Eliza No País Das Maravilhas escrita por Avril_Gomez_108


Capítulo 30
Formigas estilo País das Maravilhas


Notas iniciais do capítulo

DESCULPEM!!! VCS ME ODEIAM!!!!!!!!DESCULPEM!!!! TEVE UM MONTE DE PROBLEMAS, ME DESCULPEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM!VOU TENTAR POSTAR RAPIDO! NÃO ME ODEIEM!!!!!!



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POV Lia

Eu estava completamente ofendida! Não porque uma vidente tinha me deixado pequena, ou porque eu estava vulnerável pela primeira vez em minha vida, mas porque eu estava menor do que a Julie e isso eu não suporto! Você realmente acha que eu ligo para o fato daquela doida ter me amaldiçoado? Que nada! Eu sabia que era só falar a lógica contraria ou dar algum presente de desculpas para ela, tanto faz, mas aquela situação não acabaria quando eu “aprendesse” á ser gentil. Até porque isso é literalmente impossível.

Estávamos na grama do parque. Tivemos sorte de não acabarmos no meio da rua, onde alguém que estava aproveitando o festival poderia nos esmagar. Aquela vidente não era tão falsa quanto eu imaginava afinal, mas não me arrependo nem de metade do que falei á ela. Só o que me preocupava no momento eram as duas malucas que encolheram junto comigo.

-Meus Deuses! Socorro! Socorro! SOCOOOOORRO! EU ESTOU PEQUENA! EU ESTOU MUITO PEQUENA!- gritava Ane

-O que aconteceu? Por quê? POR QUEEEEEE? EU NÃO QUERO! EU NÃO MEREÇO! AHHH!- choramingava Meg

Ane começou a correr em círculos, desesperada, até que bateu a cabeça no mato e caiu com estrondo chorando. Meg escorregou para o chão, abraçou suas pernas e ficou se balançando, como um louco perturbado.

-É TUDO CULPA SUA! VOCÊ FALOU MAL DA VIDENTE! SÓ VOCÊ DEVIA TER ENCOLHIDO!-disse Ane egoisticamente- O QUE VAI SER DOS MEUS SALTOS AGORA? VAI TER QUE COMPRAR NOVOS SEU PEIXE MALUCO E MAL EDUCADO!

-Me chamou de peixe? Não tinha apelido melhor fada das compras?- perguntei rindo

-Você nem está ligando não é?- perguntou Meg se levantando- Mas eu e Ane ligamos, estamos pequenas por uma coisa que você fez e não temos nada a ver!

-Calma é só desejar pela lógica contraria, ô povo burro!- falei- Nós três não estamos grandes de novo.

Esperei alguns segundos... E nada. Parece que o fato de eu ter tanta confiança que a lógica contraria daria certo que o País das Maravilhas preferiu contrariar-me á contrariar minha frase. Era só o que faltava!

-Quem é o povo burro agora?- perguntou Ane

-Ah, qual é? Vocês vão ficar brigando comigo por causa disso?- perguntei

-Vamos, só porque você é uma grossa com todo mundo agente tem que sofrer!- disse Meg, inconformada.

-E o pior é que se dermos sorte de voltar ao normal, você vai continuar do mesmo... - começou Ane, mas algo a fez parar- Que barulho é esse?

De repente senti uma pancada forte na nuca e desmaiei.

Quando acordei, senti uma tonteira tão forte, que nem abri olhos para não vomitar. Eu sentia meus pulsos ardendo e pareciam presos á uma parede, provavelmente por cordas. Meus calcanhares estavam na mesma situação, mas estes chegavam á latejar, dando-me a noção de que estava presa á algumas horas. Meu corpo, pendurado, doía em todas as partes possíveis, mas a mais forte vinha da nuca, onde me deram a pancada. E o fato de que o lugar cheirava ao chulé de Percy depois de uma luta com um filho de Ares não melhorava nada.

Meu peito arfava como alguém que tem rinite, arranhando minha garganta e dando-me uma vontade incontrolável de beber água. Tentei me mexer, mas meus braços pareciam cansados de mais até para obedecer às ordens do cérebro. Minhas tentativas de falar também eram inúteis graças ao fogo que a sede dava á cada vez que eu engolia em seco. O que estava acontecendo? O que fizeram comigo? Uma simples pancada da cabeça não fazia tudo isso com um humano, muito menos com um semideus.

Eu formulava milhares de perguntas por segundo. Será que era a Cat? Ou Loki? Como poderia me libertar? Onde estavam Ane e Meg? Será que Nico continuava com as loiras remelentas? Eu o mataria? Vão me dar chocolate ao fica só nessa de prisioneira? Estava tão confusa que nem percebi um par de mãos me sacudindo.

