Primavera Mentirosa escrita por fosforosmalone


Capítulo 11
Bruma Escarlate


Notas iniciais do capítulo

Eis o penultimo capítulo. Espero que gostem.



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ANTERIORMENTE EM PRIMAVERA MENTIROSA

Tony ilumina Jack mascarado com a lanterna

JACK

– Que bom vê-lo, Tony. Enfim nos encontramos cara a cara.

Jack retira a mascara, revelando ter o rosto de Tony.

JACK

– Eu e você matamos aquelas garotas.

Tony corta a garganta de Gale Cerman

Jack apunhala Tina diversas vezes.

O assassino arrasta Megan pelos cabelos.

Jack fala com Tony.

JACK

–  Se existe alguém que quer acabar conosco, esse alguém é Helena.

Helena e Sage conversam no apartamento de Sage.

HELENA

– Eu entendi a relação entre as vitimas, Frank. Ele as escolhe pelos cursos.

SAGE

– É melhor que isso fique entre nós. Se ele perceber que estamos perto demais, vamos perdê-lo.

HELENA

Aquela universidade é uma panela de pressão prestes a explodir!

O prédio de direito esta cercado pela polícia. Alunos com os corpos para fora da janela vaiam.

HELENA

– Chega! Você e eu seguramos isso sozinhos por tempo o bastante. Agora nós vamos pedir ajuda

Helena pega o celular.

SAGE

– Tem noção dos riscos que está assumindo ao fazer isso?

HELENA

– Eu confiei em você. Pode confiar em mim agora, Frank?

Isadora vê os arquivos de Bruce sobre Jack Calcanhar De Mola.

ISADORA

– Por que tinha aquelas coisas no seu Pen Drive? Estava bancando o detetive, não estava?

BRUCE

–  Quando eu vi você naquele estado, na noite em que Kelly morreu,  eu resolvi que ia fazer de tudo pra tentar descobrir o filho da mãe que fez isso com ela.

Helena e Sage conversam

SAGE

– se ele estiver seguindo uma ordem cronológica, vai escolher um dos cursos do primeiro semestre daquele ano. Isso nos deixa com duas opções.

HELENA

– Quais são os dois cursos ?

SAGE

– Direito e psicologia

Bruce e Isadora conversam,

BRUCE

– Isa! Pensei que não estudasse mais aqui (diz zombeteiro).

ISADORA

– Agora faço psicologia pra tentar entender meus amigos patetas.

Isadora e Kelly conversam em um banco de praça na beira da lagoa.

ISADORA

– Bem, você sempre gostou de pegar uma câmera caseira e ir filmar coisinhas banais quando estava deprimida. E amiga, não consigo pensar em nada mais banal que patinhos na lagoa

Lew, um funcionario da universidade, entrega a câmera de vidêo de Kelly para Isadora.

LEW

– A gente queria saber se você não poderia entregar isso pra família.

ISADORA

– Claro. Eu posso fazer isso.

Ouve-se a voz de Helena

HELENA

– Não estamos lidando com um assassino aleatório. Jack é metódico. Ele escolhe a vitima, e a estuda.  Esse louco observa as vítimas, os locais que
frequentam, assim como o nível de segurança e movimento desses locais.

Isadora segura a câmera de Kelly, enquanto Judy a observa.

ISADORA

– A câmera estava quase sempre com ela...

ISADORA

– Judy, Eu tenho que fazer uma coisa. É só bater a porta quando sair, ok?

JUDY

– Tudo bem. Mas o que você...

Isadora sai deixando a porta aberta.

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PEQUENO QUIOSQUE

Os raios do por do sol brilham sobre New Sharon. George Stewart se encontra diante de um velho quiosque em um dos pequenos bosques da universidade. O local é utilizado para festas e eventos diurnos menores. Mas atualmente, seria o ultimo lugar que um aluno ou funcionário escolheria para realizar um evento. O quiosque é cercado por densa vegetação, e fica relativamente longe de outras instalações da universidade.

George olha ao redor, e percebe que a névoa se espalhou pelo ambiente, conforme o previsto. Ao ouvir o som de folhas secas sendo esmagadas, o agente vira-se, e vê Helena acompanhada de Frank Sage, sair de entre as arvores para o terreno do quiosque.

GEORGE

- É bom ter uma boa razão pra marcar esta reunião, Helena. Ás escondidas, e a beira do período de ação do assassino (Diz com severidade)

A morena parece escolher as palavras enquanto fala.

HELENA

- Frank e eu temos algo para lhe contar. Mas é importante que ouça tudo antes de nos julgar, e que tente entender porque fizemos o que fizemos.

GEORGE

- Prossiga (Diz encarando a dupla com desconfiança).

Helena então começou a contar a história para o velho parceiro. Desde o momento em que ela percebeu que a diferença entre as vítimas era a chave para desvendar o padrão do assassino até o esquema bolado por Sage para proteger as vítimas em potencial. Quando a morena terminou de falar, foi com contida irritação que Stewart se dirigiu à dupla.

GEORGE

- O que vocês dois estavam pensando? Como podem não ter compartilhado essa informação com o resto de nós?!

HELENA

- Não diga que essas informações não iam vazar! Fizemos o que achamos certo!

A resposta parece deixar George ainda mais irritado. Ele respira fundo antes de continuar.

GEORGE

- Isso foi ideia dele, não foi? (Diz apontando para Frank).

HELENA

- Não importa de quem foi á ideia. O tempo esta correndo, e temos que saber se você vai fazer ou não o que estamos pedindo, George! (Diz em tom de urgência).

