendo para o hall de entrada do prédio. O horário de silencio não seria respeitado àquela noite. Dormir não era uma opção.

Mais tarde, quando a chuva começou, a jovem se lembrou da visita de Bruce para consolá-la. Logo não pensava só naquela noite, mas no próprio rapaz. Nas ultimas semanas, Isadora surprendeu-se mais de uma vez ao pensar em Bruce não como o amigo divertido e inteligente com o qual gostava de conversar, mas como um cara que a fazia se sentir segura, e que simplesmente gostava de ter por perto. Por outro lado, havia algo no rapaz que lhe causava arrepios desde que os assassinatos começaram. Bruce sempre teve certo gosto pelo mórbido, assim como ela própria. Mas Isa sentia que Bruce estava lidando com as mortes de forma quase mecânica, apesar do pesar que demonstrava. Com Tina era compreensível, pois era uma desconhecida, mas Kelly era amiga dele. Essa frieza do rapaz á assustava um pouco.

Os pensamentos dela são interrompidos por uma batida na porta. Ela abre a porta, mas não a corrente, o que permite que ela veja seu visitante somente por uma fresta. Mesmo ensopado, e coberto com uma capa de chuva escura, Isadora reconheceu a figura do Chefe Ferguson.

FERGUSON

Boa noite, Srta. Thompson. Desculpe vir aqui há essa hora. Será que nós podemos conversar?

ISADORA

– Tudo bem. O senhor pode me dar um minuto pra que eu possa botar uma roupa descente?

FERGUSON

– Tudo bem. Mas por favor, seja rápida.

Isa fecha a porta, e após trocar rapidamente o pijama por roupas comuns, permite que Ferguson entre no quarto.

ISADORA

– Se importa se eu deixar a porta aberta?

FERGUSON

– Sem problemas. Deixei homens no corredor. Ninguém vai ouvir nossa conversa. O que tenho a dizer é chocante, mas estou sem tempo, Srta. Thompson. Posso ser direto?

ISADORA

– Por favor.

FERGUSON

– Como pode imaginar houve outro assassinato no campus esta noite. Dessa vez um homicídio duplo. As vitimas foram Megan Hayes e Nick Olsen. Você os conhecia, não é verdade?

ISADORA

– Eu... Eu conhecia. O senhor tem certeza que eles...? (Pergunta ela chocada);

FERGUSON

– Absoluta.

Isadora apóia-se na mesa, sentindo uma leve tontura. Ferguson cortesmente puxa uma cadeira para a garota, que aceita a gentileza, sentando-se na cadeira. Ferguson aguarda em silencio que ela se recupere da chocante noticia.

ISADORA

– Meu deus! O Nick errou muito, mas não merecia isso. E a Megan... Eu a vi hoje de manhã e agora...

FERGUSON

– Justamente sobre isso que vim falar. Conversei há pouco com o chefe de Megan. Ele estava em choque, mas disse que uma garota chamada Isadora procurou Megan de manhã. Pela descrição, e seu envolvimento com o depoimento dela semanas atrás, eu cheguei à conclusão que era você. Estou certo?

ISADORA

– Era eu mesma. Eu fui vê-la pra pedir desculpas sobre umas coisas que eu disse há um tempo.

FERGUSON

– Ela aceitou suas desculpas?

Isa confirma com a cabeça.

FERGUSON

– Isso é bom. Ela parecia com medo? Falou sobre estar sendo ameaçada ou algo assim?

ISADORA

– Não. Eu não posso falar muito sobre como ela estava. Eu não a conhecia muito bem.

FERGUSON

– Mas conhecia Nick Olsen. Todas as garotas mortas tinham algum tipo de ligação com ele, e agora o próprio Nick foi assassinado? Sabe de alguém em particular que o odiasse?

ISADORA

– Não. Ninguém em particular. Ainda mais a ponto de cometer assassinatos em série.

