Ethan

 Quando chegamos em casa eu tive que agüentar mais um interrogatório do Daniel. Ele não engoliu a minha desculpa por ter saído praticamente correndo do jardim, e pra dizer a verdade, eu também não teria acreditado em mim.

– Até quando você vai mentir pra mim? – Me perguntou o Daniel. – Você melhor do que ninguém sabe que mentir é pecado. 

– Eu não estou mentindo pra você. Eu só... Eu só não sei o que está acontecendo comigo Dan. Essa garota mexe comigo de um jeito que ninguém nunca mexeu e isso está me assustando. Hoje no jardim, quando você a prendeu contra a árvore eu senti um medo terrível que você a machucasse, um desespero, eu queria levá-la pra longe de você. – Eu o olhei nos olhos e completei. – Eu queria protegê-la mais do que tudo nesse mundo.

Ele me olhava assustado. A respiração pesada e um olhar que eu não soube definir muito bem no início, mas que logo ficou muito claro. Ele estava com pena de mim. Tinha um olhar de pesar. O que me assustou ainda mais. Eu não queria vê-lo me olhando daquele jeito. Eu não precisava que tivesse pena de mim, eu precisava era do seu apoio, da sua ajuda. Eu precisava que ele dissesse que não era nada demais ou que aquele sentimento ia passar tão rápido quanto surgiu.

– Por favor, não me olhe assim.

– E como você quer que eu olhe para você Ethan? Você acaba de me dizer que está apaixonado pela filha do nosso maior inimigo e me pede para não olhá-lo assim.

– Eu não disse que estou apaixonado pela Nina. Eu disse que ela mexe comigo de um jeito que nenhuma mulher nunca mexeu. – Protestei.

– Só me responda uma coisa Ethan. O seu coração fica acelerado e a respiração fica pesada quando está perto da Nina ou quando ela olha para você? – Fiz que sim com a cabeça. – Você começa a suar frio e fica nervoso quando estão próximos? – Mais uma vez acenei positivamente. Então ele completou com a pergunta que eu mais temia. – Você sentiu vontade de tocá-la, abraçá-la e beijá-la?

Só de me imaginar beijando-a o meu coração se agitou, batendo tão forte contra o peito que por um momento eu achei que ele ia abrir um buraco no meu peito e sair. Eu não conseguia respirar direito. Abaixei a cabeça e olhei para os meus pés antes de respondê-lo. Eu não queria responder aquela pergunta, mas também não podia mentir para o Daniel. Então caminhei até o sofá e me joguei nele, depois fechei os olhos e tentei acalmar a respiração e os batimentos cardíacos. Respirei fundo e respondi a suas perguntas.

– Sim. Sim para todas as suas perguntas. – Respondi de olhos fechados e depois os abri e olhei para o Daniel.

Seus olhos estava arregalados e a sua expressão era de pavor, mas logo depois a expressão de assustado mudou, dando lugar a expressão de pena e preocupação. Por que ele tinha que ficar me olhando daquele jeito? Aquele olhar não tava ajudando nem um pouco, pelo contrário, estava me deixando cada vez pior.

– O que vamos fazer com você Ethan? O que vamos fazer com esse sentimento que está crescendo dentro de você?

– Você é o expert em mulheres aqui. Então por favor, me ajude.

– Bom! Eu posso ser o expert em mulheres, mas nunca me apaixonei antes, muito menos pela filha do Lúcifer. Não faço a menor idéia de como ajudar você Ethan. – Eu encostei a cabeça no sofá e fechei os olhos novamente, tentando pensar, mas tava difícil, cada vez que eu fechava os olhos à imagem da Nina chorando e me pedindo ajuda com os olhos me acertava em cheio. Eu definitivamente preciso tirar essa menina da minha cabeça.

– Já sei. – Gritou o Daniel, me fazendo dar um pulo tão alto que quase me machuquei quando aterrissei no sofá. Por pouco não cai no chão duro e frio.

– Ei! Está querendo me matar?

– Desculpe. – disse o Dan entre gargalhadas. – Não tive a intenção de te matar. Pra dizer a verdade eu estou querendo te ajudar.

 – Sei. Fazendo-me ter um infarto? É assim que você pretende me ajudar?

– Deixa de ser dramático Ethan. - Respondeu entre gargalhadas.

– Dramático! Você fala isso porque não foi você que quase morreu de susto. – Falar isso só o fez rir ainda mais da minha cara. – Você disse que sabe como me ajudar. O que tem em mente?

– Como você bem sabe, o seu amigo aqui é um verdadeiro gênio. – Ele disse isso com um sorriso no rosto.

– Certo gênio. Será que você poderia deixar a sua modéstia de lado e dizer logo o que tem em mente?

– Sabe de uma coisa Ethan, para um anjo considerado extremamente paciente, você parece estar bastante impaciente. Sabia que a paciência é considerada uma grande virtude?

– Você é a pessoa menos indicada para falar sobre paciência.

– Não é porque eu sou um anjo que tenho que ser paciente 24 horas por dia, sete dias por semanas, quatro semanas por mês e doze meses ao ano. – Com essa eu tive rir.