George olha de Helena para Sage, tentando botar em ordem ás informações que aqueles dois haviam despejado.

GEORGE

- sabem o que estão pedindo? Querem que eu posicione os meus agentes, mais os policiais a minha disposição, nas coordenadas que vocês estão dando, sem dar explicações?!

SAGE

- Quanto menos gente souber, melhor. Essas informações podem aliviar a pressão com os estudantes, mas também podem espantar o assassino. Precisamos manter isso em segredo. Você tem o poder de distribuir o pessoal necessário pelas três regiões frequentadas pelas vítimas em potencial sem levantar grandes suspeitas.

GEORGE

- Não sou o único com esse poder. Ferguson ou mesmo o reitor...

HELENA

- Você é o único em quem eu confio para fazer isso, George.

George olha para Helena. Os dois passaram por muita coisa juntos. Apesar de ser mais experiente que a morena, ele havia aprendido tanto com ela quanto o contrario. Belli já o havia tirado de situações bem complicadas, inclusive salvando a sua vida. Certa vez em New Haven, quando a investigação de uma série de homicídios acabou os levando a bater de frente com um cartel de drogas interestadual. Três agentes, e dois policiais morreram em uma tocaia armada pelos criminosos. George teria engrossado a lista de mortes, já que ficou sem balas no meio do tiroteio. Mas naquela ocasião, Helena deixou sua posição segura para entrar na linha de fogo, e abater o atirador que ameaçava George. Talvez houvesse chegado o momento de ele sair de sua posição segura e entrar na linha de fogo pela moça.

GEORGE

- Tem noção do que vai acontecer com a gente se algo der errado?

Helena olha para o antigo parceiro com firmeza.

HELENA

- Fim de carreira e possível acusação por negligência. Mas principalmente, teremos o sangue de uma garota inocente em nossas mãos. Por isso, não podemos falhar.

PRÉDIO DO CURSO DE CINEMA

Otto Brown, um rapaz gordinho de óculos e cabelos compridos presos em um rabo de cavalo esta em frente ao seu computador, onde vê várias imagens de tatuagem. A concentração do responsável pelas ilhas de edição é tanta, que ele não percebe a chegada da garota morena de óculos que chega em frente ao seu balcão.

ISADORA

- Oi Otto. Fazia tempo que a gente não se via.

OTTO

- Isadora Thompson! Achei que tinha se esquecido de mim (Diz sorrindo).

ISADORA

- Eu não esqueço os amigos, Otto. Desculpe se eu não te visito tanto quanto deveria, mas eu andei bastante ocupada ultimamente.

OTTO

- posso imaginar. Você veio matar a saudade, ou tem algo que eu possa fazer por você?

ISADORA

- Na verdade, eu preciso de um favor. Posso usar a ilha para assistir alguns vídeos?

OTTO

- Não sei, Isa. Você não é mais aluna aqui do curso.

ISADORA

- Por favor, Otto. Sabe que eu não pediria se não fosse importante (Diz em tom suplicante).

Otto parece pensar por um instante, e então sorri.

OTTO

- Bom, acho que não vai ter problema nenhum. Afinal, você é de casa.

Ele abre uma gaveta, e retira uma chave que é entregue a Isadora.

ISADORA

- Obrigado Otto (Diz sorrindo)

ILHA DE EDIÇÃO

Isa lembra-se da impressão que teve na primeira vez que entrou na ilha. Para a garota, o local parecia uma versão menor da sala de controle da Nave Enterprises, com uma pequena mesa de madeira, e um painel formado por três computadores ligados há uma tela maior na parede que reproduzia as imagens do computador. As paredes eram cobertas com espuma acústica. Uma vidraça na parede por onde podiam se dirigir exercícios de dublagem completava o cenário.

Isadora senta-se diante do computador que controla aquela ilha, e digita o login de Kelly. A garota lembra-se de criticar constantemente a falecida amiga por usar uma senha tão obvia como a data de seu próprio aniversário. Isa espera que Kelly não tenha dado ouvido as suas críticas.

Ela digita a data de aniversário de Kelly, e os arquivos da estudante são abertos. Isadora sabia que Kelly preferia guardar as imagens que gravava em seus arquivos pessoais do que em fitas ou na própria memória da câmera.

Nos arquivos presentes no Pen Drive de Bruce, havia uma observação do rapaz sobre a possibilidade de Jack Calcanhar De Mola espreitar as vítimas dias ou até semanas antes dos ataques. Kelly andava com sua câmera de um lado para o outro durante as ultimas semanas de sua vida, graças à depressão. Havia uma chance de ela ter captado Jack mais de uma vez. Aquilo não seria uma prova conclusiva, mas era um começo.

PROXIMIDADES DOS DORMITÓRIOS FEMININOS

A Agente Belli passa ao lado de um trailer/lancheria fechado. Á sua frente, ela pode ver a silhueta do prédio dos dormitórios, encoberta pela névoa. A morena sente-se muito mais tranquila por George ter concordado com as suas sugestões. O Agente Stewart dividiu os cinco agentes sob seu comando, e mais alguns policiais para patrulhar as “áreas de risco” definidas por Helena e Sage. Infelizmente, Ferguson não pôde liberar a quantidade de policiais requisitada por George, devido á crise com os estudantes.

Helena volta a observar a densa névoa ao seu redor, e amaldiçoa aquele fenômeno. A agente sabe que o assassino poderia estar alguns metros á frente dela e graças ao nevoeiro, ela não o veria. Quantas vítimas do maníaco poderiam ter sido poupadas se não fosse essa maldita névoa? Aquela bruma não deveria ser branca, mas sim escarlate. Escarlate como o sangue das vítimas que ajudara Jack Calcanhar De Mola a derramar.