FERGUSON

– E o colega de quarto dele? Bruce Graham?

ISADORA

– O que ele tem a ver com isso? (Pergunta com um mal disfarçado tom de preocupação na voz)

FERGUSON

– Como eu já disse, os dois são colegas de quarto. Sabe se Graham teria algo contra Nick?

ISADORA

– Ele ajudou a inocentá-lo. Eu diria que é obvio que ele não tem nada contra o Nick (Diz olhando o policial com frieza).

FERGUSON

– Claro. Foi só uma pergunta de rotina.

ISADORA

– Perguntas de rotina não são feitas a esta hora da madrugada. (Diz ela olhando o policial com um misto de raiva e preocupação).

QUARTO DE TONY

O Jornalista esta jogado na cama, quando seu celular começa a tocar. Ele estica o braço, e após alcançar o aparelho, aperta o botão de rejeitar ligação, e atira o celular em cima da cama. Segundos depois, o celular volta a tocar. Tony abre os olhes, e estica o braço novamente, desta vez atendendo a ligação. Ouve-se uma voz ansiosa do outro lado da linha

JONAN

– Stevenson? Noticia quente! Preciso que vá para New Sharon agora!

Tony reconhece a voz do seu editor, Jonan White. Ele olha para o relógio digital ao lado da sua cama

TONY

– São seis horas da manhã, Jonan. O que é que foi?

JONAN

– Houve outra morte em New Sharon.

Aflição surge imediatamente no rosto do jornalista.

TONY

– Como assim outra morte? O que foi que aconteceu lá?

JONAN

– Não sei direito. Ficamos sabendo dessas mortes pelas redes sociais através dos alunos. E é justamente por sabermos pouca coisa que quero você lá imediatamente.

TONY

– Claro, já estou indo pra lá (Diz ainda um pouco tonto pela noticia e pelo sono).

JONAN

– Quero um informe completo em duas horas (Finaliza o editor desligando o telefone).

Tony senta-se na cama, sentindo o corpo doido. Então Jack cumpriu a promessa. Havia feito um novo “numero”. A espinha do jornalista gela ao penar que Jack possa cumprir suas outras promessas.

DELEGACIA CENTRAL DE NEW LONDON

Helena esta sentada na sala de conferencias. Ao lado dela estão Sage e o Agente George Stewart, enviado da capital. Helena ficou feliz em rever o colega, mas eles mal puderam conversar em particular, pois logo foram chamados para a reunião. Sentados em volta da mesa de conferencia ainda estavam Ferguson, o Reitor Winkler, e um homem negro de óculos, que a Agente logo descobriu ser o Prefeito. A tensão na sala era grande. Com uma pequena tosse, o Prefeito chama a atenção para si, e dá inicio a reunião, perguntando ao Chefe de Policia se havia sido encontrada alguma pista do assassino. Ferguson fala visivelmente nervoso.

FERGUSON

– Infelizmente ainda não temos pistas. Sabemos que antes de matar Megan Hayes, o assassino sedou os colegas de trabalho dela injetando neles um tranqüilizante de fabricação caseira. A análise do padrão dos espirros de sangue mostra que o assassino matou Megan com a arma usada nos crimes anteriores, e só depois que ela já estava morta ele a decapitou, usando um cutelo da lanchonete. Achamos o cutelo nas proximidades. Acreditamos que o corpo de Nick Olsen tenha sido esquartejado da mesma forma. Tem mais uma coisa. Quando tiramos a fita que cobria o rosto de Megan Hayes, descobrimos que os olhos foram... Arrancados. Ainda não encontramos sinais deles.

Todos fazem um breve silencio, antes de Ferguson continuar.

FERGUSON

Não sabemos o que Nick fazia lá, mas achamos seu celular junto ao corpo. Ele recebeu uma chamada restrita pouco minutos antes de morrer. Já entramos em contato com a operadora para identificar o numero. Tambem achamos o celular de Megan há pouco mais de um quilometro da cena do crime. O numero da Agente Belli estava na agenda. Talvez ela possa nos dizer o que seu numero fazia lá.

