Como no dia anterior, Rin o encarava boquiaberta. Ao mesmo tempo que queria sair dali queria ficar e entender o porque daquilo estar acontecendo.

- Eu posso tentar conversar com você ou vai sair correndo de novo? - disse num falso ultraje.

A menina corou.

- Não vou sair correndo. - disse desviando o olhar.

- Bem, então - Seya a puxou novamente para que sentassem. - vamos ter uma longa conversa.

A menina esperou.

-  Posso saber o seu nome?

- Rin.

Um sorriso iluminou o rosto do rapaz. A menina ficou sem entender nada.

- É estranho, Rin.. Estar aqui na sua frente, conversando com você..

- Você tirou as palavras da minha boca. - disse com um traço de humor.

O rapaz deu um meio sorriso.

- Olha, sei que essa pergunta vai soar meio estranho, mas.. Pelo modo como me olhou, igualmente surpresa, você.. já me conhecia?

A menina precisou de alguns segundos para responder. Aquela era realmente uma pergunta bastante complexa para o caso.

- Bem.. - disse pensativa. - Como disse ontem não, não o conheço mas.. - suspirou.

- Mas?

- É que.. é complicado.

- Complicado? - ele deu uma gargalhada. - Complicado é o que estou vivendo agora!

- Do que está falando?

- Rin, sonho com você todas as noites.

Rin corou novamente. Mas não conteu o riso. A frase saira como se estivesse passando-lhe uma cantada e sentiu que Seya o fez propositalmente.

- Não vai me dizer nada? - ele disse segurando o riso.

- Vou dar uma chance para explicações antes de ir embora de novo. - brincou.

No mesmo momento Rin sentiu-se leve e ao mesmo tempo estranha. Estava completamente a vontade com Seiya e ele com ela. Era difícil de acreditar que aquela era a primeira vez que conversavam.

- Eu.. literalmente sonho com você todos os dias. Nesses últimos dois meses que voltei a vida normal não houve um só dia que não tenha sonhado com seu rosto.

Rin ficou perplexa. Não sabia o que dizer, mas algo lhe chamou atenção.

- Voltou a vida normal?

- Bem, é que a dois meses atrás eu sofri um acidente de carro. Fiquei um tempo em coma e quando acordei não me lembrei mais de nada do que vivi. É uma vida nova, entende? E, mesmo que seja loucura eu nunca pensei que pudesse encontrá-la, sabe.. Eu acreditava que você era fruto de minha imaginação mesmo sabendo que havia possibilidades de você ser alguém que algum dia conheci antes do acidente.

Seya observava o céu ao dizer. Seu rosto era tão tranquilo. E o meio sorriso que não saia de seu rosto reconfortava algo dentro de Rin.

- Uau. Eu.. não sei o que dizer. É realmente complicada a sua vida. - disse com um toque de humor. - Mas.. esses sonhos.. como eles eram?

- Não são muito precisos. Na maioria das vezes são alguns lampejos, onde em meio a várias pessoas você é a única que consigo enxergar. Não saberia explicar ao certo. É algo que somente eu entendo.

A menina o observava fascinada. Era tão natural ficar ao lado de Seya. Mas ao mesmo tempo Rin era pega de surpresa por uma possível realidade e se sentia culpada por isso, por se sentir bem enquanto as coisas poderiam estar completamente diferentes do que costumavam ser.

Quando se deram conta o céu já estava parcialmente escurecido com as primeiras estrelas dando sinais luminosos.

Rin levantou-se meio cambaleante.

- Preciso ir, minha família deve estar preocupada.

Assim que proferiu tais palavras se rebelou contra o que sentiu enquando dizia.

Minha família.

Era algo que já fazia parte de sua vida e que deixava Rin bastante confusa.

- Está tudo bem? - disse Seya levantando-se.

- S-Sim.. Bem, eu já vou!

- Espere!

Ele a pegou pelo pulso fazendo-a parar.

- Vamos nos ver de novo? - disse com um meio sorriso. - É que eu ainda não tenho certeza de que você é real.

Rin revirou os olhos.

- Não seja bobo.

- Falo sério! E se isso tudo for um sonho?!

Com a mão direita a menina deu um beliscão em Seya.

- Ai! - exclamou. - Tudo bem não é sonho! - sorriu.

- Eu tenho que ir agora.

- Não quer que eu a leve? Quer dizer, você quase se afogou pode ter ficado algum trauma.. - brincou.

- Não precisa, estou bem. - revirou os olhos.

Rin não dissera para Seya na hora, mas ela mesma também tinha dúvidas se aquele dia havido sido real ou apenas um sonho.