QUARTO DE BRUCE

Bruce Graham esta em frente ao seu computador. Ele analisa uma planilha onde foram dispostos os dados de todas as vítimas de Jack Calcanhar De Mola. Isadora havia destruído o Pen Drive, mas ele já havia feito um back-up em seu computador dias antes. Ele sabia que a namorada não aprovava a sua “investigação amadora”. Mas ele havia começado aquilo, e não pretendia parar agora que sentia estar perto de uma resposta.

Bruce havia decidido guiar a sua linha de raciocínio através de Kelly. Ela fora sua amiga, e ele a conhecia relativamente bem. Por isso, comparava os dados da garota com os dados das vítimas restantes. Já havia feito diversas tentativas de comparação, mas nada batia.

O rapaz levanta-se de sua cadeira, e vai até a janela. Através do vidro, ele pode ver a bruma do lado de fora. O estudante sabe que neste momento, Jack pode estar lá fora, escondido na névoa. Pronto pra ferir mais uma garota, mais uma colega.

BRUCE

- Uma colega... (Diz em tom pensativo).

Ele volta ao computador, e observa a planilha. Percebe pela primeira vez que com exceção de Kelly, nenhuma das outras vítimas do serial killer haviam cursado cinema. Nenhuma havia sido “sua colega”. Nick não contava, pois era um garoto, uma anomalia do modus operandi de Jack.

Sentindo-se eufórico, ele levanta-se, pegando a velha caneca que ganhara de brinde quando fora admitido no curso. O estudante vai até a geladeira, e enche a caneca de refrigerante. Após tomar um gole do liquido, o garoto repara na estampa da caneca com os dizeres “Curso De Cinema de New Sharon. Formando mentes criativas desde 1960”.

ILHA DE EDIÇÃO

Isa já assiste o material há uma hora. Até o momento, não encontrou nada que fosse digno de nota. Já havia assistido patos se banhando na lagoa, um saco plástico voando com o vento, pombas ciscando, pessoas esperando o ônibus, e mais patos nadando. Quando percebia que não encontraria nada naquele trecho, a garota simplesmente apertava o botão de fast.

No momento, a tela mostra Patos deslizando pela água em supervelocidade. A câmera desvia-se do lago, ficando de ponta cabeça, indicando que sua dona virou-a para desliga-la. Um pequeno conjunto de arvores aparece por dois segundos, e então um novo vídeo toma a tela.

Isa gira o botão de retroceder, e aperta o botão slow. Naquele breve momento em que a câmera enquadrou as arvores, a moça viu algo que lhe chamou a atenção. Quando a imagem passa em slow, a estudante pausa a imagem no instante em que a câmera enquadra um homem de cabelos escuros olhando atentamente em direção à câmera. Ninguém menos que Tony Stevenson.

QUARTO DE BRUCE

Uma ideia ocorrera a Bruce depois que ele viu inscrição da caneca. Lembrava-se de ter ouvido uma vez que o curso de cinema fora um dos primeiros a serem criados em New Sharon. E se os outros cursos também tivessem sido? O rapaz encontrou a resposta no site da universidade. Checou cada um dos cursos á que as vítimas pertenciam. O jovem sorriu satisfeito. Todas as garotas assassinadas estudavam em cursos fundados no primeiro ano de atividade de New Sharon. A pergunta agora era: seria possível saber o que viria a seguir?

ARREDORES DO PRÉDIO DE DIREITO

O cerco aos estudantes já entrava em sua terceira noite. Os revoltosos estavam sem água e luz, mas não davam sinais de que fossem ceder. Um frustrado Chefe Ferguson encontra-se atrás das fitas de isolamento que cercam o local. Observando com desgosto as janelas embaçadas do prédio, Ferguson pensa que seus esforços seriam mais bem empregados patrulhando o campus do que ali, servindo de babá para estudantes revoltados.

Ferguson é arrancado de suas reflexões quando um policial surge correndo da névoa.

POLICIAL

- Chefe! Acho que temos problemas no lado oeste do prédio!

ILHA DE EDIÇÃO

Isa assiste a mais um dos trechos dos arquivos de vídeo. Na tela, vê-se a imagem distante de um grupo de estudantes em uma parada de ônibus. Uma voz conhecida surge no sistema de som.

TONY

- Moça, poderia dar uma rápida declaração para a Gazeta de New London?

A câmera é apontada para o chão, e o arquivo acaba. Pensativa, Isadora fita a tela congelada em silêncio. A data do vídeo era de dois dias antes da noite da morte de Kelly. A aparição anterior de Tony era de três dias.

O celular de Isa apita. A moça pega o aparelho, e atesta que foi um alerta para recarregar a bateria. Ela chega o relógio do aparelho. Ainda tinha meia hora para o toque de recolher. Tempo o bastante para terminar o que havia ido fazer ali.

ARREDORES DO PRÉDIO DE DIREITO

Ao chegar ao lado oeste do prédio de direito, Ferguson vê o que tanto assustou o jovem policial. Mesmo através da névoa, o Chefe de policia consegue ver um sinistro brilho avermelhado nas janelas do terceiro andar. Ferguson também é capaz de sentir um leve cheiro de fumaça no ar. Aqueles malucos estavam incendiando o lugar?!

FERGUSON

- Que lugar é aquele? (Pergunta olhando fixamente para o brilho).

POLICIAL

- Pela planta que temos, aquele é o memorial do prédio, senhor.

Ferguson sente a raiva subir pelo corpo. Era hora de acabar com essa palhaçada, antes que alguém se machucasse.

