A Coletora escrita por GillyM


Capítulo 2
Inevitável encontro


Notas iniciais do capítulo

Roxy é surpreendida. Será que terá sorte novamente?
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/164741/chapter/2

Montreal, 1995.

*Roxy*

O dia já estava clareando, quando me banhava naquela banheira imunda do quarto do motel.

- O que faz aí sem mim? – Ele disse a me espreitar nu na porta.

- Achei que já tivesse ido embora – Disse sem olhar para ele, esfregando meus braços com a esponja de banho.

- Acho que meu dinheiro paga isso – Ele disse ao entrar na banheira.

Ele ficou a me encarar enquanto estimulava seu órgão com as mãos.

- Agora faça... E faça bem feito – Ele disse rispidamente ao molhar delicadamente minha boca com seus dedos.

Aquela noite demorou a passar, e eu fazia aquilo para sobreviver, pois não podia ficar num lugar por muito tempo, aquela era uma forma rápida de ganhar dinheiro e de ser esquecida também. Eu não conseguia me lembrar de quando me tornei prostituta, tudo que me lembro era que também não procurei por isso, mas havia algo em mim que deixava os homens curiosos, e com tanta atenção não foi difícil entrar nesta vida.

As vozes em minha cabeça não costumavam atrapalhar, apenas quando eu ficava em silencio. No silencio eu podia ouvi-las murmurando agoniadas, mas eram apenas palavras lamentosas que na maioria das vezes não podia compreender. Elas não falavam comigo, na verdade elas não entendiam o que havia ocorrido a elas, e isso era bom para mim.

Eu nada sabia sobre elas, mas eu sabia que meu fardo era levá-las junto a mim, por tempo indeterminado. Elas estavam perdidas dentro de minha mente, como se não soubessem da minha existência, como se elas não tivessem conhecimento de que meu corpo era seu abrigo, sua casa, seu cativeiro.

Eu não conseguia sentir a presenças das pobres crianças dentro de mim, apenas nas primeiras horas em que eu as coletava, mas aquelas duas vozes estavam sempre lá, me atordoando, me incomodando, mesmo sem perceber isto. Elas eram diferentes, confusas e enfurecidas em determinadas circunstancias.

*Desconhecido*

Eu sabia que estava me aproximando dela quando entrei naquela lanchonete a beira da estrada, a ultima vez que a vi foi a dez anos, naquele parque. Após perder aquela chance, eu perdi seu rastro, ela era difícil de encontrar, pois não havia cheiro, e nem sei se havia sangue. Ela parecia se esconder de alguém, nunca ficava num lugar por muito tempo. Mas do que ou de quem ela se escondia? Para minha sorte, seu mistério não passava despercebido por alguns vampiros, e por sua beleza marcante, não foi tão difícil de rastreá-la até aqui, pelo menos não desta vez.

Ela estava debruçada sob o balcão da lanchonete, olhando o noticiário que passava na televisão que estava no alto do canto da parede. Não havia muitas pessoas no local naquele instante, apenas dois casais sentados a mesa, um motoqueiro ao telefone publico que ficava dentro da lanchonete, e duas garçonetes que cochichavam fofocas na cozinha.

Ela parecia não sentir minha presença, uma surpresa para mim que sempre me senti vulnerável a presença dela. Ela balançou a cabeça para o lado, para se livrar do lindo e longo cabelo negro, que caia sobre sua testa, foi neste exato momento que ela me avistou.

*Roxy*

Estava tão distraída ao ver aquele noticiário que me esqueci dos perigos que me rondavam, estava tão cansada da noite longa com aquele homem arrogante, que me esqueci de me camuflar. Não possuir nenhum odor chamava a atenção daqueles que mais me preocupavam, um humano sem cheiro é algo que os intriga, e eu não precisava da atenção de ninguém, muito menos das criaturas frias.

Repentinamente o ambiente mudou, ficou mais pesado e negativo, um deles estavam por perto, muito perto. Senti meu corpo gelar e minhas mãos ficaram trêmulas, o frio que arrepiou minha pele o delatou bem rápido. Um sanguessuga estava lá, próximo a mim.

Disfarçadamente joguei meu cabelo para o lado, enquanto meus olhos se direcionavam para a porta da lanchonete. Tarde de mais, era ele, ele me achou novamente, após dez anos. Torci para que tivesse a mesma sorte que tive no parque.

*Desconhecido*

Sentei-me no banco ao lado dela, não conseguia parar de olhar para aqueles olhos que eram tão verdes que pareciam duas esmeraldas. Seu olhar assustado me intrigou, talvez ela não esperasse que fosse achá-la após uma década.