Abri os olhos e a claridade quase me segou. Eu estava acorrentada junto á uma parede numa câmara de terra com janelas, de onde vinham à luz do sol.  Bem á minha frente estava uma das coisas mais feia que eu já vira. Era uma criatura bípede, tendo quatro braços feiosos e duas pernas que mais pareciam galhos, tinha uma espécie de casca como pele em tom marrom fosco, duas antenas na cabeça careca. Mas, por incrível que pareça, seu rosto era muito melhor que todo o resto. A criatura tinha olhos negros cintilantes, um nariz de batata e uma boca com dentes brilhantes.

Agora, imaginem minha surpresa ao notar que a criatura era uma formiga estilo País das Maravilhas. É claro que no mundo real formigas não tinham boca, nariz ou olhos de humano. Mas na dimensão mais louca e inserta é mais que obvio que tinham.

-Quem é você?- perguntei

-Não é da sua conta- respondeu grosseiramente a formiga numa voz de homem

-Eu estou acorrentada e você ainda é grosso comigo? Vai te catar!

-Você não manda em mim- disse

-Por que você me acorrentou?- perguntei com raiva

-Não fui eu. Foram os guardas da área norte, eu sou um guarda da área sul.

-I dai? Eu te fiz uma pergunta- falei mais grossa ainda

-Pelo o que eu entendi prenderam você e suas amigas porque você foi a humana que destruiu metade do nosso formigueiro com um chute- explicou

Bem... Dessa parte vocês não sabem né? É que eu fui picada por uma abelha no festival 105 enquanto Ane estava naquele estado de transe pensando na vida. Então eu chutei o chão com raiva, mas era um formigueiro. Nem liguei e segui em frente sem ter a menor ideia de que as formigas se vingariam.

-E eles não vão me soltar nunca?- perguntei finalmente entrando em pânico, afinal, eu ainda tinha muito tempo de vida e não queria vive-lo em uma sala fedorenta enquanto Nico é paquerado por loiras burras e sem noção.

-Você será levada até a nossa Rainha daqui á uma hora, ela julgara o seu ato e verá se é necessária para algum trabalho. Você pode morrer ser torturada ou aprisionada no mínimo- explicou a formiga

-As noticias só melhoram.

Eu estava perdida. Jamais sairia daquele lugar, pois me colocando no lugar das formigas, não libertaria a garota que destruiu metade de meu lar. Nunca pensei no que acontecia aos insetos quando pisamos das casas deles, mesmo que sem querer. Eles eram obrigados á começar de novo e talvez nem tivessem tempo se o inverno estivesse perto, poderiam morrer. Mas sinceramente, também nunca imaginei que formigas me sequestrariam por vingança, nos filmes elas são tão legais. Principalmente em Vida de Inseto.

Olhei para minha amigas também presas. Ane roncava e sussurrava coisas sobre marcas de sapatos, pareciam incomodada com a posição em que estava, mas a paulada que lhe deram ainda deixava seu cérebro confuso. Ao menos ela estava lutando para acordar, ao contrario de Meg, que se mantinha imóvel como um robô.

Ao encarar as duas me senti culpada. Elas estavam correndo risco de morte porque eu tive um acesso de raiva e pisoteei a casa de insetos vingativos e malucos. E ainda me lembrava do que Ane estava dizendo antes de sermos abatidas, que eu era grossa e que era por isso que estávamos tão pequenas. Na verdade, eu ser grossa era a razão de todos os problemas naquela hora. O fato de parecermos a Pequena Polegarzinha, de termos praticamente entrado no filme Vida de Inseto, de uma vidente poderosa e manipuladora me odiar, de Nico estar com três loiras descabeladas (na verdade esse é mais pelo meu orgulho). Eu... Eu estava virando Julie! Uma baixinha culpada de tudo!

Então uma porção ideias ocorreram na minha cabeça malvada. Eu poderia usar aquele formiga para sair dali, mas seria difícil convencê-lo e a minha preguiça não queria fazer esforço. Talvez eu pudesse entregar algo á Rainha em troca de liberdade, mas o que uma formiga chefe iria querer de uma semideusa? Será que valia a pena destruir aquele lugar com meus poderes de água? Antes eu deveria soltar Meg e Ane para elas não se afogarem.

Resolvi tentar executar os três planos, um de cada vez, para ver no que dava.

-Então, já vou ter que ficar aqui por uma hora até algo interessante acontecer... - comecei-... Você vem sempre aqui?

O formiga me olhou como se eu fosse uma doida. Ele não parecia ser o tipo de guarda que conversa com o “bandido”, mas eu não seria ignorada por um ser de seis patas humanoide e feio.

-Ei! Falei com você. Não me ignore. Sou grossa mais sou legal, fala comigo agora!- ordenei

-Você não manda em mim- respondeu brevemente

-Por que está tão chato? Eu só quero conversar com meu carcereiro.