FERGUSON

- Reúna a tropa. Nós vamos entrar.

QUARTO DE BRUCE

A pesquisa não foi tão rápida quanto Bruce esperava. O rapaz começou a pesquisar a historia de cada um dos cursos da universidade, evitando os já atacados por Jack. Quando percebia que o curso havia sido fundado após o primeiro ano da universidade, passava para o próximo. Muitos dos textos eram enormes, e o rapaz levava um tempo até encontrar a informação que queria.

Foi então que chegou ao curso de psicologia. Por um instante, uma sensação ruim se apossou do peito do universitário.

BRUCE

- Relaxa Graham. Psicologia não vai entrar na lista (Diz para si mesmo).

ARREDORES DOS PRÉDIOS DOS DORMITÓRIOS

A Agente Belli sobe uma série de lances de escada em um corredor coberto. Para a morena, andar naquela neblina era como andar em um pesadelo. Subitamente, Helena ouve o som de passos apressados descendo os degraus. Ela leva a mão ao coldre, e grita com voz firme.

HELENA

- Pare e se identifique! Estou armada!

A agente vê um homem de terno sair da névoa. Ela o identificou como um dos seguranças do campus. Helena tira a mão do coldre, e puxa o distintivo.

HELENA

- Agente Helena Belli, FBI. O que esta acontecendo pra você correr assim?

SEGURANÇA

- Um tumulto no prédio de direito, Srta. O Chefe Ferguson pediu todo o reforço possível.

A notícia atinge Helena como um tapa na cara. Isso não podia estar acontecendo naquela noite. Um confronto com os estudantes desarticularia totalmente a segurança.

SEGURANÇA

- Eu preciso ir, moça. Você não vem comigo?

HELENA

- Não. Agora vá logo (Diz com irritação).

ILHA DE EDIÇÃO

Isadora já havia visto quatro aparições de Stevenson nos vídeos. Uma dessas aparições se dera em um vídeo onde Kelly gravou uma partida de tênis no ginásio do campus. No instante em que a câmera passou pela plateia, lá estava Tony. A quarta aparição do jornalista se deu em frente ao prédio onde Kelly viveu. Isa conhecia aquela janela, pois dividiu o quarto com Kelly por um tempo. Nestas imagens, varias pessoas passavam pelo gramado que ficava em frente à janela de Kelly. E mais uma vez, lá estava Tony.

Nada daquilo constituía uma prova, realmente. Mas não podia ser mero acaso aquele homem ter estado tantas vezes próximo á Kelly nos dias que antecederam a sua morte. Aquele jornalista escrevera um livro sobre Jack Calcanhar De Mola. Estudava em New Sharon durante os primeiros crimes. 

O toque do celular enche a sala acústica. Ela olha no identificador, e vê o nome de Bruce. Mas ao atender, ela não tem tempo de falar.

BRUCE

- Onde você está?

ISADORA

- Oi pra você também.

BRUCE

- Isa, é serio! Você tá no dormitório?

ISADORA

- Não. Eu tô na sala de edição do prédio de cinema.

Ouve-se um chiado cortar a ligação. A estudante conhecia aquele som.

BRUCE

- Alo? Tá me ouvindo?

ISADORA

- Minha bateria tá acabando. Aconteceu alguma coisa?

BRUCE

- Vou ser direto. Saia daí, vá direto para o dormitório e se tranque lá. Peça pra um segurança revistar o quarto antes. Mas não vai sozinha!

O chiado alertando o fim da bateria volta a tocar.

ISADORA

- Não vai acontecer nada comigo. Eu tô saindo daqui agora. O Otto tá aqui, e...

Isadora escuta um estrondo ás suas costas, e grita horrorizada ao ver do outro lado do vidro duplo, Otto tendo o rosto pressionado contra a superfície envidraçada por uma figura vestida de negro. Em pânico, a garota vê sangue escorrer da boca de seu amigo, manchando o vidro. O assassino usando mascara e óculos de esqui puxa a cabeça de Otto da vidraça, somente para joga-la com força contra o vidro.

O cadáver de Otto cai no chão, e por um segundo, Isa e o assassino se encaram através do vidro ensanguentado. Ele corre para fora do campo de visão dela, enquanto a moça corre para a porta, a trancando. A maçaneta sacode violentamente. Ela grita ao celular:

ISADORA

- Ele esta aqui, Bruce! Chame a segurança!

DORMITÓRIOS MASCULINOS

Bruce ouve um estrondo seguido do grito de Isadora, e então a linha chia uma ultima vez antes de cair. O rapaz sente o pavor tentar se apoderar do seu corpo, mas respira fundo. Ele procura o numero da segurança do campus no celular e então disca, para em seguida correr em direção á saída. Enquanto corre pelo corredor, o rapaz ouve a linha chamar insistentemente. O jovem tem a angustiante sensação das chances de Isadora diminuírem á cada sinal não respondido. Ao descer as escada, ele ouve uma voz eletrônica declarar:

VOZ ELETRÔNICA

- Todas as linhas estão ocupadas. Aguarde por favor.

PRÉDIO DE CINEMA

Jack dá violentos chutes na porta. Dentro da sala, Isa afasta-se da entrada, sentindo como se cada golpe fosse dado em seu coração. Após mais quatro ou cinco tentativas, os golpes cessam.

Isadora respira fundo, tentando manter-se calma. Jack reaparece na vidraça, e começa a golpea-la com o cotovelo. A garota olha em volta em busca de algo que possa usar para se defender, mas não vê nada. O vidro resiste bravamente, mas começa aos poucos a trincar com um som que faz Isa sufocar um grito.