HELENA

– Eu dei meu cartão a ela. Provavelmente ela deve ter guardado meu numero na agenda.

Todos ficam em silencio após a resposta firme da agente. Mas logo, o Prefeito retoma a palavra.

PREFEITO

– Percebi que não podemos lidar com a situação sozinhos. Falei com o Governador, e concordamos que o caso deve ser entregue ao FBI. Mas seu departamento não será excluído, Chefe Ferguson. Na verdade, terá um papel importante. Conversei longamente com o Reitor Winkler aqui presente e... Bem, é melhor ele mesmo falar sobre isso.

REITOR

– Bom, como New Sharon tem uma ótima relação com a cidade, achei que seria bom pedir a opinião do Senhor Prefeito. Eu já me reuni com o conselho universitário, e depois de pensarmos bastante, decidimos manter New Sharon aberta.

Todos ficam em silencio, absorvendo o reitor, que afrouxa a gravata antes de retomar a palavra.

REITOR

– Foi uma decisão difícil, mas concluímos que não podemos ser manipulados por um louco. Sabemos que muitos estudantes vão partir, mas vamos garantir a segurança dos que ficarem. O Chefe de segurança do campus foi demitido por sua inépcia. É ai que o senhor e o seu departamento entram, Chefe Ferguson. A Universidade contratou o maximo de seguranças possíveis, mas temo que possa não ser o suficiente. Por isso, o Prefeito sugeriu que alguns de seus homens patrulhassem o campus, e que o senhor mesmo monte o novo esquema de segurança. Isso só até contratarmos um novo Chefe De Segurança.

A expressão no rosto de Ferguson é insondável. Ele inclina a cabeça em concordância.

FERGUSON

Como sempre, meu departamento ficara feliz em ajudar, Senhor Reitor.

PREFEITO

– Ótimo. O agente Stevenson aqui presente esta representando o escritório do FBI de Connecticut. Ele dirá como as coisas funcionarão daqui pra frente.

Todas as atenções voltam-se para George.

GEORGE

– A sede de operações continuara sendo aqui, na Delegacia Central. Alem de mim e da Agente Belli, mais três agentes devem chegar em breve. Vamos usar nossa própria equipe de perícia tambem. Eu liderarei as investigações, e a Agente Belli será a segunda em comando. E se o Sr. Sage ainda quiser continuar nos prestando consultoria, é bem vindo.

RETOR

– Apesar da decisão que tomamos no conselho, Agente Stewart, gostaria de saber a sua opinião e a da Agente Belli sobre manter New Sharon aberta ou não.

GEORGE

– Acho que a decisão de vocês foi acertada. Aqueles que quiserem partir, são livres para ir. Acho bom a universidade continuar o seu trabalho. Enquanto isso, faremos o nosso.

A atenção do Reitor volta-se para Helena. A morena troca um rápido olhar com Sage antes de responder em tom sério.

HELENA

– Acho que esta tomando a decisão correta, Senhor Reitor.

UNIVERSIDADE NEW SHARON: VIDEOTECA

Bruce anda entre os corredores formados pelas prateleiras da videoteca da universidade. Ele parece olhar atentamente para os DVD’S expostos na prateleira. É quando ele percebe que alguém o observa no fim do corredor. Trata-se de Isadora.

ISADORA

– Sabia que ia te encontrar aqui.

BRUCE

– Sou tão previsível assim? (Diz voltando a atenção para os DVD’S)

I8ADORA

– Bruce. Olha pra mim (pede ela se aproximando).

Bruce vira o rosto para ela. O rapaz parece levemente abatido.

ISADORA

– Como você esta?

BRUCE

– Tendo em vista a situação, até que eu tô bem. Melhor que a família do Nick pelo menos.