-Mas o carcereiro não quer conversar com você- disse olhando para outro lado

-Quer falar na terceira pessoa? Tá bom então- falei com raiva- Por que o carcereiro não quer conversar com a garota presa injustamente?

-VOCÊ NÃO FOI PRESA INJUSTAMENTE! VOCÊ DESTRUIU MINHA CASA, MINHA FAMILIA MORAVA NA AREA QUE VOCÊ PISOTEOU E EU QUERO SUA MORTE!- gritou enraivecido, fazendo meus ossos tremerem.

Ane e Meg saltaram de susto pelos berros da formiga. Elas estavam muito confusas, haviam acabado de acordar em uma sala desconhecida por causa de uma criatura feia e estressada. Suas respirações aceleradas arranhavam as cordas vocais e as impediam de falar comigo, tudo o que as meninas faziam era arregalar os olhos para o guarda. E baseado em todos os meus anos de amizade com Ane, eu sabia que demoraria ainda mais para ela entender o que se passava ali, mesmo alguém explicando.

A formiga me encarava com raiva, seus olhos negros se avermelharam e por alguma razão eu sentia que se não fosse meu compromisso com a rainha dali alguns minutos, minha cabeça já teria sido esmagada.

-Não precisa gritar-falei

-ESTOU TORCENDO PARA QUE VOCÊ E SUAS AMIGAS TOMEM PENA DE MORTE!- gritou mais uma vez apontando para mim com sua pata suja.

-PARA DE GRITAR E TIRA ESSA COISA IMUNDA QUE VOCÊ CHAMA DE PATA DA MINHA CARA!- berrei ainda mais alto

-COLOCO MINHA PATA IMUNDA AONDE EU QUISER SUA AMEBA!-dessa vez ele praticamente enfiou aquele troço na minha boca.

-AMEBA É VOCÊ E A SUA MÃE!- gritei, então cuspi em seu rosto.

-NÃO FALE DA MAMÃE, VOCÊ MATOU ELA, ASSASSINA!

-NÃO É MINHA CULPA SE VOCÊ É UM SOLITÁRIO QUE VIVE COM A MAMÃE!-retruquei

-PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARA! CHEEEEEEEEEEEEEEGA! EU ESTAVA SONHANDO COM SAPATOS E VOCÊS ME ACORDAM AOS BERROS! EU NÃO SEI O QUE ESTÁ ACONTECENDO E ACHO QUE É CULPA DA LIA, MAS SE NÃO PARAREM DE GRITAR EU MATO TODO MUNDO!- berrou Ane á plenos pulmões

Tanto eu quanto a formiga encaramos a filha de Afrodite com espanto. No entanto a criatura pareceu bem mais surpresa que eu por ter recebido uma ordem de alguém tão magro e aparentemente sem vestígios de ameaça. E ficou mais surpreso ainda de querer obedecer á ordem devido o tom superior que Ane usava, como uma mãe advertindo seu filho depois de ele fazer um escândalo no parque. Eu já havia me acostumado com aquilo, já que irritava Ane desde o primeiro dia em que nos conhecemos e ela sempre usava o mesmo tom comigo.

Meg se encolheu junto à parede onde estava acorrentada, ela olhava a patricinha ao seu lado com uma expressão de medo e respeito. A pobre filha de Íris nunca fez nada de errado com Ane para deixa-la tão zangada quanto estava naquele momento, mas era agora que não faria mesmo.

Como Megan ainda era “nova” na turma, ainda não conhecia todas as faces de Anellize, e acredite, são muitas faces. Tem a reação maluca dela de quando vê um garoto bonito, é assustador. Tem o jeito saltitante dela de quando está feliz, é mais assustador ainda. Tem o modo ciumento dela de arranjar um objeto cortante em menos de cinco segundos, essa reação eu nunca vi até final porque sempre fujo. Mas a questão é... Ane é doida, ponto final.

-Desculpe-me por acordá-la- disse a formiga

-Qual é teu nome formigão?- perguntou Ane desafiadora.

-Dexter- respondeu com medo

-Solte agente Dexter-ordenou

Dexter estendeu os braços para os correntes, mas então lembrou de que deveria obedecer as ordens da rainha, e não de uma prisioneira.

-Não posso senhorita, vocês serão levadas até um encontro com a rainha e ela julgará e pena de todas-disse Dexter.

-Pena de quê?- perguntou

É nessa hora que eu me ferro.

-Sua amiga chutou nosso formigueiro enquanto ainda era grande e agora que está pequenina a mataremos.

