Ajeitou as pernas, encolhendo-se sobre a mureta. Olhava o horizonte, de forma despreocupada, suspirando. Não que a presença do outro, que fingia lutar com a sua katana muito bem, não tirasse um pouco do seu sossego ou da sua despreocupação (tirava-lhe o sério um pouco, isso é fato).

- Shin, já dá pra parar?

Shin virou-se e encarou o moreno, que ajeitava os óculos sobre o rosto. Umi parecia um pouco mais descontraído que o normal, mas ainda lhe parecia uma pessoa bem diferente do irmão. Na verdade, não era de reparar traços, mas os achava muito diferente.

O moreno jogou a cabeça para trás, fechando os olhos. Já devia fazer umas duas horas que estavam debaixo do céu azul, no meio do terraço da mansão, sem fazer nada.

Quer dizer, pelo menos Umi.

- Achei que tivesse me chamado aqui para treinar, não...?

- Mas, mesmo assim. Eu não sou muito bom com isso, mas sei que tenho mais nível em espadas do que você. Da mesma forma com que está aprendendo com Reno e Ryou como usar a sua katana, eu aprendi com os dois quando era mais novo e esqueci, porque... Ah, isso não vem ao caso.

- Umi, por que usa katanas?

O moreno deu de ombros, como se não fizesse questão nenhuma de responder aquela questão do outro – e nem pretendia respondê-la. Ninguém precisava saber que havia prometido ficar melhor e superar Ryouga.

- Tá bem, posso fazer outra pergunta?

- Não.

- Por quê?

- Como se adiantasse eu falar não, você pergunta do mesmo jeito...

Umi sorriu, vendo o cabelo do outro voar com o vento enquanto ele sentava-se ao seu lado. Shin sorriu daquele jeito calmo, olhando o horizonte sem preocupação alguma, suspirando antes de indagar.

- Pelo que vive?

- Como assim?

- Que motivo te faz viver...?

Umi parou por alguns segundo e pareceu pensar seriamente naquilo. Mordeu o lábio inferior, olhando o nada por alguns segundos. Nunca tinha pensado nisso, e nem se preocupado numa razão para viver, na verdade. Só tinha alguns objetivos – e, de repente, viver para alcançar esses objetivos não pareceu muito eficaz também.

Mas, analisando por outro ponto de vista, até ponderou que talvez não tivesse percebido que, por exemplo, Hizumi objetivava proteger a Kaya mais do que a qualquer outro dali. E então, olhou-o.

- E você, pelo que vive?

- Um dia, espero sair e sentir esse mesmo vento, sem medo. Vivo por isso, eu acho. Pela força de vida que me move... Acho que vivo porque busco um lugar pra chamar de meu algum dia, também, mas não sei onde ele fica...

- Do lado do meu irmão. – Umi riu, divertido.

- Não, acho que... – Shin ficou em silêncio brevemente – É, talvez...

Os dois riram e se olharam, enquanto o vento continuava batendo e balançando as folhas das grandes árvores que adornavam os jardins da mansão.

- Sabe pelo que eu vivo?

Shin negou com a cabeça e Umi espreguiçou-se, olhando o céu com calma. Deixou que a brisa carregasse seus cabelos para onde quer que fosse, e fechou os olhos, reabrindo-os para encarar o loiro do seu lado.

- Para ser o suficiente um dia, Shin. Não o suficiente, mas o mínimo para querer mais.

- Pelo Ryou?

- Isso. Mas é segredo. – Umi piscou e sorriu – Quero dar meu melhor.

- Sempre, hum?

Eles riram novamente e voltaram a pensar no treinamento. Não sabiam exatamente o que era legal treinar, mas era divertido conversar com alguém (ainda que, de início, você não tenha gostado nada desse alguém).

I'm not over

I'm not over you just yet

Cannot hide it

You're not that easy to forget

I'm not over