Ela corre para trás dos computadores, e com as mãos trêmulas, começa a arrancar os fios das tomadas. Jack pára de usar o cotovelo para bater no vidro, e ofegante, olha ao redor, avistando um extintor de incêndio. Ele pega o cilindro, e investe furiosamente contra o vidro duplo, atingindo- o repetidas vezes. As rachaduras na vidraça tornam-se cada vez maiores. Evitando olhar para o mascarado, Isadora termina de arrancar os fios dos computadores, para em seguida ir até a mesa, onde sua bolsa esta. As rachaduras no vidro já não permitem que a garota veja Jack com nitidez.

Isa coloca a mão dentro da bolsa, e escuta um novo estrondo, quase tropeçando ao perceber que metade do extintor atravessou a vidraça. Isadora segura o fio do computador firmemente em uma mão, enquanto puxa o spray de pimenta de dentro da bolsa com a outra.

O extintor é puxado com violência para o lado de fora, levando um pedaço da vidraça com ele. Jack aplica novas e potentes cotoveladas contra a vidraça, estilhaçando parte da superfície. O assassino estica o corpo pela abertura aberta por seus golpes. Neste momento, o pescoço do psicopata é envolvido por um laço feito com o fio do computador. Antes que ele possa reagir, Isadora amarra a outra ponta do fio na mesa, e dispara o spray de pimenta no rosto mascarado.

Os óculos protegem os olhos do psicopata. Mas a mascara não é o bastante para proteger a sua boca. O assassino grita com a ardência agoniante em sua boca, enquanto brande a faca cegamente. Sem perder tempo, a garota corre até a porta e a destranca.

Jack começa a golpear com sua faca o fio que o prende. Neste instante, Isadora passa atrás do assassino. Ela pensa em atingi-lo com algo, mas o maníaco vira o rosto para ela, que vê com horror o fio preso ao pescoço do assassino quase cedendo á lamina da faca. A garota corre para a saída, e no instante seguinte, o fio arrebenta, jogando Jack contra a parede.

Isa corre pelo corredor. Seus passos ecoam naquele ambiente vazio. Ela chega em frente á uma das portas que a levariam ao andar inferior, em direção à saída. Mas ao tentar girar a maçaneta, sente o pavor atravessar o seu corpo ao perceber que a porta encontra-se trancada.

A estudante volta-se para o fim do corredor, e vê o serial killer surgir da porta que dá acesso á ilha. O assassino corre em direção à garota, que se precipita para a porta mais próxima que encontra, rezando para que não estivesse trancada, mas felizmente não estava.

Isa se vê no alto de um auditório, que desce até um palco. A garota sabe onde aquele caminho vai leva-la. Teria chance de escapar se fosse rápida. Enquanto desce as escadas pulando os degraus, a estudante escuta o som da porta do auditório batendo contra a parede.

Sem olhar para trás Isa sobe no palco enquanto ouve os passos de Jack descendo rapidamente pelas escadas do auditório. A garota corre para trás do palco, e passa pela porta que dá acesso ao depósito onde se localizam os figurinos e tapadeiras usadas para constituir os cenários.

A garota olha ao redor, tentando encontra um lugar para se esconder. Ao ouvir o assassino se aproximando no palco, Isa rapidamente corre para trás de uma arara com longos figurinos medievais pendurados, escondendo-se ali. No instante em que a jovem some por entre os figurinos, Jack irrompe pela porta.

Jack olha ao redor, procurando um sinal de sua presa. Isa tapa a boca e o nariz com a mão para diminuir o som de sua respiração, enquanto observa o psicopata andar em direção a uma arara do outro lado da sala, e a derrubar com violência, retalhando alguns dos figurinos com sua faca.

Jack segue para a arara seguinte do outro lado da sala, e repete o processo. Isadora sente uma lágrima involuntária descer pelo seu rosto, enquanto o maníaco destrói as três araras restantes da fileira que estava seguindo. O assassino vira o rosto para a fileira de araras onde Isa esta escondida, e se dirige para a arara da ponta da fileira, derrubando-a com um chute.

A moça se encolhe em seu esconderijo, á medida em que o mascarado vai derrubando araras. Ela leva a mão ao bolso, e segura o frasco de spray de pimenta. O barulho de uma nova arara caindo soa horrivelmente perto Ela ergue a lata de spray, pronta para enfrentar seu algoz. Quando o maníaco esta á uma araras de chegar ao esconderijo de sua presa, um grande estrondo ecoa pelo depósito. Jack olha ao redor, procurando a fonte do barulho. Após um segundo que pareceu uma eternidade, o assassino corre para trás de uma tapadeira que lembra o muro de um castelo medieval, e desaparece de vista.

A garota sai do seu esconderijo. Não podia se demorar ali. Ela não sabe o que foi que causou a barulheira que distraiu o seu perseguidor, mas sabe que existe uma grande possibilidade de ele voltar, e ela não pretendia estar ali para ver tal possibilidade se concretizar.

Entretanto, correr na direção que o assassino tomou podia leva-la diretamente á ele. Quando este pensamento passou pela cabeça de Isa, uma ideia lhe ocorreu. Era uma jogada perigosa, mas podia lhe colocar um passo á frente do maníaco. Decidindo agir antes de perder a coragem, ela agarrou a arara que lhe serviu de esconderijo, e a puxou com força, provocando sua queda.

O som da queda ecoa pelo local. Imediatamente, Isa corre para o fundo do depósito, usando uma tapadeira representando muro pichado para ocultar o seu avanço.