Ane virou a cabeça lentamente até poder olhar para mim e sua expressão era aterradora. Essa é uma de suas faces, a de raiva que pode levar á execução do alvo. É claro que está face nunca foi dirigida a mim, até agora. Enquanto eu a encarava tentando não mostrar arrependimento, algo como um rosnado saiu por entre os dentes da filha de Afrodite e dei graças aos deuses por estarmos acorrentadas.

Ela fechou os olhos e disse:

-Ficamos pequenas porque você é grossa... Fomos sequestradas porque você é grossa... E agora vamos morrer porque você é grossa- Ane suspirou- Só te dizer uma coisa... - enfim abriu os olhos que exibiam um ódio imenso- VOU TE ENCONTRAR NO CAMINHO PARA O MUNDO INFERIOR E NÃO VAI TER COMO FUGIR DE MIM!

Meg tossiu para chamar a nossa atenção, mas só olhou para mim quando falou, pois ainda estava com medo de Ane.

-Ainda podemos nos livrar, podemos fugir ou convencer a rainha de que não era Lia a garota que pisou no formigueiro.

-Tem razão, eles não tem provas de que fui eu. Estou livre!- falei feliz

-Mas e depois, como ficamos grandes de novo?- perguntou Ane

-Um problema de cada vez- respondi

-Mas e como fica a minha família? Foram todos mortos, alguém tem que sofrer por isso e se soltarem vocês, podem ter certeza que eu vou atrás para me vingar- disse Dexter.

Soltei um suspiro de cansaço. Eu a garota mais preguiçosa da galáxia acordei de madrugada para ir á um SPA, depois voltei para casa e acabei com o dia de Nico, então fui passear por uma hora numa feira esquisita, consultei uma vidente piradona das ideias que me amaldiçoou, fiquei do tamanho de uma formiga, levei uma paulada e ainda deram bronca em mim. E sabia que teria de fazer muito mais: daria um jeito de fugir do formigueiro, matar Dexter antes que ele me mate, voltar á ser grande, empurrar aquela vidente de um penhasco, voltar para o hotel para me aprontar para a quarta prova, vencer a quarta prova e tentar ter uma noite tranquila de sono. Isso é muita coisa para alguém tão preguiçosa quanto eu.

O que mais me deixava triste é que fui ao SPA em vão. A calmaria que vinha da massagem já se fora, meus cabelos estavam em contato com a terra das paredes e minha pele voltou a ser a ameixa seca de sempre. Ane tinha exatamente o mesmo o estado. Será que Gusttavo nos aceitaria de volta? Acho que viramos amigos, mas não tenho certeza. E será que a lógica contraria voltaria a funcionar? Porque se voltar, daria para pedir o resultado do SPA em um minuto. Era tudo que eu precisava para enfrentar a quarta prova, seja lá o que ela for.

-Quando é audição com a rainha mesmo?-perguntei

-Daqui á 40 minutos, já que se passaram 20 nessa conversa toda- respondeu.

-Ótimo, dá tempo de fazer um plano- falei.

-Plano? Está achando que somos filhas de Atena?- perguntou Ane com descaso.

-Não, mas temos que tentar. Eu vou pensar em alguma coisa é só todos ficarem quietos-ordenei então Ane, Meg e Dexter se calaram.

Eu devia ter um plano A, um B e um C. Caso dessem errado eu passava para o próximo e se o último não desse certo era na improvisação. O maior problema era a rainha. Eu duvidava muito que ela me libertasse, na melhor das hipóteses eu teria que fazer trabalho voluntario para o resto da eternidade. Agora era só decidir se eu a enganava ou assim que me desprenderem para a audição, conjurar um tsunami. Se não funcionasse eu daria um jeito de usar Dexter. E se mais esse não der resultado, vou tentar de algum modo pedir ajuda á meus amigos. Mas está era a última opção, pois eu não gosto de pedir ajuda á ninguém e nunca daria liberdade a Julie de me chamar de baixinha.

-Já sei!- falei- No encontro com a rainha, tentaremos convencê-la de que não era eu. Se ela não acreditar mesmo depois de termos inventados muitas, muitas, muitas mentiras eu conjuro um tsunami e assim que a água alagar tudo, nado com vocês para fora. Se acontecer um imprevisto que me impeça de trazer a água, Ane e eu usamos nossas habilidades em batalha para atrasar eles enquanto Meg manda uma mensagem de Íris para nossos amigos em busca de ajuda. Entenderam?

-Sim- ambas concordaram

-Agora você- olhei para Dexter- Mesmo não tendo ido com a sua cara, não quero te matar. Tem algo que possamos fazer para recompensá-lo pela perda de sua família?

-Não. Vocês podem fugir, mas não estarão livres de mim jamais- respondeu.

Revirei os olhos. Se ele queria daquele jeito, mas eu realmente não queria machucá-lo.

