A dama observava a janela, impaciente, enquanto reescrevia alguns tópicos de sua pesquisa sobre a espada infernal e a espada sagrada. Quando pensou nesta última, a imagem do cavaleiro que a possuía, lhe veio imediatamente na cabeça como um raio. Os olhos verdes, brilhantes, penetrantes. Suspirou quase que sem querer.

Por que simplesmente não conseguia deixar essa idéia? Tudo conspirava contra esse sentimento e ao mesmo tempo, a favor.

Levantou-se da cadeira e caminhou pelo recinto em que se encontrava. Chegava a ser engraçado. Nunca pensou que ela, Isabella Valentine estaria nesse tipo de situação. Foi descendo as escadas. Mesmo para ficar em casa, estava linda e radiante, em seu vestido nos moldes medievais. Tinha perdido sua amada arma de confiança em sua última saga, restando dela, apenas um mero fragmento, que ainda parecia ter um pouco da energia que tivera sempre.

- Se eu tivesse morrido, meu tesouro, tudo teria sido mais fácil... - dizendo isso, a condessa deslizou a mão enluvada sobre o peito, próximo ao coração, como se estivesse tentando acalmar a fúria que ali se encarcerara. As batidas que pareciam repetir aquele nome... "Siegfried...". Fechou os olhos azulados. Como podia ter se apaixonado tanto se o conhecia tão pouco? Se apenas viajaram juntos não mais que um mês.

Já estava em seu jardim de rosas vermelhas. Essas perfumavam a noite calorosa. No céu, uma única imagem, a lua, que deixara de ser prateada e estava quase dourada. 

- Saia da minha mente... Deixe meu corpo... Me permita esquecê-lo, cavaleiro... - suspirou a britânica para a noite.

I walk the wire every night

I can't decide between wrong and right

I lost control over the things I do

'Cause I'm hopelessly falling in love with you

O cavaleiro estava sentado numa mesa de taverna. Havia pedido um cálice de vinho, mas ainda não havia conseguido tocar nele. Já havia sido cantado por algumas cortesãs do lugar e não dera nenhuma importância para elas. Estava tomado pelas lembranças. Lembranças que até causaram-lhe um vulto de sorriso. Sorriso... A última vez que tinha sorrido... Foi para Ivy.

Tirou do bolso as moedas correspondentes ao que consumira - ou melhor, não consumira, deixara lá, intacto - e saiu. Nem sequer sabia por que se separou dela. Ah, sabia sim. Não foi corajoso o bastante para dizer que não queria ir. Ou que queria que ela o seguisse... Pela vida. Aproximou-se de seu cavalo. Deixando para trás, apenas os ruídos que sua armadura fazia quando as placas de metal se tocavam.

Now the one who’s never took a chance

Becomes a victim of the circumstances

I lost my way, now I'm so confused

'Cause I'm hopelessly falling in love with you

- É, garoto... Nosso destino são as noites vazias. - um vento soprou suave. Como uma respiração. Isso o forçou a cerrar os olhos. Lembrou do sabor dos lábios dela. Só os provara uma vez, mas essa única vez, lhe fora suficiente para que ficasse capturado.

Apanhou uma maçã dentro de uma bolsa que carregava sempre em cima do cavalo e a deu para este último, acabando por fitar a lua enquanto seu animal se alimentava. 

All my dreams are far behind me

They don't matter anymore

I don't care about the things I could lose

'Cause I'm hopelessly falling in love with you

A mulher sacudiu a cabeça e foi caminhando de volta para dentro de casa. Tinha que terminar o que começara. Sentou-se de volta na cadeira e voltou a escrever. As mãos queriam funcionar sozinhas. Queriam escrever juras de amor. Juras que os lábios foram incapazes de falar. Que os toques foram incapazes de mostrar. Que sua teimosia não permitiu que viessem à tona. Que seu orgulho não deixou aflorar na intensidade necessária.

Largou a pena. Abraçou o próprio corpo. Não eram suas mãos que queria sentir. Umedeceu os lábios com a língua. Definitivamente, não era sua língua que queria entre seus lábios.

- A última coisa que eu preciso fazer... Por que não posso morrer, Valentine? Deixe-me morrer e terminar com esse sofrimento, com essa loucura...

O raio de vida que restava no fragmento da arma parecia brilhar mais que nunca. Sinalizava algo importante para sua mestra.

Now the one that always played safe

Becomes another who’s lost his way

I can't believe it but I know is true

'Cause I hopelessly falling in love with you

Siegfried terminara de alimentar seu cavalo, mas ainda ponderava a sua direção. Acariciou o animal mais um pouco. Então sorriu. Só havia uma direção que queria seguir. Subiu em seu companheiro e saiu cavalgando noite à dentro.

And all my dreams begun to blind me

And now I'm so confuse

And I don't care about the things I could lose

'Cause I hopelessly falling in love with you

Ivy continuava impaciente. Ia e voltava dentro de casa. No fim das contas, voltou ao jardim das rosas, viu o dia despontando no horizonte. Com ele, uma surpresa.

- Isabella! - gritou o alemão enquanto se aproximava. Era como uma cena qualquer que já havia lido em algumas ficções. A dama tapou a boca. Estava segurando o que talvez eram lágrimas ou só um sorriso. O louro pulou do animal, nem mesmo teve o cuidado de amarrá-lo em algum lugar. Apenas correu para os portões da Mansão Valentine. E a condessa, fizera o mesmo do lado de dentro. Era como se um já estivesse sabendo o que o outro faria. Ela abriu aquele último empecilho. E o observou sem acreditar que ele estava mesmo ali. - Eu tenho que te dizer uma coisa, milady.

- Shhh. - disse tapando a boca dele com dois dedos. - Eu é que tenho que te dizer uma coisa.

I'm not gonna fight it

I'm gonna choose

To hopelessly fall... Oh yeah.

I hopelessly fall... In love with you.

O rapaz então sacudiu a cabeça negativamente. Apanhou-a pela cintura e a beijou longamente. Nesse instante, o último brilho de Valentine se acabou. Sua missão estava cumprida.