ISADORA

– Eles estão em New Sharon?!

BRUCE

– Estão. Os tios passaram lá no dormitório pra recolher as coisas dele. Vi a mãe de relance pela janela. Pelo jeito ela ia falar com o Reitor. A mulher tava acabada. Eu não fazia parte daquele momento, então resolvi vir pra cá.

ISADORA

– Pra alugar um filme?

BRUCE

– Geralmente faz eu me sentir bem (Diz voltando sua atenção para a prateleira).

ISADORA

– Não quer conversar um pouco?

O rapaz puxa um DVD da prateleira. Trata-se de “O Médico E O Monstro”.

BRUCE

– Já viu essa versão de 31? É muito boa.

ISADORA

– Você ouviu o que eu disse?

O rapaz abaixa a cabeça com um suspiro.

BRUCE

– Isa, eu não sou a melhor companhia no momento (Diz em tom de advertência).

ISADORA

– Não tô nem ai (Diz ela olhando para o rapaz com firmeza).

Bruce dá um meio sorriso.

BRUCE

– Ok. Vamos conversar.

DELEGÁCIA CENTRAL DE NEW LONDON: SALA DE CONFERENCIAS

Somente Helena e George encontram-se agora na Sala. Helena permanece sentada, enquanto George esta de pé, observando pelo vidro o Prefeito e os outros se afastarem. George vira-se para a antiga parceira.

GEORGE

– Helena. Pedi pra falar com você a sós, por que eu preciso ser sincero. Eu andei lendo e pesquisando sobre os primeiros homicídios dez anos atrás, e tambem sobre as vítimas. Pesquisei a fundo todas elas, e uma me chamou a atenção em especial.

Os dois se encaram em silencio. Helena não demonstra nenhum tipo de medo ou receio. Mas tem a certeza de uma coisa, George sabia de sua conexão com o caso Jack Calcanhar De Mola.

GEORGE

– Por que não me contou sobre Adelie?

HELENA

– É obvio, não? Pra não ser desligada do caso. Eu Sei o que parece. Mas não estou atrás de vingança. Eu só quero fazer o meu trabalho.

George senta-se, dando um suspiro.

GEORGE

– E agora Helena? O que eu faço? Achei melhor não contar pra ninguém antes de nos falarmos, mas...

HELENA

– Já disse que não lido com isso como se fosse pessoal!

GEORGE

– Mas você esta pessoalmente envolvida, Helena! Talvez seja melhor pra você sair do caso voluntariamente.

HELENA

– George, por favor! Você sabe que sou a pessoa mais apta para este trabalho! Por isso me mandaram pra começo de conversa. Minha relação com Adelie Parkins não vai me atrapalhar. Eu sei que posso fazer isso, George. Você sabe que eu posso.

George olha em duvida para Helena.

GEORGE

– Helena, assim como eu descobri, alguém da agencia tambem pode.

HELENA

– Eu sei disso. Sage descobriu tambem?

GEORGE

– Como? (pergunta ele surpreso).

HELENA

– O que você ouviu. Achei que ele fosse me entregar, mas não o fez. Acho que confia em mim. Então peço que você confie em mim tambem, George. Se alguém descobrir minha ligação com Adelie antes do fim do caso, eu digo que você não sabia de nada. E se descobrirem depois que tivermos terminado, ai já não vai fazer mais diferença.

George observa a amiga com um misto de duvida e preocupação.

GEORGE

–Muito bem, Helena. Mas espero que saiba com o que esta jogando.

LADO DE FORA DA VIDEOTECA

Bruce e Isadora atravessam o corredor coberto que fica em frente à videoteca. O local está completamente deserto. O ar parece pesado, sensação que é aumentada pelo céu cinzento. Os dois sentam-se em um dos bancos de pedra que ladeiam o corredor.

BRUCE

– Você deve estar me achando uma aberração, né? (Diz com um sorriso sem alegria).