Nos outros 30 minutos (levei 10 para pensar e explicar o plano) Ane ficou entediada e quando ela fica entediada ou se mantem quietinha brincando com os dedos ou cantando músicas irritantes. De vez em quando tagarelava sobre coisas sem sentido exatamente igual á mãe. Como estava acorrentada, era a vez das músicas.

-Os seus problemas, você tem que esqueceeeeer! Isso é viveeeer! É aprendeeeeer! Rakuna Matata!

-Para Ane- falei

-Não, eu quero cantar. Ou falar. Estou entediada e se todos não cantarem comigo vamos conversar- disse e como ninguém se manifestou para cantar com ela continuou- Vamos conversar sobre o que? JÁ SEI! Sobre a música! Quando eu era pequena confundia Rakuna Matata com Atum com Batata, mas não faz sentido porque atum com batata é muito ruim, é azedo, horrível! Mas eu confundia fazer o que? Minhas empregadas cantavam pra mim e colocavam o filme do rei leão para eu assistir, assim que dormia rápido, acho que elas não queriam que eu ficasse enchendo ela para brincar comigo. Ninguém brincava comigo, mas eu adoro brincar, eu brincava sozinha e ameaça meu pai pra brincar comigo. Eu já falei que adoro brincar? Pois é, eu adoro brincar é legal não acham? É sim, mas meu pai diz que eu sou grande de mais para brincar, só que eu quero brincar entendem? Não entendem?

Demorei um pouco para perceber que era uma pergunta, pois toda vez que Ane começava com aquele negocio de monologo por causa do tédio, eu observava sua boca mexendo em uma velocidade estranhamente rápida e tentava contar quantas palavras ela disse. Normalmente eram umas 80 por minuto.

-É, entendemos- concordei sem nem fazer ideia do que eu disse que entendia.

-Pois é eu adorava brincar no shopping, no parque, na casa, na garagem. Em todo o lugar e no esconde-esconde ninguém me achava. Lembra-se daquela vez que brincamos de esconde-esconde Lia? Você nem tentou me procurar e eu sumi por três horas, enquanto isso você comia todo o chocolate da minha casa. Mas eu não ligo já que você é minha amiga. É isso que fazemos pelas amigas, qual é o dia mundial do amigo? Eu quero saber e te dar presente! Eu adoro dar presentes e adoro ganhar! Uma vez eu pedi ao meu pai uma fonte de natal, porque vi em uma revista, aí ele me deu e sem querer eu afoguei um pássaro lá. Coitadinho do pássaro, não merecia isso! Mas a fonte era tão bonita. Sabia que existe marca pra fonte? Não sei a diferença entre elas, pra mim é uma fonte e acabou! Aquele era rosa e ficou na minha varanda, aí eu comprei peixes para ficar lá, mas esqueci de alimentar e eles também morreram aí eu achei que a fonte era assassina e joguei fora. Tenho saudade da fonte até hoje, eu dei nome pra ela, já falei isso? Era fontezinha, eu não tinha criatividade e...

-Por favor, cale a boca seu animal falatório e irritante- disse Dexter tampando os ouvidos.

-Mas...

-Sério Ane, fica quieta, você é pior que Afrodite!- reclamei

-Mas...

-Ou cala a boca ou eu queimo tudo o que compramos no shopping ontem- ameacei

Finalmente Ane se calou e demos graças aos deuses. Se as mulheres gastavam 3000 palavras por dia, a filha de Afrodite gastava 6000. Era insuportável e eu como filha de Poseidon, prefiro só sentar e relaxar da crista da onda, mas Anellize insiste em impedir de todas as maneiras. Uma coisa que eu admiro nela é que sempre tem assunto e consegue começar falando e uma coisa, depois terminar falando de uma totalmente diferente. Por exemplo, ela começou dizendo umas baboseiras sobre Rei Leão e terminou falando de uma fonte assassina chamada fontezinha. Aquilo por um lado me assustava e por outro... Não, isso só me assusta.

Meg também tagarelava quando entrava no assunto, mas a maior parte das vezes prefere não se meter. Mesmo sendo quieta, quando fica no embalo da conversa não para mais. Ela é como um arco-íris. As sete cores representam cada emoção dela, nenhuma brilha mais que a outra, portanto a qualquer momento pode sumir ou ficar mais forte. Será que todas as filhas de Íris eram assim?

Ouvi um barulho de passos fora da sala e me assustei vendo um pedaço da parede de abrir, como uma porta disfarçada. Eu nem havia notado que não tinha porta, não sou muito perceptiva.

Outro guarda formiga apareceu, era quase idêntico á Dexter, mas tinha uma coloração mais escura e parecia consideralmente mais forte.

-Ah, estou surpreso que tenha conseguido mantê-las aqui sozinho, Fedexter. Agora deixe um formiga forte e valente de verdade leva-las até a rainha-disse o guarda na porta, soltando uma risada nojenta.