A jovem olhou a frente, vendo uma serie de tapadeiras dispostas de forma não assimétrica naquele grande depósito. Todas aquelas tapadeira formavam um pequeno labirinto. E este labirinto poderia ser sua salvação, ou o caminho para a morte nas mãos do seu próprio minotauro.

Isa tem a impressão de escutar passos, mas não tem certeza. Ela olha para um corredor formado por duas tapadeiras paralelas, implora mentalmente para que Jack não esteja naquele corredor, e então o corta, chegando á proteção de outra tapadeira, Assim que ela termina de passar, Jack surge na ponta do corredor, não vendo a moça por pouco.

Isadora sente a esperança crescer, ao perceber estar chegando ao fundo do depósito. A garota esta agora ao lado de uma tapadeira que representa a fachada de uma casa, com direito a porta e janela. Ela vê alguns metros á sua frente à porta dupla de incêndio que a levaria á salvação. A jovem esta prestes a correr em direção à saída, quando sente uma mão pousar em seu ombro.

Instintivamente, Isadora se vira esbofeteando a figura. Ela Ergue a lata com spray do bolso, mas uma mão agarra o seu pulso e o força para baixo, fazendo o jorro de spray atingir o chão.

BRUCE

- Sou eu, Isa. Para! (Diz em voz baixa)

Antes que ela possa responder, A porta da tapadeira se abre com violência, dando passagem a Jack Calcanhar De Mola. Isa ergue a lata de spray mais uma vez, mas com um movimento rápido da faca, Jack arrebata o objeto da mão da garota, cortando-lhe a palma da mão. Bruce avança contra o assassino, segurando-lhe o pulso da mão que segura à faca, e o forçando para cima. Mas o psicopata acerta um soco na boca do estômago do rapaz, para em seguida acertar-lhe um golpe no ombro com o cabo da faca, e por fim joga-lo para trás com um soco no peito dado com a mão livre.

Jack volta o rosto para Isadora, e corre na direção da garota, tentando esfaquea-la com um golpe lateral. No entanto, ela é mais rápida, e consegue evitar ter sua garganta cortada. A lâmina crava na madeira da tapadeira, e antes que o mascarado possa retira-la , ele é atingido na cintura por um chute dado por Bruce do chão.

O psicopata perde o equilíbrio, e cai sobre a tapadeira, á derrubando. A queda da tapadeira causa a queda de mais cinco tapadeiras em um efeito dominó. Isa corre até onde Bruce está.

ISADORA

- Vamos (Diz ajudando-o a se levantar).

Bruce se levanta, e segurando a mão da namorada, corre com ela para a saída. Jack cai pra fora da tapadeira, e levanta-se a tempo de ver os jovens correndo em direção à porta.

Bruce e Isa correm pelo corredor de incêndio. O chão e as paredes cinzentas contrastam com os cartazes de filmes nas paredes. No fundo do corredor, uma porta dupla semelhante a que haviam atravessado os aguardava. Ao lado da porta, encontra-se no chão um tripé de metal e uma claquete de plástico. Mais alguns metros e estariam fora do prédio.

Foi então que a jovem foi jogada ao chão. Como um míssil. Jack correra até o casal os alcançando, e atirou-se sobre a garota. O assassino retira faca de sua cintura, e a ergue sobre o rosto de Isadora. Os óculos da estudante continuavam em seu rosto, embora tortos. Mas Jack planejava parti-los com um único golpe.

Entretanto, Jack escuta um ruído metálico as suas costas, e rola para o lado, saindo de cima da garota, evitando assim ser atingido por Bruce, que empunha um tripé de metal fechado nas mãos. O assassino olha para o rapaz, que se coloca entre ele e Isa. A garota levanta-se rapidamente. Bruce ergue o tripé como um jogador de baseball prestes a rebater uma bola.

BRUCE

- Corre Isadora.

Isa olha do mascarado para Bruce. Após engolir em seco, a garota volta-se para a porta, e começa a correr. Sem parecer intimidado, o assassino anda decididamente em direção á saída. Bruce tenta atingi-lo novamente com o tripé, mas Jack evita o golpe. Com o peso do objeto o rapaz perde o equilíbrio, não caindo no chão graças á parede.

O psicopata investe com sua faca contra o estudante, mas Bruce ergue o tripé com as duas mãos, protegendo-se da estocada. A lâmina da faca fica presa entre as pernas fechadas do tripé, o que surpreende Jack. Aproveitando a vantagem, o estudante empurra o tripé com toda a força que pode contra o seu adversário, o prensando na parede oposta do corredor. O tripé é pressionado contra o pescoço de Jack, prendendo também a mão que segura a faca. O serial killer tenta usar a força para escapar da imobilização, mas Bruce faz força contraria, o impedindo.

Jack estica o braço livre, e com a mão enluvada, puxa um dos pinos do tripé. O rapaz sente o tripé desmontar em suas mãos. A única coisa que lhe restou foi um cilindro de metal um pouco maior que a palma de sua mão. Bruce recua enquanto Jack displicentemente deixa cair o pino que arrancou do tripé para em seguida começar a brandir sua faca contra o rapaz.

Tudo o que o rapaz pode fazer é recuar em direção à porta, á cada vez que o maníaco brande a faca. A lâmina raspa o peito de Bruce, abrindo um corte. Ele sente o corte arder, mas a ignora, e continua a recuar. Com um movimento rápido, Jack chuta o peito do estudante com força.

Bruce é atirado com violência contra as portas deixadas entreabertas. O rapaz vê o seu mundo ser invadido pela névoa branca quando cai do outro lado da porta. Seu peito e costelas doem.