ISADORA

– Por que acha isso?

Bruce levanta o DVD que tem na mão.

BRUCE

– Meu colega de quarto é assassinado, e eu saio pra pegar um filme na manhã seguinte.

Isa se surpreende, pois o pensamento que tivera acabara de ser verbalizado pelo rapaz.

ISADORA

– Bem, Cada um lida com essas tragédias de um jeito diferente (Diz constrangida).

BRUCE

– Bom, você estuda psicologia, deve saber o que está dizendo. Sabe, quando eu soube o que aconteceu com o Nick, eu fiquei triste mesmo. Ele era meu amigo, afinal de contas. Mas é estranho. Eu sinto que deveria estar me sentindo pior do que eu tô agora, entende? Por que a verdade é que eu não tô arrasado, e... Acho que to me sentindo um pouco culpado por isso.

ISADORA

– Por que tá me contando tudo isso?(Pergunta ela confusa)

BRUCE

– Você disse que queria conversar (Responde ele com simplicidade).

ISADORA

–Queria. Quero dizer... Eu quero. Mas você me pegou de surpresa. Você não costuma ser tão... Sincero.

Bruce dá uma risada contida.

BRUCE

– Eu sei. Nunca fui a pessoa mais aberta do mundo, e cá entre nós, nem você. Mas com tudo o que vem acontecendo, eu achei que seria bom se fossemos sinceros um com o outro.

Isa sorri para ele.

ISADORA

– Obrigado pela sinceridade. Eu sei como é sentir culpa por alguma coisa. Quero dizer, eu mesma tô me sentindo um pouco culpada. Eu fui tão dura com o Nick e com a Megan. Eu sei que eles erraram feio, mas acho que não fiz nenhum esforço pra perdoar. Se é que eu tinha que perdoar alguma coisa. Afinal, eles não me fizeram nada.

BRUCE

– Você era amiga da Kelly. Era natural ficar brava com eles.

ISADORA

– Eu sei. E acho que essa culpa que estou sentindo nem é real. Assim como a sua. Somos pessoas lógicas, certo? Se pensar um pouco vai ver que não temos razões pra nos sentirmos culpados.

Bruce a olha com admiração.

ISADORA

– O que foi? Não tem nenhum comentário irônico pra fazer sobre o meu curso? Não vai me chamar de psicóloga amadora ou coisa parecida?

BRUCE

– Não. Na verdade, você falou uma coisa bem inteligente. Como de costume.

Os dois se olham em silencio por um tempo. Isadora parece desconcertada.

ISADORA

– Obrigado.

Ela percebe certo nervosismo no rapaz.

BRUCE

– De nada. Sabe, com tudo o que aconteceu com o Nick, quer dizer... Se ele tivesse sido mais sincero, talvez os últimos dias dele tivessem sido mais felizes.

ISADORA

– Desculpe, eu não to entendendo (Diz confusa).

BRUCE

– Tudo bem. Eu vou tentar ser direto. Tem umas coisas que eu tô querendo te falar. Já faz um tempo que... Bem, eu acho você uma garota muito bacana. Você é linda e inteligente, e eu tenho sentido que... Ah droga, chega de enrolar! Eu acho que eu te amo!

Os dois se olham em silencio. A garota parece não saber o que dizer.

ISADORA

– Bruce. Eu...

BRUCE

– Quer saber? Não precisa responder nada. Esquece o que eu disse. Eu to viajando. Só espero que isso não estrague a nossa...

Antes que Bruce possa completar a frase, Isadora inclina-se em direção a ele, agarra seu pescoço, e lhe dá um beijo na boca. O rapaz solta o DVD que tem na mão, deixando-o cair no chão. Isa afasta seu rosto do de Bruce. Ambos parecem surpresos e envergonhados.

ISADORA

– Só assim pra você ficar quieto (Diz ajeitando os óculos no rosto).