-Disseram para eu levar quando chega á hora- disse Dexter em um tom baixo, quase mínimo.

-Você é incompetente de mais para isso- retrucou o outro

Dexter abaixou a cabeça e se apressou em arrancar minhas algemas e as de minhas amigas. Não entendi nada. Como Dexter estava gritando conosco uma hora e um segundo seguinte abaixava a cabeça para aquele sem noção?

-Mais rápido imbecil! A rainha não tem todo o tempo do mundo- apressou o fortão na porta, apreciando o modo como Dexter corria para satisfazê-lo.

-Sim Herrow- disse Dexter baixinho

Então Herrow pegou meu braço e o de Ane, enquanto empurrava Meg na sua frente. Ele ia nos arrastando por um corredor de terra, em seguida outro e outro com Dexter em nosso encalço. A principio, não senti nada em nenhum dos meus membros. Tudo estava formigando de tanto eu ficar pendurada, mas aos poucos os sentidos foram voltando e eu quase gritei de dor porque a pata de Herrow estava me apertando a ponto de impedir a circulação do sangue. Tentei afrouxar, mas ele percebeu apertou ainda mais.

-Esta apertando muito- falei

-Não ligo para a dor que está sentindo, vai ter uma muito pior depois que a rainha decidir- Herrow soltou uma gargalhada e continuou me arrastando por corredores exatamente iguais uns aos outros, nem sei como não se perdia.

-Por favor- pediu Ane com uma expressão chorosa

-Não precisa fazer isso, não tem como fugirmos!- argumentei lutando para me soltar.

-Tá- disse Herrow, então largou de nossos braços e nos puxou pelos cabelos- Gostaram agora?- então soltou outra risada

Ele puxou meu cabelo com tanta força que pensei que ficaria careca. Olhei meu braço e nele tinha exatamente a marca da pata de Herrow em vermelho ardente. Segurei o impulso de enfiar minha espada no seu coração com toda a força, se fizesse isso não me deixariam livre mesmo e teria de fazer uma tsunami para matar todos afogados. Isso era a última coisa que eu queria. Sentia-me culpada por todos aquele mortos, mas sabia que nunca aceitariam que eu fizesse algo para compensar, então nem adiantava dizer que tinha remorso.

Logo, os corredores começaram a mudar. Passavam de uma terra clara e sem vida para uma escura elegante. Se é que terra pode ser de alguma forma elegante. Logicamente estávamos nos aproximando do coração do formigueiro, ou seja, da rainha. Mas o que eu queria ver mesmo eram as operarias, desde pequena observo formigas levantarem o dobro de eu peso, ver isso em tamanho real seria mágico. Mas aquele ogro fortão estava seguindo por outro caminho.

Enfim, quando Herrow parou de andar numa outra sala de terra e soltou nossos cabelos, quase despenquei. Minha cabeça doía como se tivesse sido pisoteada por um avestruz. Tentei amenizar massageando-a, mas não resolvia e meu ódio pelo bicho escroto e cruel que me arrastara até ali só aumentou.

Então percebi que estava de frente para um trono de folhas verdes e bonitas, levantei mais um pouco o olhar e me senti mais do que nunca no Vida de Inseto. A rainha sentada que me encarava com total imparcialidade era idêntica á do filme, mas com as características das formigas do País das Maravilhas e de um jeito ainda mais sofisticado. Usava coroa de flor cor de rosa que dava para sentir o aroma á metros de distancia, um vestido comprido de pétalas de todas as cores, o comprimento era maior do que o mais longo véu de noiva e descia em ondas coloridas pelo trono até o chão.

Sua pele era azul, por isso me lembrou a rainha do filme, mas o rosto semelhante ao de humanos era como o de uma mulher de quarenta anos que nunca fez plástica, mas continuou bonita como uma adolescente. A boca brilhava em um batom vermelho sangue e os olhos resplandeciam de maquiagem, provavelmente feitos de pólen. Era incrível o quanto sua imagem me passava uma sensação de respeito irrefreável. Pela primeira vez desde que entrei no País das Maravilhas, me senti oprimida por um ser de lá. O que chegara perto era Helena e o meu sonho com a Rainha de Copas. Fiquei com curiosidade de ver Rainha de Copas ao vivo, devia ser muito mais impressionante do que no sonho.

A rainha das formigas me analisava tanto quanto eu á ela. Observava-me de cima á baixo, sem formular nenhuma opinião, boa ou ruim. Ela também olhou Ane e Meg, mas apareceu achar que sou mais interessante. Por fim, falou em uma bela voz semelhante ao tilintar de sinos:

-Você será julgada por ter esmagado metade de meu formigueiro, conte-me porque fez tal ato.

