Miguel saíra decidido a contar tudo para Janine e ficara ainda com mais raiva quando vira o desgraçado que deu a própria filha como moeda de troca, mas não parou por mais que sua vontade fosse de bater nele, se conteve e partira pelo castelo a procura de Janine.

_ Ai está você. - Ele estava furioso e Janine notara isso, por isso parara e aguardou seu amigo lhe contar o que tanto estava lhe deixando frustrada, pois sabia que isso deveria estar relacionado com a conversa que teve com seu senhor.

_ O que foi Miguel, por que estás nervoso?

_ Jane preciso te contar uma coisa. - Miguel não sabia como contar por isso pegou na mão de sua lady e juntos começaram a andar pelo jardim que depois da pequena batalha já estavam todos colocando mãos a obra para reconstruí-lo. Após uma longa enrolação, quem começara a ficar frustrada por tanto segredo fora Janine...

– Ainda não me disse Miguel, o que tanto quer me falar? – Janine falou quando o amigo sentou-se ao seu lado, mas não disse uma palavra sequer.

Miguel apenas olhou o sol que refletia nos cabelos de Janine, desejando poder se aproximar mais da mesma. Com um suspiro, ele voltou a observar os criados trabalhando ali perto.

– Não podemos ir para um lugar mais reservado? Sinto que seu senhor mandou todos os teus criados nos observaram.

Um ferreiro que trabalhava arduamente na confecção de uma espada, olhava com curiosidade para o casal, mas assim que Miguel o olhou, ele voltou o olhar para seu trabalho.

Janine deu um pequeno sorriso e acenou para um comerciante que estava por ali.

–Isso é coisa da sua cabeça Miguel. – ela disse, mas depois continuou. – Venha, sei onde poderemos conversar a sós.

Começaram a caminhar para os estábulos, e assim que Heinz, o cavalariço, os viu, fez uma pequena reverencia a Janine, já para Miguel, lhe deu um olhar de repúdio. Não aceitava o fato de seu senhor aceitar em suas terras um inimigo.

Janine olhou para todo o estábulo e suspirou. Sentia falta de Victory.

–É um belo animal.

Ela se virou quando ouviu a voz de Miguel e arregalou os olhos ao perceber o que ele fazia.

César, o cavalo predileto de Ibrahim, estava sendo acariciado por Miguel. Antes que Janine pudesse avisar-lhe, Heinz o fez.

–Ora, tire suas mãos de César! – ele disse irritado.

Miguel lhe olhou enquanto erguia uma sobrancelha.

– E porque eu faria isso? –perguntou com ironia.

–É o predileto de Ibrahim, Miguel, e Heinz apenas não quer que meu senhor se volte contra ele. –disse dando ao velho um olhar doce. –Poderia nos deixar a sós Heinz? – e completou vendo o olhar do velho. – Não se preocupe, eu mesma cuidarei para que nada aconteça a César.

Ainda receoso, o velho deixou o local, não sem antes dar um último olhar para os cavalos.

– E então? – Janine o instigou a falar. –O que merece tanto segredo assim, meu amigo? E por favor, seja breve, eu ainda tenho que me encontrar com Ibrahim. – ela disse e a simples menção ao nome do amado lhe trouxe um sorriso aos lábios.

–Janine, como você pode amar um assassino? – Miguel falou chegando mais perto e acariciando-lhe a face. –Ele não a ama como eu te amo. Ele não sabe o que é amor. – ele sussurrou, antes de se inclinar o pousar os lábios sobre os de Janine, que se afastou no mesmo instante, ainda confusa.

Se fosse em outros tempos, Janine reconheceria que Miguel era tudo o que sempre sonhou, mas, naquele momento, não eram os lábios de Miguel que ela queria. Quando fechava os olhos, aparecia somente a imagem de um turco que havia lhe roubado o coração.

–Miguel, já falamos sobre isso. – ela disse e passou as mãos no vestido. – E Ibrahim não é um assassino. Ele apenas faz o que deve ser feito. – ela disse baixo. –É sobre isso que gostaria de falar comigo? Sobre o que sinto por ele?