BRUCE

– Eu fiquei confuso agora. Esse beijo... Quer dizer que você sente a mesma coisa que eu?

ISADORA

– Eu acho que sim (Diz com um sorriso).

Dessa vez é Bruce que a surpreende com um beijo. Os dois ficam bons segundos ali, unidos naquele beijo. Quando enfim se separam, ambos estão ofegantes, ainda tentando se acostumar com a nova situação.

ISADORA

– Acho que precisamos conversar sobre isso, não é?

BRUCE

– Conversamos logo mais, ok? (Diz gentilmente)

Os dois sorriem, e se aproximam, trocando um novo beijo.

PÁTIO PRINCIPAL DE NEW SHARON

Mais uma vez, vários repórteres e jornalistas escutavam as explicações do Reitor Winkler sobre os crimes de Jack Calcanhar De Mola. As respostas do Reitor eram bastante evasivas, e ele claramente estava mais interessado em declarar do que em responder perguntas.

As conseqüências do duplo assassinato da noite anterior já haviam começado a aparecer. Logo após o meio dia, a notícia já estava em todos os jornais e telejornais. A secretária da universidade recebeu um numero enorme de pedidos de transferência. As projeções indicavam que a universidade perderia cerca de 45 por cento de seus alunos nos próximos três dias. Na opinião do Reitor Winkler, era uma projeção bastante otimista.

Mas este não foi o único problema enfrentado pela coordenação de New Sharon. O anuncio de que policiais de New London não nem um pouco bem recebido pelos alunos presentes. Os estudantes começaram a gritar contra a iniciativa, alegando que a policia era uma força do estado, e que não deveria interferir desta forma no dia a dia da universidade. A inesperada manifestação encerrou a coletiva do Reitor, que foi retirado às pressas do local sobre os gritos de “Incompetente” dos estudantes.

Helena observou tudo de longe, de um corredor suspenso. A agente não fez questão de assistir as declarações de perto desta vez. Sabia exatamente o que o Reitor diria, e inclusive previu a reação acalorada dos estudantes. A agente vê um grupo de jornalistas abandonando o local da coletiva, entre eles, Tony Stevenson. Helena tira o celular do bolso, e faz uma ligação.

Tony anda ao lado de seus colegas. Ele sente-se muito cansado. Mal conseguiu se concentrar nas palavras do Reitor. O jornalista sabe que sua família esta protegida pelos homens de Sage, mas lembra-se que New Sharon tambem estava protegida por vários seguranças, o que não impediu Jack Calcanhar De Mola de matar dois alunos. Rumores diziam que os corpos haviam sido esquartejados, embora o Reitor e nem ninguém tivesse dado qualquer confirmação a esse respeito. O celular de Tony começa a tocar, interrompendo suas suposições mentais.

TONY

– Alo?

Tony ouve a voz de Helena do outro lado da linha, calma e firme.

HELENA

– Não diga meu nome. Não diga nada. Só escute. Eu quero que saia do pátio principal e vá até a zona seis B. Você vai encontrar um banheiro masculino interditado. Certifique-se que não há ninguém por perto e entre nele. Só me responde se entendeu ou não.

TONY

– Sim, entendi (Diz confuso).

HELENA

– Ótimo. Agora diga adeus pra qualquer pessoa. Cuidado pra não ser seguido. Até.

Tony ouve o som da linha desligada. Ele despede-se de uma tia imaginaria, e guarda o celular.

ZONA SEIS

Tony sobe as escadas de um corredor coberto na Zona seis B. Depois de passar por dois banheiros masculinos, enfim encontra um banheiro com uma placa pendurada na porta que diz “Interditado para limpeza”. O jornalista olha para os dois lados do corredor. Não há viva alma no local. Ele coloca a mão na maçaneta e abre a porta, entrando no banheiro.