– Ok! Mas voltando ao meu problema, como você pretende me ajudar?

– Sabe qual é a melhor maneira de esquecer um amor?

– Não.

– A melhor maneira de esquecer um grande amor é arrumando outro amor.

– Arrumando outro amor? Você não acha que eu já tenho problemas demais?

– Pensa comigo meu amigo. Se você se apaixonar por outra garota, vai esquecer a Nina num piscar de olhos. E eu já tenho a pessoa certa para te ajudar a esquecer a Nina.

– Quem?

– A Letícia. Ela é linda, sexy, inteligente, é verdade que é um pouco patricinha demais e fútil, mas é apaixonada por você e faria qualquer coisa pra passar um tempinho que fosse nos seus braços.

– Eu não vou usar a Letícia nesse seu plano maluco. Aliás, eu não vou usar ninguém. Não é certo.

– Eu não disse para você usar a Letícia. Eu disse que você pode dar uma chance a ela e quem sabe você não acaba se apaixonando por ela e de quebra esquece a Nina.

– Não.

– Porque não?

– Por que é errado. Porque a Letícia não faz o meu tipo. Ela esta há um ano tentando me agarrar e eu tremo só de lembrar como ela me olha, parecendo uma leoa selvagem, pronta pra atacar a sua presa. – E com essa confissão eu fui obrigado a presenciar uma crise de gargalhadas do Daniel.

– Você é mesmo um covarde Ethan. Com uma mulher daquelas dando em cima de você e você nem se quer aproveita da situação.

– Ainda não entendo porque o arcanjo Miguel continua mantendo você como anjo. Você provavelmente é o único anjo libertino que já existiu. – As minhas palavras só o fizeram rir ainda mais.

– Eu não sou um libertino. Apenas tenho a mente aberta e eles continuam me mantendo como anjo porque eu sou um excelente anjo. Faço o meu trabalho com perfeição e ainda protejo você sempre que precisa de ajuda. Sou seu verdadeiro anjo da guarda. – Ele disse isso com um sorriso cínico no rosto.

– Meu anjo da guarda? Você? – Eu tentei, mas não deu para segurar o sorriso irônico. – Eu é que sou um verdadeiro anjo da guarda pra você. Vivo tirando você de enrascadas.

– Isso não é justo, todas as vezes que me meti em confusão com aqueles demônios, foi porque eles começaram. Sou inocente das suas acusações. – Ele disse isso com um grande sorriso no rosto. – E em relação as enrascadas com as garotas, a culpa foi delas, afinal, foram elas que me procuraram.

– Está bem Dan. Você finge que fala a verdade e eu finjo que acredito. – Ele apenas riu.

– Vou pedir uma pizza. Você também vai querer? – respondi que sim e depois fui tomar um banho por que o calor estava insuportável.

Depois da conversa que tive com o Daniel fiquei pensando em tudo que conversamos e as suas palavras não saiam da minha cabeça. Eu concordava plenamente com ele sobre eu ter que tirar a Nina do meu pensamento, afinal, anjos e demônios não se apaixonam uns pelos outros, jamais, nascemos em lados opostos e lutamos por objetivos diferentes. Eles querem a guerra, o terror, a agonia dos seres vivos, querem as suas almas, pois isso os deixam mais fortes na guerra contra a paz e o amor, na guerra conta a luz e contra o meu senhor, o pai de todos os seres vivos, Deus. Nós, por outro lado, queremos a paz e o amor entre os seres vivos, queremos a harmonia entre a alma, o corpo e a natureza, queremos que os seres vivos respeitem uns aos outros e que aprendam a viver a vida intensamente, sempre respeitando os mandamentos de Deus. É ai que os anjos entram, tentamos fazer com que as pessoas se afastem da escuridão, das forças negras criadas pelo inimigo com o objetivo de conseguir o maior número de almas possíveis, sei que parece meio clichê o que estou dizendo, mas é a pura verdade, tentamos ajudar essas pessoas, por mais irresistível que seja a oferta do inimigo.

Lúcifer tem filhos considerados lindos e sexy, a Nina é a prova viva disso, eles usam a sua beleza e charme para conseguir o que querem das pessoas, isso sem falar nos poderes de persuasão, entre outros. Eu definitivamente preciso esquecer a Nina.

No domingo o Daniel e eu resolvemos curtir um pouco o dia de sol e fomos para o clube tomar um banho de piscina e pegar um sol. Na verdade não iríamos apenas curtir o sol e a piscina, afinal, o nosso trabalho requer tempo integral, e por isso, mesmo no nosso horário de lazer nos trabalhamos.

Ao chegarmos ao clube eu avistei vários alunos da CRD e quando olhei para o bar ao lado da piscina eu vi a Clarisse conversando com a Laura, a Melissa, o Pedro e o Lucas. Não vi a Nina em lugar algum, “talvez ela tenha ficado em casa dormindo”, pensei esperançoso.

– Eu vou me trocar no vestiário. – Falei com o Daniel. Ele veio de short e eu estava de calça e tênis.

– Ok! Eu vou direto pra piscina dar um mergulho e depois vou comer alguma coisa.