Miguel nunca fora de meias palavras, muito menos de poupá-las, mas esse não era um assunto qualquer. Ainda pensava no que mudaria quando Janine descobrisse toda a verdade, mas o pensamento de vê-la vivendo ao lado de Ibrahim sem saber de nada e a adoração com que Janine falava dele, foi o que bastou para que ele falasse.

–Você não faz ideia do quanto julga mal seu senhor. – as última palavras tinham tanto sarcasmo, que Janine o olhou seriamente, quando o amigo continuou. -Ibrahim mente para você Janine. Tu não és uma serva como pensar ser. Tuas riquezas não foram perdidas por teu pai.

Janine o olhava atentamente. O primeiro pensamento que teve, foi de que o amigo havia se ferido e estava delirando, mas não pareceu ser isso ao se lembrar da convicção em suas palavras.

No entanto, Miguel não lhe deu tempo para se decidir e continuou.

– Anos atrás, foi o pai de Ibrahim que comandou o ataque ao solar em que morávamos. Todas as mortes que ocorreram em Loreze foram por culpa do pai do homem que você hoje se curva Janine. –Miguel falou entre - dentes, se lembrando do ataque que ocorrera e ele não pode fazer nada para salvar sua mãe.

Janine passou as mãos nos cabelos vermelhos, sentindo um pouco de raiva de si mesma pelo fato do amigo amá-la tanto, ao ponto de se voltar contra Ibrahim.

–Não Miguel, - ela disse parecendo cansada. -deve ter acontecido algum engano. Ibrahim nunca...

–Nunca o quê Janine? Nunca esconderia isso de você? Bem, porque motivos ele lhe contaria isso, se você é a única que pode destruir tudo o que sua família roubou de você? –ele disse lhe interrompendo.

– O que... O que quer dizer com isso? –Janine perguntou. Toda a sua atenção no que Miguel dizia.

Miguel segurou seu braço com força, a trazendo para mais perto.

–Que você é a única herdeira para quem todos desse maldito lugar deveriam ser obrigados a fazer reverencia. Você, Janine, é a pessoa que Ibrahim mais teme. Seu pai não perdeu tudo em jogos. Vamos Janine, pense! Você sabe como Ibrahim age. Ela matou e mentiu para conseguir ser o que é hoje. Você realmente acha que ele sente tanta piedade pelas pessoas como faz parecer. –ele sacudiu o braço de Janine, como se isso fosse fazê-la acreditar. –O corpo de sua mãe sem direito a um enterro digno, é a mais pura prova de quem Ibrahim Mazur de Hudstone realmente é!

A cabeça de Janine rodava. Ela olhava para todos os lados, buscando uma confirmação para o que Miguel dissera. Lembrou-se da mãe. E se Ibrahim realmente tivesse tido algo com aquilo? E se seu pai realmente tivesse sido enganado? E se Miguel estivesse dizendo a verdade.

Novamente, lembrou se do pai. Parecia tão infeliz desde a última vez que a vira. Lembrou-se da primeira vez que Ibrahim a tocara. Ele não fora gentil ou mostrara preocupação. Apena um pouco de arrependimento em seus olhos mostravam que ele não deveria ter lhe tocado daquela forma, no entanto, ele havia voltado a procurá-la até que se rendesse a ele. A resposta veio junto com as lembranças.

Sim, ele seria capaz....

Livrando-se dos braços de Miguel, correu para fora do estábulo, esbarrando em Heinz sem se virar para pedir desculpas. Estava pensando em outra coisa. As lágrimas brotavam de seus olhos e nem os gritos de Miguel a fizeram parar. Percorreu todo o castelo até encontrar Ibrahim. Em seu coração, só havia espaço para a vingança. Esquece-se do amor de Ibrahim, enquanto lembrava-se apenas da dor que sentira ao ser brutalmente forçada a ver sua mãe morrer.

E quando viu Ibrahim a sua frente, a única coisa que sentia era repulsa de si mesma. Ela amara o assassino de sua mãe. O culpado por toda a desgraça que caiu sobre seu povo.