A porta sai para uma plataforma em forma de L. Bruce agarra o corrimão, e tenta se por de pé. Ele olha para o lado, vendo o corredor que termina na ponta da escada. Não havia sinal de Isadora. Ela conseguiu escapar.

Bruce então volta a sua atenção para Jack, e vê o psicopata investir em sua direção com a faca erguida. Movendo-se com dor, o estudante gira o corpo para o lado, evitando a facada. A lâmina da arma raspa o metal. Antes que o rapaz possa reagir, Jack o agarra pelos cabelos, e bate a sua cabeça contra o corrimão de metal.

Bruce cai no chão, sentindo a cabeça explodir. O rapaz tem a impressão que a névoa ao seu redor se tornou vermelha. Jack esta de pé a sua frente. Bruce sente os seus braços pesados como chumbo. Não conseguia mais lutar. Jack ergue a faca. Esse era o fim.

Foi então que tudo aconteceu. Isadora jogou-se sobre o serial killer com tanta força que ela e o psicopata foram jogados para fora da plataforma, em uma queda de três metros. Os dois caem presos nos braços um do outro, e caem sobre o gramado, com a garota caindo sobre o assassino.

Isadora agora tem o rosto do mascarado a poucos centímetros do seu. A mão do psicopata que segurou fortemente seu pulso durante a queda afrouxou após o impacto. A garota tenta se levantar, mas sente uma pontada no peito. Ao olhar para a região da dor, ela vê que a faca enterrou-se em seu abdômen.

Jack, inclina a cabeça, e move levemente a faca para cima. Este pequeno movimento faz com que a garota sinta uma dor indescritível no abdômen. Ela não grita, simplesmente arqueja. O mascarado levanta a cabeça até ficar com a boca ao lado do ouvido da jovem, e então sussurra:

JACK

- Te peguei.

Jack a empurra para o lado, arrancando a faca de seu abdômen. Um filete de sangue escorre pela boca da garota, enquanto ouve-se o som de passos se aproximando. Isadora leva á mão ao ferimento, sentindo o sangue quente escorrer fartamente. Ela vira a cabeça para o lado, vendo Bruce surgir correndo da neblina.

Com o medo estampado em seu rosto, o rapaz corre até onde a namorada esta caída, ajoelhando-se diante dela. Ele vê o vulto de Jack desaparecendo na névoa enquanto ouve gritos as suas costas. O rapaz segura a mão ensanguentada da namorada, enquanto usa a outra mão para pressionar o ferimento. Isa não consegue falar, apenas ofegar.

George Stewart, acompanhado por mais dois agentes federais, surgem correndo atrás de Bruce.

BRUCE

- O assassino! Ele foi pra lá!

Com um gesto, George envia os agentes para a direção que Bruce apontou. Ao olhar para a garota ferida, Stewart retira o celular do bolso.

GEORGE

- Vou chamar uma ambulância.

BRUCE

- Não temos tempo! Ela precisa de atendimento agora!

Bruce ergue a garota nos braços. Seus músculos doloridos protestam, mas ele ignora totalmente.

GEORGE

- Meu carro esta logo ali. Vamos leva-la para o hospital do campus!

PRÉDIO DE DIREITO

Não apenas a névoa dificulta a visibilidade no pátio do prédio de direito. A fumaça proveniente das bombas de efeito moral e do gás lacrimogêneo também enche o local. Alguns estudantes são retirados algemados, enquanto outros são carregados pelos homens da lei em macas.

O Chefe Ferguson encontra sentado em uma pequena mureta. O capacete protetor usado pelo policial estava trincado, devido á uma forte pedrada que recebera na cabeça. Dois policiais surgem trazendo algemado o líder da revolta: Ed Chase. Ele esta com um olho inchado.

CHASE

- Foram vezes que provocaram isso! (Gritou com raiva)

FERGUSON

- Pelo que eu lembro, foram vocês que tacaram fogo na sala de arquivos. Os sprinklers não funcionam sem luz, sabia? Quando chegamos, a sala estava completamente em chamas.

CHASE

- Tínhamos tudo sobre controle (Replicou ele).

FERGUSON

- Claro que tinham. Levem-no até os paramédicos para cuidarem desse olho.

Os policiais saem arrastando Ed, que grita vários palavrões para Ferguson. Neste momento, o Chefe de policia sente um aparelho vibrar em seu colete. Ele retira do colete algo que lembra um pequeno walk talk, que nada mais é do que o comunicador entregue a ele pelo FBI.

FERGUSON

- Chefe Ferguson falando.

Algo é dito ao Chefe de policia no comunicador. Algo que faz a cor desaparecer de seu rosto.

FERGUSON

- Onde?

A pergunta é feita com raiva contida. Mas Ferguson não sabia se aquela raiva era dirigida á outros ou a ele mesmo.

CARRO DO AGENTE STEWART

Stewart dirige velozmente pela estrada interna de New Sharon. Através do fone, o agente alertou o hospital do campus para que se preparassem para receber a garota ferida. No banco de trás do carro, Bruce continuava a pressionar o ferimento de Isadora, tentando desesperadamente conter o sangramento. Apesar de sentir o sangue quente dela empapar seu peito, o rapaz só consegue prestar atenção no rosto da namorada. Os óculos foram perdidos durante a queda, e ela o fitava com um misto de medo e ansiedade, tentando dizer-lhe algo com a voz fraca.

ISADORA

- Bruce... (Balbucia ela).

Ele inclina-se, aproximando o seu rosto do dela, e fala com contido desespero.

BRUCE

- Não diz nada, Isa. Poupa energia. A gente já tá chegando. Vamos conseguir, ouviu bem?