-Não fui... – comecei, mas ela me lançou um olhar penetrante. A rainha sabia que fora eu, mesmo sem provas e mentir só pioraria a situação. Então falei a verdade- Eu estava passeando no festival 105 com minha amigas e fui picada por uma abelha, então sem querer esbarrei no formigueiro. Não teria motivo para fazer isso de proposito, majestade.

Herrow soltou um riso de zombaria e disse.

-Não acredito nessa sua historia.

-Mas é a minha opinião que importa e não a sua- disse a rainha. Dexter se segurou para não rir enquanto Herrow baixava a cabeça com vergonha. Então a rainha continuou- Eu acredito no que diz, não ouve intenção, mas sabe que terá uma consequência, como tudo na vida. Todos os nossos atos geram consequências.

-Vai me matar?- perguntei

-Não, tenho que refletir sobre sua historia e consultar membros da corte antes de informa-las sobre o castigo, enquanto isso vocês ajudarão a reconstruir a área destruída. Não deve demorar mais que duas horas- disse a rainha- Podem se retirar. Dexter leve-as até os destroços com delicadeza- ao dizer isso olhou de relance para Herrow- São humanas, mas são mulheres e não tiveram a intenção de causar mal.

Saímos da sala dela e Dexter nos levou por um corredor á direita, enquanto Herrow sumia de vista em outro, completamente envergonhado. Para um deles, receber uma desaprovação da rainha devia ser o fim, ainda bem que ninguém manda em mim ou eu teria de me preocupar com o mesmo.

Finalmente andando sem ser arrastada e sem dor, caminhamos por poucos minutos até chegarmos a um lugar que... Deu-me muita vergonha. Não do que via e sim de mim por saber que a culpa era minha e de mais ninguém. Sabe quando você reportagens na TV de um lugar onde teve terremoto? Os destroços, a poeira, o clima pesado, bombeiros tentando salvar pessoas que foram feridas e recuperando corpos mortos. Agora imagine os destroços como tijolos de terra, os bombeiros como formigas-guardas e as pessoas como formigas do seu tamanho. Era isso que estava bem diante de meus olhos.

Ao longe pessoas caminhavam na feira, sem perceber um formigueiro sendo reconstruído com muito trabalho. Observei formigas-guardas e formigas normais se ajudando para salvar outros, carregando mortos bem perto de mim, família chorando. Faziam tudo como os humanos de meu mundo faziam e nada era diferente além de sua aparência e estilo de vida. E o pior era que a culpa era minha exclusivamente minha.

-Podem começar retirando as placas de terra- disse Dexter- Eu também vou ajudar.

Meg e eu concordamos, mas Ane por outro lado:

-O que?! E correr o risco de quebrar a unha? Ou sujar as mãos? Pior, sujar os sapatos e minha roupitia!- falou a filha de Afrodite se abanando com as mãos como se aquilo lhe aumentasse a pressão.

-Ou isso, ou ficar pendurada sozinha na prisão- disse Dexter já caminhando até um grande bloco de terra e o levantando com seus quatro braços e o jogando em uma pilha cheia deles.

Ane suspirou e andou com seus tamancos, tentando ao máximo não sujá-los, até o tijolo de terra mais perto. Meg e eu andamos normalmente até e as três ergueram. Era pesado, mas dava para aguentar até sozinha. Então jogamos na pilha. Depois fizemos o mesmo com outro. E então outro. E mais outro. Sem parar. Tive de tirar meus sapatos também e deixa-los com os de Ane. Meg fez o mesmo. Depois continuamos levantado blocos e jogando na pilha, repetitivamente.

Comecei a ficar cansada lá pelo 70º bloco. Minhas mãos estavam tanto sujas como doloridas, minhas costas estralavam a cada impulso que eu dava e começaram a não querer mais sair do lugar. Meus pés ardiam e senti bolhas se formando. O calor nos atingiu, fazendo as três soarem e deixando-nos com a respiração acelerada. Mas nenhuma reclamou além de gemidos e expressões cansadas.

Muita terra caia em mim, em todas as partes do corpo. Logo eu me encontrava em um estado tão deplorável que quase me carregaram achando que eu era uma das placas. Mas eu não parei de trabalhar. Era a primeira vez na minha vida inteira em que eu me esforçava verdadeiramente em algo sem mandar alguém fazer para mim ou fugir. Aos poucos, a culpa de ter feito toda aquela tragédia foi sumindo, pois aquela era a razão de eu não reclamar. Culpa. Não demorou nem três segundos depois que senti um peso tirado das costas, quando outro tomou seu lugar.

E se me matassem? Que castigo receberia? Tudo o que eu mais queria era sair dali. Terminar de ajuda-los e apenas ir embora.

