Lucy fora recebida como o de costume por Marie, devido à chuva, seu vestido estava encharcado e sujo, coisa que a empregada não se importou, ao contrário de sua mãe.

- Lucy Knightmare! Como se atreve a chegar imunda dessa forma! – disse Camille descendo as escadas elegantemente como o de costume.

-Senhora... Está chovendo muito lá fo...

- Cale-se Marie! Não lhe perguntei nada!  Vá preparar o banho de Lucy imediatamente!

Marie que havia entregado a garota uma tolha, subiu apressadamente as escadas para cumprir a ordem.  Camille esperou a empregada sumir de sua vista para poder continuar o sermão.

- Será que por todos estes anos que foi educada para ser uma dama não foram o suficiente?!  Realmente és uma inútil! – ela dá um tapa no rosto de Lucy, que não exibira expressão alguma – Tão inútil, que nem sequer para chorar serve...

Camille se retira do local e a garota fica a olhar para o nada. Aquilo para ela era o de costume, este sempre fora a atitude de sua “mãe” desde que ela era pequena. Não se lembrava de sequer uma palavra de afeto ou um carinho que a mesma tenha feito. Algo que não a incomodava nem mesmo os tapas eram novidade.

Lucy subiu as escadas lentamente se dirigindo ao seu quarto, a casa era muito elegante, afinal, sua família tinha uma alta posição, que na mente de Camille deveria demonstrar poder e nobreza. Ao chegar a seu quarto, se deparou com Marie que estava indo buscá-la para o banho, porém, ao notar a enorme marca vermelha no rosto da menina, fechou a porta e pediu imediatamente para que ela tomasse um banho para que ela pudesse tratar de tal marca.

- Camille é uma bruxa! – disse Marie – Não deveria deixá-la fazer isso contigo!

- Já estou acostumada Marie. Não há porquê de ficar dessa forma, já deveria ter se acostumado, já que sempre foi você quem cuidava de mim.

Sentada na cama, Marie cuidava da garota, quando a mesma começou a perguntar.

- Marie.

-Sim?

- O que amor...?

A mulher que ficara chocada no começo, mas talvez fosse algo comum, já que a garota nunca conhecera o “amor”.

- Sabe Lucy, o amor, é algo bom, mas ao mesmo tempo pode nos faz sofrer. É aquela vontade de proteger, cuidar, de estar junto. É não conseguir parar de pensar em quem ou no que se ama. O amor não tem sentido, não tem razão, minha querida... Ele simplesmente vem, quando menos se percebe.  – a mulher sorria enquanto penteava o cabelo de Lucy.

- Então... Isso é amar... Entendo.

Marie saiu do quarto deixando-a sozinha, a garota se aproximou de uma penteadeira que havia em seu quarto, e abriu uma pequena caixinha de música, ela a pegou e se aproximou da janela sentando-se perto de um pequeno sofá de cor púrpura que lá havia, deixou a caixinha ao seu lado e passou a olhar o lado de fora, que agora, iluminado pela lua depois da chuva, contrastava nas pequenas gotículas de água parecendo pequenos cristais.

Lucy usava uma camisola branca de seda com delicadas rendas, seu longo cabelo negro se ondulava nas pontas dando leveza a ela. Ela levantou-se, abriu a janela e se pôs a sentir a fria brisa que passava, ao abrir os olhos se depara com o espetáculo do desabrochar de rosas vermelhas. Nesse momento, um sentimento a invadia, um sentimento desconhecido na qual jamais sentira antes, liberdade. Aquilo de certa forma era nostálgico, não se lembrava da última vez que sentiu aquilo, e também não se lembrava direito de sua infância, o que a fazia sentir  que talvez estivesse se esquecendo de algo muito importante, de algo que ela precisava lembrar...

As rosas balançam, de repente um forte rajada de vento passa. Pétalas de rosa “voam” e em frente de Lucy aparece um homem de roupas negras e uma máscara em seu rosto, o capuz cobria sua cabeça, a garota tenta fugir, mas ele a segura e ficou olhando-a por alguns instantes. Momentos que para Lucy foram uma eternidade.

- A senhorita és muito bela. Não tema, não vim fazer-lhe mal.

Sua voz era aveludada e ao mesmo tempo conseguia passar segurança. Apesar de estar um tanto receosa, aquele estranho conseguia passar certa segurança. Insegura, ela tomou coragem.

- Então o que queres de mim...?

- Apenas vê-la mais de perto. Sempre a observei Lucy... Sempre.

- Um perseguidor?

O estranho solta um pequeno sorriso de deboche.

- Se você pensar desta maneira, talvez. Afinal, - ele passa levemente a mão no rosto da jovem –  eu a estive observando por tanto tempo.

- Então, o que queres de mim para que me perseguisse?

-Seus sentimentos. Seu coração. Sua vida. Seu amor. Mas agora, o que quero, é seu beijo.

Ele a segura fortemente pela cintura e rouba um beijo da jovem que tenta se livrar, mas não consegue.

- Boa noite, meu anjo. – ele deposita um beijo na testa da jovem e pula da sacada sumindo dentre as flores.

Lucy desesperada corre para ver onde ele havia ido, mas não havia rastro algum. Ela corre para dentro, fecha a janela e as cortinas, corre para a cama e se cobre. Não podia acreditar. Aquilo não poderia ter acontecido, sua mente gritava para que tudo aquilo fosse mentira. Seu primeiro beijo lhe fora roubado por um estranho. Um fantasma da noite. Queria seu amor... Um perseguidor... ?Um assassino...?Um serial killer...? Estava confusa. Mas se ele realmente fosse isso tudo, talvez, ele não a teria deixado viva dessa vez. Logo, a jovem adormeceu junto com aquela duvida que a assolava.

Do lado de fora, o jovem que se escondia entre a densa vegetação observava o quarto da jovem.  Ele sobe novamente e abre a janela de Lucy, coisa que para ele já não era difícil, ele avista a jovem adormecida, e se aproxima silenciosamente. Ele se deita ao lado dela e a fica olhando por um longo tempo.

- Lucy... Você é minha. Somente minha...  – ele a abraça e adormece ao seu lado.