Ela pareceu não ouvi-lo, e continuou a sussurrar.

ISADORA

- Bruce... É o Stevenson... Os vídeos de Kelly... É o Tony...

A garota esta prestes a desmaiar. Com a mão ensanguentada, Bruce segura delicadamente o queixo dela, fazendo-a olhar para ele.

BRUCE

- Não desmaia, Isa. Você tem que ficar acordada, entendeu?

O carro para em frente ao hospital. Uma equipe médica vai até o veículo, e tira a garota do colo de Bruce, colocando-a sob a maca. O rapaz sai do carro, e entra no hospital junto com a namorada ferida.

CAMPUS DE NEW SHARON

Helena anda por um dos longos corredores que formam os andares de um dos prédios dos dormitórios. Desde o seu encontro com o segurança, Helena sentiu um pressentimento ruim apoderando-se do seu ser. Algo terrível estava para acontecer. Ela podia sentir isso. A agente passou então a visitar a entrada dos quartos de cada uma das vítimas em potencial que se encontravam em sua zona de patrulha.

Ela esta descendo a escada, pronta para ir para o prédio vizinho, quando o seu celular toca.

HELENA

- Agente Belli falando.

GRAY

- Aqui é o Agente Gray. George pediu que eu a avisasse. Houve um novo ataque.

Helena esperava chocar-se com a notícia. Quando a noite começou, achava que não estaria preparada para escutar aquilo. Mas naquele momento, ela reagiu com a frieza profissional que sempre julgou possuir, até o caso Jack Calcanhar de mola começar.

HELENA

- Quem foi?

GRAY

- Isadora Thompson. Ela foi esfaqueada no prédio de comunicações. Ela ainda esta viva, mas em estado grave.

HELENA

- Pra onde a levaram?

GRAY

- Para o próprio hospital do campus.

HELENA

- E quanto ao assassino?

GRAY

- Ainda estamos procurando.

HELENA

- Continuem. Eu vou ver a garota.

GRAY

- Talvez fosse melhor se você se juntasse a...

Helena não ouviu o que Gray tinha a dizer. Desligou o telefone, e saiu do prédio, mergulhando na bruma. Aquela maldita bruma.

HOSPITAL DE NEW SHARON

Bruce está sentado no corredor do hospital, com o Agente George Stewart sentado ao seu lado. A camisa do rapaz esta completamente manchada do sangue da namorada. George observa o rosto do rapaz, que olha fixamente para a entrada do centro cirúrgico.

GEORGE

- Acho que você devia deixar alguém examinar esse corte.

Bruce passa os dedos sobre o corte feito por Jack em seu peito. Ainda estava úmido, mas não sangrava. Era apenas um ferimento superficial.

BRUCE

- Isso não é nada. Eu vejo depois.

GEORGE

- Mesmo assim, acho que devia deixar um médico examina-lo.

BRUCE

- Já disse que estou bem (Diz com impaciência).

GEORGE

- Ela esta em cirurgia agora. Não há nada mais que você possa fazer.

Bruce vira-se para o Agente Stewart, e diz com firmeza.

BRUCE

- Eu vou ficar aqui.

George encara o rapaz por um instante, e então se levanta.

GEORGE

- Muito bem. Faça como quiser. Mas você não pode sair do hospital até ser interrogado.

Bruce assente com a cabeça.

GEORGE

- Se me der licença, preciso informar os meus superiores da situação. Deus sabe que tenho muito que dizer a eles.

George sai do corredor, deixando Bruce sozinho. O rapaz não se lembra de ter sentido tanto medo na vida. Entretanto, as palavras sussurradas por Isadora no carro voltam á sua mente. Ele tinha certeza que ela havia mencionado Tony Stevenson. O que o jornalista tinha a ver com tudo isso? Será que estava querendo lhe dizer que...

Tony Stevenson é totalmente varrido da mente do estudante quando ele vê a equipe médica saindo de dentro do centro cirúrgico. Todos parecem cansados e abatidos. O rapaz levanta-se da cadeira onde está sentado, enquanto um homem negro de touca médica, que parece ser o líder da equipe, aproxima-se dele.

MÉDICO

- Eu sinto muito. Ela perdeu muito sangue, e também houve hemorragia interna. Ela não resistiu. Eu realmente sinto muito.

O médico baixa a cabeça, e vai reunir-se com o resto de sua equipe.

Bruce não parece acreditar no que acabou de ouvir. Enquanto os médicos se retiram, o rapaz anda lentamente em direção ao centro cirúrgico, parecendo hipnotizado. Ao passar pela soleira da porta, ele pára ao vê-la. Isadora esta deitada em uma cama hospitalar. A garota esta coberta até o pescoço com um lençol azul. Há uma mancha vermelha no lençol, na região do abdômen da moça.

Os lábios de Bruce tremem levemente, enquanto ele entra lentamente na sala, andando em direção á namorada. O rapaz pára em frente á namorada, e estica o braço, acariciando o seu rosto, a pele ainda quente.

Os olhos de Bruce começam a ficar marejados. Ele olha para o rosto da garota. A moça parecia estar simplesmente dormindo. Bruce inclina-se, e beija a testa de Isadora, para em seguida cair em um doloroso choro, suas lagrimas soluçantes caindo sobre o rosto da única garota que amou.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, apesar do final trágico. No proximo capítulo, teremos o desfecho da trama. Aviso que por ser o desfecho, sera um pouquinho maior.
Quem puder deixe um review apontando o que deu certo, o que não deu, enfim.
Obrigado por ler, um grande abraço, e até o ultimo capítulo.