-Você nem liga não é?- perguntou Ane

-Para o que?- perguntei saindo de meus pensamentos

-Para o fato de que tudo é culpa sua. Não fica culpada de muitos estarem sofrendo porque você é uma grossa?

-Eu... –comecei, mas ela não me deixou terminar.

-Claro que não. Tudo isso é por sua causa. Eu e Meg poderíamos estar muito bem no hotel agora, descansando. Só você devia passar por isso para receber uma lição, mas Eliza Letter Crazier não aprende nunca- criticou.

-Ei! Eu me sinto culpada sim e não pra jogar essa situação toda na minha cara!- falei com raiva

-Culpada? Você? Você não sabe o que é ter compaixão pelos outros!- disse entredentes

-Olha quem fala. A garota que se preocupa mais com suas unhas do que com as pessoas á sua volta. Se eu sou grossa, você é fútil!

-Se pensa isso de mim porque sempre foi minha amiga?- perguntou enquanto seus olhos se enxiam de lágrimas.

-Eu que te pergunto por que você quis ser amiga de alguém tão sem coração como você acha que eu sou- eu disse ignorando as lagrimas de Ane

-Ótimo! Nunca fomos amigas, foi muito bom descobrir- disse então a filha de Afrodite foi correndo para o corredor chorar.

Meg só observou a briga, parecia indecisa se ficava comigo ou consolava Ane.

-Vai com ela, não preciso de ninguém- falei ríspida e egoísta.

Virei-me para pegar outra pedra e com um pouco de dificuldade consegui carrega-la e deixar na pilha. Minha maior vontade era chorar, mas aguentei firme. Tão firme quanto se é possível naquela situação, até que ouvi uma entre a das pessoas na feira. A voz de Nico. Levantei a cabeça abrindo um sorriso e me estiquei para achar um gótico no meio de tantas gente passando e o encontrei. Mas não gostei do que vi. Ele estava acompanhado das loiras, uma te dava comida na boca, a outra agarrava seu braço esquerdo e outra massageava seus cabelos por trás. O filho de Hades parecia estar com muita vergonha e um tanto atrapalhado com o pelo modo que o tratavam, mas estava gostando. Disso eu sabia. Finalmente desisti de ser forte. Não tinha servido para nada e tomei uma decisão.

Levantei-me com olhos molhados e nariz vermelho. Andei decidida pelo corredor, passando por Ane e Meg que ficaram assustadas quando viram minha expressão chorosa e correram para me seguir. Ignorei-as e caminhei com passos largos pelo caminho em que me lembrava ser a sala da rainha e assim que vi o trono e a barra do vestido colorido ao longe, corri. Até que fiquei bem de frente para ela, sem fraquejar um segundo sequer na minha decisão.

-Vossa majestade, peço que só castigue a mim- falei- Apenas a mim, deixe minhas... Amigas saírem.

-Por que pede isso?- perguntou com uma curiosidade alegre

-Porque elas não tiveram nada, absolutamente nada a ver com essa historia, e já me basta à culpa por destruir o formigueiro- falei.

-Se sente culpada?

-Sinto e queria poder ajudar, mas sei que não tenho capacidade, só sei que me arrependo de todos os atos de grosseria que fiz a vida inteira- eu disse á rainha tentando mostrar ao máximo que era verdade- Me desculpe.

Olhei para trás, pois ouvi um barulho de choro. Eram Ane e Meg, provavelmente “orgulhosas” de mim.

-Eu perdoo, finalmente aprendeu- disse a rainha sorrindo.

-Aprendi o que?- perguntei

-Aprendeu uma valiosa lição- respondeu- Agora pode ir, construiremos tudo outra vez, não se culpe. Agora volte á ser o que era.

Virei-me para Ane e Meg. Ela sorriram e me puxaram pelos corredores de terra. Corríamos em alta velocidade, procurando uma saída que encontramos com facilidade. Então, assim que pisamos fora do formigueiro à mesma sensação da maldição retornou, mas dessa vez ao contrario. Senti que estava finalmente... MAIOR QUE JULIE DE NOVO! Faria questão de jogar isso em sua cara quando chegasse ao hotel.

-Você conseguiu! Mas afinal, que lição era?- perguntou Ane confusa, pareceu esquecer totalmente de nossa briga e eu também.

-Não faço ideia, mas que bom que aprendi- falei- Agora a primeira coisa que vou fazer é comer chocolate!

-Não seria se limpar?- perguntou Meg

-Ou falar com Nico e checar se ele está com as loiras?- perguntou, é claro, Ane.

-Quem precisa de homens quando se tem chocolate?


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Notas finais do capítulo

Sinceramente eu achei o capitulo chato, sério, mas o próximo vai estar melhor, eu juro! Não me abandonem!