Ficamos a nos olhar por alguns segundos, não dissemos nada um ao outro, eu queria me apresentar, mas seu olhar parecia já me conhecer desde sempre. Espetacular, mas conflitante também.

Sua mão trêmula em cima do balcão chamou minha atenção, pela primeira vez ela parecia vulnerável a mim, e não eu a ela. Ousadamente coloquei minha mão sobre a dela, para que parasse de tremer. Surpreendi-me ao sentir sua pele na minha.

- Você é tão fria quanto eu – As palavras pularam da minha boca.

Pela primeira vez senti que perdi o controle de mim mesmo, mas para meus instintos vampirescos, isso não é nada aceitável. Repeti novamente, mas desta vez, controlei minha inquietação.

*Roxy*

- Você é tão fria quanto eu – Ele repetiu duas vezes para que eu pudesse ouvir.

Fiquei tão aterrorizada com seu toque, que por um instante perdi meus sentidos. Ele era frio, muito frio, assim como eu. Seria uma grande ironia sermos iguais. Após alguns segundos puxei minha mão, olhei ao meu redor e ninguém parecia sentir a angustia que eu sentia naquele momento, com a presença dele.

Por que apenas eu podia senti-lo? Por que apenas eu podia saber o que ele é?

Não havia para onde fugir. Respirei fundo e me concentrei, desviei meu olhar dos olhos aterrorizantes dele, olhei para baixo, ainda podia sentir aqueles olhos penetrando minha alma. Após alguns segundos o encarei novamente, naquele instante o terror dentro de mim se dissipou misteriosamente.

*Desconhecido*

Quando ela encarou meus olhos senti que algo havia mudado nela, na verdade em toda a atmosfera daquela isolada lanchonete. Uma energia irradiava de seu corpo, que me fazia querer afastar o mais rápido possivel, entretanto aqueles olhos pareciam me dizer algo, algo que ela tentava esconder a todo custo.

Ela não estava com medo e não estava mais vulnerável, então me mantive firme e não me deixei levar pela aquela estranha sensação que ela provocava em mim. Todo aquele mistério iria se resolver naquele instante, não iria esperar um minuto a mais, mesmo que fosse necessário matar todos ali presentes.

Ela tentou levantar-se, mas a segurei pelo braço e a obriguei a se sentar-se novamente ao meu lado. Ela não iria mais escapar de mim.

*Roxy*

Quando ele agarrou meu braço me desesperei, o terror que havia passado por hora, voltou ainda mais intenso. Ele não me deixaria ir e acredito que as poucas pessoas que estavam ao nosso redor, não seria nenhum problema para ele.

- Deixe-me ir, por favor – Estava a ponto de implorar a ele.

- Não desta vez – Ele disse sem alterar o tom de voz.

Uma das garçonetes reparou na tensão entre nós e interveio em minha razão.

- Se quer confusão, é melhor sair do meu bar – Uma das garçonetes disse carregando um bastão de madeira em uma das mãos.

Ele se virou e a encarou. Apenas seu olhar ofensivo foi necessário para que ela se afastasse.

Ela se virou e voltou a cozinha.

- Você vem comigo! – Ele disse diretamente a mim – Quanto menos sujeira, melhor.

*Desconhecido*

Levei-a para fora do bar, do lado de fora só havia a lua e a escuridão da estrada. Ela tentava fugir, mas a segurei firmemente e a arrastei para o meio do deserto que havia ao redor do bar.

Em fim estávamos a sós.

Segurei-a pelos dois braços e a examinei com os olhos. Aparentemente uma simples humana, exceto pela falta de temperatura e a falta de cheiro. Também não podia ouvir o sangue pulsar em suas veias.

Rasguei toda sua roupa, a deixei nu, mas mesmo assim ainda não podia sentir nada.

Inacreditavelmente estranho.

Ela começou a chorar, mas escondeu seu rosto com as mãos. Foi quando me surpreendi ainda mais.

Sangue!.

*Roxy*

Ele podia fazer o que quisesse de mim, nada podia detê-lo, e o fato de ele não compreender minha natureza, o deixava ainda mais ríspido e agressivo. Quando senti que aquele era meu fim, comecei a chorar, mas não queria que ele visse minhas lagrimas. Seria a tentação para ele. Escondi meu rosto com as mãos, mas logo minhas lagrimas começaram a escorrer entre os dedos, foi quando ele percebeu.

Este era mais um mistério para mim, que infelizmente agora era da conta dele também, eu me esforçava para tentar me acalmar, mas as lagrimas de sangue não paravam de rolar em meu rosto.

Naquele momento éramos só nós dois e as lagrimas de sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então... Merece reviews????
Bjus.