Ao entrar no local, Tony rapidamente o esquadrinha com os olhos. É um banheiro com três cabines com privadas, e mais uma quarta cabine adaptada para deficientes físicos. Há uma pia com duas torneiras, e um mictório. O local está bastante escuro, devido a pouca luminosidade que entra na janela, graças ao céu nublado. O jornalista aperta o interruptor ao lado da porta, mas as luzes não se acendem.

TONY

– Helena? Você esta ai?

HELENA

– Pode falar mais baixo.

O jornalista olha em volta, mas não vê sinal da agente, Tony anda em frente as cabines. As portas das quatro cabines estão abertas, mas Helena não está dentro de nenhuma delas.

TONY

– Eu não tô te vendo. Cadê você?

HELENA

– É só pensar um pouco (Diz com certa irritação).

Tony olha para a parede e então para a janela. Helena estava do outro lado, e sua voz entrava pela janela. O jornalista encosta-se na parede para poder ouvir melhor a voz da agente.

TONY

– E então?

Do lado de fora, Helena esta encostada na parede, segurando o celular do lado do ouvido. Em cima dela, esta a janela do banheiro. Mas quem passasse e olhasse para a morena encostada na parede teria a certeza que ela estava falando ao telefone.

HELENA

– Temos problemas. O seu carteiro me ligou.

Tony leva alguns segundos para entender a quem Helena se refere.

TONY

– O que?! Como assim? (Pergunta ele controlando-se para não falar alto).

HELENA

– É exatamente isso. Não preciso dizer que você não deve contar isso a ninguém. Mas enfim, é bom que você saiba que o carteiro sabe que continuamos a nos corresponder.

Tony sente o coração gelar ao ouvir as palavras de Helena.

TONY

– Como ele pode saber? E por que ele ligou pra você?

HELENA

– Eu ainda não sei. Mas fique tranqüilo. Continuamos cuidando de seus “pertences”. Tudo que eu posso dizer agora é que tome muito cuidado.

TONY

– Vou tomar (Diz ainda desconcertado).

HELENA

– Eu sinto muito por você ter se envolvido nisso (diz com uma ponta de remorso).

TONY

– Helena, não...

HELENA

– Espere um tempo antes de sair. Até.

Helena guarda o celular no bolso, olha cuidadosamente na parede, e sai andando.

MAIS TARDE: CARRO DE TONY

Enquanto entra em seu carro, Tony pensa nos eventos recentes. Jack parecia estar mantendo Helena e ele sob vigilância constante. O jornalista sente-se culpado por colocar sua família em risco. Sua obsessão em descobrir a verdade sobre Jack o cegou para o que realmente importava, a segurança daqueles que amava. Ele nunca se perdoaria se acontecesse algo com seu filho.

Seu casamento com Valerie tambem estava acabado, isso era fato. Mas Tony sabia que o incidente com a carta de Jack foi apenas a gota d’agua no copo transbordante. A verdade é que nos últimos meses, ele e Valerie haviam se tornado muito distantes.

O jornalista pensa no telefonema que o assassino deu a Helena, e de repente percebe estar bastante preocupado com a Agente Federal. Ele a conhecia há pouco mais de um mês, mas já a considerava uma mulher admirável e inteligente, alem de ser muito atraente.

Tony imediatamente varre estes pensamentos de sua cabeça. Era ridículo pensar em Helena desse jeito na atual situação, pensou ele. Não só ridículo, mas egoísta. Alem do mais, Ela não olhava pra ele de outro jeito que não uma fonte de informação.

O jornalista é obrigado a frear bruscamente ao veiculo, ao perceber a enorme fila de carros a sua frente, formando um pequeno engarrafamento diante da saída do campus de New Sharon. Eram os vários alunos que partiam do campus quase ao mesmo tempo. Tony olhava para a cena com um misto de fascínio e horror. As conseqüências dos atos de Jack tomavam forma diante de seus olhos. E uma incomoda sensação lhe dizia que as coisas ainda iriam piorar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo.